domingo, 31 de agosto de 2014

Preto Velho ou Médico ????

Contou-nos uma confreira, das mais atuantes em nossa casa de caridade espiritual e material:
"Que em um certo Centro Espírita situado na cidade de São Paulo, Capital, havia uma noite de reuniões caritativas, que era dedicada a caridade física dos encarnados, isto é, somente para consultas com Entidades Médicas".

"Nas cabinas próprias para consultas médicas a secretária fazia a arrumação final dando os últimos retoques para que tudo estivesse de acordo ao se iniciar os trabalhos; isto incluindo os médiuns cada qual em seu lugar, quando de repente um dos médiuns deu sinal e manifestou-se uma Entidade".

- "A secretária correu para atender a Entidade recém chegada, e qual não foi sua surpresa ao deparar com uma Entidade de Pretos-Velhos".

"Usando sua amabilidade costumeira explicou à Entidade que ela não poderia dar consultas naquela noite, pois aquele dia da semana, era reservado às Entidades Médicas e não à Pretos-Velhos".

- "A Entidade, também, com aquela humildade que lhe era peculiar confirmou com a secretária:"

"Hoje eu não posso dar consulta só as Entidades Médicas?".

"Ao que confirmou a secretária pedindo desculpas e pedindo à Entidade que “subisse”".

- "A entidade se despediu, agradeceu e “subiu”".

- "Passados alguns minutos, se manifestou e se apresentou uma nova Entidade Médica, no mesmo médium, que passou a atender os pacientes nas mais variadas modalidades da medicina".

- "Terminado os trabalhos médicos, todos muito satisfeitos com os trabalhos da nova entidade médica, foram agradecê-la antes da “subida” e pedir o seu retorno".

- "Quando a secretária dos trabalhos, foi se despedir da Entidade, esta dirigiu-se a ela dizendo:"

"Este é um dia reservado para trabalhos só das Entidades Médicas, não podendo Entidades como Pretos-Velhos se manifestarem, não é assim?"
- "Ao que a secretária confirmou e aproveitou o ensejo para pedir à Entidade Médica, se conhecesse a Entidade que se manifestara antes, Pretos-Velhos, pedir as mais sinceras desculpas de coração, pois aquele dia era só de consultas médicas e não pretos-velhos; ao que a entidade aduziu:"

"Pode ficar tranqüila que aquela Entidade que esteve aqui no começo está sabendo e não esta aborrecida com a irmã, pois aquela entidade que esteve aqui no início e não pode trabalhar como tal, era eu mesmo".

A projeção e as formas-pensamentos


Há alguns anos atrás passei por algumas dificuldades, tanto ná área financeira quanto no campo afetivo. Foi uma fase muito difícil da minha vida, porém, analisando a fundo tudo o que estava passando e buscando despertar minha consciência, soube canalizar forças e superar minhas dificuldades

Para isso, contei com a ajuda de irmãos espirituais que estiveram ao meu lado, não como “babás espirituais”, mas como amigos dispostos a me orientar e amparar, sem a intenção paternalista de percorrer o caminho que só cabe a mim percorrer. Entre estes espíritos amigos, está um que se apresentou como sendo o exu Sr. Tranca-Ruas.
Certa noite, já de madrugada, despertei projetado fora do corpo físico, no corredor da minha casa, que liga a sala com a cozinha. Antes que pudesse pensar em fazer qualquer coisa, algo me chamou a atenção no fundo do corredor. Era uma forma monstruosa, parecida com aquele fantasma verde do filme Ghostbusters – Os caça-fantasmas!
Ela veio voando na minha direção e me atravessou. Olhei para trás e vi outro monstro, parecido com o primeiro, que também voou na minha direção, me atravessando.
Pensei, então: – Meu Deus, são espíritos obsessores! Estou sendo assediado.
Imediatamente, comecei a rezar o Pai- Nosso, mas não consegui terminar. Aqueles monstros não paravam de voar, atravessando meu perispírito, fazendo caretas e me provocando no intuito de me assustar. E estavam conseguindo! Recomecei a orar, e nada de conseguir terminar a prece. Então, não tem jeito! – pensei. Preciso pedir auxílio a algum guardião!

