E lá vem o Pai João sem pressa em sua incorporação.
Na chegada com o seu corpo encurvado e bengala na mão faz o sinal da cruz,
E diz :
“Louvado seja Nosso senhor Jesus Cristo, louvado seja a santíssima virgem Maria,
Deus salve essa casa Santa , os ausentes e os presentes, salve as almas santas
e benditas.”
Puxa o Cepo (banquinho de madeira) e no meio do terreiro se senta.
Abençoa um a um os filhos seus.
Pai João tem um jeito único de iniciar a sua gira .
( gira= trabalho de desenvolvimento Mediúnico)
Ele sempre inicia os seus trabalhos fazendo uma explanação sobre a umbanda,
esclarecendo os filhos sobre nossa religião, e, diga-se de passagem, de uma forma simples,
clara e objetiva, despertando em todos a sua volta o interesse de aprender.
Uma das coisas interessante e que sempre me chamou a atenção nas aberturas de trabalho
do pai João é que após as orações iniciais, de sua explanação ele em seu banquinho faz
um pausa olha pros seus filhos na corrente e do nada começa a falar mas sem dizer nomes
ou a quem esta se dirigindo.
Tipo:
“ Tem zi fio que veio pra nossa gira de hoje sem ter feito seu banho de descarrego”
“ Tem zi fio que anda faltando nas doutrinas, arruma tempo pra tudo, mas pro seu santo
não encontra tempo, esquece que ao corpo que é nada damos tudo e ao espírito que é tudo
damos nada”.
“ Tem zi fio que quando abre a boca pra fala em caridade, fala bonito, mas na menor
contrariedade botam a baixo suas palavras e mostram sua cabeça de vento e que sua fé e como fogo de palha”
“Tem zi fio que durante a semana fez brigado em casa”
“Tem zi fio que andou bebendo aguá que passarinho num bebe”
“ Tem zi fio que anda fazendo fuxico, que tem “oiado”, a vida dos outros e tem se
esquecido da sua”
“ Tem zi fio que anda precisando calçar a sandália da humildade, que anda batendo no
peito que seu guia e o melhor, que fez isso aquilo ou aquilo outro se exibindo feito pavão ,
cuidado meu fio pois o santo num tolera vaidade”
“ Tem zi fio que tudo sabe criticar e reclamar de tudo ,mas ajudar fazer num sabe se
esquece que num viemos a esse mundo pra ser servidos e sim pra servir”.
“ Tem zi fio que tem vergonha de dizer: "eu sou Umbandista", mas num tem vergonha na
hora de pedir socorro pro santo”.
“ Tem zi fio que anda desgostoso com a evolução de seu irmão mas num faz nada pra
se ajuda também”, esquece que o sol nasceu pra todos e que cada um tem que buscar
sua própria evolução”.
E por ai segue a lista de coisas e situações que acontece no dia a dia dos terreiros.
E Pai João sempre finaliza dizendo:
“Se a carapusa serviu use-a”
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
As crianças da Umbanda
A linha de Cosme e Damião reúne os espíritos erês, as crianças que desencarnaram antes dos oito anos.
Trabalham nos terreiros sempre brincando e fazendo uma algazarra enorme, gostam de balas, refrigerantes, chupetas, bolinhas, gorros, carrinhos, bonecos e bonecas, enfim, tudo que as crianças da terra realmente gostam. Seus jeitos graciosos, encantam a todos nos terreiros, mas têm que ser controlados pelos dirigentes com muita determinação, porque normalmente procuram fugir das ordens da hierarquia, mais para brincar do que por desrespeito. Alguém perguntou ao Caboclo Akuan a razão das crianças ficarem sentadas nos terreiros,:
- Porque senão vocês não conseguem dominá-los. Respondeu de forma simples e objetiva.
Se hoje, com a experiência que adquirimos na vida, pudéssemos voltar à infância, com certeza seríamos meninos prodígios. Imaginem então uma criança com sete anos, com a experiência de várias reencarnações. E assim são as crianças na umbanda.
Recebi um telefonema de um senhor do interior do Estado, dizendo ter sido vítima de um trabalho espiritual e seu gado estar morrendo. Convidei-o para vir ao terreiro fazer uma consulta. Ele veio, fez a consulta com um preto-velho. Após a linha africana, chamamos as crianças. O homem, sem arredar o pé do terreiro, talvez pelo interesse de assistir os trabalhos até o seu final, ficou assistindo a chegada das crianças. O Tião, nome da entidade, incorporada na Rita, parou na sua frente. Sentada, perguntou se podia fazer um desenho com a pemba, para ele. Riscou no chão do terreiro um mapa, como se fosse feito em vários pedaços, e dentro desenhou três corações.
- Tio, esses corações são seus três filhos.
O homem confirmou ter três filhos, demonstrando surpresa, pois ali ninguém o conhecia.
- Este desenho é tua terra, feita por vários pedaços.
Mais uma vez o fazendeiro confirmou que sua fazenda foi formada, com a aquisição de várias propriedades menores e vizinhas.
O Tião riscou, no meio do mapa, fazendo curvas, um risco como se identificasse um rio. Marcou nele um trecho com a pemba, e disse:
- Tio, teus bichinhos estão morrendo porque aqui a água está ruim por causa daquele veneno feio que você joga nas plantas. Finalizou, largando a pemba, e foi puxar o cabelo de uma outra criança que passava perto.
Outra ocasião, eu me dirigia ao congá para encerrar a gira, quando uma médium chamou minha atenção, afirmando estar sentindo a presença de um espírito querendo incorporar. Sou exigente, tudo tem seu momento, e aquele, com certeza, não era oportuno a qualquer tipo de incorporação.
- Segure a entidade, que agora não pode haver outras incorporações. Adverti, austeramente.
- Mas está muito forte, não sei se vou conseguir.
Dirigente tem que estar atento para todos os sinais. Como a médium era experiente, em condições de dominar, quando quisesse, as suas incorporações, fiquei em dúvida, se permitia ou não. O bom senso me fez mudar de idéia.
- Está certo, pode incorporar. E mais ninguém. Recomendei à corrente.
Imediatamente ela jogou-se no chão, rindo, batendo palmas, veio cumprimentar a hierarquia. Correu para o centro do terreiro, e sob o olhar de toda a corrente, olhou para mim e pediu:
- Vô, quero um dólar.
- O quê? Você quer um dólar? Para que você quer um dólar? Perguntei, sob o riso geral.
- Eu quero um dólar, senão não vou embora. Ameaçou.
Dirigindo-me à assistência, perguntei se alguém tinha um dólar para dar à criança. Alguém disse ter uma nota de dez dólares.
- Não, eu quero só um dólar. Reclamou a criança.
Uma moça, nos fundos da assistência, acusou:
- Eu achei na minha carteira uma nota de um dólar. Informou, já com a nota americana na mão. Convidei-a para entrar no terreiro e fazer a entrega da nota à entidade.
Junto comigo estava um pai-de-santo que veio nos visitar. Cochichando expliquei para ele:
- Esta moça, dona da nota, tem câncer na garganta.
Ela sentou na frente da criança e fez a entrega da nota. O espírito, fazendo muita festa com o presente ganho, bateu palmas, o pôs de lado e iniciou uma massagem na garganta da moça, exatamente no lugar da doença. Por sinal, hoje está completamente curada, claro não pela criança, mas não tenho dúvida que ela teve uma participação muita grande nesta graça.
Até hoje o pai-de-santo visitante ainda comenta o caso do dólar na linha das crianças e a forma esperta que teve de trazer a moça ao meio do terreiro para jogar sua vibração em sua doença.
Fonte: Pai Maneco
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
O Guardião das Matas
O Guardião das Matas
Não entendi o porquê desta solicitação em relação ao exu e fiquei protelando por três dias a realização desta obrigação.
Quando foi a noite do terceiro dia, ao adormecer, meu duplo foi irresistivelmente atraído para uma região de matas que se encontra perto de minha casa. Vale a pena ressaltar que eu não tenho muita afinidade com a mata principalmente por ter um medo terrível de cobras. Mas lá estava eu de frente para a mata nas altas horas da noite. Interessante que o “sonho” era meu e o espírito, é óbvio, também, mas eu não tinha o mínimo controle sobre as ocorrências que aconteciam nele.
