domingo, 23 de fevereiro de 2014

A TRISTEZA DE PAI BENGUELÉ


Já fazia aproximadamente muitos anos que aquele médium assistia ao Pai Benguelé trabalhar naquela casa, afinal ele começara sua caminhada espiritual pelas mãos daquele pretinho, e toda a sua coroa foi se revelando pelos desenvolvimentos ministrados por ele, um após outro. E foi exatamente por conhecê-lo e saber da alegria daquele velhinho trabalhando é que o médium estranhou ao lhe ver taciturno.

Muito timidamente se achegou ao velhinho que ao perceber a sua chegada falou mansamente, chega cá fio, dá um abraço nesse nego veio. Ao se ajoelhar ele percebeu a tristeza que se estampava na face espiritual do bom velhinho e lhe perguntou:


Meu pai, eu nunca vi o senhor dessa maneira, externando tamanha tristeza, o que lhe acabrunha?


E o velhinho com os olhos marejados acaricia a cabeça daquele filho que sempre esteve junto a ele em todos os trabalhos mais importantes da casa, de demandas, de saúde e muitos outros, com candura começa a falar ao médium:


Fio o que Nego Véio está sentindo é algo muito profundo, foi se formando ao longo de muito tempo, e por mais que esse Véio avisasse ao meu Cavalo ele não consegue mais ouvir as minhas palavras, tudo tem se perdido no vento.

Toda aquela preocupação que meu fio tinha em cuidar de cada médinho separadamente, cada um com o seu carma, cada um com o seu problema, foi abandonada, totalmente esquecida, hoje meu fio trata tudo como se fosse um balaio de gato, como se todo mundo fosse iguá, todo mundo fosse fio do mesmo Pai e da mesma Mãe .

E aí o que acontece?

Meus fios tão cheios de quizila, marido e muié se separando, abandonando seus fios, irmãos de sangue em contenda e na casa a lei e a doutrina de Zambi e da Umbanda não está sendo cumprida.

As entidades da casa revela aos fios que vem em busca de ajuda, que as coisas que estão acontecendo na vida deles é por causa da sua missão espirituá e que eles precisam botar roupa branca e cumprir com essa missão, explica que eles precisam se desenvolver para que os seus santinhos possam chegar e prestar caridade, que precisam de estudo para facilitar essa caminhada e para meus fios saber separar o joio do trigo, afastando os zombeteiros, a mistificação e o animismo e que sem isso meus fios serão presas fáceis para qualquer obsessor, fazendo com que meus fios deixem de cumprir com as regras estabelecidas pela espiritualidade e que deve ser respeitada.

Aí os médinhos entram pra casa, e na primeira semana eles até cumprem com as regras, mais a partir daí eles começam a declinar, inventado desculpas para não cumprir com as obrigações da casa, que não tem tempo, que é o trabaio, que é o estudador.

Aí eles acabam indo somente no trabalho em que eles podem ser usados, nas sessões, justamente onde eles se deixam arrastar pelos desejos incontidos, até então freados, querendo beber, querendo fumar, pegando tudo que lhes vem a cabeça, com home querendo ser muié e muié querendo ser home, com a coluna curvada de tanta guia, uns querem chegar fantasiados, muitos nem tomam seus banhos de ervas, e quando chegam na casa, ao invés de se concentrar, de mentalizar seus mentores, eles discutem e riem em altos brados, abrindo seus espaços para entrada do lixo espiritual que busca espaço naqueles que ainda se encontram fragilizados.

E aí, o que faz meu cavalo?

Coitado ele ta tão preocupado com as festas, com os quitutes, com os convidados, com a quantidade que ta entrando e nem repara os que tão saindo, alguns pior do que quando entraram.

Então o que Nego Véio tem que fazer depois de tanto falar?

Deixar meu fio caminhá com seu livre-arbítrio, destruindo em anos o que a espiritualidade construiu em séculos, é muito triste e só resta a Nego Véio a esperança que meu fio volte a enxergá, que afaste do seu caminho a vaidade, o orgulho e o egoísmo e lembre do trato que ele fez com esse preto há tanto tempo.

Quanto a suncês Nego Véio espera que se unam cada vez mais em amor para com o próximo como disse Jesus, caridade a cada dia, de pensamentos e de obras, cada um tira a trave em seu próprio olho e deixa que Pai Benguelé tira a trave do olho desse fio cego.


Perdoa Nego Véio meus fios.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

MISTÉRIO DA CRUZ - PRETO VELHO


Conta uma outra lenda que esse gesto de cruzar o solo ou a si mesmo só foi adotado pelos cristãos quando um "padre" romano, atiçado pela curiosidade, perguntou a um serviçal de sua igreja o porque dele cruzar o solo antes de entrar nela para limpá-la ... e o mesmo fazia ao sair dela.

O serviçal, um negro já idoso que havia sido libertado pelo seu amo romano quando já não podia carregar os seus pesados sacos de pedras ornamentais, e que andava arqueado por causa de sua coluna vertebral ter se curvado de tanto peso que ele havia carregado desde jovem, ajoelhou-se, cruzou o solo diante dos pés do padre romano e, aí falou:

- Agora já posso contar-lhe o significado do sinal da cruz, amo padre!

- Por que, só após cruzar o solo diante dos meus pés, você pode revelar-me o significado do sinal da cruz, meu negro velho?

- É porque eu vou falar de um gesto sagrado, meu amo. Só após cruzarmos o solo diante de alguém e pedirmos licença ao seu lado sagrado, esse lado se abre para ouvir o que temos a dizer-lhe.

- Se você não cruzar o solo diante dos meus pés o seu lado sagrado não fala com o meu? É isso, meu negro velho e cansado?


- É isso sim, meu amo. Tudo o que falamos, ou falamos para o lado profano ou para o lado sagrado dos outros com quem conversamos! Como o senhor quer saber o significado do sinal da cruz usado por nós, os negros trazidos desde a África para trabalharmos como escravos aqui em Roma e, porque ele é um sinal sagrado, seu significado só pode ser revelado ao lado oculto e sagrado de seu espírito. Por isso eu cruzei o solo diante dos seus pés, pedi ao meu pai Obaluaiyê que abrisse uma passagem entre os lados ocultos e sagrados dos nossos espíritos senão o senhor não entenderá o significado e a importância dos cruzamentos... e das passagens.

O padre romano, ouvindo as palavras sensatas daquele preto, já velho e cansado de tanto carregar os fardos de pedras ornamentais com as quais eles, os romanos, enfeitavam as fachadas e os jardins de suas mansões, sentiu que não estava diante de uma pessoa comum, mas sim diante de um sábio amadurecido no tempo e no trabalho árduo de carregar fardos alheios.

