sexta-feira, 31 de março de 2023

Ser filho de Oyá NÃO É FÁCIL!

 Ser filho de Oyá NÃO É FÁCIL!


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Você sofre tanto, mas tanto injustamente que ninguém consegue te compreender. As pessoas julgam você o tempo inteiro. Você é visto como o perturbado, briguento, atormentado, tudo isso por conta de você ter o fogo de Oyá dentro de você.

Ser filho de Oyá é não ter muitos amigos, mas apenas os que você conta nos dedos. Ninguém consegue te entender. Você mostra toda a verdade, mas mesmo assim, não te valorizam. É tão difícil ser de Oyá nessas horas de ódio, onde você sempre saí como errado.

Mas você percebe que TUDO isso é tão simples. Porque com o passar do tempo, você nota que você é a sua verdade e que você apenas faz o que é certo, mesmo que o mundo todo esteja contra você, a verdade que você tem é apenas sua, pois você reflete a sua mãe guerreira.
Perseguição, calúnias, traições, tudo isso quem é filho de Oyá sofre.

Ah, mas é tão lindo ser de Oyá. É tão gostoso sentir o vento da Ìyagbà em nosso rosto, o toque dele em nossa alma. O coração acelera, ela chega mais perto e sussurra:
"Estarei sempre contigo. Pode contar comigo, meu filho, eu te amo."
Ela se mostrou como uma bela borboleta. Mostrou que, pode ser furiosa feito um búfalo, mas é tão calma, linda e pura como uma borboleta.

Por falar em borboleta, nós, filhos de Oyá, somos vistos como uma lagarta. Rudes, grotescos, estranhos, feios, horríveis, mas dentro de nós existem incalculáveis borboletas que batem em nosso espírito nos transformando em melhores do que nos julgam. O nosso caráter é ilibado, correto, justo, honrado, ninguém nos corrompe. Preferimos viver na rua, livres como o vento do que dever ou depender de alguém.

Nós, filhos de Oyá, não sofremos calados. Somos o rosado do entardecer no céu. Somos o raio que fere os covardes, imorais, hipócritas e mentirosos. Somos aqueles que nenhum dos eguns, kiumbas ou qualquer coisa negativa nos derruba. Somos guardiões das pequenas e grandes calungas.
Somos a espada da justiça, somos a tempestade, o furacão, a erupção, a audácia e a coragem de se sacrificar sempre pela verdade, de morrer por ela. Gritamos sim, choramos de indignação sim, pois sentimos a dor do outro em nosso âmago, em nosso profundo ser.

Somos a cara da coragem, o verbo fazer, amigos leais, que briga pra defender os mais incautos. Nós, filhos de Oyá temos o que os outros não tem:
O renascimento do fogo, o fogo que vem de Òrun, o fogo sagrado de Olódùmarè. Altivos, elegantes, sempre com a cabeça erguida, assim somos, pois mostramos a nossa cara o tempo todo, não usamos meios termos, não prometemos coisas e deixamos de cumprir, JAMAIS! Cumprimos sempre com o nosso compromisso, temos palavra, somos 8 ou 80, sem bajulação, é sim, sim ou não, não, e botamos um ponto de exclamação!

Obrigado, minha mãe Oyá, por todos os momentos de altos e baixos, pois com tudo de ruim e também de bom, a senhora nunca permitiu me deixar caído no chão para a alegria dos que me detestam. Sou a força de Oyá, ela vive em mim e eu vivo por ela, nessa vida ela me auxilia e eu sou eternamente grato por ser amado por essa maravilhosa borboleta divina, esse búfalo feroz, essa Òrìsà guerreira, essa grande mulher de invejável beleza.
EPARREY!
⚡🌪♥️🦋🐃

📝Texto de @Thau Ãn
Fatos do Axé 

NATAL DE UM PRETO-VELHO

 NATAL DE UM PRETO-VELHO


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Estava eu ali no meio da senzala, uma pequena vela acesa ainda custava a se apagar, e iluminava as paredes suadas do pó acumulado nos anos de solidão.

No canto próximo a velha cama de palha, repousava um velho crucifixo de madeira, talhada pelas mãos de meu avô.

Na improvisada mesa de cabeceira feita de pedaços de madeira, estava uma toalha branquíssima e em cima dela Nossa Senhora, ofertada pela sinhá.

Deveria como todas as outras noites ir dormir e descansar meu corpo, mas aquele dia era Natal, e o som vindo da casa grande anunciava um belo jantar, ouvia-se as risadas, e em meio aos copos brindando uma voz ouvi-se e novamente o brinde surgia, passos de muitas pessoas eu ouvia, e percebi que chegara a hora da ceia, o senhor da casa tomou a palavra o o silêncio se fez no ambiente, tal como em uma igreja aquelas pessoas começaram a rezar, percebi que aquela noite seria muito importante para eles.