De repente, fui irresistivelmente atraído por mata adentro e fechei os olhos morrendo de medo. Por quanto tempo esta atração durou eu sinceramente não sei, só sei que quando eu abri meus olhos me vi de frente com um ser que deveria medir certamente mais que três metros de altura, seu corpo era mais musculoso que o de qualquer super-herói que eu tenha conhecido na ficção terrestre, sua face era magneticamente sedutora e impreterivelmente dura, não sei dizer por que mas aquele ser não me passava nenhum sentimento de medo mas sim um tremendo respeito, tanto que inconscientemente, quando dei por mim, estava em posição de reverência e ajoelhado a seus pés.
Apesar do respeito eu não pude sopitar a minha curiosidade e perguntei:
— Ó magnânimo ser, por caridade vós poderíeis dizer à minha pessoa quem sóis e o que eu faço aqui?
— AHahahahahahahahahahahahhahahahaha!!!!!!!!!
Dele eu escutei uma gargalhada estrondosa e devo afirmar que seu tom de voz era cavernoso e gutural.
— Não precisa usar essas palavras difíceis comigo não camarada, no dia-a-dia eu sei que várias palavras de seu vocabulário chegam ser até mesmo chulas, não é verdade?
— Sim, respondi mas é que eu só queria demonstrar um pouco de respeito para com o senhor.
— Senhor, eu? Ahahahahahahahahahahahahahahahahahaha !!!!!!!!!!!!!!
E outra vez deu mais uma gargalhada gutural para depois responder:
— Camarada, tenho que te falar duas coisas; primeiramente é que eu não sou senhor de nada e ainda estou muito longe de merecer do criador a oportunidade de receber algo de que eu possa me assenhorar para receber de você este tratamento; segundo, se você de fato quer demonstrar algum respeito por mim então seja quem você realmente é, seja verdadeiro: converse comigo da mesma forma como você fala com os outros no dia-a-dia, aí sim você estará me respeitando. Não tente jamais aparentar para mim ser o que não é por que pode ter certeza que eu conheço o mais íntimo dos recônditos da alma humana e sei que a beleza desta reside em se assumir imperfeita como é e perfectível como deve ser.
— Tudo bem companheiro,posso te chamar desta forma, não é?
— Sim !!!
— Pois então companheiro, como eu estava dizendo, será que você poderia me dizer quem é e o que eu faço aqui?
— Meu camarada,vamos por partes. Suponha que você tivesse vários tesouros, cada um em uma localidade diferente, e me responda: você teria condições de estar presente simultaneamente em cada uma destas localidades para proteger os seus tesouros de malfeitores?
— Não.
— Mas o seu tesouro teria que ser protegido de qualquer forma, não é?
— Sim.
— Então responda como você resolveria este problema?
— Bom, a resposta nem é tão difícil assim e eu digo que resolveria o problema colocando seguranças em cada um dos lugares onde eu tivesse um tesouro.
— Muito bem camarada se você que é um ser humano, membro de uma raça ainda tão imperfeita e materialista que é a raça humana, pôde encontrar uma resposta satisfatória a esta questão imagine então que solução o Divino Criador obteve para que a sua divina obra, que é a natureza, não fosse maculada em seus mais diversos e específicos reinos que são: vegetal, mineral, aquático, telúrico, ígneo, eólico e cristalino!
— Espere aí, então você está querendo dizer...
— .....sim camarada, com isso eu quero dizer que pelo fato da criação divina ser tão incomensuravelmente extensa e infinitamente contínua Ele achou por melhor colocar em cada um de seus pontos de forças da natureza um guardião que pudesse se ocupar da proteção de seus mistérios.
— Meu Deus, isto é incrível!
— Sim, camarada mas isto ainda não é tudo, tenho ainda mais uma questão a propor pra você, me diga o que aconteceria se qualquer pessoa quisesse entrar em qualquer uma de suas propriedades onde se encontra seu tesouro?
— Eles seriam impedidos de entrar pela guarda de seguranças.
— Exatamente. E qual seria a única forma legal deles adentrarem sua propriedade?
— Bem, a única forma lícita de qualquer pessoa entrar em uma de minhas propriedades seria se esta possuísse um crachá de identificação, porque a apresentação deste crachá a qualquer um dos seguranças tornaria explicitamente claro que a referida pessoa tem autorização para penetrar em minha propriedade.
— Perfeitamente, agora lhe proponho a última questão camarada: sabendo que cada ponto de forças da natureza tem um guardião, o que qualquer pessoa deveria realizar antes de fazer qualquer oferenda religiosa ou magística num ponto de forças da natureza?
— Bem, pela forma como você está explicando qualquer pessoa antes de realizar qualquer oferenda deveria mostrar tipo um “crachá ” para o guardião do ponto de força da natureza e, me atrevi dizer, sabendo que todo exu é um guardião poderia até adivinhar que este “crachá” , no caso, poderia até mesmo tomar forma de uma marafa aberta e um charuto aceso, eu estou correto?
— Sim, e agora você chegou aonde eu queria, ou seja, você sabe por que foi trazido até aqui, não sabe???
— É, agora eu sei.
— E qual foi este motivo?
— O fato de uma entidade há três dias atrás ter pedido para eu fazer uma obrigação nas matas e eu estar adiando esta tarefa até agora.
— Olha camarada, o que você falou, você sabe que é uma meia-verdade, você não gostaria de completá-la?
Acho que é desnecessário dizer o quanto envergonhado eu estava pelo fato de saber que ele, por ser um grande conhecedor da alma humana, sabia da outra metade da minha história.
— Bom companheiro exu, a outra metade da minha historia, como eu sei que você bem sabe, reside no fato de eu ter adiado esta obrigação pelo fato de que a entidade amiga que a solicitou ter determinado que, antes que eu assim procedesse, eu oferecesse uma marafa e um charuto para o exu das matas pedindo licença para usar o espaço sagrado da natureza e o amparo e a proteção para a obrigação que seria realizada a seguir.
— E você até agora ainda não realizou a obrigação por não ter entendido o porquê de a entidade amiga ter lhe solicitado que fizesse antes a oferenda para o guardião das matas se isto antes nunca havia sido feito certo?
— Sim.
— E você não consegue realizar nada se não souber o porquê, certo?
— Sim.
É importante destacar que eu respondi esta última pergunta de boca aberta e admirado de como um exu é, de fato, um grande conhecedor da alma humana. Mesmo assim, ainda, me atrevi a fazer uma pergunta.
— Mas e aquelas pessoas que fazem suas obrigações nos pontos de força da natureza sem antes fazer uma oferta para o guardião deste ponto de força?
— Ótima questão camarada e eu lhe digo que tudo é questão de nível de consciência.
— Como assim?
— Ora camarada, consciência entende? As pessoas que desconhecem a importância de se oferendar aos guardiões dos pontos de forças da natureza antes de realizarem uma obrigação, ou seja, as que desta importância não têm consciência fazem suas obrigações e a espiritualidade responde aos seus anseios (de acordo com o seus merecimentos) da mesma forma que responde a uma pessoa que fez a oferenda para o guardião. Agora a partir do momento que a pessoa entende a importância desta oferenda e deixa de realizá-la as conseqüências disto eu respondo nem por palavras minhas mas me utilizo d’aquelas pertencentes àquele que está a direita do Criador “..muito será cobrado d’aquele a quem muito for dado.”
— Mas então quer dizer que você é o guardião das matas?
— Errado camarada. Eu sou um guardião das matas e sirvo ao meu senhor que é O guardião das matas, ou como dizem vocês umbandistas, O guardião de Oxóssi. E lhe digo mais companheiro, jamais se sinta importante por estar diante de um guardião das matas,sinta-se,antes,responsável.Entenda que a vitalização nos campos do conhecimento é um dos atributos dos quais eu, no aspecto positivo, procuro honrar em meu mistério, ou seja, auxiliar a retirar das trevas da ignorância àqueles que dela desejam sair.
Já no aspecto negativo eu também, e sempre, sigo as atribuições a mim fornecidas pelo Criador e procuro punir àqueles que se utilizam mal em qualquer campo na área do conhecimento, seja paralisando-os ou esgotando-os em seus próprios negativismos.
Agora acorde camarada, meu recado já foi dado e está na minha hora, porém, nunca esqueça de se lembrar de jamais se sentir importante pelos conhecimentos que lhe foram passados esta noite, antes, sinta-se responsável. Responsável por conhecer a importância destes conhecimentos. Responsável por sua própria evolução.Responsável por passar este conhecimento adiante.Responsável porque “muito será tirado d’aquele a quem muito for dado”.