Iniciei, mentalmente, uma das preces cantadas do exu Sr. Tranca-Ruas. Assim que comecei a entoar seu ponto de evocação, um espírito de estatura mediana, vestindo uma camisa preta, lenço vermelho na cabeça e segurando uma espécie de cajado em uma das mãos, atravessou a porta que sai do terraço para a sala de estar.
Entrou e, antes que me dissesse qualquer coisa, fui logo pedindo socorro. Disse que estava sendo assediado por espíritos obsessores monstruosos. Ele, então, com muita serenidade e confiança me respondeu:
– Não são espíritos obsessores. São formas-pensamento. São criações emanadas da sua mente. Todos os seus medos e insegurança estão gerando essas formas que estão te assustando.
– E o que posso fazer para acabar com elas? – perguntei ansiosamente.
– Autoconfiança! Se você confiar mais em si mesmo, em seus potenciais, bastará dizer “sumam!” e elas desaparecerão para sempre. Quer ver?
Neste momento, ele ergueu seu cajado e bateu com força, mas sem violência, no chão, e imediatamente aquelas formas-pensamento desapareceram.
Senti uma força me puxar de volta ao corpo físico e acordei (na verdade já estava acordado, só que fora do corpo), voltando a manifestar minha consciência no plano físico denso.
Levantei-me da cama e fui beber um copo d’água, refletindo nos ensinamentos que aquele espírito amigo havia me passado.
Realmente, quantos de nós somos responsáveis pelas dificuldades por que passamos! Quantas vezes, devido a nossa imprudência, atraímos situações que nos causam sofrimento que poderíamos evitar se vivêssemos com maior lucidez espiritual. Quantas vezes geramos pensamentos de medo, acreditando que somos incapazes de superar determinada situação, nos sentindo cada vez mais fracos.
E o que é pior, passamos a usar drogas ou medicamentos na ânsia de acabar com nossa angústia. Isso quando não acreditamos que alguém fez magia negra contra nós ou que estamos sendo obsediados. Na maioria das vezes, nós mesmos é que somos os culpados. Podemos chamar isso de auto-obsessão. E quando determinada idéia é constante em nossa mente (monoideísmo) acabamos gerando as formas-pensamento. As formas-pensamento irão permanecer em torno do nosso campo mental, “gravitando” ao nosso redor, pois nós as alimentamos com nossa energia. Elas parecem ter vida própria, mas na verdade obedecem automaticamente a determinados padrões de manifestação, alguns, inclusive, que fazem parte do inconsciente coletivo. Muito médiuns clarividentes as confundem com espíritos, mas não são.
No meu caso, bastou que eu tomasse consciência de determinados pensamentos negativos que eram comuns, a ponto de serem gerados inconscientemente, para iniciar o processos de desintegração daquelas formas-pensamento.
O processo de autoconhecimento é eterno. Trabalhemos sempre nele para que possamos nos libertar da cadeia de sofrimento em que vivemos, o sansara, como diz a sabedoria oriental.

Conheça-te a ti mesmo!
Eis a lição libertadora!


Escrito por Victor Rebelo
Médium umbandista
Editor da Revista Cristã de Espiritismo

