Sleipnir
Sleipnir ("esguio" ou "escorregado" em nórdico antigo, às vezes grafado
Sleipner) é um lendário cavalo de oito patas presente na mitologia nórdica, conhecido não só por ser a montaria do deus Odin, mas por ser o melhor e o mais rápido dentre todos os cavalos. Ele é capaz de galopar não só sobre a terra, mas também sobre o mar e também sobre o ar, sendo a montaria perfeita para Odin cavalgar durante suas frequentes jornadas pelos Nove Mundos.
O nascimento de Sleipnir
Sleipnir é filho do deus da trapaça Loki com o cavalo Svadilfari, e a história de como isso aconteceu, narrada no Gylfaginning, é uma das mais divertidas da mitologia nórdica. Os deuses haviam acabando de se estabelecer em Asgard, faltando-lhes apenas uma muralha para protegê-la de eventuais ataques do seus inimigos, os gigantes de gelo (jotuns). Certo dia, um misterioso homem chegou em Asgard e ofereceu seu serviços de construção aos deuses. O homem, que na verdade era um gigante disfarçado, disse que poderia construir a muralha dentro do período de três estações (18 meses no calendário viking), porém o preço que ele exigiu pelo serviço era bem alto: o sol, a lua e também a mão da deusa Freya em casamento.
Não desejando perder os astros e muito menos Freya para o homem, Os deuses se reuniram para discutir a proposta, e chegaram a uma contraproposta: ele deveria completar o serviço em apenas 6 meses, caso contrário não receberia nada por ele. Ele também não poderia receber a ajuda de nenhuma outra pessoa. O homem então solicitou a permissão para usar seu garanhão, Svadilfari, para ajudá-lo no serviço, e antes que qualquer outro deus pudesse fazer uma objeção, Loki o autorizou.
Com o auxílio de Svadilfari, o gigante começou a construção da muralha, e o que era um trabalho para sem realizado em dezoito meses estava se tornando possível de concluir em apenas seis. Além de rápido, Svadilfari era forte e suportava transportar muitas pedras todos os dias. O tempo passou, e restando apenas três dias para o fim do prazo, a muralha estava quase concluída.
Os deuses, temendo ter que cumprir seu acordo, responsabilizaram Loki pelo ocorrido, uma vez que sem a ajuda do cavalo, a muralha jamais ficaria pronta no prazo. Eles também deixaram bem claro que se Loki não desse um jeito de resolver a situação, seria torturado por eles até a morte.
Com sua integridade em risco, Loki jura aos deuses que faria com que a obra não fosse concluída em tempo. Naquela noite, enquanto o construtor e Svadilfari vijavam em busca das últimas pedras para concluir a muralha, uma linda égua surgiu de uma floresta próxima. Quando Svadilfari a viu, ficou frenético e se libertou de suas correntes galopando em direção à égua, que por sua vez correu de volta para a floresta.O gigante perseguiu os dois cavalos sem sucesso, e no dia seguinte, sem a ajuda de Svadilfari, percebeu que não poderia terminar o serviço antes do tempo.
Furioso, o gigante revelou sua identidade e começou a descontar sua raiva na muralha, danificando parte do seu trabalho. Os deuses então convocaram Thor, que rapidamente chegou ao local e com apenas um golpe de seu poderoso Mjolnir, esmagou a cabeça do gigante e o matou. Enquanto a Loki, preservou sua integridade mas não sua dignidade, já que algum tempo depois deu à luz Sleipnir, gerado por ele e pelo garanhão Svadilfari enquanto o deus estava metamorfoseado em égua.
A aposta de Odin
De acordo com o Skáldskaparmál, capítulo 17, certa vez Odin cavalgava Sleipnir por Jotunheim, a terra dos gigantes de gelo, e lá resolveu visitar um gigante chamado Hrungnir. O gigante ficou impressionado com o elmo dourado que Odin usava e também com Sleipnir, que havia visto cavalgando sobre o ar e também sobre as águas. Hrungnir elogiou a montaria de Odin, e o deus disse que apostaria que não havia em Jötunheim um cavalo que fosse tão bom quanto o seu.