Acordei em minha cama pensando em como a vida, por vezes, é engraçada: fui me deitar relutando em fazer a obrigação nas matas por não querer oferendar, antes, a exu por que não haviam me informado a importância do gesto: eu queria alguma explicação antes para depois eu fazer a obrigação.
Mas acordei conhecendo a explicação e me sentindo responsável até demais por esta informação, desejando até mesmo nunca dela ter tido conhecimento; daí então comecei a sentir um forte cheiro de marafa em meu quarto e olhei para o relógio de parede: era meia-noite em ponto.
É, pensei, a responsabilidade era grande mas eu havia entendido o recado e iria, assim que amanhecesse, fazer minha obrigação nas matas realizando, antes, uma oferenda ao guardião deste ponto de forças; afinal depois do esclarecimento do sonho fazer esta oferenda era minha obrigação e eu iria realiza-la com todo o respeito e responsabilidade.
Prosa com Exu
Por Rodrigo Queiroz
- Salve tu cabra!
- Salve vós Exu!
- Cabra, escreve umas coisas aí.
- Pode falar.
- Existe algo no ser humano que gera muita preocupação a todos nós e que mais complica a vida de vocês encarnados.
- Do que vós está falando?
- Da imperceptível sombra da vaidade.
- Ah sim, conheço...
- Então, vim aqui dissertar sobre isso, e mais me preocupa é o coração dos que se dizem companheiros de caminhada e mais fazem é piorar situações delicadas no relacionamento inter-pessoal e pouco contribuem para o auxilio daqueles que são parte de um conjunto.
- Sei...
- Como disse, a vaidade é uma sombra imperceptível que assola cedo ou tarde a vida de todos neste plano e ela, a suposta vaidade, pode ser em verdade a extravasão de uma série de necessidades do individuo como carências, traumas, etc. Existem milhares de facetas desta sombra e garanto, ninguém está livre dela, bem dizendo, aquele que se diz não vaidoso, já o é, pois afirma isto se envaidecendo de uma suposta nobre e mentirosa humildade. Há há há. Tolos.
- Senhor, acho que entendi, mas está um tanto complicado...
- Já explico cabra. Digo que ninguém está apto a apontar ninguém. E aquele que enxerga um “defeito” no outro a ponto de se incomodar, deveria entender que está vendo no outro o seu espelho, reconhecendo nele o que tanto incomoda em si mesmo e por incapacidade de se auto superar, apedreja o próximo, a fim de anular aquilo que em si o apavora. Complicou?
- (risos) nossa, parece que estou conversando com um analista.
- Há há há. Se estiver complicando é sinal que deve ler e reler estas palavras até que fundo toque sua alma.
- Farei isto Senhor.
- Então continuemos. Coloco a exemplo um grupo, ou melhor, um terreiro. Onde uma comunidade divide um mesmo espaço, conseguinte o mesmo ideal e propósito interno. Sendo assim, para todo grupo o que deve existir é respeito entre si e, respeito não é sorrisos falsos ou tapinhas nas costas. Respeito é algo que poucos sabem e que a falta do mesmo é que promove tanta discórdia e confusões entre os indivíduos.
- Realmente a noção de companheirismo e respeito é diferente de um para outro.
- Certo. Um fator relevante é a atração de afinidades que varia de um para outro dentro de uma mesma comunidade. Até aí tudo certo, portanto, não deve esquecer que aquele que não inspira grande afinidade a você não pode ser descartado do convívio ou dar menos importância, pois conviver com aqueles que só o agrada não trás mérito algum no processo evolutivo do desenvolvimento da tolerância, respeito ás diferenças e união de propósitos que deve transcender o umbigo.
- Certo Exu.
- Desta forma, pergunto, sabes reconhecer a vaidade?
- Penso que sim.
- Pensa?
- É, entendo a vaidade na extravasão do ego.
- Ego cabra? Há há há.
- Qual a graça?
- Vocês são tolos, então reconhece a vaidade no ego extravasado? Não me faça rir cabra. Como pode falar de Ego? Então vocês são assim, querem o tempo todo sistematizar o ser humano, espécie esta das mais complexas criações do Criador. Sistematizar é criar estes parâmetros, ou seja, vaidoso é aquele que age assim, assim, assim. Humilde é aquele que se comporta assim, assim, assim. Não, não. Este não é e nunca foi um bom caminho, pois esquecem que cada qual é um ser único, e você tem toda uma estrutura própria, diferente da minha que é diferente dos demais.
- Entendo, então como fica? Se não podemos sistematizar, como sanar problemáticas? Parece que o Senhor como um bom Exu está querendo me confundir.
- Nada disso cabra, não venho aqui confundir, ainda que seja nossa especialidade. Há há há.
- Então esclareça senhor.
- É simples. Quero que fique entendido que antes de qualquer apontamento dentro de uma comunidade é fundamental a análise de si mesmo. E o que está sendo apontado deve passar pelo crivo do respeito e do amor. Percebo que quando isto acontece o individuo apontado não vira motivo de imitações, chacotas ou piadas, estes comportamentos nada mais apresenta do que a podridão do responsável pelo dedo que aponta. O simples deve contribuir para auxiliar aquele que se excede ou mesmo erra sem que se aperceba.
- Errar sem perceber? Mesmo onde existam esclarecimentos?
- Sim, ainda bem que existe uns e outros que não prestam a devida atenção nos ensinamentos, para provocar no orientador a necessidade de renovar suas ferramentas a fim de envolver a atenção dos seus orientados.
- (risos) estou entendendo.
- Cabra todos erram, todos deixam a desejar, será que é tão complicado entender isso? O que deve ser avaliado é o resultado final de um trabalho, isto é realmente importante, e numa corrente, um deve complementar na necessidade e franqueza do irmão ao lado, por isso cada qual é diferente do outro.
- Este é o ideal né Exu?
- Mais que isso, deve ser uma realidade, caso contrário o caos se instalada.
- Sei...
- Assim, não é aceitável apontamentos atrás de apontamentos, crivados pela vontade de ver o outro prejudicado. Não é bem visto “irmãos” que ridicularizam seus “irmãos”, cadê o companheirismo? Cadê o amor? Afinal, onde está a tolerância das diferenças? Se você pensa que não precisa conviver com as diferenças então é chegado o momento de se isolar no cume do monte mais alto que possa encontrar e lá sozinho buscar sua transcendência... há há há.
- Que ironia Exu!
- Irônico são vocês, bobocas que só perdem tempo, olham demasiadamente para o lado e esquece de si próprio. Estão tão preocupados com o outro sem antes se garantir no trabalho a ser executado. Não digo que olhos devem ficar cerrados, no entanto, abra-os com amor.
- Certo Exu, então o que fazemos quando um companheiro de excede.
- Converse oras.
- E como abordar isto?
- Bem, primeiramente quando se trata de um terreiro o melhor para esta abordagem é o próprio Dirigente, uma vez que a ele é dada a função de guiar os membros.
- Sei...
- Mas antes é preciso que se observe todo um histórico o individuo, sua história, sua educação, seu signo, seu orixá, sua metas etc. Pois o que parece “vaidade” pode ser um excesso de carinho, de contribuição ou porque não, excesso de dedicação.
- Dedicação se excede?
- Oras, é óbvio que sim.
- Passando por este crivo, então é bom que uma franca, amorosa e longa conversa aconteça, com zelo e preservação.
- Parece fácil.
- Mas não é. E aconselho a todos que não fiquem dando ouvido a tantas falácias de outrem. Faça sempre sua própria avaliação e saiba que sua avaliação estará fatalmente ligada a sua limitada compreensão do meio. Sendo assim amplie sua consciência, conhecimento, amor e compaixão ao próximo. Dê as mãos áquele que acredita necessitar de ajuda, aproxime-se dele e sutilmente contribua no auxilio, caso contrário, cale-se e não crie tanta polêmica sobre aquilo que invariavelmente nem te pertence. Todo julgo já é o retrato de auto exaltação. No amor reside a compreensão, ou ao menos a sincera vontade de constantemente ser útil para o melhor de todos.
Assim cabra, deixo meu salve a todos que este texto lê e peço uma nova leitura afim de se encontrar nas entrelinhas ou nas linhas...há há há...e que seu coração entenda que mais vale colaborar, contribuir, somar para que os resultados aconteçam.
Ame-se e ame seu meio com tudo o que ele te oferece.
Nas diferenças encontre suas falhas.
Nas semelhanças se fortaleça no aperfeiçoamento.
Na incompreensão aproveite para se olhar no espelho e ver o quanto pequeno és.