sábado, 16 de agosto de 2014

O Anfitrião do Campo Santo



Da porta do cemitério ao Cruzeiro das Almas, ando e posso perceber o quão é triste o resultado de uma vida inteira no plano material dominada por vaidade, pelo ego e pela ilusão.
Vejo espíritos que perambulam, choram, urram de dor. Sofrem pelos mais variados motivos.
Não aceitam a condição em que se encontram, mas, também nada fizeram, enquanto encarnados, para trilhar um caminho melhor.
Sou incompreendido, taxado de demônio, por que sou um aplicador da Lei, um servidor do Divino Pai Omolu. Ele, um Orixá também muito deturpado no plano material pelo mito, que o define como uma Divindade má e implacável, um demônio.
O homem, especialmente através das religiões mentalistas, conseguiu afastar-se de Deus, da grande Verdade que é nosso Pai Criador.
Quem pode me ver ou, ao menos, sentir minha presença, se não estiver esclarecido, dirá que há um espírito maligno por perto.
Maligno é o preconceito que separa a humanidade e, invariavelmente, conduz estas pessoas ao habitat onde impera a ignorância: as trevas humanas.
Mas, infelizmente, preciso dizer aos senhores e senhoras que leem esta mensagem, que as trevas não estão somente sob os vossos pés. Habitam os íntimos de muitos de vós.
Alguém poderá dizer: ” Como posso eu, um cristão, adorador de Deus, ter trevas em meu interior. O que o senhor está falando é uma heresia!”
E eu retruco: “Infelizmente,  muitos de vós, ainda que pensem desta forma, estão cultivando um pedaço das trevas em vossas almas, quando usam da língua para o próprio benefício e quando disseminam o preconceito.”
Aquele que olha para um semelhante, um irmão seu em Deus, com superioridade, está atravancando a evolução do Todo, que é a Criação do Pai.
Assim começam, sempre, os grandes problemas que hoje assolam o plano material.
Se você enxerga um Exu trabalhador como eu e se apavora, tenha certeza, você trabalhou muito, mesmo que inconscientemente, para a construção desse arquétipo.
Quando deparar-se comigo, seja no cemitério, num trabalho de Umbanda ou Quimbanda, ou, até mesmo, nas trevas, estará olhando para o seu interior.
Não tenha medo do meu corpo esquelético.  Por que posso ser seu amigo e auxiliá-lo a subir, a galgar novos degraus na sua escala evolutiva. Mas também posso ser aquele que aplicará a Lei de Deus, deixando-o nas trevas até que você reforme-se internamente e consciencialmente.
Só dependerá de você, tenha certeza!
Por isso, encerro esta mensagem suplicando a todos os humanos encarnados que joguem o preconceito para baixo dos seus pés, pra bem fundo, para que ele caia onde deve ficar,  nos domínios da ignorância. E que olhe para o Alto, eleve o pensamento ao Pai e se comprometa em contribuir na constante evolução da Criação.
Deixe o amor fluir. Então, olhará para mim e verá um amigo, um irmão que quer ajudá-lo a trilhar seu caminho sem percalços.
Venha! E, se precisar, apoie-se no meu cetro. Ele estará sempre á sua disposição, desde que queira ser mais um filho de Deus atuando dentro e em prol da Lei D’Ele.
Eu sou Exu Caveira!

Mensagem  Recebida por André Cozta
Rio de Janeiro- 25 de maio de 2012- 01:13h
http://terradeaganju.blogspot.com.br/2012/05/o-anfitriao-do-campo-santo.html

O GUARDIÃO DA MEIA-NOITE E O GUARDIÃO DAS 7 PORTAS

Reproduzimos abaixo, um trecho do livro O GUARDIÃO DA MEIA NOITE (Rubens Saraceni/Editora Madras) que compõe o material de apoio do curso virtual Teologia de Umbanda Sagrada, ministrado por Alexandre Cumino, através da plataforma UMBANDA EAD do Instituto Cultural Aruanda- www.ica.org.br-. Boa leitura!

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Diálogo entre o Guardião da Meia-Noite e o Guardião das Sete Portas

(Guardião da Meia Noite) E eu pensei:
“Como era poderoso o Guardião dos Sete Portais das Trevas”, que leu o meu pensamento.

(Guardião das Sete Portas) - Não pense que consegui o meu poder sendo um tolo. Sempre dormi com um olho aberto. Nunca deixei uma ofensa sem resposta, nem um inimigo mais fraco sem conhecer o meu poder.
Nunca deixei de respeitar um igual ou de temer a um mais forte. Foi assim que consegui tanto poder. Também nunca saí da lei do carma. Não derrubo quem não merece, nem elevo quem não fizer por merecer. Não traio a ninguém, mas também não deixo de castigar um traidor. Leve o tempo que for necessário, eu o castigo. Não castigo um inocente, mas não perdoo um culpado. Não dou a um devedor, mas não tiro de um credor. Não salvo a quem quer se perder, mas não ponho a perder quem quer se salvar. Não ajudo a morrer quem quer viver, mas não deixo vivo quem quer se matar. Não tomo de quem achar, mas não devolvo a quem perder. Não pego o poder do senhor da Luz, mas não recuso o poder do senhor das Trevas. Não induzo alguém a abandonar
o caminho da Lei, mas não culpo quem dele se afastou. Não ajudo alguém que não queira ser ajudado, mas não nego ajuda a quem merecer. Sirvo à Luz, mas também sirvo às Trevas. No meu reino eu mando e sei me comportar. Não peço o impossível, mas dou apenas o possível. Nem tudo que me pedem eu dou, mas nem tudo que dou é porque me pediram. Só respeito à Lei do Grande da Luz e das Trevas e nada mais. É por isso que o
Grande exige de mim, portanto, é isto que eu exijo dos que habitam o meu reino. Não faço chorar o inocente, mas não deixo sorrir o culpado. Não liberto o condenado, mas não aprisiono o inocente. Não revelo o oculto, mas não oculto ao que pode ser revelado. Não infrinjo a Lei e pela Lei não sou incomodado. Agora sabe de onde vem meu poder, senhor da Meia-Noite. Eu sou um dos sete guardiões da Lei nas Trevas; os outros seis, procure e a Lei lhe mostrará.