Então o padre romano convidou o preto, velho e cansado, a acompanhá-lo até sua sala particular localizada atrás da sacristia.

Já dentro dela, o padre sentou-se na sua cadeira de encosto alto e confortável e indicou um banquinho de madeira para que aquele preto velho se sentasse e lhe contasse o significado do sinal da cruz.

O velho negro, antes de sentar-se, cruzou o banquinho e isto também despertou a curiosidade de empertigado padre romano, sentado em sua cadeira mais parecida com um trono, de tão trabalhada que ela era.

- Por que você cruzou esse banquinho antes de se assentar nele, meu preto velho?

- Meu senhor, eu só tenho essa bengala para apoiar meu corpo arqueado. Então, se vou sentar-me um pouco, eu cruzei esse banquinho e pedi licença ao meu pai Obaluaiyê para assentar-me no lado sagrado dele. Só assim o peso dos fardos que já carreguei não me incomodará e poderei falar mais à vontade pois, se nos assentamos no lado sagrado das coisas deixamos de sentir os "pesos" do lado profano de nossa vida.

O padre romano, de uma inteligência e raciocínio incomum, mais uma vez viu que não estava diante de uma pessoa comum, e sim, diante de um sábio que, ainda que não falasse bem o latim, (a língua falada pelos romanos daquele tempo), no entanto falava coisa que nem os mais sábios dos romanos conheciam.

O velho preto, após assentar-se, apoiou a mão esquerda no cabo da sua bengala e com a direita estralou os dedos no ar por quatro vezes, em cruz e aquilo intrigou o padre romano, que perguntou-lhe:

- Meu velho preto, porque você estralou os dedos quatro vezes, cruzando o ar?

- Meu senhor, eu cruzei o ar, pedindo ao meu pai Obaluaiyê que abrisse uma passagem nele para que minhas palavras cheguem até os seus ouvidos através do lado sagrado dele senão elas não chegarão ao lado sagrado de seu espírito e não entenderás o real significado delas ao revelar-lhe um dos mistérios do meu pai.

- Então tudo tem dois lados, meu preto velho?

- Tem sim, meu senhor.

- Porque você, agora, já sentado e bem acomodado, fala mais baixo que antes, quando estava apoiado sobre sua bengala?

- Meu senhor, quando nos assentamos no lado sagrado das coisas, aquietamos nosso espírito e só falamos em voz baixa para não incomodarmos o lado sagrado delas.

- Entendo, meu velho. - murmurou o padre romano, curvando-se para melhor ouvir as palavras daquele preto velho. Conte-me o significado do sinal da cruz!

E o preto velho começou a falar, falar e falar. E tanto falou sobre o mistério do cruzamento que aquele padre (que era o chefe da igreja de Roma naquele tempo quando os papas ainda não eram chamados de papa) começou a entender o significado sagrado do sinal da cruz e começou a pensar em como adaptá-lo e aplicá-lo aos cristãos de então.

Como era um mistério do povo daquele preto, já velho e cansado de tanto carregar fardos de pedras ornamentais alheias, então pôs sua mente arguta e agilíssima para raciocinar.

E o padre romano pensou, pensou e pensou! E tanto pensou que criou a lenda dos três reis magos, onde um era negro, em homenagem ao sábio preto velho que, falando-lhe desde seu lado sagrado e interior, havia lhe aberto a existência do lado sagrado das coisas; o da existência de passagens entre esses dois lados, etc.

Enquanto ouvia e sua mente pensava, a cada revelação do preto, já velho e cansado, seus olhos enchiam-se de lágrimas e mais e mais ele se achegava chegando um momento em que ele se assentou no solo à frente do preto velho para melhor ouvi-lo, pois não queria perder nenhuma das palavras dele.

E aquele padre, que era o chefe de todos os padres romanos, diariamente ouvia por horas e horas o preto velho, e depois que o dispensava, recolhia-se à sua biblioteca e começava a escrever os mistérios que lhe haviam sido revelados.

Aos poucos estava reescrevendo o Cristianismo e dando-lhe fundamentos sagrados.

- Ele escreveu a lenda dos três reis magos, onde um dos magos era um negro muito sábio.

- Ele mudou o formato da cruz em X onde Cristo havia sido crucificado e deu a ela a sua forma atual, que é uma coluna vertical e um travessão horizontal.

- Também determinou que em todos os túmulos cristãos deveria haver uma cruz, que é o sinal da passagem de um plano para o outro, segundo aquele preto velho.

- "Ele criou a figura de Lázaro, cheio de chagas, para adaptar o orixá da varíola ao Cristianismo. Na verdade, ele criou o sincretismo cristão, e dali em diante muitos outros "padres de todos os padres", uma espécie de "cappo de tutti capos", (os papas) começaram a adaptar os mistérios de muitos povos ao Cristianismo, fundamentando a crença dos muitos seguidores de então da doutrina humanista criado por Jesus. E criaram concílios para oficializá-los e torná-los dogmas.

Poderíamos falar de muitos dos mistérios alheios que os padres romanos adaptaram ao Cristianismo. Mas agora, vamos falar somente dos significados do mistério da cruz e dos cruzamentos, ensinados àquele padre por um preto velho.

1º) O ato de fazer o sinal da cruz em si mesmo tem esses significados.

a) Abre o nosso lado sagrado ou interior para, ao rezarmos, nos dirigirmos às divindades e a Deus através do lado sagrado ou interno da criação.

Essa forma é a da oração silenciosa ou feita em voz baixa. Afinal, quando estamos no lado sagrado e interno dela, não precisamos gritar ou falar alto para sermos ouvidos.

Só fala alto ou grita para se fazer ouvir quem se encontra do lado de fora ou profano da criação. Esses são os excluídos ou os que não conhecem os mistérios ocultos da criação e só sabem se dirigir a Deus de forma profana, aos gritos e clamores altíssimos.

b) Ao fazermos o sinal da cruz diante das divindades, estamos abrindo o nosso lado sagrado para que não se percam as vibrações divinas que elas nos enviam quando nos aproximamos e ficamos diante delas em postura de respeito e reverência.

c) Ao fazermos o sinal da cruz diante de uma situação perigosa ou de algo sobrenatural e terrível, estamos fechando as passagens de acesso ao nosso lado interior, evitando que eles entrem em nós e se instalem em nosso espírito e em nossa vida.

d) Ao cruzarmos o ar, ou estamos abrindo uma passagem nele para que, através dela, o nosso lado sagrado envie suas vibrações ao lado sagrado da pessoa à nossa frente, ou ao local que estamos abençoando (cruzando).

e) Ao cruzarmos os solo diante dos pés de alguém, estamos abrindo uma passagem para o lado sagrado dela.

f) Ao cruzarmos uma pessoa, estamos abrindo uma passagem nela para que seu lado sagrado exteriorize- se diante dela e passe a protegê-la.