Salve tu cabra e salve eu!
Salve sua força Sr. Exu Tranca Ruas das Sete Encruzilhadas!
Após esta prosa me lembrei de uma lição muito antiga e conhecida.
“Pessoas sábias falam de idéias,
Pessoas medianas falam de coisas,
Pessoas medíocres falam de pessoas”
- Salve tu cabra!
- Salve vós Exu!
- Cabra, escreve umas coisas aí.
- Pode falar.
- Existe algo no ser humano que gera muita preocupação a todos nós e que mais complica a vida de vocês encarnados.
- Do que vós está falando?
- Da imperceptível sombra da vaidade.
- Ah sim, conheço...
- Então, vim aqui dissertar sobre isso, e mais me preocupa é o coração dos que se dizem companheiros de caminhada e mais fazem é piorar situações delicadas no relacionamento inter-pessoal e pouco contribuem para o auxilio daqueles que são parte de um conjunto.
- Sei...
- Como disse, a vaidade é uma sombra imperceptível que assola cedo ou tarde a vida de todos neste plano e ela, a suposta vaidade, pode ser em verdade a extravasão de uma série de necessidades do individuo como carências, traumas, etc. Existem milhares de facetas desta sombra e garanto, ninguém está livre dela, bem dizendo, aquele que se diz não vaidoso, já o é, pois afirma isto se envaidecendo de uma suposta nobre e mentirosa humildade. Há há há. Tolos.
- Senhor, acho que entendi, mas está um tanto complicado...
- Já explico cabra. Digo que ninguém está apto a apontar ninguém. E aquele que enxerga um “defeito” no outro a ponto de se incomodar, deveria entender que está vendo no outro o seu espelho, reconhecendo nele o que tanto incomoda em si mesmo e por incapacidade de se auto superar, apedreja o próximo, a fim de anular aquilo que em si o apavora. Complicou?
- (risos) nossa, parece que estou conversando com um analista.
- Há há há. Se estiver complicando é sinal que deve ler e reler estas palavras até que fundo toque sua alma.
- Farei isto Senhor.
- Então continuemos. Coloco a exemplo um grupo, ou melhor, um terreiro. Onde uma comunidade divide um mesmo espaço, conseguinte o mesmo ideal e propósito interno. Sendo assim, para todo grupo o que deve existir é respeito entre si e, respeito não é sorrisos falsos ou tapinhas nas costas. Respeito é algo que poucos sabem e que a falta do mesmo é que promove tanta discórdia e confusões entre os indivíduos.
- Realmente a noção de companheirismo e respeito é diferente de um para outro.
- Certo. Um fator relevante é a atração de afinidades que varia de um para outro dentro de uma mesma comunidade. Até aí tudo certo, portanto, não deve esquecer que aquele que não inspira grande afinidade a você não pode ser descartado do convívio ou dar menos importância, pois conviver com aqueles que só o agrada não trás mérito algum no processo evolutivo do desenvolvimento da tolerância, respeito ás diferenças e união de propósitos que deve transcender o umbigo.
- Certo Exu.
- Desta forma, pergunto, sabes reconhecer a vaidade?
- Penso que sim.
- Pensa?
- É, entendo a vaidade na extravasão do ego.
- Ego cabra? Há há há.
- Qual a graça?
- Vocês são tolos, então reconhece a vaidade no ego extravasado? Não me faça rir cabra. Como pode falar de Ego? Então vocês são assim, querem o tempo todo sistematizar o ser humano, espécie esta das mais complexas criações do Criador. Sistematizar é criar estes parâmetros, ou seja, vaidoso é aquele que age assim, assim, assim. Humilde é aquele que se comporta assim, assim, assim. Não, não. Este não é e nunca foi um bom caminho, pois esquecem que cada qual é um ser único, e você tem toda uma estrutura própria, diferente da minha que é diferente dos demais.
- Entendo, então como fica? Se não podemos sistematizar, como sanar problemáticas? Parece que o Senhor como um bom Exu está querendo me confundir.
- Nada disso cabra, não venho aqui confundir, ainda que seja nossa especialidade. Há há há.
- Então esclareça senhor.
- É simples. Quero que fique entendido que antes de qualquer apontamento dentro de uma comunidade é fundamental a análise de si mesmo. E o que está sendo apontado deve passar pelo crivo do respeito e do amor. Percebo que quando isto acontece o individuo apontado não vira motivo de imitações, chacotas ou piadas, estes comportamentos nada mais apresenta do que a podridão do responsável pelo dedo que aponta. O simples deve contribuir para auxiliar aquele que se excede ou mesmo erra sem que se aperceba.
- Errar sem perceber? Mesmo onde existam esclarecimentos?
- Sim, ainda bem que existe uns e outros que não prestam a devida atenção nos ensinamentos, para provocar no orientador a necessidade de renovar suas ferramentas a fim de envolver a atenção dos seus orientados.
- (risos) estou entendendo.
- Cabra todos erram, todos deixam a desejar, será que é tão complicado entender isso? O que deve ser avaliado é o resultado final de um trabalho, isto é realmente importante, e numa corrente, um deve complementar na necessidade e franqueza do irmão ao lado, por isso cada qual é diferente do outro.
- Este é o ideal né Exu?
- Mais que isso, deve ser uma realidade, caso contrário o caos se instalada.
- Sei...
- Assim, não é aceitável apontamentos atrás de apontamentos, crivados pela vontade de ver o outro prejudicado. Não é bem visto “irmãos” que ridicularizam seus “irmãos”, cadê o companheirismo? Cadê o amor? Afinal, onde está a tolerância das diferenças? Se você pensa que não precisa conviver com as diferenças então é chegado o momento de se isolar no cume do monte mais alto que possa encontrar e lá sozinho buscar sua transcendência... há há há.
- Que ironia Exu!
- Irônico são vocês, bobocas que só perdem tempo, olham demasiadamente para o lado e esquece de si próprio. Estão tão preocupados com o outro sem antes se garantir no trabalho a ser executado. Não digo que olhos devem ficar cerrados, no entanto, abra-os com amor.
- Certo Exu, então o que fazemos quando um companheiro de excede.
- Converse oras.
- E como abordar isto?
- Bem, primeiramente quando se trata de um terreiro o melhor para esta abordagem é o próprio Dirigente, uma vez que a ele é dada a função de guiar os membros.
- Sei...
- Mas antes é preciso que se observe todo um histórico o individuo, sua história, sua educação, seu signo, seu orixá, sua metas etc. Pois o que parece “vaidade” pode ser um excesso de carinho, de contribuição ou porque não, excesso de dedicação.
- Dedicação se excede?
- Oras, é óbvio que sim.
- Passando por este crivo, então é bom que uma franca, amorosa e longa conversa aconteça, com zelo e preservação.
- Parece fácil.
- Mas não é. E aconselho a todos que não fiquem dando ouvido a tantas falácias de outrem. Faça sempre sua própria avaliação e saiba que sua avaliação estará fatalmente ligada a sua limitada compreensão do meio. Sendo assim amplie sua consciência, conhecimento, amor e compaixão ao próximo. Dê as mãos áquele que acredita necessitar de ajuda, aproxime-se dele e sutilmente contribua no auxilio, caso contrário, cale-se e não crie tanta polêmica sobre aquilo que invariavelmente nem te pertence. Todo julgo já é o retrato de auto exaltação. No amor reside a compreensão, ou ao menos a sincera vontade de constantemente ser útil para o melhor de todos.
Assim cabra, deixo meu salve a todos que este texto lê e peço uma nova leitura afim de se encontrar nas entrelinhas ou nas linhas...há há há...e que seu coração entenda que mais vale colaborar, contribuir, somar para que os resultados aconteçam.
Ame-se e ame seu meio com tudo o que ele te oferece.
Nas diferenças encontre suas falhas.
Nas semelhanças se fortaleça no aperfeiçoamento.
Na incompreensão aproveite para se olhar no espelho e ver o quanto pequeno és.
Salve tu cabra e salve eu!
Salve sua força Sr. Exu Tranca Ruas das Sete Encruzilhadas!
Após esta prosa me lembrei de uma lição muito antiga e conhecida.