(Guardião da Meia Noite) - Por que o senhor não socorreu o Cavaleiro em sua queda?

(Guardião das Sete Portas) - Foi a Lei Maior que o determinou, por isto eu me calei. Mas quando Ela saiu em seu auxílio, eu arrasei o reino de Lúcifer para saber onde estava o Cavaleiro e acabei descobrindo, pois foi a Lei que me ordenou que assim o fizesse. Ele teve que calar-se e entregar-me o culpado.

(Guardião da Meia Noite) - Obrigado, Guardião dos Sete Portais das Trevas, deu-me uma lição sábia. Sou seu devedor.

(Guardião das Sete Portas) - Nada me deve, Senhor da Meia-Noite. Gosto de ensinar a quem quer aprender, mas também gosto de castigar a quem aprende e faz mau uso do saber.

(Guardião da Meia Noite) Ele bateu o pé esquerdo e o recinto se encheu de entidades que haviam sido religiosos quando na carne.

(Guardião das Sete Portas) - Eis aí um exemplo do mau uso do saber. Eles aprenderam tudo o que precisavam para suas missões na terra, mas não seguiram o que pregaram. Usaram do que sabiam em benefício próprio ou para arruinar aos que acreditaram neles.
Olhe bem, Guardião da Meia-Noite, e verá que os que se diziam sábios, iluminados, profetas, grandes lideres religiosos ou grandes sacerdotes não passavam de otários, idiotas, tolos, imbecis, cegos e mal intencionados. Verá entre eles todo tipo de defeito e nenhuma qualidade. Eram lobos uns, pois se aproveitavam e comiam suas ovelhas e hienas, outros pois se contentavam em consumir os restos deixados pelos lobos. Uns e outros hoje choram pelo erro cometido, pela oportunidade perdida e pela luz não
conquistada. Viveram do mundo e não pelo mundo. A Lei não os perdoou e os entregou a mim. Eu dou-lhes o que merecem porque sou um guardião da Lei das Trevas e esta é minha função. A Lei não iria colocar um ser bom e iluminado para castigar os canalhas nem colocaria um carrasco como eu para premiar aqueles que venceram suas provas. Não! Os guardiões da Lei na Luz têm uma função como a minha, mas afeta a Luz: não
deixam cair quem se fez por merecer à ascensão. Eu não deixo subir aos que se fizeram por merecer a queda.
Eu sou a mão que castiga, a outra é a que acaricia. Eu sou a mão que derruba, a outra a que levanta. Tudo isto eu sou e ainda assim não sou infeliz, triste, arrependido ou ruim. Não sofro de remorso por castigar aquele que a Lei derrubou, assim como um guardião da Lei na Luz nada sente ao premiar a quem merecer. Eu sou o que sou, um guardião da Lei nas Trevas e me orgulho disto porque sei que sou necessário à Lei. E tudo isto você
também é, ou será se assumir todo o seu passado, resgatá-lo e se sentir feliz em servir à Lei. Ela o recompensará quando assim quiser, não porque você peça qualquer recompensa pelo seu trabalho, mas porque a serve sem se lamentar por estar nas Trevas, pois Luz e Trevas são os dois lados do Criador. Há os que trabalham durante o dia e dormem à noite, mas também há os que trabalham de noite e dormem durante o
dia. Há os animais que só saem de sua morada sob o sol e aqueles que só o fazem sob o luar. Há o verão, mas há também o inverno. O que um aquece o outro esfria e vice-versa. Há a primavera, mas há também o outono: o que um faz brotar o outro faz se recolher e vice-versa. Há o fogo para queimar e a água para saciar a sede.
Há a terra para germinar e há o ar para oxigenar. Há tantas coisas, e no fim são somente partes do Um. Por isto lhe digo, Guardião da Meia-Noite, há os anjos e há os demônios. Os anjos habitam na Luz e os demônios nas Trevas. Uns não condenam aos outros, pois sabem que são o que são porque assim quis o Criador. Aqueles que vivem no meio é que criam tanta confusão com suas descidas na carne. Do nosso lado, não há nada disto.
Cada um sabe a que lado pertence. E os que não sabem, são os primeiros de quem nos apossamos. Esta é a Lei que nos rege e a todo o resto da Criação. Mais não vou falar, pois precisaria de muito tempo para tal coisa.
Espero que possa sair daqui melhor servidor da Lei do que quando chegou.