) Ao cruzarmos um objeto, estamos abrindo uma passagem para o interior oculto e sagrado dele para que ele, através desse lado seja um portal sagrado que tanto absorverá vibrações negativas como irradiará vibrações positivas.

h) Ao cruzarmos o solo de um santuário, estamos abrindo uma passagem para entrarmos nele através do seu lado sagrado e oculto, pois se entrarmos sem cruzá-lo na entrada, estaremos entrando nele pelo seu lado profano e exterior.

i) Ao cruzarmos algo (uma pessoa, o solo, o ar, etc.) devemos dizer estas palavras: - Eu saúdo o seu alto, o seu embaixo, a sua direita e a sua esquerda e peço-lhe em nome do meu pai Obaluaiyê que abra o seu lado sagrado para mim.

Outras coisas aquele ex-escravo dos romanos de então ensinou àquele padre de todos os padres, que era altivo e empertigado, mas que gostava de sentar-se no solo diante daquele sábio preto, já velho e muito cansado. Era um tempo que os políticos politiqueiros romanos estavam de olho no numeroso grupo de seguidores do Cristianismo e se esmeravam em conceder aos seus bispos e pastores, (digo padres) certas vantagens em troca dos votos deles que os elegeriam.

Também era um tempo em que era moda aqueles bispos e pastores (digo padres), colocarem nos púlpitos pessoas que davam fortes testemunhos, ainda que falsos ou inventados na hora para enganar os trouxas já existentes naquele tempo em Roma, tanto na plebe como nas classes mais abastadas.

E olhem que havia muitos patriciosinhos e patricinhas (digo, patrícios e patrícias) com grande peso na consciência que acreditavam no 171 (digo discursos) daqueles ávidos padres romanos, que prometiam-lhes um lugar no paraíso assim que se convertessem ao Cristianismo!

Mas os padres daquele tempo pensavam em tudo e espalharam que quem fizesse grandes doações à igreja seria recompensado com uma ampla e luxuosa morada, um palacete mesmo, no céu e bem próximo, quase vizinho de onde Jesus vivia.

A coisa estava indo bem mas, havia espaço para melhorar mais ainda a situação da igreja romana daquele tempos e alguns padres, versados no grego, se apossaram do termo "católico" que significava "universal" e universalizaram suas praticas de mercadores da fé.

Como estavam se apossando de mistérios alheios um atrás do outro e começaram a ser chamados de plagiadores, então fizeram um acordo com um imperador muito esperto mas, que estava com seus cofres desfalcados, à beira da bancarrota (digo, deposição), acordo esse que consistia em acabar com as outras religiões.

No acordo, o imperador ficava com os bens delas (tesouros acumulados em séculos, propriedades agrárias e imóveis bem localizados) e os padres de então ficariam com todos os que se convertessem e começassem a pagar um dízimo estipulado por eles.

O acordo era vantajoso para ambos os lados envolvidos e aqueles padres de então, para provar ao imperador suas boas intenções, até o elegeram chefe geral da quadrilha (digo, hierarquia), criada recentemente por eles, desde que editasse um decreto sacramentando a questão dos dízimos cobrados por eles.

Outra exigência daqueles pastores (digo padres) de então foi a de estarem isentos na declaração dos bens das suas igrejas.

Também exigiram primazia na concessão de arautos (as televisões de então) pois sabiam que estariam com uma vantagem imensa em relação aos seus concorrentes religiosos de então.

O imperador começou a achar que o acordo não era tão vantajoso como havia parecido no começo mas, os pastores (digo, os padres) daquele época, começaram a fazer a cabeça da esposa dele, que era uma tremenda de uma putana (digo, dama da alta sociedade), que estava se dando muito bem na sua nova religião, pois aquele padres haviam criado um tal de confessionário que caíra como uma luva para ela e outras fornicadoras insaciáveis (digo, damas ilustres) que pecavam a semana toda mas no domingo, logo cedo, iam se confessar com um padre que elas não viam o rosto, mas que era bem condescendente pois as perdoavam em troca delas rezarem umas orações curtas, fáceis de serem decoradas.

No domingo ajeitavam a consciência e na segunda, já perdoadas, voltavam com a corda toda às suas estripulias intramuros palacianos.

O acordo foi selado e sacramentado, e aí foi um salve-se quem puder no seio das outras religiões. E não foram poucos os que rapidinho renunciaram à antiga forma de professar suas fezes (digo, fé, no singular, mesmo!) pois viram como a grana corria à solta para as mãos (digo, cofres) daqueles padres de então, pois eles eram muito criativos e a cada dia tinham um culto específico para cada algum dos males universais, comuns a todos os povos, épocas e pessoas.

Aqueles pastores (digo, padres) de então estavam com "tudo": A grana que arrecadavam, parte reinvestiam criando novos pontos de arrecadação (digo, novas igrejas) e parte usavam em benefício próprio, comprando mansões e carrões (digo, carruagens) que exibiam com ares de triunfo, alegando que era a sua conversão ao Cristianismo que havia tornando-os prósperos e bem sucedidos na vida.

Eles criaram uma tal de teologia da prosperidade para justificar seus enriquecimentos rápidos e à custa da exploração da ingenuidade dos seus seguidores de então, que davam-lhes dízimos e mais dízimos e ainda sorriam felizes com suas novas fezes (digo, fé no singular).

Tudo isso aconteceu no curto espaço de uns vinte e poucos anos e começou depois da segunda metade do século IV d.C.

Por incrível que pareça, aquele preto velho, muito cansado de tanto carregar sacos de pedras alheias, viveu tempo suficiente para ver tudo isso acontecer.

E tudo o que aquele padre de todos os padres havia lhe dito que faria com tudo o que tinha aprendido com ele, aconteceu ao contrário.

O tal pastor (digo, padre), já auto-eleito bispo, usou o que havia aprendido com o preto, mas segundo seus interesses de então, (digo, daquela época).

Batizava com uma caríssima água trazida direto do rio Jordão (mas que seus asseclas colhiam na calada da noite das torneiras da Sabesp, digo, das bicas da adutora pública).

Vendiam um tal de óleo santo feito de azeitonas colhidas dos pés de oliva existentes no Monte das Oliveiras (mas um assecla foi visto vendendo a um "reciclador" barricas de um óleo que, de azeitonas, só tinha o cheiro).