“Pessoas sábias falam de idéias,
Pessoas medianas falam de coisas,
Pessoas medíocres falam de pessoas”
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
A Verdadeira Fortuna
Era a segunda noite que a insônia indesejável me fazia companhia, e para passar as horas, ler um livro ou assistir a TV, são opções a considerar. Naquela quarta-feira chuvosa, minha escolha foi a telinha, e navegar pelos muitos canais disponíveis em busca de algo que valesse a pena ver. Em outro momento talvez eu seria mais tolerante, mas naquela noite de vigília imposta, eu estava muito irritado. Lá pelas tantas, percebi que o Sr. Zé Pilintra estava sentado no outro extremo do sofá, e como sempre calmo, de pernas cruzadas curtia uma cigarrilha pendurada no canto da boca.
– Saravá meu paizinho, disse eu com a voz rouca…
Depois dele sorrir e gesticular, eu prossegui:
– Veja que coisa absurda meu paizinho…
– Onze canais estão ocupados por religiosos! Mudei rapidamente de canal e apontei o dedo para a TV:
– Veja este cara paizinho! Está pedindo grana discaradamente!
– Será que ninguém vê isso acontecendo!!! Que absurdo! Como fica isso???
Ele levanta os olhos para o teto, faz vários círculos de fumaça e continuou:
O ouro é sem dúvida a maior provação a que se pode submeter o homem.
A convivência com o dinheiro causa imensa preocupação naqueles que estão voltando a terra, pois sabem eles o poder que tem o dinheiro de comprometer toda uma evolução.
Por mais preparados que estejam os irmãos encarnados, não resistem muitos, aos encantos do dinheiro, e percorrem toda existência na carne, escravos do ouro. Enfeitiçados, esquecem dos compromissos de outrora, e cegos pela ganância, sem pudor e sem receio de se expor, lançam mão de todo tipo de artimanhas para conseguir acumular fortuna. Não quero com este depoimento dizer que não devas progredir e adquirir posses, mas afirmo que deveria o dinheiro, ganho de forma honesta, ser apenas mais um instrumento para o exercício da caridade e para o seu crescimento como filho de Deus.
Chegará o dia em que estarás de frente ao juiz celestial. Nada além de suas vestes terás, e Ele terá nas mãos uma lista de todas as suas obras, a qual representará a verdadeira fortuna acumulada por você ao longo da vida. Para aqueles que tiveram uma existência ofuscada pelo brilho do ouro, a lista estará em branco e nada mais restará senão retornar e começar tudo de novo.
– Mas… paizinho… e aquelas pessoas que doam parte de seus ganhos, passam dificuldades, e muitas vezes são enganadas???
Ele se levanta, dá um tapinha nos meus ombros e diz:
– Maninho… a responsabilidade maior é de quem toma, e não de quem doa…
Em seguida Ele foi embora, e o sono finalmente se apresentou…
Axé meu Pai Zé Pilintra!
Por: Wilson de Omulu
domingo, 8 de dezembro de 2013
Vovó Benta
Todos os outros protetores já haviam desligado de seus médiuns, devido a hora avançada e também porque não haviam mais pessoas para serem atendidas.
Fora uma noite semelhante à tantas outras onde aquele salão enchia-se de pessoas famintas do pão da fé e do conselho amigo dos pretos velhos.
Vovó Benta no entanto, continuava incorporada em seu aparelhinho, batendo o pé no chão e cantarolando.
O cambono-chefe veio até ela, informando delicadamente que os atendimentos haviam encerrado, podendo ela "subir".
- Salve camboninho, nega véia sabe que o terreiro esvaziô, mas tô aqui esperando aquela zi fia que tá chegando na portera...
Olhando para a porta, o cabono avistou "aquela senhora" chegando e mesmo sem nada falar à preta velha, seus pensamentos reprimiram aquele tipo de conduta que se repetia.
Quando estavam prestes a encerrar o trabalho, ela chegava escondendo o rosto atrás de um xale. "ainda se fosse alguém decente, mas essa criatura se prostitui nas outras noites e nessa, vem até aqui se fazer de santa..." pensava ele.
Vovó Benta captou as ondas do pensamento do cambono e somente sorriu, pensando em como a vida é uma caixinha de surpresas.
- Saravá zi fia. Como suncê tem passado?
- Minha mãe, minhas noites tem sido um terror. Os pesadelos não me deixam dormir e durante o dia tenho batido perna atrás de emprego, mas a senhora sabe, a minha fama faz com que todas as portas se fechem...
- Não desanima filha. Se você decidiu que realmente quer mudar sua vida, vai precisar de persistência e fé. Não desista de procurar. Há um lar onde a dor está chegando e vai precisar de alguém de coração grande, com vontade de trabalhar e com paciência. Neste lugar, enquanto a filha ganha seu pão honestamente com seu trabalho, vai poder ressarcir os erros de um passado que desconhece e que por fugir dele, até hoje padece.
- Eu não quero desistir, mas são muitas portas se fechando na minha cara... Às vezes penso que não vale a pena mudar de vida...
- A escolha é sua, por isso o Grande Pai nos deu o livre arbítrio, porém esta preta velha vai dizer para a filha que sem subir e descer a montanha, sem atravessar o lodaçal e sem passar pelas águas turbulentas do rio, ninguém chega até a porta da Casa do Pai, a única que não se fecha para nenhum dos filhos. Prova disso, é o fel que o próprio Cristo Jesus precisou provar antes de se elevar aos céus.
- Minha mãezinha, ontem mesmo vim até esta casa me oferecer para limpá-la durante o dia, como maneira de começar a fazer a minha caridade, porém me aconselharam que me restringisse a vir nas sessões de caridade, pois não ficaria bem uma "mulher da vida" limpar a casa dos Sagrados Orixás.
- Mais uma vez o livre arbítrio filha. Jesus recebeu Maria Madalena e permitiu que ungisse seus pés, porque viu o seu coração e não se limitou a julgar seus atos. Continua insistindo filha, mostra que a sua intenção é boa, pede uma chance de mostrar o seu trabalho.
Abençoando aquela mulher sofrida, de coração e forças já abatidos pelas noites de insônia dos tantos anos vividos naquele prostíbulo, Vovó Benta deu a ela um patuá e pediu que o usasse em sua bolsa, acreditando que estaria protegida e amparada por todos os Orixás. Despediu-se, quando a corrente mediúnica apressada, já cantava o ponto de encerramento.
A Preta Velha limpando as energias de seu aparelho com o galho de Arruda, chorou sentida pela falta de entendimento que alguns filhos ainda tem do real significado da caridade. Depois de largá-lo, permaneceu ainda ali junto aos outros espíritos que haviam prestado o seu serviço naquele templo e que agora, de mãos dadas, cantavam e dançavam ao redor dos médiuns, reequilibrando suas energias com a magia do som e do movimento.
Alheios à todo benefício que recebiam dos bondosos pretos velhos, alguns médiuns bocejavam, outros recostavam-se na parede sentindo-se cansados, outros ainda, pensavam no programa de televisão que estavam perdendo, graças "aquela senhora" que sempre atrasava o encerramento dos trabalhos.
A semana corria e os acontecimentos andavam conforme a prescrição de uma força maior à dos homens.
Num entardecer, aquela mulher grávida com fortes dores do parto, tenta chamar seu marido do trabalho, quando a bolsa d'água estoura e inicia-se forte sangramento. Alarmada pelo barulho, a filha adolescente sai do quarto e vendo a mãe no chão desmaiada, sai à rua gritando e chamando socorro. Uma mulher passava por ali, cabisbaixa e desanimada, mas que não hesitou em entrar correndo e atender a mulher, cuja criança já ensaiava nascer. Só teve tempo de lavar rapidamente suas mãos e pedir à menina que trouxesse toalhas e água quente, e ali mesmo fez o parto.
Não acontecia um acaso, pois ela fora adestrada pela vida em realizar partos caseiros, muitos, antes da hora... Sabia como agir e salvou a criança, mas sentindo que a mãe ofegava, ligou para um hospital chamando socorro.
Quando o marido chegou em casa, assustou-se vendo aquela prostitua dentro de sua casa, com um bebê no colo. Os fatos foram relatados e correndo ao hospital, deparou-se com esposa em estado gravíssimo, vindo a desencarnar em poucas horas. Enlouquecido, agora culpava o parto mal feito, mesmo diante da afirmação médica de que a esposa havia sofrido uma parada cardíaca por problemas de pressão alta não tratada na gravidez.
Saiu do hospital disposto a achar um culpado. Quando, enfurecido entrou no quarto para de lá expulsar a prostituta, assustou-se vendo que ao lado dela estava uma preta velha sorrindo. Esfregou os olhos e olhando novamente viu a mulher lhe entregando a criança e saindo.