Peguei meu terço entre os dedos, beijei e olhando para ele pedi para que o mundo fosse mais justo, pedi por todos que estão sofrendo, pedi para que o amor saia das mentes e poste-se nos corações, pedi simplesmente pela paz.
Porque eles rezam meu pai, enquanto sofre o negro na senzala? Como pedir a Deus por nós próprios quando nada fazemos por nosso semelhante. Que tolice a deles se fartar de comida quando outros tem fome.

Hoje eu entendi tudo que passei, aquele sofrimento me mostrou muito, mesmo nas horas que meu corpo deitava-se no suor e sangue da chibata eu não perdi a fé, mesmo quando vi meus irmãos morrendo a minha frente açoitados e injustiçados, ainda assim mantive minha fé.

Quando deixei este mundo, tive a permissão de voltar para contar minha história, sentado em um banquinho de um terreiro poço ajudar as pessoas, até meu cachimbo foi ofertado por uma pessoa que me ama de verdade, não vim contar coisas de outras vidas, vim somente mostrar o amor, vim dizer que a fé esta dentro de cada coração e o alimento desta fé é a oração.

Quando desencarnei eu fui para um lugar cheio de luzes, um lindo jardim com flores, lá perguntaram se eu tinha raiva daqueles que feriram meu corpo, e e eu disse que não, pois o julgamento não pertencia a mim, e naquele momento foi me dito que deveria ajudar as pessoas que chegavam recém desencarnados.

No meio de muitos encontrei o senhor dono dos escravos, no meio de uma névoa escura, estava assustado, ali estendi minha mão, segurei a dele e disse-lhe, senhor não tenha medo, estou aqui para cuidar do senhor, não julgarei seus erros, e nesses anos que estará aprendendo, serei seu amigo.

Este homem reencarnou e disse em um dia de Natal:

Pai cuida de seus filhos, brancos, negros, índios e amarelos, cuida de suas mentes, faça do seu dia um dia de reflexão, faça que todos rezem uma só oração, traga de volta o amor meu Pai, perdoe nossos pecados, perdoe aqueles que não sabem amar seu semelhante.

Vovô Benedito da Cachoeira.

quinta-feira, 30 de março de 2023

CRENÇA, DÚVIDA, CÉU E INFERNO - OSHO

 

CRENÇA, DÚVIDA, CÉU E INFERNO - OSHO



"Todo mundo ensina a crença, mas ninguém ensina a dúvida, porque a dúvida é natural. Os verdadeiros mestres, como Gautama Budha, dizia a seus díscípulos : "Não creiam só porque eu digo que é assim. Não creiam apenas porque as sagradas escrituras dizem que é assim. Não creiam só porque as massas crêem em certa coisa. A menos que você experimente, jamais acredite em nada. Siga duvidando - siga duvidando até o fim."

A dúvida é uma qualidade natural, intrínseca do seu ser; é dada por Deus. Use-a, porque ela tem tremendo poder em si. Ela é um instrumento para se descobrir a verdade.
Não sugiro que você se torne profundamente convencido de nada; sugiro que você duvide e que duvide totalmente, de modo que você possa descobrir a verdade. A dúvida não é contra a verdade, a dúvida é uma metodologia para se descobrir a verdade. A dúvida não é um inimigo da verdade, mas o único amigo. A crença é o inimigo da verdade, porque é a crença que impede de descobrir, de investigar.(...)

Eu sou apenas um amigo. Estou aqui para explicar a você como eu descobri a verdade. A dúvida foi meu processo. meu próprio caminho para chegar à verdade. E eu gostaria que vocês se tornassem cada vez mais e mais afiados, inteligentes. Duvide mais cientificamente. Assim como na ciência, a dúvida o ajuda a descobrir, ela também ajuda na jornada interior.

Assim, a primeira coisa que eu gostaria de sugerir-lhe é esta: abandone a ideia de "profundas convicções".(...)
Quando você diz: Eu estou profundamente convencido de que nosso caminho é abandonar o ego...

Quem é este Eu estou? Quem está convencido? Ora, isso é uma contradição! Você diz: Eu estou profundamente convencido de que nosso caminho é abandonar o ego... "Eu estou" não é nada mais que um outro nome para o ego. Agora, você entrou numa confusão. Se o ego está convencido de que o único caminho é abandonar o ego, então, quem vai abandonar quem? E como? É como você puxa-se para cima pelos seus próprios cordões de sapato. Você vai aparecer só um tolo. Observe cada palavra que você usa. " Eu estou" não é nada mais que o ego.

A segunda coisa: ninguém jamais foi capaz de abandonar o ego, porque o ego não é uma realidade que você possa abandonar; algo para ser abandonado tem de, pelo menos, ser real, substancial. O ego é apenas uma noção, uma ideia. Você não pode abandoná-lo, você pode somente compreendê-lo. Você pode abandonar a sua sombra? Você pode correr tão depressa quanto queira, mas a sombra correrá na mesma velocidade, exatamente na mesma velocidade.