E isso, sem falas nas réplicas miniaturizadas da arca da aliança feitas de papiro; nas réplicas das trombetas de Jericó; num tal de sal grosso vindo direto do Mar Morto, mas que algumas testemunhas ocultas juraram que era sal grosso de um fabricante de sal para churrasco.

Foram tantas as coisas que aquele velho preto cansado e curvado havia ensinado àquele jovem e empertigado pastor (digo, padre) e que ele não só não usou em benefício dos outros, como os usou em benefício próprio, que o preto já velho, muito velho falou para si mesmo: "Me perdoa, meu pai Obaluaiyê, mas eu não revelei àquele padre (digo, pastor, isto é, àquele bispo) o que acontece com quem inverte os seus mistérios ou os usa em benefício próprio: que eles, ao desencarnarem, têm seus espíritos transformados em horrendas cobras negras!"

Obaluaiyê, ao ouvir o último lamento daquele preto, velho e curvado de tanto carregar sacos de pedras alheias, e cansado e desiludido por ensinar o bem e ver seus ouvintes inverterem tudo o que ouviam em benefício próprio, acolheu em seus braços o espírito curvado dele, endireitou-o, acariciou-lhe o rosto e falou-lhe bem baixinho no ouvido:

"Meu filho, alegre-se pois ele só andará na terra o tempo necessário para tirar dos cultos dos orixás os que não aprenderam a curvar-se diante dos senhores dos Mistérios mas que acham-se no direito de se servirem deles. Mas, assim que ele fizer isso, deixará essa terra e voltará a rastejar nas sombras das trevas mais profundas, que é de onde ele veio para recolher de volta para elas os espíritos que Jesus trouxe consigo após sua descida às trevas. Bem que eu alertei o jovem e amoroso Jesus sobre o perigo de usar do meu Mistério da cruz para abrir passagens nas trevas humanas! Afinal, quem abre passagens nas trevas com meu mistério da cruz, liberta o que nele existe, não é mesmo, meu velho e sábio preto?


"É sim, meu divino pai Obaluaiyê!" disse o preto velho.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

História de VOVÓ MARIA CONGA DA BAHIA

Quem não fez caridade?
Vovó Maria Conga da Bahia
Em 30/05/2008 - Médium Mãe Iassan
Dirigente do CECP - Centro Espiritualista Caboclo Pery

Era dia de sessão e como sempre Marcelo chegou na parte da manhã para fazer algo que amava, limpar o terreiro. O dia mal amanhecia e ele já pulava da cama, contente e feliz pela oportunidade de ser útil.
O silêncio do terreiro vazio o tranqüilizava. A empresa que ele trabalhava vinha atravessando sérios problemas e essa semana havia sido em especial desgastante, as demissões prometidas haviam começado. Ver colegas de trabalho, chefes de família serem demitidos o deixou muito tenso e entristecido, mas tal qual passe de mágica tudo isso ficou além do portão de entrada do terreiro. Era dia de gira e ele estava feliz novamente! Sabia que suas energias seriam repostas para enfrentar mais uma semana dura de trabalho. Ele não tinha obrigação de fazer isso, mas fazia porque sentia prazer e alegria, e gostava de ir cedo justamente para poder ficar sozinho e limpar tudo no seu ritmo. Não fazia isso para "aparecer", como alguns diziam e pensavam, mas porque gostava de trabalhar sozinho.
Começou a faxina. Lavou o chão, regou plantas, lavou banheiros, tirou poeira das imagens, limpou os ventiladores e enquanto fazia a limpeza, cantarolava pontos dos orixás. Conseguiu ficar com a mente vazia.
Quando estamos fazendo algo que gostamos nem sentimos o tempo passar e a hora corria célere. Deu-se conta disso quando seu estômago "roncou" de fome. Olhou para o relógio do terreiro e viu que já passava do meio dia. Triste por não ter dado tempo de limpar os vestiários pensou que algum irmão da corrente poderia fazê-lo quando chegasse.
Assim, trancou o terreiro e foi para casa.
Lá chegando tomou um bom banho, almoçou e deitou-se no sofá da sala para tirar uma soneca, pois sentiu que seu corpo precisava. Dormiu.
No terreiro a movimentação de pessoas se intensificava. Duas médiuns que chegaram mais cedo viram que o terreiro estava limpo, mas que os vestiários não estavam. Sem pronunciar palavra, pegaram vassouras e rodos e começaram a limpeza. Francisco chegou bem na hora em que isso acontecia. Olhou de rabo de olho e falou:
- É isso que eu vivo falando! Se não pode ou consegue fazer tudo é melhor não fazer nada, assim já sabendo disso chegamos com disposição prá limpar o terreiro. Agora que estou de banho tomado e pronto prá sessão vou ter que me sujar lavando banheiro de médium.
Catarina, uma das médiuns que estava limpando retrucou:
- Não precisa Francisco. Eu e Iolanda damos conta do recado. Eu trouxe toalha de banho e roupas limpas para trocar depois da faxina. Eu já imaginava que o Marcelo na iria conseguir limpar tudo na parte da manhã como ele gosta, até porque ninguém consegue sozinho, por isso chegamos cedo e trouxemos roupa.
- Mas ele podia ter avisado... Fala Francisco, contrariado com a disposição de Catarina.
- E você podia ter previsto! Solta Iolanda, já cansada das reclamações de Francisco.
Catarina faz um sinal para Iolanda, pedindo que fique quieta, mas Iolanda sacode a mão no ar em sinal de contrariedade.