Que seria dele agora? Os vizinhos movimentaram-se nos primeiros dias, ajudando aquela família, mas depois de um mês cada um voltou a cuidar de sua vida. Na próxima gira de preto velho, o cambono-chefe ajoelhava-se chorando em frente de Vovó Benta, com um bebê nos braços, o que deveria fazer.
- Zi fio, porque tanta tristeza? Esta criança é uma benção.
-Mas não tem mãe.. - exclamava ele choroso
.- Não tem mãe mas tem uma avó.
- Não minha mãe, as duas avós, tanto materna quanto paterna também já desencarnaram.
- Zi fio aguarde ... aquela que é a avó do "curumim" está chegando.
- O cambono estremeceu ao ver "aquela mulher" novamente ali.
- Avó de meu filho?
- O camboninho esquece que foi ela que o salvou? Se serviu de mãe, poderá servir de avó. Tem idade e experiência para tanto.
- Mas não tem moral!
- Zi fio, essa moral de que fala é um chapéu vistoso que dá imponência quando convém, e que serve para esconder a cara quando a vergonha chega. Larga de tanto orgulho e contrata essa filha que tanto precisa de um trabalho, para cuidar do filho que ela mesmo fez vir ao mundo.
Naquela noite, durante o sono, o cambono foi levado a outras paragens do mundo astral e dos quadros que presenciou, foram trazidos à sua mente física, pela manhã como uma forte vontade, senão necessidade, de chamar "aquela mulher" para ser babá de seu filho. E assim o fez.
Ao pedir seus documentos para o devido registro, surpreendeu-se com seu nome verdadeiro, pois a conhecia por Madame Zulu, seu nome de guerra.
Então ela passou a lhe contar que havia conhecido um rapaz rico que a engravidou, quando ainda muito jovem. Por impedimento das famílias, não puderam ficar juntos. Durante a gravidez toda foi obrigada a se esconder e quando o filho nasceu, sumiram com ele. Sua dor havia sido tão grande que saiu pelo mundo a procura do bebê sem nunca ter logrado êxito, até que desanimada e desacreditada, se jogou naquela casa e lá passou a viver de prazeres ilusórios. Falou de suas decepções, de sua tristeza e da saudade que tinha do filho que mal conhecera.
O coração daquele homem agora disparava porque algo muito forte gritava dentro dele. Perguntou por datas, por nomes, por locais e não havia mais dúvidas: - era ela..."aquela mulher" era sua mãe! Entre soluços jogou-se aos sues pés, contando sua história de abandono e de carência materna no orfanato.
Naquela noite, lá no terreiro, um cambono e uma ex-prostituta, agora mãe e filho, ajoelhados aos pés da preta velha choravam emocionados, apresentando o filho e neto para que fosse abençoado.
- Camboninho entende agora porque a preta velha ficava esperando até altas horas para que a filha chegasse no terreiro? Entende porque se diz que "Deus escreve certo por linhas tortas"? Esse pequeno ser que desfruta agora de vosso amor, tem uma história também, mas seja qual for, prometam ampará-lo e amá-lo, o tanto que vossos corações forem capazes, para que a justiça se cumpra.
Talvez um dia viessem a descobrir que em vida passada, o cambono e sua mãe haviam sido pais inconseqüentes daquele ser que ali renascia e que por causa disso, havia se perdido.
Tudo o que mais abominamos, faz parte de nós. A vida sempre nos coloca de frente à espelhos, que independente das máscaras que usarmos, vão sempre refletir nossa imagem verdadeira.
Preta Velha já foi.. já foi prá Aruanda... Vovó Benta
Fora uma noite semelhante à tantas outras onde aquele salão enchia-se de pessoas famintas do pão da fé e do conselho amigo dos pretos velhos.
Vovó Benta no entanto, continuava incorporada em seu aparelhinho, batendo o pé no chão e cantarolando.
O cambono-chefe veio até ela, informando delicadamente que os atendimentos haviam encerrado, podendo ela "subir".
- Salve camboninho, nega véia sabe que o terreiro esvaziô, mas tô aqui esperando aquela zi fia que tá chegando na portera...
Olhando para a porta, o cabono avistou "aquela senhora" chegando e mesmo sem nada falar à preta velha, seus pensamentos reprimiram aquele tipo de conduta que se repetia.
Quando estavam prestes a encerrar o trabalho, ela chegava escondendo o rosto atrás de um xale. "ainda se fosse alguém decente, mas essa criatura se prostitui nas outras noites e nessa, vem até aqui se fazer de santa..." pensava ele.
Vovó Benta captou as ondas do pensamento do cambono e somente sorriu, pensando em como a vida é uma caixinha de surpresas.
- Saravá zi fia. Como suncê tem passado?
- Minha mãe, minhas noites tem sido um terror. Os pesadelos não me deixam dormir e durante o dia tenho batido perna atrás de emprego, mas a senhora sabe, a minha fama faz com que todas as portas se fechem...
- Não desanima filha. Se você decidiu que realmente quer mudar sua vida, vai precisar de persistência e fé. Não desista de procurar. Há um lar onde a dor está chegando e vai precisar de alguém de coração grande, com vontade de trabalhar e com paciência. Neste lugar, enquanto a filha ganha seu pão honestamente com seu trabalho, vai poder ressarcir os erros de um passado que desconhece e que por fugir dele, até hoje padece.
- Eu não quero desistir, mas são muitas portas se fechando na minha cara... Às vezes penso que não vale a pena mudar de vida...
- A escolha é sua, por isso o Grande Pai nos deu o livre arbítrio, porém esta preta velha vai dizer para a filha que sem subir e descer a montanha, sem atravessar o lodaçal e sem passar pelas águas turbulentas do rio, ninguém chega até a porta da Casa do Pai, a única que não se fecha para nenhum dos filhos. Prova disso, é o fel que o próprio Cristo Jesus precisou provar antes de se elevar aos céus.
- Minha mãezinha, ontem mesmo vim até esta casa me oferecer para limpá-la durante o dia, como maneira de começar a fazer a minha caridade, porém me aconselharam que me restringisse a vir nas sessões de caridade, pois não ficaria bem uma "mulher da vida" limpar a casa dos Sagrados Orixás.
- Mais uma vez o livre arbítrio filha. Jesus recebeu Maria Madalena e permitiu que ungisse seus pés, porque viu o seu coração e não se limitou a julgar seus atos. Continua insistindo filha, mostra que a sua intenção é boa, pede uma chance de mostrar o seu trabalho.
Abençoando aquela mulher sofrida, de coração e forças já abatidos pelas noites de insônia dos tantos anos vividos naquele prostíbulo, Vovó Benta deu a ela um patuá e pediu que o usasse em sua bolsa, acreditando que estaria protegida e amparada por todos os Orixás. Despediu-se, quando a corrente mediúnica apressada, já cantava o ponto de encerramento.
A Preta Velha limpando as energias de seu aparelho com o galho de Arruda, chorou sentida pela falta de entendimento que alguns filhos ainda tem do real significado da caridade. Depois de largá-lo, permaneceu ainda ali junto aos outros espíritos que haviam prestado o seu serviço naquele templo e que agora, de mãos dadas, cantavam e dançavam ao redor dos médiuns, reequilibrando suas energias com a magia do som e do movimento.
Alheios à todo benefício que recebiam dos bondosos pretos velhos, alguns médiuns bocejavam, outros recostavam-se na parede sentindo-se cansados, outros ainda, pensavam no programa de televisão que estavam perdendo, graças "aquela senhora" que sempre atrasava o encerramento dos trabalhos.
A semana corria e os acontecimentos andavam conforme a prescrição de uma força maior à dos homens.
Num entardecer, aquela mulher grávida com fortes dores do parto, tenta chamar seu marido do trabalho, quando a bolsa d'água estoura e inicia-se forte sangramento. Alarmada pelo barulho, a filha adolescente sai do quarto e vendo a mãe no chão desmaiada, sai à rua gritando e chamando socorro. Uma mulher passava por ali, cabisbaixa e desanimada, mas que não hesitou em entrar correndo e atender a mulher, cuja criança já ensaiava nascer. Só teve tempo de lavar rapidamente suas mãos e pedir à menina que trouxesse toalhas e água quente, e ali mesmo fez o parto.
Não acontecia um acaso, pois ela fora adestrada pela vida em realizar partos caseiros, muitos, antes da hora... Sabia como agir e salvou a criança, mas sentindo que a mãe ofegava, ligou para um hospital chamando socorro.