Há uma história taoísta sobre o homem que ficou com medo da sua sombra. Ele estava lendo uma história... Ele estava sozinho numa fazenda, numa pequena cabana, e no meio da escuridão profunda da noite, lendo uma história que estava dizendo que as sombras não são nada além de fantasmas. Ele ficou tão amedrontado que olhou novamente e a sombra estava ali. A lógica natural era que ele não estava correndo tão depressa como deveria; então, ele começou a correr cada vez mais e mais depressa. Quanto mais depressa ele corria, mais depressa a sombra o seguia. Ele ficou completamente exaurido e cansado, tanto que não pôde mais correr e simplesmente sentou-se debaixo da sombre de uma árvore. No momento em que ele sentou-se sob a árvore, sua sombra desapareceu.
Ele ficou espantado; ele não pôde escapulir da sombra enquanto estava correndo daquele jeito e agora que ele estava simplesmente sentado debaixo da sombra da árvore, a sombra desaparecera.

Esta é uma bela parábola de grande significado.
Você não pode abandonar o ego. Uma vez que você comece a tentar a abandonar o ego, você vai entrar numa fria; você vai ficar cada vez mais e mais preocupado e confuso. E esse não é o meio de se livrar do ego. O único meio de se livrar do ego é olhar-se para ele.
Primeiro tente descobrir onde ele está, se ele está aí ou não, em primeiro lugar. E a pessoa que vai para dentro, jamais o descobre; ele simplesmente desaparece.
O ego é apenas uma ideia, uma ideia daquela gente que jamais foi para dentro. E elas sofrem por causa do ego - porque ele é uma coisa falsa, ele cria sofrimento. Lembre-se: a realidade sempre cria bênçãos, e a falsidade sempre traz a miséria.


O inferno é a coisa mais falsa do mundo - o céu é a única realidade. Nós estamos dentro dele agora mesmo, neste exato momento. Nós não podemos estar em nenhum outro lugar.
Se você está num inferno, isso é criação sua, fantasia sua, você está vendo um sonho. Se você está no céu, isso não é fantasia sua, não é sonho seu, é assim que as coisas são. O céu é o ambiente das coisas.


Basta olhar para dentro e tentar descobrir, desvendar onde está o ego, e você se surpreenderá: você não poderá achá-lo em lugar nenhum. E quando você pode encontrá-lo em algum lugar, ele vai embora - sem que seja abandonado.

Mas, se você começar a abandoná-lo, isso será como correr para fugir da sombra. Você ficará desnecessariamente exausto, cansado e começará a se sentir muito culpado, por não ter sido capaz de se livrar do ego. Você começará a se sentir como um pecador, começará a se condenar. Toda a sua vida será destruída, somente por um simples erro: o de que você olhou para fora e saiu correndo, jamais olhou para dentro.

Uma simples experiência do mundo interior é o bastante para revelar o fato de que o ego é uma falsidade, de que nós não estamos separados, de que somos um só, de que somos parte de um único universo orgânico."

Osho em Teologia Mística - Discursos sobre o Tratado de São Dionísio.

O QUE É SER UM INDIVÍDUO ? - OSHO

 

O QUE É SER UM INDIVÍDUO ? - OSHO



"Na sociedade, existe uma profunda expectativa de que você se comporte exatamente como todos os demais. No momento em que se comporta de forma um pouco diferente, você passa a ser um sujeito estranho, e as pessoas têm muito medo de estranhos.

As pessoas sempre querem participar de um grupo ao qual se ajustem.

Nesta sociedade, ninguém aceita a si mesmo. Todo mundo se condena. Esse é o estilo de vida da sociedade: condenar-se. E, se você não está se condenando, se está se aceitando do jeito que é, você tem que se afastar da sociedade.

E a sociedade não tolera ninguém que saiu do rebanho, porque ela vive de números; é uma política de números. Quando há muitos números, as pessoas se sentem bem. Números grandes fazem com que as pessoas sintam que tem de estar certas - elas não podem estar erradas, milhões de pessoas estão com elas. E, quando ficam sozinhas, grandes dúvidas começam a vir à tona: Ninguém está comigo. O que garante que estou certo?

É por isso que eu digo que, neste mundo, ser um indivíduo é o maior sinal de coragem.

Para ser um indivíduo, é preciso o mais destemido dos treinamentos: “Não importa que o mundo inteiro esteja contra mim. O que importa é que a minha experiência é válida. Eu não me importo com os números, com quantas pessoas estão comigo. Eu me importo com a validade da minha experiência — se estou simplesmente repetindo as palavras de outra pessoa, como um papagaio, ou se a fonte das minhas afirmações é a minha própria experiência. Se é a minha própria experiência, se isso é parte do meu sangue, dos meus ossos, do meu âmago, então o mundo inteiro pode pensar de outro jeito; ainda assim, eu estou certo e eles estão errados. Não importa, não preciso da aprovação deles para sentir que estou certo. Só aqueles que dependem das opiniões de outras pessoas precisam do apoio dos outros.