(Guardião da Meia Noite) - Eu agradeço suas palavras, Guardião dos Portais. Pena que eu seja muito pequeno para ajudá-lo, senão eu diria: se precisar de minha ajuda é só pedir!

(Guardião das Sete Portas) - Pois ainda lhe digo que a maior das pirâmides não prescinde da menor de suas pedras; a maior das aves de sua menor pena nem o maior teto de sua menor telha; e nem o maior corpo do seu menor dedo. O maior rio não rejeita a menor gota da chuva nem o maior exército ao seu mais fraco soldado. O maior rico é aquele que valoriza o menor dos seus bens. Muito mais eu poderia dizer, mas me satisfaço em dizer-lhe: obrigado Guardião da Meia-Noite! Se eu precisar de seu auxílio não terei vergonha em lhe pedir, pois por terem vergonha muitos morrem. Morrem por terem desejado algo e não terem provado seu gosto. Vergonha não faz parte do meu vocabulário e a palavra que mais prezo é a que se chama “respeito”. Aja assim e não será traído nem odiado, mas respeitado. Nem os maiores passarão por cima de você e nem os
menores lhe escaparão.

Ele parou de falar.

(Guardião da Meia Noite) - Até à vista, Guardião dos Sete Portais das Trevas!

(Guardião das Sete Portas) - Até à vista, Guardião da Meia-Noite!

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Caso passe este texto cite estas fontes: texto extraído do livro “O Guardião da Meia Noite” (Editora
Madras / Rubens Saraceni – Pai Benedito de Aruanda)