Francisco tenta esboçar alguma reação, mas é interrompido com a chegada de outros médiuns. Assim resolve ir trocar sua roupa, resmungando em pensamento. Vai para o vestiário masculino. Ele está irritadíssimo. Começa a tirar a roupa profana. Ao pegar da sacola de roupa, deixa cair o jaleco no chão que ainda está molhado em função de recente limpeza. O sangue sobe e fica vermelho de raiva. Pega o jaleco no chão e vê o "estrago" e pensa: "Ainda por cima serei chamado atenção porque o jaleco ficou amarrotado e sujo, droga!"
Enquanto isso, Carolina e Iolanda terminam a limpeza. Quase todos os médiuns já chegaram e elas vão tomar banho e se prepararem para a sessão. O portão é aberto permitindo assim a entrada da assistência.
O Pai Pequeno percebe que o Francisco não está no seu posto que é junto ao portão recebendo e orientando as pessoas. Pede que outra médium tome o seu lugar e vai a procura de Francisco. O encontra dentro do vestiário, sentado no banco do seu preto velho, ainda roxo de raiva. Percebe ao seu lado uma companhia invisível sugando-lhe as energias e irradiando sentimentos de raiva e ciúme. A energia é tão densa que até quem não é médium vidente podia ver. Respira fundo, pois essa não é a primeira vez que acontece. Francisco olha para o Pai Pequeno Osmar com os olhos injetados e dispara:
- Não posso entrar para a sessão. Olha o estado do meu jaleco. Está imundo!
A essa altura o jaleco já havia até secado no corpo de Francisco e nem parecia sujeira alguma, pois caíra em água limpa, só que em função da sua irritação e da companhia que estava agarrada ao seu perispírito ele não percebera isso.
Osmar olha o jaleco e diz:
- Do que você está falando Francisco? Não tem nada no seu jaleco. Ele está limpo!
Francisco olhou para o jaleco, mas a sua visão estava deturpada em função da atuação nefasta do trevoso que o sugava e sugestionava, assim, ele viu sujeira física onde tinha sujeira espiritual. Na sua visão o jaleco estava praticamente todo sujo amarronzado. Olhou novamente para o Pai Pequeno sem acreditar no que ouvira e dispara novamente, dessa feita já perdendo o respeito pelo Pai Pequeno:
- Será que você está cego? Se você considera isso limpo imagino como é a sua casa!
Percebendo o objetivo do espírito que acompanhava Francisco, Osmar respira fundo e usando de sua autoridade de Pai Pequeno diz com energia:
- Francisco! Tenha paciência! Você é médium antigo da Casa e me conhece muito bem. Se sua roupa estivesse suja eu seria o primeiro a dizer. Portanto, pare de palhaçada e entre já para o terreiro. Fique lá dentro e peça a Zambi, aos Orixás e entidades que tire do seu coração esse sentimento ruim. Firme seu Anjo da Guarda. Limpe-se interiormente, pois se tem alguma coisa suja aqui é o seu coração e pensamento.
Ao ouvir o tom de voz de comando de Osmar, Francisco se levanta em silêncio, lava o rosto, penteia os cabelos e vai para dentro do terreiro. Nesse instante, o espírito que o acompanhava afasta-se, e Francisco lembra-se que nem havia "batido cabeça" no gongá. Reza para o seu Anjo Guardião e sente um alívio no peito. Olha para o seu jaleco e vê que está limpo.
O Pai no Santo entra no terreiro e dá o sinal de que a sessão vai começar. Percebe a ausência de Marcelo e pergunta a Osmar se ele sabe onde Marcelo está. Osmar que diz que Marcelo veio na parte da manhã limpar o terreiro, mas que não havia chegado ainda. Na verdade o cansaço e o estresse da semana havia tomado conta de Marcelo e a egrégora da Casa aproveitou a oportunidade do sono dele para reenergizá-lo durante a gira.
A sessão tem início e transcorre normalmente. Francisco não estava bem para trabalhar na consulta e foi orientado por Osmar para cambonar Pai Joaquim, o preto velho que trabalha com Osmar.
Ao final das consultas, Pai Joaquim dá um passe em Francisco e diz:
- Fio, cada gira, cada sessão, cada consulta é oportunidade única de trabalho, de elevação e de aprendizado. Suncê hoje desperdiçou a oportunidade de ser vibracionalmente abraçado pelo preto velho que trabalha com suncê... E sabe por que? Por que ao invés de vir pro terreiro com o pensamento voltado e aberto para o aprendizado, veio pensando num jeito de desfazer a imagem positiva que o menino Marcelo tem de todos aqui dentro.
Sem graça com a colocação do preto velho, Francisco retruca sem pensar muito:
- Que isso meu velho? Eu não preciso disso e nem estava pensando nisso. Ele nem veio a gira hoje. Por que eu me preocuparia com ele, se nem veio fazer caridade?
Calmamente o preto velho fala:
- Não veio fazer caridade, fio? Então escuta atentamente esse nêgo véio. Se todos nós hoje pudemos pisar num chão e chegar num ambiente fisicamente limpo, foi graças ao menino Marcelo. Isso é caridade fio! E suncê? Fez o que? Falou mal dele, se desequilibrou, permitiu a entrada de um espírito trevoso no templo sagrado do seu corpo, desacatou o pai pequeno e não trabalhou com seu preto velho incorporado. Então fio... Responde com sinceridade prá esse nêgo véio: Quem não fez caridade?
Saravá Preto Velho!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Alguém te espera na noite.....