Mas é assim que a sociedade humana tem sido até agora. É assim que ela mantém você no rebanho. Se os outros estão tristes, você tem que ficar triste; se sofrem, você tem que sofrer. O que quer que eles sejam, você tem que ser também. Não se permitem diferenças, porque as diferenças acabam levando para o indivíduo, para o único, e a sociedade tem muito medo do indivíduo e da unicidade. Isso significa que alguém ficou independente do grupo, que essa pessoa não dá a mínima para o grupo. Seus deuses, seus templos, seus padres, suas escrituras, tudo ficou sem sentido para ela.

Agora ela tem seu próprio ser e seu próprio jeito, seu próprio estilo — de viver, morrer, celebrar, cantar, dançar. Ela chegou em casa. E ninguém pode chegar em casa junto com a multidão. Só se pode chegar em casa sozinho."

Osho em O Livro dos Segredos VI

quarta-feira, 29 de março de 2023

PENA E COMPAIXÃO - PREM BABA

 

PENA E COMPAIXÃO - PREM BABA



Pergunta: Qual a diferença entre e pena e a compaixão?

Prem Baba: É a mesma diferença entre o dia e a noite; entre luz e trevas. 
A pena é egoística e a compaixão é altruística. 

Você somente sente dó de si mesmo – o outro é um reflexo de algum aspecto seu. Ao sentir pena, você não enxerga o outro e não o respeita. Você não está interessado nele – você quer somente se livrar do seu problema, porque o sofrimento do outro está lhe incomodando. 
Ele está espelhando o seu próprio sofrimento, o qual você se recusa a enxergar.

As lágrimas da pena são superficiais porque nascem de uma máscara do bondoso e caridoso. Essa máscara encobre o egoísmo. 
Por trás dela existe um congelamento, uma impermeabilização que te impede de fazer empatia e colocar-se verdadeiramente no lugar do outro. 

Porque você só faz empatia se houver amor e, se existe amor pelo outro, você respeita aquilo que ele precisa experienciar. 

Se você ama as pessoas na rua, coloque-se no lugar delas e verá que dar dinheiro não ajuda em nada. Em algum caso ou outro pode ser que ajude, mas, na maioria das vezes, você está apenas alimentando o vício de pedir e a ilusão de impotência, entre muitas outras fantasias que fazem com que elas fiquem nesse lugar.

Se o amor está transbordando do seu coração e se você realmente se importa com o outro, encontre um meio para ele se levantar. A compaixão é desinteressada. Você quer realmente ver o outro feliz; você quer vê-lo brilhar, respeitando o processo dele.

E como você se move da pena para a compaixão? Libertando-se da projeção."

Prem Baba em Satsang


RELACIONAMENTOS E CONSCIÊNCIA - ECKHART TOLLE

 

RELACIONAMENTOS E CONSCIÊNCIA - ECKHART TOLLE





"Quando os egos se encontram, quer em relacionamentos pessoais quer em organizações e instituições, mais tarde ou mais cedo acontecem coisas "más", dramas, dramas de uma ou de outra espécie, sob forma de conflitos, problemas, lutas de poder, violência física ou emocional, e outras coisas semelhantes. Isto inclui males coletivos, como por exemplo a guerra, o genocídio e a exploração - tudo devido à inconsciência acumulada. Além disso, muitos tipos de doenças são causadas pela resistência permanente do ego, que cria restrições e bloqueios no caudal da energia que percorre o corpo. Quando você se liga novamente ao Ser e deixa de ser governado pela sua mente, deixa de criar essas coisas. Deixa de criar ou de participar em dramas.(...)

O ego sempre quer alguma coisa das pessoas ou das situações. No caso dele há sempre um plano oculto, um sentimento de "ainda não é o bastante", de insuficiência e falta, que precisa ser atendido. Ele usa as pessoas e situações para conseguir o que deseja e, até mesmo quando é bem-sucedido, nunca fica satisfeito por muito tempo.

Em geral, vive frustrado com seus objetivos - na maior parte do tempo, a lacuna entre o "eu quero" e "o que acontece" torna-se uma fonte constante de aborrecimento e angústia.

O medo de não ser ninguém, o medo da não-existência, o medo da morte. Todas as suas ações, enfim, destinam-se a eliminar esse temor.

Por que o medo? Porque o ego surge pela identificação com a forma e, na verdade, ele sabe que nenhuma forma é permanente, que todas elas são transitórias.

Assim, há sempre um sentimento de insegurança ao seu redor, mesmo que externamente ele pareça confiante.(...)

Sempre que dois ou mais egos se juntam, sucede-se algum tipo de drama. E mesmo que você viva completamente só, continuará a criar o seu próprio drama. Quando você se lamenta, isso é um drama. Quando se sente culpado ou ansioso, isso é um drama. Quando deixa que o passado ou o futuro obscureçam o presente, está a criar tempo, tempo psicológico - a matéria-prima do drama. Sempre que não honra o momento presente, permitindo que ele seja, está a criar um drama.(...)