UM PASSEIO NO CEMITÉRIO- Por André Cozta


Aquele Preto Velho andava calmamente por entre as lápides daquele cemitério.
Pitava seu cachimbo marrom curvo, observava a todos que por ali perambulavam naquele dia.
Os espíritos humanos encarnados, depositavam flores nos túmulos, acendiam velas, choravam a saudade de seus entes queridos, de seus amigos, de seus amores. Alguns espíritos perdidos andavam também por ali, buscando algo que, em muitos casos, nem eles sabiam o que era.
Com a mão esquerda, o Preto Velho ajeitou seu enorme chapéu de palha, deixando-o caído para o lado esquerdo de sua cabeça, cobrindo parte de sua face. Pitou o cachimbo mais uma vez.
Um menino negro, aparentando 12 anos de idade aproximou-se dele.
Imediatamente, o Preto Velho olhou para o menino, e perguntou:
- O que você faz aqui, pequeno?
- Posso ficar com o senhor, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas? Gostaria de aprender um pouco mais sobre tudo.
O Preto Velho soltou uma suave gargalhada, pitou o cachimbo novamente, olhou para o menino e falou:
- Meu pequeno, você pode sim andar comigo, mas, saiba que verá coisas que não serão muito agradáveis aos seus olhos. Verá irmãos seus, encarnados e desencarnados se auto-torturando, verá irmãos seus, encarnados e desencarnados, sofrendo por perda e saudade, verá irmãos seus, encarnados e desencarnados, emitindo energias e vibrações baixas, fruto da ignorância pela qual, consciente ou inconscientemente, optaram.
O menino olhava fixamente para o Preto Velho, que prosseguiu:
- Mas você também verá, pequeno, pessoas que emitem, a partir de seus corações, vibrações de amor, de fraternidade. Muitas, menino, até se encontram perdidas pelas ilusões do materialismo (e olha que falo não somente de encarnados, mas de desencarnados também), porém, ainda assim, buscam um caminho de luz. É verdade que, com muita dificuldade, acabam trilhando um caminho mais longo, mas, tenha certeza, lá chegarão em algum momento.
O Preto Velho olhou para o menino, estendendo-lhe a mão, e falou:
- Venha comigo, meu pequeno!
Levou o menino até o Cruzeiro das Almas daquele Campo Santo.
Lá chegando, assentou-se, pôs o menino sentado sobre sua perna direita, afagou seus cabelos, olhou em seus olhos, e falou:
- Você, pequeno, representa a esperança a todos os espíritos humanos, encarnados e desencarnados, de uma caminhada limpa de volta aos braços do Pai.
O menino perguntou:
- O que isso quer dizer, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas?
- Isto quer dizer, pequeno, que Olodumaré, nosso Pai Maior, quer que todos nós caminhemos rumo a Ele com a pureza no coração que você tem e, quando aos Pés D’Ele chegarmos, continuemos com esta pureza, mas, tenhamos adquirido a vivência, a experiência, a sabedoria que os cabelos brancos desse Negro Velho trazem.
- E como pode uma pessoa conseguir isto, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas?
- Voltando-se para o seu interior, reconhecendo-se como um ser divino (pois é um filho de Deus), mas, reconhecendo também, suas limitações. E para isso, meu pequeno, há de se trilhar a jornada com humildade.
- É assim que eu devo fazer para ser como o senhor é, Pai Cipriano?
- Sim, meu pequeno, caminhe desta forma e você chegará a este ponto da jornada em que me encontro, sem sofrimentos.
O menino olhou fixamente nos olhos do Preto Velho. Olhou para espíritos que caminhavam atrás do Cruzeiro das Almas, perdidos, alguns com semblante maléfico (provocado pela opção à ignorância humana). Olhou para a esquerda, viu belíssimos guardiões e belíssimas guardiãs. Fixou seu olhar naqueles espíritos.