Alguém te espera na noite.....
Psicografado por GÉRO MAITA


Vinte e três horas e alguns minutos, em algum dos muitos "inferninhos" disfarçados com luxo, luzes e uma ilusória alegria na grande metrópole que não dorme, notamos um grupo de seres sombrios arquitetando seu plano para iniciarem seu processo de vampirização.
O suposto chefe, pois mantem postura altiva e senso de diligência da as coordenadas para que o grupo se divida nas táticas programadas para que não se perca nesta noite "nenhuma cabeça" e todos saem para a "caça"
O local começa a ficar lotado de almas ainda na fase juvenil de suas vidas, mentes invigilantes, sonhadoras e muito, muito desatentas com o cenário sombrio que se desenrola ao seu lado. A beleza do local, as pessoas agitadas o som de música alto é o cenário propicio para se instalarem processos dolorosos de obsessões a principio simples que inevitavelmente caminharão para o um quadro de complexidade em um futuro não tão distante. A ausência de luz solar possibilita que seres infelizes, presas do ódio e sedentos de vingança executem suas técnicas de absorção das energias vitais e aprisionamento mental destes filhos ( as) ainda perdidos na ilusão dos sentimentos.
Notamos um grupo que guarda todo o perímetro do quarteirão onde se instala os locais que serão atacados, outro grupo sem nenhum problemas adentra um determinado estabelecimento a em um canto fica a espera das vitimas perfeitas.
Os encarnados começam a chegar levantando a bandeira do liberalismo, da revolta sem causa, do "eu posso tudo, por que sou dono da minha vida" e mal sabem que sua "liberalidade" os conduzem para sua própria queda regada de ilusão e indisciplina.
A música e a bebida são a ponte de ligação para o cenário de dor que começa a se desenrolar o que nos assombra é como o ser humano gosta de eleger sua liberdade somente com atitudes que firam aqueles que pensam de forma oposta as suas, notamos pais e mães lutando para que seus filhos levem uma vida sadia e ao mesmo tempo os preceitos do Cristo, "HONRA TEU PAI E TUA MÃE" é jogado na sarjeta, num misto de intolerância, revolta sem causa e imaturidade precoce. Ma a noite esta somente começando.
Um grupo de jovens é escolhido para o processo de vampirização, sem que percebam a mesa em que estão sentados é envolvida por um cinturão sombiro, que bloqueia por afinidade vibratória qualquer fonte de pensamento de luz convidar ao raciocínio e ao bom senso dos que ali se submetem a esta situação.
Dentro deste cinturão estão agregadas energias, de dor, de sofrimento, de ódio e revolta, de irresponsabilidade, de crueldade colhidas das emanações mentais que infelizmente diariamente são criadas pelo ser humano que pouco recorre a prece, a reflexão e a reforma intima.
Dentro deste cinturão dois espíritos sombrios lembrando muito a feição de bruxas começam a estimular a conversa de baixo nível vibratório, regada de palavrões, reclamações sem fundamento, luxúria e malícia, tudo isso regado a bebidas, cigarros que através dos "canudos humanos que ali se encontram" possibilita-lhes sentir o prazer que a falta do corpo carnal impediu a muito tempo de alimentarem também os seus vícios terrenos.
Outro grupo estimula os músicos e DJ"s que tocam um ritmo de música frenético convidando a danças com excesso de sensualidade reportando-nos as festas sombrias de Sodoma, Gomorra e do império Babilônico. Neste cenário notamos que homens e mulheres tem colados a seus corpos físicos espíritos que dançam na mesma sintonia vibratória e dentro do padrão que lhes competem estimulam os pensamentos destes a crerem que sua dança esta "agitando", criando assim uma ligação em seus chacras coronário e básico de cordões energéticos que sugam facilmente suas energias vitais devido ao estimulo mental que neles é executado.
A noite entra e não se pode perder "gado", um espirito perito em hipnotismo manipula os sentidos de tempo dos presentes no espetáculo sombrio que se desenvolve para que a noção das horas sejam por algum momento esquecidas e o "trabalho" posso se encerrar quando o "ASTRO REI" da sinal de sua chegada e oferece perigo pois consome com seu vento solar as irradiações parasitárias e os seres que as geram, todos devem ficar até o ultimo momento, colocando os limites físicos ao extremo.
É hora de estimular o prazer, andando em meio aos presentes encontramos dois espíritos femininos que mais lembram hermafroditas pois possuem dois sexos totalmente dilacerados criando as afinidades ilusórias. A lei do "ficar" esta aberta, o sexo livre é estimulado, a traição é liberada e notamos que os espíritos citados se abraçam levianamente em seus alvos de ambos os sexos ou de sexos diferentes e começam através do estimulo mental a criarem o desejo, mas não o desejo de vivenciar felicidade, alegria e amor, mas o desejo animal, estimulado pelo sexo desregrado, do beijo sem compromisso, é a luxúria de antes sendo revivida pelos seus afins.
Dois corpos em união possibilitam a vampirização de energias salutares para os processos de criação de objetos de tortura nas regiões umbralinas tais como: Dama de ferro, bastões com espinhos, correntes incandecentes etc...
Alguns irão completar e servir de cobaia para os vibriões e o laboratório para instalação dos mesmos esta disfarçado com a placa levando o nome de MOTEL. É camaradas existe muita coisa na noite que vcs desconhecem.
O ser humano precisa no estágio vibratório que se encontra procurar viver as causa do Cristo primeiramente dentro de si. Reforma intima não é brincadeira é atitude, mudança leva tempo, mas tem que se ter ao menos coragem para ser firme em seus objetivos.
Eleger uma liberdade em meio a este cenário com o título de "balada" sem atentar para os perigos que isso lhe oferece é assinar o atestado de ingenuidade ao extremo, basta ver os crimes, os lares destruídos e as vidas desviadas do propósito maior que o Cordeiro nos propôs a começar na simplicidade de uma manjedoura.
Mas a noite segue e outras virão e "eles" estarão lá esperando por você.
Haverá mudança? Sim desde que ela comece dentro de você mesmo....
A noite termina o ASTRO REI anuncia sua chegada e notamos jovens transformados em farrapos humanos retornando aos seus lares, o resultado? Crises depressivas, brigas em família, senso de "ninguém me entende", dúvidas e medo de fracasso, só que esta fracasso já esta dentro deles mesmos.
O tratamento? Entender a proposta do Cristo " Aquele que desejar me seguir, abandone seu pai e sua mãe, vende os seus bens, peque sua cruz e me segue....."
Na prática! Renegue as paixões mundanas, conheça a si próprio e lembre-se trabalho no bem e na reforma intima é investimento futuro e não presente....


Saudando vossas forças


SETH


*Esta experiência foi vivida através de desdobramento do médium psicografo com um dos guardiões que lhe amparam em uma das noites de São Paulo no ano de 2010