Em determinados casos, precisamos nos proteger ou defender uma pessoa dos atos prejudiciais de alguém. No entanto, temos que ter cuidado para não transformar isso numa missão de "erradicação do mal", uma vez que, provavelmente, nos converteremos na própria coisa que estamos combatendo. Lutar de modo inconsciente pode nos levar à inconsciência - o comportamento egóico desajustado - nunca seja vencida pelo ataque.

Mesmo se derrotarmos o oponente, ela se transferirá para nós ou esse adversário reaparecerá num novo disfarce. Nós fortalecemos tudo aquilo que combatemos, enquanto todas as coisas a que resistimos persistem.

Reconheça o ego pelo que ele é: um distúrbio coletivo, a insanidade da mente humana. Quando o identificamos pelo que ele é, deixamos de interpretá-lo erroneamente como a identificação de uma pessoa. E temos mais facilidade em não adotar uma atitude reativa em relação a ele. Já não o tomamos como algo pessoal. Não existe queixa, culpa, acusação nem ação equivocada. Ninguém está errado. É apenas o ego em alguém, só isso.(...)

Um dia, a meio de uma discussão, você apercebe-se de súbito que tem escolha e pode decidir deixar de lado a sua própria reação... só para ver o que acontece. Você rende-se.

Não quero dizer pôr de lado a reação apenas a nível verbal, dizendo «Pronto, tens razão» com um ar que expressa «Estou acima de toda esta inconsciência infantil». Fazê-lo é apenas deslocar a resistência para outro nível, com a mente egocêntrica ainda no comando, a invocar superioridade. Estou a falar de abandonar todo o campo energético mental e emocional que estava a lutar pelo poder e que você tem dentro de si.

O ego é matreiro, por isso você tem de estar bem alerta, bem presente e ser totalmente honesto consigo mesmo para ver se deixou verdadeiramente de se identificar com uma posição mental e, desse modo, se libertou da sua mente.

Se você se sentir de repente muito leve e profundamente em paz, é um sinal inconfundível de que se rendeu verdadeiramente. De seguida, observe o que acontece à posição mental da outra pessoa quando você deixa de lhe conceder energia através da resistência. Quando a identificação com posições mentais está fora do caminho, começa a verdadeira comunicação.

Tome consciência dos pensamentos que lhe ocorrem. Separe-os da situação, que é sempre neutra - ela é como é.
Existe a circunstância ou o fato, e você terá seus pensamentos a respeito deles. Em vez de criar histórias, atenha-os aos fatos.

Por exemplo: "Estou arruinado" é uma história. Ela limita a pessoa e a impede de tomar uma providência eficaz. "Tenho 50 centavos na minha conta" é um fato.
Encarar os fatos é sempre fortalecedor. Tome consciência de que, na maioria das vezes, suas emoções são criadas pelo que você pensa - observe essa ligação. Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por trás deles. A causa primária da infelicidade nunca é a situação, mas nossos pensamentos sobre ela.."

Eckhart Tolle em A Prática do Poder do Agora

terça-feira, 28 de março de 2023

O SENTIDO ESPIRITUAL DE UM RELACIONAMENTO AMOROSO - PREM BABA

 

O SENTIDO ESPIRITUAL DE UM RELACIONAMENTO AMOROSO - PREM BABA



O sentido espiritual de um relacionamento amoroso, tirando todo o romantismo, é ser um material de escola que te ensina a amar, a ser livre e a deixar o outro livre. Quando eu digo “ensinar a amar”, uso uma figura de linguagem, porque não é possível aprender a amar – o amor já existe, ele é a fragrância do ser. Mas a relação afetiva gera uma fricção que possibilita remover obstáculos que te impedem de amar. Esse é um assunto bastante delicado e as chances de eu ser mal compreendido são tremendas, mas vamos tentar.

Existem certas lições que você só pode aprender com suas relações amorosas, porque elas são catalizadoras de todas as suas feridas, de tudo aquilo que não está integrado dentro da sua constelação familiar. Todo seu passado é reeditado na relação amorosa para que você tenha a chance de integrá-lo, de curar essas relações familiares que ainda estão, de alguma forma, infringindo dor no seu sistema.

Embora o relacionamento amoroso seja um poderoso instrumento de aprendizado e de cura, ele pode também te levar a um sono. Nesse sentindo, você pode estar apenas repetindo determinados padrões destrutivos (apegos, disputas, projeções, medos) e andando em círculos, deixando de se expandir e crescer. Há que se ter discernimento e sabedoria para identificar quando isso ocorre.

O objetivo maior de um relacionamento amoroso é sustentar o êxtase. É sustentar a conexão da energia sexual com o coração aberto: o encontro de duas correntes positivas, dois sins. Esse encontro aponta a direção da suprema liberdade e só é possível se existir amor e liberdade.

Portanto, isso que eu tenho chamado de novo casamento, não costuma chegar cedo na vida, porque requer certa maturidade, uma compreensão e inclinação para deixar o outro livre – livre inclusive para não te amar se ele não quiser. Essa é a prova final dessa iniciação chamada relacionamento amoroso.