Quando o marido chegou em casa, assustou-se vendo aquela prostitua dentro de sua casa, com um bebê no colo. Os fatos foram relatados e correndo ao hospital, deparou-se com esposa em estado gravíssimo, vindo a desencarnar em poucas horas. Enlouquecido, agora culpava o parto mal feito, mesmo diante da afirmação médica de que a esposa havia sofrido uma parada cardíaca por problemas de pressão alta não tratada na gravidez.
Saiu do hospital disposto a achar um culpado. Quando, enfurecido entrou no quarto para de lá expulsar a prostituta, assustou-se vendo que ao lado dela estava uma preta velha sorrindo. Esfregou os olhos e olhando novamente viu a mulher lhe entregando a criança e saindo.
Que seria dele agora? Os vizinhos movimentaram-se nos primeiros dias, ajudando aquela família, mas depois de um mês cada um voltou a cuidar de sua vida. Na próxima gira de preto velho, o cambono-chefe ajoelhava-se chorando em frente de Vovó Benta, com um bebê nos braços, o que deveria fazer.
- Zi fio, porque tanta tristeza? Esta criança é uma benção.
-Mas não tem mãe.. - exclamava ele choroso
.- Não tem mãe mas tem uma avó.
- Não minha mãe, as duas avós, tanto materna quanto paterna também já desencarnaram.
- Zi fio aguarde ... aquela que é a avó do "curumim" está chegando.
- O cambono estremeceu ao ver "aquela mulher" novamente ali.
- Avó de meu filho?
- O camboninho esquece que foi ela que o salvou? Se serviu de mãe, poderá servir de avó. Tem idade e experiência para tanto.
- Mas não tem moral!
- Zi fio, essa moral de que fala é um chapéu vistoso que dá imponência quando convém, e que serve para esconder a cara quando a vergonha chega. Larga de tanto orgulho e contrata essa filha que tanto precisa de um trabalho, para cuidar do filho que ela mesmo fez vir ao mundo.
Naquela noite, durante o sono, o cambono foi levado a outras paragens do mundo astral e dos quadros que presenciou, foram trazidos à sua mente física, pela manhã como uma forte vontade, senão necessidade, de chamar "aquela mulher" para ser babá de seu filho. E assim o fez.
Ao pedir seus documentos para o devido registro, surpreendeu-se com seu nome verdadeiro, pois a conhecia por Madame Zulu, seu nome de guerra.
Então ela passou a lhe contar que havia conhecido um rapaz rico que a engravidou, quando ainda muito jovem. Por impedimento das famílias, não puderam ficar juntos. Durante a gravidez toda foi obrigada a se esconder e quando o filho nasceu, sumiram com ele. Sua dor havia sido tão grande que saiu pelo mundo a procura do bebê sem nunca ter logrado êxito, até que desanimada e desacreditada, se jogou naquela casa e lá passou a viver de prazeres ilusórios. Falou de suas decepções, de sua tristeza e da saudade que tinha do filho que mal conhecera.
O coração daquele homem agora disparava porque algo muito forte gritava dentro dele. Perguntou por datas, por nomes, por locais e não havia mais dúvidas: - era ela..."aquela mulher" era sua mãe! Entre soluços jogou-se aos sues pés, contando sua história de abandono e de carência materna no orfanato.
Naquela noite, lá no terreiro, um cambono e uma ex-prostituta, agora mãe e filho, ajoelhados aos pés da preta velha choravam emocionados, apresentando o filho e neto para que fosse abençoado.
- Camboninho entende agora porque a preta velha ficava esperando até altas horas para que a filha chegasse no terreiro? Entende porque se diz que "Deus escreve certo por linhas tortas"? Esse pequeno ser que desfruta agora de vosso amor, tem uma história também, mas seja qual for, prometam ampará-lo e amá-lo, o tanto que vossos corações forem capazes, para que a justiça se cumpra.
Talvez um dia viessem a descobrir que em vida passada, o cambono e sua mãe haviam sido pais inconseqüentes daquele ser que ali renascia e que por causa disso, havia se perdido.
Tudo o que mais abominamos, faz parte de nós. A vida sempre nos coloca de frente à espelhos, que independente das máscaras que usarmos, vão sempre refletir nossa imagem verdadeira.
Preta Velha já foi.. já foi prá Aruanda... Vovó Benta
domingo, 1 de dezembro de 2013
Mãe Cambinda da Guiné
Dezoito horas. A penumbra da noite começa a cair sobre a pequena casa isolada no alto da colina. Quem passa pela estrada não consegue imaginar como alguém pode viver ali. Cândida mora na casinha com seu único filho, Thiago, de cinco anos, não por opção, mas por ter sido a única saída quando foi abandonada pelo marido depois de um casamento conturbado. Começa a procurar pelas velas que acenderá nos dois pequenos cômodos, quando batem à porta. A mulher se assusta, nunca aparece ninguém nesse recanto afastado do mundo. Quem seria? Ao abrir depara-se com uma senhora negra, a avançada idade denunciada pelos cabelos totalmente brancos. - Minha filha, me dê um copo com água pelo amor de Deus, estou andando desde o meio-dia e já não agüento mais de cansaço e sede. Cândida olhou para aquela mulher e sentiu profundo dó, usando roupas surradas e carregando uma imensa sacola, deveria realmente estar muito cansada. - Entre dona, sente um pouco que lhe darei água e um cafezinho. - Muito obrigada, minha querida, vou aceitar. Em poucos minutos ambas trocam informações e conhecem um pouco da vida sofrida de cada uma como se fossem velhas conhecidas. De repente do quarto contíguo vem um gemido. - Seu menino está doente, minha filha? - Está dona Maria, com um febrão enorme, já fiz de tudo e ela não baixa, hoje já chorei demais e se ele não melhorar, sairei de madrugada para procurar socorro médico. - Vamos lá ver isso. Sou benzedeira sabe? Na meia hora seguinte, dona Maria tomou conta da situação, abriu sua sacola, tirou ervas, mandou que se preparasse um banho, com outras pediu que Cândida fizesse um chá. Banhou o menino, deu-lhe o chá, sentou-se com ele no colo e rezou por muito tempo. Findas as orações, colocou o garoto adormecido na cama, a febre havia passado. A mãe não sabia como agradecer aquela senhora. Ofereceu-lhe pousada. - Não minha filha, tenho que ir, muita gente me espera. Deu algumas ervas com as recomendações necessárias para seu uso e dirigiu-se para a porta agradecendo e se despedindo. De súbito virou-se e perguntou: - Minha filha, só uma pergunta. Aquela vela em seu altar queimando, é para quem? - Ah dona Maria, aquela vela, mantenho sempre acesa para a Mãe Cambinda, minha linda, minha preta- velha de devoção! - Que linda é a fé não minha querida? Bem tenho mesmo que ir, até um dia! Com seu andar vagaroso afastou-se. Quando já estava a uns dez passos virou-se: Minha filha! - Sim? Respondeu a moça - Obrigado! - Obrigado por quê? Eu que tenho que agradecer. E a velha senhora respondeu: - Obrigado pela vela querida... Pela vela! Virou-se novamente para o caminho e sob os olhos marejados de Cândida, Mãe Cambinda da Guiné desapareceu no ar!
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
Preto Velho que foi doutor - Poema Pai Emidio de Ogum
Dia triste dia de sentar em um cantinho e ficar ali parado pensando pensando...
Ter um banquinho seria uma coisa boa, e um cachimbo então...
Pensar com a vida foi rude demais, não falo das torturas e da fome...
Falo da distância da familia, pense você longe dela como se sentiria?
Mas passou foi a bastante tempo, mas essa reencarnação marcou muito
Ja tive outras, também fui um homem ruim, pensava somente nas coisas materiais
E olha eu aqui de volta nesta terra, voltei pra consertar...