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meu milagre

Comecei a sentir fortes dores abdominais, e depois de quatro idas ao pronto socorro, o medico decidiu fazer uma tomografia e descobriu algo errado no meu intestino, fiquei internada para fazer colonoscopia e o tumor foi confirmado.
O medico entrou no meu quarto para dar a noticia e a expressão dele não era nada animadora: me olhava como medico olha quando tem que dar péssimas noticias a um paciente.
Ainda tinha que esperar o resultado da biopsia, mas de qualquer forma, sendo benigno ou maligno, eu teria que operar.
Cheguei em casa com os exames e fiz a primeira coisa que achei sensata: olhei no Google o significado dos termos que apareciam no meu exame.
O resultado foi ainda mais desanimador que a expressão de pesar do medico: tudo ali indicava que eu tinha sim um câncer.
Me apavorei, na verdade, acho que nem existe palavra capaz de expressar o medo que senti naqueles primeiros dias.
Uma pessoa que indicou ir tomar passe de cura num centro de umbanda que ela conhecia. E lá fui eu, parte me agarrando com todas as forças na cura pelo passe, parte cética, indo só para dizer depois que eu não tentei.
Cheguei no terreiro e contei minha historia. A mãe de santo que me atendeu me acolheu num carinho tão sincero e lindo que me senti confortada na mesma hora. Ela me contou sua historia pessoal com a doença, segurou minha mão e me confortou, me fez sentir a vontade. O pai de santo que aplicava os passes foi igualmente carinhoso e atencioso comigo. Me contou que havia passado por um procedimento muito parecido com o meu, me tranquilizou, me levou no roncó e perguntou se eu sabia rezar. Disse a ele que só sabia rezar o pai nosso e ave Maria. E ele disse para eu ir rezando enquanto ele aplicava os passes. E eu rezei junto com ele, e pedi, com todas as forças do meu coração, para que aquele tumor fosse benigno e que tudo não passasse de um susto.
Ele me recomendou que eu deveria tomar sete passes, sete semanas seguidas. Eu não estava nenhum pouco disposta a esperar sete semanas para fazer a cirurgia e tirar aquele tumor de dentro de mim.
Não disse nada, mas minha intenção era que o medico marcasse a cirurgia o mais rápido possível.
Mas o mundo espiritual tinha outros planos para mim, porque o medico não poderia me operar antes de sete semanas, uma vez que ele ia num congresso em Nova York. Querendo ou não eu teria que esperar então, continuei indo ao terreiro.
Não era nenhum sacrifício. Eu estava me afeiçoando muito à mãe de santo, que cuidava de mim com carinho de mãe, eu brincava dizendo que ela havia me adotado e estava amando a atenção que ela tinha comigo. Fomos ficando amigas e mais próximas, ela me ensinava sobre a doutrina umbandista, eu recebia os passes, e depois dos passes, eu me sentia como se nada no mundo pudesse me acontecer de ruim. Me sentia imortal, invencível! A sensação era muito boa, comecei a ansiar pelas quintas feiras só para conversar com a mãe de santo e receber esses passes tão gostosos.
Nesse meio tempo, recebi o resultado da biopsia e deu benigno. O alivio que eu senti foi tanto que eu saí cantando e pulando no trabalho, no meio do expediente.
Meu amigos me aconselhavam a não ouvir uma única opinião medica, disseram que eu deveria procurar mais um especialista, e até me indicaram um medico muito conceituado na área, daqueles que dão entrevistas na televisão e tudo mais.
Consegui um encaixe de emergência na clinica do especialista. Entrei em seu consultório, ele era um doce, todo sorrisos e atenção. Expliquei tudo e, enquanto ele olhava meus exames, sua expressão ia mudando. O sorriso desapareceu e sua expressão ficou igualzinha do primeiro medico que me ia me operar. Aquele olhar que mostra os meses e meses de quimioterapia, radioterapia e cabelos caindo. Ele me explicou tudo bem direitinho e recomendou sim a cirurgia. Disse que independente de ter dado negativo na biopsia inicial, ainda tinha que olhar a peça inteira para saber se ela era realmente toda benigna, porque ela era muito grande e só haviam analisado um pedacinho de nada.
Saí do consultório bem desanimada, mas ao menos segura que o primeiro medico havia acertado o diagnostico.
No terreiro, alem dos passes de cura às quintas feiras, comecei também a ir na gira aos sábados, para falar com a cabocla e a preta velha da mãe de santo que eu me afeiçoara. Ela fazia mil mandingas para mim, me passava banhos, velas para acender em casa, e me enchia de carinho, conforto e atenção. A preta velha disse que estaria comigo lá na hora da cirurgia e todas essas coisas aliadas me enchiam de fé, que tudo ia dar certo, que o tumor era mesmo benigno e que eu estaria rindo disso tudo, dali uns meses.
Já havia tomado cinco passes de cura quando eles decidiram mudar os passes de quinta-feira para terça feira. Às terças eu não poderia ir, porque fazia terapia nesse dia. Expliquei tudo a eles e agradeci, dizendo que naquela terça não iria, mas daria um jeito de tentar mudar a terapia, para ir no ultimo. Parece que, mais uma vez, o espiritual tinha outros planos, porque na terça feira, recebi um torpedo da minha terapeuta, pedindo para mudar nossos encontros para as quintas, porque ela teve um problema inesperado no hospital onde trabalha.
Consegui receber os sete passes, conforme me foi passado, consegui falar com a preta velha na ultima gira antes da cirurgia.
O pai da casa me disse, na ultima semana antes da cirurgia, que poucas pessoas tinham o privilegio de ir para uma mesa de cirurgia tão bem acompanhada como eu iria. Na hora eu não percebi o alcance de suas palavras, só entendi agora, enquanto escrevo esse relato.
Fiz a cirurgia, que foi muito bem. O medico, antes com cara de funeral, depois da cirurgia veio me ver todo animado e disse que quando tirou o tumor e deu uma boa olhada nele, achou que ele tinha a maior carinha de benigno, e que o resultado da biopsia sairia no final da semana.
Minha recuperação foi fácil e tranquila e dali quinze dias já estava na ativa, mais dois meses, já estava fazendo minhas atividades normais, inclusive correndo, que eu adoro.
Continuei indo no terreiro para tomar passes, conversar com a mãe de Santo que eu já amava como se fosse minha mãe e aprendendo mais sobre a doutrina umbandista. Comecei a me sentir em casa quando ia lá, fui ficando e ficando até entrar de vez para o desenvolvimento.
Seis meses se passaram desde a cirurgia e era época de refazer a colonoscopia para confirmar que tudo estava bem. Para fazer novo exame, me recomendaram levar exames anteriores e foi o que eu fiz. Quando o medico olhou meu exame anterior, ficou surpreso. Perguntou como havia sido a cirurgia, se tinham feito biopsia na peça inteira, expliquei que sim e que tinha confirmado que era benigno. Ele disse: ainda bem, porque olhando essas imagens, esse tumor tem a maior cara de ser maligno.
Sexta feira peguei o resultado do novo exame e estava tudo bem, sem tumores, sem sequelas.
E depois de fazer uma retrospectiva de tudo que aconteceu nesses últimos seis meses, só então eu percebi que a mãe e o pai de santo, suas entidades, mandingas e rezas, haviam salvo minha vida!
Está mais do que claro para mim que o meu quadro de câncer foi regredido. Que o espiritual me ajudou e me curou. E está claro para mim que a umbanda é o meu lugar.
Também me ocorreu que eu nunca havia agradecido da forma correta.
Eu quero um dia, através de minhas entidades, ter a oportunidade de curar alguém e retribuir toda a graça que me foi concedida.
Foi por isso que eu quis entrar pro desenvolvimento e é esse o caminho que eu quero trilhar.