Afrontado, Hrungnir respondeu que era um bom cavalo, mas declarou que ele tinha um cavalo com um ritmo muito melhor que o dele, chamado Gullfaxi ("o de crinas douradas"). Ele então saltou sobre Gullfaxi e galopou atrás de Odin, que rumou direção a Asgard. Derrotado, Hrungnir foi convidado por Odin a participar de um banquete, onde no final o gigante provocou os deuses e terminou sendo morto por Thor. Seu cavalo Gullfaxi foi dado de presente à Magni, filho de Thor.
Arte de carol phillips |
Visitando o mundo dos mortos
Quando Balder, filho de Odin e Frigga e considerado o mais belo e amável dos deuses, começou a ter pesadelos que indicavam uma desgraça iminente, Odin montou Sleipnir e foi até Helheim, o reino dos mortos, em busca de respostas para eles.
Helheim é cercado por um muro bastante alto, de modo a manter os mortos dentro e os vivos fora, porém não era obstáculo para Sleipnir, que trouxe Odin para dentro sem dificuldades. Lá, Odin percebeu Helheim parecia ter sido limpo e bem arrumado, como se estivesse preparado para algum evento. Odin invoca o espírito de uma völva (“bruxa” em algumas traduções) e pergunta a ela o que isso significa. A völva então lhe revela que Helheim está preparado para dar as boas-vindas à alma de Balder, que está para chegar em breve. Ela também pede que Odin retorne para Asgard, pois em breve ele também estaria em Helheim (prenunciando o que ocorreria durante o Ragnarok).
Após uma série de eventos (ver Balder), Balder acaba sendo morto. Todos ficam devastados com sua morte, e a deusa Frigga pede que alguém se oferecesse para ir até Helheim e trazer Balder de volta. Hermod, irmão de Balder, se voluntaria para a missão, e Odin lhe empresta Sleipnir para que ele fosse capaz de cumpri-la. Hermod cavalga por nove noites através até finalmente chegar no rio Gjöll e a sua ponte, Gjallarbrú, que era guardada por Modgud. Ela informa que Hermod não pode entrar em Helheim pois ele era um ser vivo. Hermod se identifica e explica que estava ali para recuperar seu finado irmão, e que precisava falar com Hel pessoalmente. Modgud o deixa passar, e assim como Odin havia feito, Hermod pula sobre os muros de Helheim utilizando as habilidades de Sleipnir.
Grani, descendente de Sleipnir
No capítulo 13 da Saga dos Volsungos, o herói Sigurd seguia em direção a uma floresta quando encontrou um velho homem de barba longa. Ele conta ao velho que ele está indo ao bosque para escolher um cavalo, e pergunta ao mesmo se deseja ir com ele para ajudá-lo a decidir. O velho então sugere que eles devem levar os cavalos ao rio Busiltjörn, e os dois seguem rio adentro. Todos os cavalos retornam a terra, exceto um belo e jovem cavalo cinzento,o qual ninguém nunca havia montado. O velho homem diz a Sigurd que este cavalo é descendente de Sleipnir, e que ele deve ser nutrido cuidadosamente, para que se torne o melhor de todos os cavalos. Em seguida, o velho homem desaparece. Sigurd nomeia o cavalo como Grani, e a narrativa acrescenta que o velho não era outro senão Odin.
A morte de Sleipnir
Durante o Ragnarok (série de eventos que irão culminar no fim do mundo) Odin confrontará o lobo gigante Fenrir, e como profetizado, será morto e devorado por ele. Sleipnir não é citado nos relatos acerca do evento, mas como se trata de seu fiel companheiro, acredita-se que ele compartilhará do mesmo destino.