Morri abraçado ao meu dinheiro, deixei de viver minha vida
Mas Oxalá com muito custo me deu novamente outra oportunidade
Fui mendigo fui doutor, as mesmas mãos que pediram o pão as pessoas curou
Quando mendigo fui feliz, preocupava-se comigo e meus amigos, mendigos também
Quando doutor fui procurado por muitos mendigos e também aliviei-lhes a dor
Olho minhas mãos, penso que elas somente são como as cascas de uma laranja madura
Por fora o tempo a fez mudar e por diversas vezes senti muita dor
Mas por dentro ainda são aquelas mãos, por dentro elas são conduzidas pela minha alma
Uma vez ela esta ali puxando o jornal como cobertor, outra vez sentindo o feto na barriga da mãe
Um dia esta história me intrigou, estava passando pelas ruas e procurava um lugar pra dormir
Percebi alguns mendigos ali debaixo de um toldo furado, e coloquei um jornal no chão e forrei com meu cobertor, fiquei ali meio dormindo meu acordado, pois percebi que do meu lado tinha uma mendiga grávida, próxima a dar a luz, de repente começou aquela criança a nascer, e não sabia o que fazer, demorou e vi que a criança tava com dificuldade de sair, percebi não sei como mas deveria ajuda-la, segurei a criança e fiz tudo que um médico faria, a criança nasceu e percebi minhas mãos sujas de sangue, por oras fiquei pensando o que fiz sem ao mesmo conhecer de medicina, mas de tanto pensar adormeci, um sonho veio e em algum lugar eu fui parar, era uma sala grande todos de branco e de branco eu também estava lá, era mais novo que hoje e percebi que fome não tinha, e que aquele lugar tinha um professor, continuei ali aprendendo a curar a dor, aprendia muito pois o sonho não acabava e continuava sempre do mesmo jeito, foi passando o tempo e um certo dia já havia aprendido bastante e para um hospital me mandaram, um certo dia muito estranho apareceu uma pessoa muito bem vestida, tinha joias e estava grávida prestes a dar a luz, fora encontrada caída na rua por alguns mendigos que a trouxeram, fiz o parto bem rápido e qual foi a minha surpresa a criança nascerá e o rosto era o mesmo daquela criança que a mendiga dera a luz, mas o sonho não acabou, até hoje ele continua, e quando já muito velho sentado em um banco na praça, um homem veio contar-me uma história, era sobre um mendigo metido a doutor, certa conta disseram que morrerá de frio ali perto a muitos anos, morrerá de frio pois após fazer um parto de uma mendiga cobrira a criança a noite toda com seu único cobertor.
Preto Velho é doutor, não imagine que sempre foram escravos pois as suas reencarnações foram muitas, e hoje podem mostrar a todos nós um pouquinho de sua luz.
Que a Divina Luz esteja entre nós
Autor do poema Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
Visão dos Orixás
Numa praia deserta caminhava um filho de fé…
Atormentado por suas mágoas e provações, buscava por um alento um consolo.
Buscava forças e um sinal de esperança, para poder continuar lutando… Olhava fixamente para as águas do mar, as ondas se quebrando, vindo do horizonte aos seus pés se esparramar… Uma lágrima entristecida cobriu-lhe a face, seu coração apunhalado pelas intrigas e maldades dos seus irmãos, já se tornava insuportável…
“Então”…
Quando percebeu, já estava distante, foi quando notou que já estava entardecendo…
O vento soprou em seu rosto e veio a sua intuição.
A Senhora dos Ventos, Mãe Iansã, e a saudou com alegria e sentiu suas magoas serem levadas pelo vento, a paz começou a renascer…
Olhou para o poente e viu no céu as nuvens avermelhadas, então com grande força saudou o Senhor das Demandas, seu Pai Ogum, e aos poucos o peso que lhe afligia se quebrava, e continuou caminhando…
Observou na beira das águas doce que desembocavam no mar, peixinho dourado a cintilar, foi então que seu coração se encheu de doçura e saudou Mamãe Oxum, que o abençoava com seu sagrado e divino manto…
Aos poucos, leves gotas de chuva tocaram a sua pele e a paz de espírito e o amparo que sentiu ao pisar na lama da areia misturada com água da chuva, que o fez lembrar-se de Nanã Buruque, com sua lama sagrada, aliviou por completo suas dores causadas pelos tormentos materiais e espirituais, e a saudou com grande festividade…
Perdido em seus pensamentos o filho de fé, caminhava fascinado, quando de repente a brisa tocou seus cabelos e junto com elas trouxe folhas da mata distantes. Sem hesitar saudou Pai Oxossi, e pediu em sua mente que aquelas folhas lhe purificassem e o livrassem de todos os sentimentos impuros.
Sua concentração foi interrompida ao ver um raio iluminar o céu, e ouviu um alto estrondo de raio e trovão a explodir nas pedreias… Logo lhe encheu o peito de coragem. “Kaô Kabecilê”, e sentiu a mão forte do seu pai Xangô, então confiante, não mais sofria pelas injustiças, pois seu pai lhe protegia…
Então admirado, sentou-se à beira mar, olhou para o céu e viu uma constelação, e lembrou-se das almas benditas e dos adoráveis pretos velhos e, sem se esquecer do bondoso Pai Obaluaê, que aos poucos com seu fluido curava as chagas do seu corpo e espírito…
Fixou o olhar no céu, e nas nuvens brancas a rodear as estrelas e uma delas brilhava e cintilava, como se fosse o centro do Universo, então humildemente, nosso irmão de fé agradeceu a Pai Oxalá por ter lhe dado o Dom da Mediunidade. E poder levar alento e paz aos irmãos necessitados…
Então um perfume exalava de dentro do mar, eram rosas perfumadas que chegavam até ao seus pés, e foi ai que avistou Mãe Iemanjá, seu coração não se continha de tanta alegria, sua mãe o amparava e o confortava, e veio a sua mente…
“A elevação do filho de fé… Não está na força ou sabedoria, mas sim em seu coração. Porque ele pode saber pouco ou não ter força alguma. Mas sente a essência e o fundamento da verdadeira Umbanda… Paz, Amor e Caridade!!!”
Atormentado por suas mágoas e provações, buscava por um alento um consolo.
Buscava forças e um sinal de esperança, para poder continuar lutando… Olhava fixamente para as águas do mar, as ondas se quebrando, vindo do horizonte aos seus pés se esparramar… Uma lágrima entristecida cobriu-lhe a face, seu coração apunhalado pelas intrigas e maldades dos seus irmãos, já se tornava insuportável…
“Então”…
Quando percebeu, já estava distante, foi quando notou que já estava entardecendo…
O vento soprou em seu rosto e veio a sua intuição.
A Senhora dos Ventos, Mãe Iansã, e a saudou com alegria e sentiu suas magoas serem levadas pelo vento, a paz começou a renascer…
Olhou para o poente e viu no céu as nuvens avermelhadas, então com grande força saudou o Senhor das Demandas, seu Pai Ogum, e aos poucos o peso que lhe afligia se quebrava, e continuou caminhando…
Observou na beira das águas doce que desembocavam no mar, peixinho dourado a cintilar, foi então que seu coração se encheu de doçura e saudou Mamãe Oxum, que o abençoava com seu sagrado e divino manto…
Aos poucos, leves gotas de chuva tocaram a sua pele e a paz de espírito e o amparo que sentiu ao pisar na lama da areia misturada com água da chuva, que o fez lembrar-se de Nanã Buruque, com sua lama sagrada, aliviou por completo suas dores causadas pelos tormentos materiais e espirituais, e a saudou com grande festividade…
Perdido em seus pensamentos o filho de fé, caminhava fascinado, quando de repente a brisa tocou seus cabelos e junto com elas trouxe folhas da mata distantes. Sem hesitar saudou Pai Oxossi, e pediu em sua mente que aquelas folhas lhe purificassem e o livrassem de todos os sentimentos impuros.
Sua concentração foi interrompida ao ver um raio iluminar o céu, e ouviu um alto estrondo de raio e trovão a explodir nas pedreias… Logo lhe encheu o peito de coragem. “Kaô Kabecilê”, e sentiu a mão forte do seu pai Xangô, então confiante, não mais sofria pelas injustiças, pois seu pai lhe protegia…
Então admirado, sentou-se à beira mar, olhou para o céu e viu uma constelação, e lembrou-se das almas benditas e dos adoráveis pretos velhos e, sem se esquecer do bondoso Pai Obaluaê, que aos poucos com seu fluido curava as chagas do seu corpo e espírito…
Fixou o olhar no céu, e nas nuvens brancas a rodear as estrelas e uma delas brilhava e cintilava, como se fosse o centro do Universo, então humildemente, nosso irmão de fé agradeceu a Pai Oxalá por ter lhe dado o Dom da Mediunidade. E poder levar alento e paz aos irmãos necessitados…
Então um perfume exalava de dentro do mar, eram rosas perfumadas que chegavam até ao seus pés, e foi ai que avistou Mãe Iemanjá, seu coração não se continha de tanta alegria, sua mãe o amparava e o confortava, e veio a sua mente…
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