Mandinga de Preto-Velho*

Certo dia uma pessoa procurou ajuda de nego-velho para solucionar uns probleminhas. Compareceu na casa espírita e desfilou um rosário de lamentações perante a pessoa que o atendeu. A resposta do pai-velho veio logo em seguida, através de receituário mediúnico:
Levante pela madrugada, mais ou menos às 4 horas. Colha então algumas rosas brancas no roseiral que está plantado no fundo do seu quintal e, ao fazê-lo, sinta seu aroma. A cada rosa arrancada do pé, faça uma oração pedindo a Deus que o abençoe, bem como aqueles que ama. Depois, dirija-se à cozinha, ponha água no fogo e, enquanto não ferve, meu filho, procure o Evangelho e faça uma leitura, preparando assim o ambiente de sua casa para a mandinga de nego-velho. A seguir, coloque as rosas dentro da água fervendo, apague o fogo e abafe. Enquanto aguarda para que esfrie um pouco, vá tomar um banho de asseio, lavando-se todo, da cabeça aos pés. Quando estiver embaixo do chuveiro, ore e feche os olhos, reparando atentamente na água que cai em seu corpo. Enxugue-se e pegue a água de rosas, derramando-a pelo corpo. As rosas que foram cozidas devem ser jogadas em água corrente, no riacho que fica um pouco distante da sua casa. Saia com as rosas embrulhadas e vá cantando uma cantiga qualquer, daquelas que transmitem felicidade. Por fim, volte para casa e, do jeito que puder, deite-se, pois ainda não terá amanhecido o dia. Lembre-se de aproveitar as oportunidades que se fizerem presentes.
Quando o médium ouviu o receituário, ficou estarrecido com o nego-velho. Questionou a eficácia do banho, as orações, o horário que deveriam ser feitas e a fórmula dada para aquele caso particular. Nego-velho pensou um pouco e depois respondeu ao médium:
“Sabe, meu filho, as rosas servem para perfumar o ambiente e o corpo do nosso companheiro. É que ele reclama que o casamento vai mal, que sua companheira está evitando-o sempre e que ela agora arranjou um trabalho noturno, do qual está desconfiado. Mas sabe, filho, é que o marmanjo não gosta muito de tomar banho,. E com aquele cheiro não tem mulher que agüente a situação. Conhecendo a fé do homem em nego-velho, resolvi dar um empurrão no relacionamento. Ele também não gota muito de estudar o Evangelho e nem rezar. Porem, ajuntando tudo numa receita de pai-velho, ele vai seguir à risca. Passará então a se levantar cedo, apanhar as rosas, tomar um bom banho e meditar debaixo do chuveiro. Quando despeza o banho de rosas no corpo, então se perfuma todo e aí, nego-velho o induziu a levar as rosas restantes do banho para jogar no riacho que fica um pouco distante da sua casa, ainda de madrugada, sabe por que, meu filho? É que a mulher dele é enfermeira e retorna de um plantão noturno exatamente naquele horário, de ônibus, e é obrigada a andar sozinha por um bom pedaço até chegar em casa, mesmo com a escuridão da noite. Quando for até o riacho, já está na hora da mulher chegar. Aí, os dois virão juntos, conversando um pouco.
É claro que a mulher perceberá que ele tomou banho, o cheiro das rosas e essas coisas mais, que fazem as mulheres de alegrar. O resto você já sabe, meu filho, é só confiar na natureza e as coisas se resolvem. Isso é mandinga de nego-velho.”
* Extraído  do livro Pai João de Robson Pinheiro

Quando as entidades falam com você

Uma vez me disseram que nossas entidades falam com a gente. Eu ficava triste porque não ouvia nenhuma voz do além me dizendo o que fazer, aliás, até desacreditava que isso fosse verdade.
Comentando isso com uma amiga, ela me disse:
- Não é que eles conversam, conversam… É mais um pensamento que se forma dentro de você, um pressentimento, uma intuição. Você precisa prestar atenção senão nem percebe.
E aí algumas coisas aconteceram, e eu comecei a prestar atenção.
Primeiro: Toda manhã eu deixo uma canequinha de café recém-coado pro meu preto-velho, no meu peji e faço uma breve oração. De uns tempos para cá percebi que toda manhã eu sentia falta de ter um terço, um rosário, nas mãos. E essa vontade de ter um rosário só fez aumentar, acho que ele quer.
Segundo: Eu sou uma pessoa em busca da minha fé –  Aquele sentimento bonito que nos faz otimistas, nos faz acreditar que, apesar de tudo parecer mostrar o contrário, as coisas darão certo, simplesmente porque darão.
Tenho inveja de quem tem isso. Quero ter.
E desde então, algumas coisinhas no meu dia a dia, sem que nem mais, me pareceram lições.
Uma delas, por exemplo, foi esse fato que me aconteceu há pouco:
Eu respondi a uma pergunta no facebook valendo dois kits para uma corrida de rua. Eu amo correr! Respondi a pergunta e ganhei os dois kits. Fiquei super  feliz até perceber que o dia da corrida coincidia com os dias que estaria viajando. Não poderia correr. Escrevi para o lugar da promoção perguntando se eu poderia passar os dois kits para duas amigas minhas e mandei recado no facebook  explicando a situação e vendo quem ia querer correr.
Duas meninas se apresentaram, uma delas era amiga de amiga, nem conhecia, mas passei o kit para ela assim mesmo, pedi os dados delas e passei para o concurso.
Dias depois, essa menina desconhecida para qual eu tinha passado o kit escreveu no grupo de corrida que infelizmente não iria participar daquela corrida. Eu não entendi nada! Como assim não ia participar se me pediu o kit e me mandou os dados? Fiquei triste, especialmente com a falta de consideração de nem me falar que não iria. Imediatamente escrevi aos promotores perguntando se eu poderia trocar de pessoa e a ela, para dizer que já que ela não iria correr, eu ia passar o kit para outra amiga para não perder.
Dali a pouco ela me escreveu dizendo que tinha achado que não tinha dado certo, por isso tinha escrito que não ia, mas que ela queria correr sim.
Tarde demais, já tinha passado o kit para uma amiga que estava louca para ir e não tinha dinheiro para pagar a inscrição (bem cara por sinal).
Depois, pensando nesse assunto, percebi que o que esse era um ótimo exemplo de falta de fé. Ela queria correr, mas não acreditou que um kit caro daqueles iria cair na mão dela, vindo de alguém que ela nem conhecia. Ela não acreditou que coisas boas pudessem acontecer a ela de graça, do nada, por encanto.
Então, apesar de querer correr, ela preferiu acreditar que não iria dar certo, e mandou essa mensagem para o mundo “não mereço correr essa prova, não vou participar” o mundo captou a mensagem, tirou dela a graça recebida e passou para outra pessoa, mais aberta a receber.
Guardando as devidas proporções, não é exatamente isso que nós fazemos todo dia? Simplesmente não acreditamos que coisas boas – que caem do céu direto no nosso colo – sejam possíveis de acontecer conosco.
Talvez ter fé, seja não pensar tanto, não ponderar tano e principalmente, não esperar o pior. Talvez seja confiar que o mundo se arranja e rearranja como o GPS, que refaz a rota se você muda a direção, mas sempre acaba te deixando onde você precisa ir.
Talvez ter fé seja não jogar para o mundo o desejo que algo não aconteça, mesmo querendo que aconteça.
E talvez agora eu já esteja entendendo como é que minhas entidades falam comigo.
E esse exemplo foi só um dos muitos que aconteceram nessas ultimas semanas. Meu preto-velho está falando comigo, quase todo dia, através dessas lições, me fazendo ver além do acontecimento, além dos fatos em si.
Será que o mesmo não anda acontecendo com você?
Preciso ir… tenho um rosário para comprar.