Eu o vejo como uma iniciação espiritual. Você só completa esse ciclo iniciático quando supera a carência afetiva, ou seja, quando se liberta da insegurança, do ciúme e da possessividade. Só assim você consegue de fato, ser livre e deixar o outro livre. Por sua vez, podemos entender a relação amorosa como o próprio remédio para a carência. Dependendo da sua carência, você precisa ficar um tempo X dentro de uma relação ou às vezes precisa ficar sozinho. Não tem uma receita. Isso tem que ser sentido por você – o que você está precisando no momento.

Às vezes você não consegue perceber porque está cego pela própria carência. Por exemplo, você pode estar precisando ficar um tempo sozinho, mas sua carência ainda está tão grande que você não quer sequer parar para pensar se a relação em que você está tem te feito crescer ou se dentro dela, você está apenas andando em círculos, machucando e sendo machucado.

Quando a relação se torna eminentemente destrutiva, sem chances para crescer no amor, na liberdade e no perdão, você tem que ter a coragem de tirar umas férias. Tem que ter coragem de olhar de frente para isso e explorar o medo que talvez você tenha de ficar sozinho. Eu não estou incentivando a separação! Eu estou incentivando você a encarar a verdade; a ser honesto com você e com o outro.

Muitas vezes, você mantém seu relacionamento para poder ter onde projetar suas ilusões. O outro é uma tela em que você projeta seus sonhos e quando ele quer deixar de ser essa tela ou quando você sente que não está mais conseguindo projetar seu sonho nessa tela, você acaba com o relacionamento. Mas você fica ansiosamente aguardando o momento de encontrar outra tela para continuar projetando o seu sonho. Outras vezes, você mantém o seu sonho fazendo do outro um escravo para atender os seus caprichos. Você força o outro a te amar, porque acreditou que se ele fizer do seu jeito, ele te ama. Não se engane: isso significa aprisionar o outro.

Vou te passar uma lição de casa. Se você está com alguém, comece a se perguntar: por que estou nessa relação? O que me mantém aqui? Não tenha medo de ser honesto consigo mesmo. É só a mentira que cai, a verdade nunca cai. Se o que te mantém nessa relação é o amor a Deus e à liberdade é porque você está se expandindo na luz; está crescendo dentro do programa estabelecido pela sua alma. Se for assim, zele por essa relação, firmeza no amor, no perdão, na liberdade e siga em frente. Mas se você está na relação por outras razões, tenha coragem para olhar o que te mantém aí. 
Dê essa passo a seu favor. Estou querendo que você rompa com a mentira e siga se expandindo."
Sri Prem Baba em Satsang

SOBRE A LEI DA ATRAÇÃO - ECKHART TOLLE

 

SOBRE A LEI DA ATRAÇÃO - ECKHART TOLLE



"Quem nós pensamos que somos está intimamente ligado a como nos consideramos tratados pelos outros.

Muitas pessoas se queixam de que não recebem um tratamento bom o bastante. “Não me tratam com respeito, atenção, reconhecimento, consideração. Tratam-me como se eu não tivesse valor”, elas dizem.

Quando o tratamento é bondoso, elas suspeitam de motivos ocultos. “Os outros querem me manipular, levar vantagem sobre mim. Ninguém me ama.”

Quem elas pensam que são é isto: “Sou um pequeno eu’ carente cujas necessidades não estão sendo satisfeitas.”

Esse erro básico de percepção de quem elas são cria um distúrbio em todos os seus relacionamentos. Esses indivíduos acreditam que não têm nada a dar e que o mundo ou os outros estão ocultando delas aquilo de que precisam.

Toda a sua realidade se baseia num sentido ilusório de quem elas são. Isso sabota situações, prejudica todos os relacionamentos. Se o pensamento de falta – seja de dinheiro, reconhecimento ou amor – se tornou parte de quem pensamos que somos, sempre experimentaremos a falta.

Em vez de reconhecermos o que já há de bom na nossa vida, tudo o que vemos é carência.

Detectarmos o que existe de positivo na nossa vida é a base de toda a abundância. O fato é o seguinte: seja o que for que nós pensemos que o mundo está nos tirando é isso que estamos tirando do mundo. Agimos assim porque no fundo acreditamos que somos pequenos e que não temos nada a dar.

Se esse for o seu caso, experimente fazer o seguinte por duas semanas e veja como sua realidade mudará: dê às pessoas qualquer coisa que você pense que elas estão lhe negando – elogios, apreço, ajuda, atenção, etc. Você não tem isso? Aja exatamente como se tivesse e tudo isso surgirá. Logo depois que você começar a dar, passará a receber.

Ninguém pode ganhar o que não dá. O fluxo de entrada determina o fluxo de saída. Seja o que for que você acredite que o mundo não está lhe concedendo você já possui. Contudo, a menos que permita que isso flua para fora de você, nem mesmo saberá que tem. Isso inclui a abundância.

A lei segundo a qual o fluxo de saída determina o fluxo de entrada é expressa por Jesus nesta imagem marcante: “Dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada, sacudida e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.”

A fonte de toda a abundância não está fora de você. Ela é parte de quem você é.