O Preto Velho pitou o cachimbo, sorriu e falou:
- São os guardiões e guardiãs, pequeno, deste Campo Santo. Mas também são aqueles que atuam na guarda dos humanos encarnados. São os Exus e Pombagiras.
O menino sacudiu a cabeça lentamente, afirmando ter compreendido.
Em seguida, olhou para a direita, viu espíritos que caminhavam em sua direção. Caboclos, Caboclas, Pretos Velhos, Pretas Velhas, Ciganos, Ciganas e Crianças (meninos e meninas) que corriam alegremente à volta deles.
O Preto Velho pitou o cachimbo, sorriu mais uma vez e falou:
- Estes espíritos à direita, meu pequeno, são aqueles que trazem as vibrações mais sutis, de cura espiritual, de abertura de caminhos e, principalmente, mostram aos humanos encarnados por onde trilhar os “Caminhos da Evolução”. Tanto eles, quanto os guardiões e guardiãs da esquerda, menino, trabalham sob a irradiação e tutela dos Sagrados Orixás.
- Mas, quem são os Sagrados Orixás, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas?
O Preto Velho sorriu, pitou o cachimbo, olhou para a frente. Imediatamente, o menino também olhou... e ficou maravilhado com o que viu.
Caminhavam em sua direção, 14 Orixás. Á frente, o Divino Obaluayê, acompanhado à sua direita da Divina Nanã Buruquê e à sua esquerda do Divino Omulu, conduziam aquele grupo que aproximava-se do Cruzeiro das Almas. Logo atrás, vinham o Senhor Ogum Megê, a Senhora Iansã das Almas, o Senhor Xangô da Calunga, acompanhado da Senhora Egunitá. A Divina Mãe Obá, vinha acompanhada do Sagrado Oxossi. Também estavam naquele grupo: a Divina Mãe Oxum e o Divino Oxumaré,
E, pelo alto, irradiando sobre aquele Campo Santo, o Sagrado Pai Oxalá, acompanhado da Divina Mãe Oiá-Tempo e da Senhora da Vida, a Sagrada Mãe Iemanjá.
O menino, emocionado com aquela visão, olhou novamente para o Preto Velho e falou:
- Agora eu compreendo tudo, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas! Deus está aqui no Campo Santo também, manifestando seus Poderes através dos Sagrados Orixás.
O Preto Velho soltou uma suave gargalhada.
O menino prosseguiu:
- Algumas pessoas falam tão negativamente deste ponto de forças que é o cemitério, não é Pai Cipriano?
- É sim, pequeno! Mas falam por desconhecimento de causa, tenha certeza! A ignorância é uma trava muito forte na evolução dos espíritos (encarnados e desencarnados), saiba disso! No momento em que os humanos banharem-se em humildade e buscarem o conhecimento, começando pelo auto-conhecimento, aí sim, pequeno, o planeta caminhará para a evolução e a ascensão como deve ser.
O menino sorriu. O Preto Velho prosseguiu:
- E, num dia como hoje, em que as pessoas adentram o Campo Santo a fim de chorar a saudade daqueles que foram e são para elas muito importantes, talvez, pequeno, elas passem a procurar este campo de forças com sorriso no rosto e com o intuito da celebração da vida, que é eterna. Quando os humanos conseguirem tirar de seus corações o muro que os separa da morte, aí, pequeno, verão que ela não existe e sorrirão, pois, terão plena certeza de que a vida é eterna.
O menino sorriu. O Preto Velho falou:
- Siga neste caminho, que é o da busca do conhecimento e você trilhará por um jardim muito florido, pequeno!
- Sim senhor, Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas!
- Agora vá brincar, pequeno, por que é a melhor coisa que você pode faze por ora.
O menino beijou a face do Preto Velho, saiu correndo por entre as lápides, sorrindo e cantando.
Pai Cipriano do Cruzeiro das Almas, satisfeito, sorriu, pitou seu cachimbo e permaneceu sentado observando os movimentos naquele Campo Santo.