Iconografia
Sleipnir costuma ser representado nas artes em formas variadas. Em relação as suas patas, o mais comum é encontrar representações suas com quatro patas na frente e quatro atrás, porém existem duas variações: uma em que Sleipnir possui somente quatro patas, mas elas se dividem em duas na altura dos joelhos; e outra em que ele possui seis patas na frente e duas atrás. Sua cor também é motivo de dúvida: normalmente é retratado como sendo branco, mas também costuma aparecer nas cores preta, cinza, e castanho/avermelhado.
Simbolismo das oito patas
As oito patas de Sleipnir foram reivindicadas por alguns escritores modernos como sendo resultado de seu nascimento mágico que o deixou deformado, mas os estudiosos rejeitam essa afirmação, observando que provavelmente elas foram imaginadas para transmitir o conceito de velocidade. O estudioso Rudolf Simek, por exemplo, aponta em seu livro A Dictionary of Northern Mythology (2008), páginas 293 e 294, que, "nas pedras de Gotland, as oito patas servem apenas para dar a impressão de velocidade e a tradição pictórica pavimentou o caminho para o cavalo de oito patas na tradição literária". Simek também afirma que a história do nascimento mágico de Sleipnir é provavelmente uma invenção de Snorri Sturluson, autor da Edda em prosa, o qual acrescentou seus próprios toques imaginativos a muitos dos mitos nórdicos.
Odin montado em Sleipnir chega a Valhalla (Pedra Tjängvide) |
Também é sugerido que as oito patas simbolizam o equilíbrio cósmico e a transformação, além de sugerirem estabilidade e, embora isso possa ser verdade, a intenção original parece simplesmente sugerir velocidade. Devido aos episódios em que Sleipnir conduziu seus cavaleiros (Odin e Hermod) para dentro do mundo dos mortos, alguns ainda sugerem que Sleipnir seria um simbolismo para quatro homens carregando um caixão.
Influências modernas e Cultura Popular
- De acordo com folclore islandês, Ásbyrgi (literalmente, "Forte dos Aesir"), um desfiladeiro em forma de ferradura localizado no Parque Nacional Jökulsárgljúfur, ao norte da Islândia, foi formado pelo casco de Sleipnir;
- Em Wednesbury, na Inglaterra, há uma estátua de aço simbolizando Sleipnir, sendo um dos principais pontos turísticos da cidade;
- Um navegador de internet chamado Sleipnir foi lançado em 1995 para Windows, estando disponível atualmente para Android e iOS;
- Em Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco), a armadura do guerreiro deus Hagen de Mérak foi baseada em Sleipnir;
- Em Blue Dragon, Sleipnir dá nome a uma frota de robôs;
- Na franquia Digimon, Sleipmon é um digimon nivel final e membro dos Royal Knights;
- Sleipnir também aparece ou é citado em inúmeros jogos, como em Final Fantasy XII, Lord of Vermilion II, e na franquia Megami Tensei;
- Na série Sobrenatural, Sleipnir aparece na 13º temporada como um semideus filho de Loki, personificado como um humano e sendo morto pelo arcanjo Gabriel;
- No filme Thor (2011), Odin aparece cavalgando Sleipnir durante sua ida a Jotunhein para por um fim no conflito entre Thor, Loki e companhia contra os gigantes de gelo;
Arte de Tey Bartolome |
fontes:
- Gylfaginning (em inglês): https://www.sacred-texts.com/neu/pre/pre04.htm
- Skáldskaparmál (em inglês): https://www.sacred-texts.com/neu/pre/pre05.htm
- https://www.vikingsofbjornstad.com/Viking_Calendar.shtm
- https://skjalden.com/the-building-of-asgards-wall/
- https://skjalden.com/sleipnir/
- https://www.worldhistory.org/Sleipnir/
- Norse Mythology A to Z, 3º Edição, de Kathleen N. Daly