Entretanto, comece por admitir e reconhecê-la exteriormente. Veja a plenitude da vida ao seu redor. O calor do sol sobre sua pele, a exibição de flores magníficas num quiosque de plantas, o sabor de uma fruta suculenta, a sensação no corpo de toda a força da chuva que cai do céu.

A plenitude da vida está presente a cada passo. Seu reconhecimento desperta a abundância interior adormecida. Então permita que ela flua para fora. Só fato de você sorrir para um estranho já promove uma mínima saída de energia. Você se torna um doador. Pergunte-se com frequência: “O que posso dar neste caso? Como posso prestar um serviço a esta pessoa nesta situação?”

Você não precisa ser dono de nada para perceber que tem abundância. Porém, se sentir com frequência que a possui, é quase certo que as coisas comecem a acontecer na sua vida. Ela só chega para aqueles que já a têm.

Parece um tanto injusto, mas é claro que não é. É uma lei universal. Tanto a fartura quanto a escassez são estados interiores que se manifestam como nossa realidade. Jesus fala sobre isso da seguinte maneira: “Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que não tem

Eckhart Tolle em Praticando o Poder do Agora

segunda-feira, 27 de março de 2023

KṢĀNTI - SWAMI DAYANANDA

 

KṢĀNTI - SWAMI DAYANANDA




"A palavra sânscrita kṣānti frequentemente é traduzida como "tolerância" ou "capacidade de suportar". Mas essas duas expressões portuguesas trazem um sabor negativo de "sofrimento resignado", quando, ao contrário, kṣānti é uma atitude positiva - não uma resignação dolorosa. Uma tradução melhor seria "acomodação". 

A atitude de kṣānti significa que eu, alegremente, calmamente, aceito aquele comportamento e aquelas situações que não posso mudar. Desisto da expectativa ou exigência pela mudança de outra pessoa ou situação, de forma a se moldar ao que penso ser agradável para mim. Eu me acomodo às situações e às outras pessoas alegremente.

Todos os relacionamentos requerem acomodação

Esse valor deve ser construído a partir da compreensão da natureza das pessoas e dos relacionamentos entre elas. Nunca encontrei numa pessoa todas as qualidades de que gosto ou todas de que não gosto. Qualquer pessoa será uma mistura de coisas que acho interessante e outras que considero desinteressantes. Similarmente, eu terei o mesmo impacto nos outros. Ninguém vai me achar totalmente agradável. Quando reconheço esses fatos, vejo que todos os relacionamentos requerem alguma acomodação da minha parte. Não estarei disposto, ou talvez não serei capaz de mudar ou satisfazer todas as expectativas que o outro tem de mim; tampouco os outros estarão dispostos ou serão capazes de mudar e satisfazer todos os meus critérios em relação a eles. Nunca encontrarei um relacionamento que não requeira acomodação.

Em especial, os relacionamentos que envolvem coisas que fortemente desgosto em alguém requerem acomodação da minha parte. Se eu for capaz de modificar a pessoa, ou se puder colocar uma distância entre mim e ela, sem faltar ao meu dever, tudo estará bem. Mas se não puder fazer isso, simplesmente devo me acomodar alegremente. Ou seja, devo tomar a pessoa como ela é. Não posso esperar que o mundo ou as pessoas mudem. Simplesmente não é possível compelir as pessoas a mudar para satisfazer minha expectativa de como elas deveriam ser. Algumas vezes alguém pode mudar um pouco por mim ou pode tentar mudar, mas não posso contar com isso. Geralmente, quando quero uma mudança nos outros, eles também desejam uma mudança em mim. Teremos, então, um impasse.

Para kṣānti, diminua as expectativas
Quando examinar meus processos mentais, provavelmente verificarei que, para minha surpresa, eu ofereço kshánti mais prontamente para um tolo insuportável do que para meu melhor amigo. Isso porque não espero algo sábio ou inteligente de um tolo; mas espero que meu amigo viva de acordo com certos padrões que considero adequados. Um tolo incorrigível não consegue me desapontar, mas outros, por uma razão ou outra, em algum momento, conseguem. Não deveria ser assim. Minhas expectativas deveriam colocar todos na mesma categoria do tolo incorrigível. Ninguém deveria ser capaz de me desapontar, mas somente capaz de me surpreender. E minha atitude deve ser a de estar preparado para acomodar todas as surpresas possíveis.

Devo acomodar as pessoas como acomodo objetos inertes, isto é, devo tomá-las como são. Eu não gosto de ser queimado pelo Sol, porém não peço ao Sol que pare de brilhar. Aprecio a benção mista de um Sol quente brilhando e entendo que, sendo uma benção mista ou não, não posso desligá-lo. Não peço às abelhas que não tenham ferrão, tampouco odeio as abelhas se, estando no caminho delas, recebo uma picada. Continuo apreciando a função da abelha e aproveito o mel.

Porém, considero ser muito mais difícil ter para com as pessoas a atitude que tenho com os insetos e objetos inertes. Posso me relacionar adequadamente com um objeto inerte ou uma criatura selvagem porque não espero qualquer mudança deles. Mas espero que as pessoas possam mudar para se tornarem mais agradáveis para mim. Mantenho minha mente agitada com exigências contínuas por mudanças de forma que os outros em minha vida sejam mais de acordo com as minhas preferências. De fato, nem os humanos podem ser capazes de mudança.

Freqüentemente não conseguem mudar ou por falta de força de vontade ou por falta de vontade. Quando alguém não consegue mudar ainda que deseje mudar é porque não possui força de vontade. Nada mais há a fazer, a não ser acomodar essa pessoa. Quando uma pessoa não muda porque não deseja tentar a mudança, podemos tentar convencê-la a ter a vontade de se beneficiar de uma mudança. Se não for possível convencê-la, então acomode-a. O que mais se pode fazer?! De qualquer maneira, o mundo é amplo. A variedade torna-o mais interessante. Há espaço suficiente para acomodar a todos.

Responda à pessoa, não à ação

Para descobrir dentro de mim um valor pela acomodação, eu deveria olhar para a pessoa por trás da ação. Geralmente, é quando estou respondendo ao comportamento da pessoa, à sua ação, que acho difícil ser acomodativo. Quando tento entender a causa por detrás da ação, me coloco numa posição de responder à pessoa e não à ação, e então minha resposta para essa pessoa pode ser uma resposta acomodativa. Tento ver o que existe por detrás do súbito ataque de raiva ou da explosão de ciúmes ou da conduta dominadora e respondo à pessoa, e não às ações.

Se não consigo ver o que há por detrás das ações, ainda assim, tenho em mente o fato de que muitas razões desconhecidas por mim armam o palco para qualquer ação por parte da outra pessoa. Com essa disposição de espírito achei natural ser acomodativo. Numa situação onde minha interação é para com a pessoa em vez de para com a conduta, conseguirei me manter calmo. De fato, a dissolução de qualquer discussão entre pessoas é quase sempre o resultado de uma apreciação mútua feita pelas pessoas em vez de uma nova atitude quanto à conduta irrefletida.

Reações mecânicas impedem a acomodação. Para ser livre ao interagir com uma pessoa, devo ser livre de reações mecânicas. Tenho que escolher minhas atitudes e fazer as ações deliberadamente. Uma reação é um tipo de conduta mecânica e não-deliberada. É uma resposta condicionada extraída de experiências anteriores, sem autorização prévia da minha vontade. Na verdade, é uma resposta que não foi avaliada conforme a estrutura de valores que estou tentando assimilar, mas que somente ocorreu. Algumas vezes a minha reação pode ser uma ação ou atitude que, mais tarde, após reflexão, eu aprovaria.

Outras vezes minhas reações podem ser completamente contrárias às atitudes e ações que eu gostaria de manter ou fazer. Reações podem ir contra toda a minha sabedoria, estudo e experiência anterior. Esses fatores são relegados e a reação ocorre. O que aprendi anteriormente torna-se sem valor para mim. Posso ter lido todas as escrituras do mundo, posso ser um ótimo estudante de sistemas éticos, posso ser um profissional diplomado em dar conselhos aos outros, mas quando acontece a reação, essa será exatamente tão mecânica como a de qualquer outro.

Sabedoria, aprendizado e experiência não me servirão de nada. Portanto, até que meus valores éticos se tornem completamente assimilados, estabelecendo uma base a partir da qual atitudes e ações corretas surjam espontaneamente, devo, através da atenção, evitar reações e, ao invés disso, deliberadamente e refletidamente escolher minhas ações e atitudes. Quando evito reações, estou livre para escolher minhas ações e atitudes, posso ser acomodativo em meus pensamentos, palavras e ações.

Kṣānti e ahimsā: qualidades de um santo

Acomodação é uma qualidade bela e santificada. Dentre todas as qualidades, ahimsā e kṣānti constituem as qualidades de um santo. As qualificações mínimas para um santo são essas duas qualidades. Não é preciso ter sabedoria nem é necessário o aprendizado das escrituras para ser um santo, mas a pessoa deve ter esses dois valores. Um santo é uma pessoa que nunca fere conscientemente outra pessoa pela palavra, ação ou pensamento, e que aceita as pessoas - boas ou ruins - exatamente como elas são; que tem uma infinita capacidade de acomodar, perdoar e ser compassivo.

Essas qualidades (acomodação, perdão, compaixão...) estão incluídas na qualidade chamada kṣānti. Um santo sempre é dotado de kshánti - uma capacidade infinita para a compaixão. Ele responde à pessoa, não à ação. Ele vê a ação errada como um erro originário de um conflito interno e é compassivo para com a pessoa que o comete. Uma atitude de kṣānti, acomodação, expande o coração. Esse se torna tão amplo que aceita todas as pessoas e circunstâncias exatamente como elas são, sem desejos ou cobranças de que sejam diferentes. Isso é kṣānti."

Por Swami Dayananda Sarawasti  [fonte aqui]