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A LIÇÃO DE PAI THOMÉ...


História inspirada por Vovó Benta
Médium: Mãe Leni Saviscki
Dirigente do Templo de Umbanda Vozes de Aruanda
Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery
Nos atendimentos apométricos, muitas surpresas nos reservam. Enganam-se aqueles trabalhadores que pensam ser suficiente decorar as Leis da Apometria e realizar o trabalho com amor. Constantemente os benfeitores espirituais nos colocam situações, diante das quais percebemos a grandiosidade dessa técnica que aliada ao Evangelho de Jesus, nos torna não somente instrumentos curadores, como também magos manipuladores e trasformadores de energias. Situações outras que nos fazem perceber nossa pequenez diante da grandiosidade do Universo e desses comandantes que nos regem a nível espiritual. Todos os dias, sob todos os aspectos, temos tudo a aprender consolidando a realidade de que estar encarnado nesse abençoado planeta-escola, é uma oportunidade a qual não podemos desdenhar.
Naquela noite, após o atendimento normal da agenda, apresentou-se um espírito pedindo oportunidade para nos contar sua história. Estava acompanhado por um preto velho, o qual já conhecíamos, pois era trabalhador da Casa. Pelo cordão brilhante que saía de sua nuca, deduzimos tratar-se de um ser encarnado em desdobramento do sono o que imediatamente suscitou dúvidas em nossa mente acostumada a tudo interrogar.
– Como poderia alguém encarnado estar ali presente se não havíamos solicitado pelos costumeiros “pulsos energéticos” o seu desdobramento? Captando a dúvida, o bondoso preto velho nos assegurou de que ele não vinha para atendimento, e sim, sob sua tutela para nos trazer aprendizado. Ligado ao médium, o nosso amigo iniciou sua narrativa:
“Encarcerado dentro de um corpo frágil e adoentado, além da idiotia que me acomete no físico, sou uma espécie diferente aos olhos dos que passam pela rua e me vêem sentado na porta de minha casa.
- Coitado! Seria melhor morrer- É comum ouvir esta frase. Ou então, a mãe passando com o filho pela mão, naturalmente manifesta:
- Meu filho, se você não obedecer, vou te entregar para aquele homem feio.
Outras vezes, mulheres grávidas evitam olhar-me para que seus bebês que foram projetados perfeitos e saudáveis, não venham a ser iguais a esta bestialidade humana.
Minha consciência mais profunda está recebendo e percebendo tudo isso, porém presa dentro da cela que eu mesmo criei no passado, não pode reagir. Se sofro com isso hoje? É inevitável. Se me revolto? Não, a minha consciência sabe que é um mal necessário. Nas poucas vezes em que me é permitido "voar" para longe deste corpo eu já tenho caminho traçado. Vou me refugiar nos braços de Pai Thomé. Lá está ele, na sua humilde tenda, cantarolando ou assobiando, enquanto mexe nas suas ervas. Negro velho mandingueiro sabe quando chego, sente minha presença e trata logo de sentar-se em seu toco, acender o pito e com uma risada gostosa inicia a doutrinação. Conversamos por horas a fio e saio de lá me sentindo gente, apesar de tudo. Não sei quando foi a primeira vez que o visitei. Acho que na noite em que minha mãe foi àquele Centro de Umbanda, desesperada pois achou que desta vez a convulsão iria me matar. Ele estava lá, incorporado em outra pessoa e me deu seu "endereço".
Hoje, a cada visita que meu espírito faz ao bom negro velho, algo se modifica no meu corpo físico. Já consegui deixar de babar constantemente, melhorando assim meu aspecto. Até já sou capaz de chorar, sem fazer aquele grunhido horrível, vejam só! Tudo por conta das mandingas de Pai Thomé que por saber de minha verdadeira história, me ajuda com muito amor.
Precisou que eu quebrasse meu orgulho para aceitar tal ajuda, pois estou em colheita de um plantio desastroso. Em encarnação anterior, vivi como feitor de uma rica fazenda e com maldade cobrindo meu coração, além de outras coisas, eu era um verdadeiro matador de aluguel. Cheguei ao cúmulo de fazer filho com escrava para poder vender mestiço nas feiras do porto, como "escravo especial". Hoje estou tendo essa benéfica oportunidade e mesmo encarcerado num corpo limitado, com uma mente debilóide, de cor negra, aspecto físico sem nenhum atrativo, servindo de modelo do ridículo para muita gente, estou aprendendo que tenho muito mais do que mereço.
Um dia desses, chorei muito quando Pai Thomé me fez relembrar quem foi ele naquela minha desastrosa encarnação, e por momentos me senti muito mal, vindo a ter fortes convulsões no físico. Não fosse o bom velho me chamar à realidade, teria desencarnado para fugir...
Ele foi naquele passado um "mestiço especial" que eu vendera como escravo.
Não há nada mais doloroso do que a fúria de um remorso. Dores ou limitações físicas, são um pequeno nada para uma encarnação, diante de lembranças de nossos plantios infames. Pai Thomé, entre outras coisas me ensina o auto-perdão e sobre a bondade divina em nos dar um corpo físico aliado ao esquecimento. Mas me ensina também que esse "esquecimento" não pode servir como desculpa para novos erros. Por isso, somos levados em espírito durante o sono para verificarmos certos pontos que precisam ser revistos em nossa história. Ele me diz que nem sempre lembramos do aprendizado sonambúlico, mas que ele está registrado à nossa disposição, para uso em momentos propícios.
Me restam alguns anos ainda nessa vida, porém nem a dor, a pobreza e o desleixo de meus familiares é pior do que imaginar voltando sem ter expurgado esse lixo todo que agreguei no meu corpo espiritual. Quero a renovação e se essa me custa tanto, sei que o preço fui eu mesmo que estipulei. Nada me foi imposto.
Colheitas... de um plantio impensado. Apenas colheitas!
Após despedir-se agradecido, aquele menino voltou ao seu corpo físico que dormia no leito pobre onde nascera, deixando-nos emocionados e calados. Todos retornamos aos nossos lares pensativos, refletindo sobre o que ouvíramos naquela noite.
Em ocasião posterior, o caso foi comentado e alguém nos propôs que deveríamos solicitar ao Pai Thomé um atendimento apométrico para o menino, uma vez que, estando encarnado, isso possibilitaria uma melhora dos sintomas físicos. Com as técnicas decoradas, já deduzimos que tratando seu Corpo Astral, por ser ele o Modelo Organizador Biológico, poderíamos quem sabe, melhorar sua aparência. No final do debate, antes do encerramento sentimos forte cheiro de ervas e imediatamente Pai Thomé apresentou-se através de um médium e nos esclareceu:
- “Pai velho admira e abraça os filhos pela boa vontade demonstrada em auxiliar o meu menino. Mas posso afirmar que a tentativa seria muito proveitosa em espírito renitente na aceitação do resgate cármico a que se impôs, o que não acontece com ele. Como viram, meu menino está espiritualmente lúcido e aceitando a colheita. Seu Corpo Astral, por ser constituído de matéria moldável, foi plasmado em encarnação anterior por seus próprios atos insanos. Sempre é assim meus irmãos. Enquanto na carne, nossos atos e pensamentos modelam a nova encarnação, além de nos conduzir no após morte para estância de luz ou trevas. Deus não castiga ninguém, disso sois sabedores, Ele apenas nos deu o livre-arbítrio e todas as oportunidades de escolhas nos são colocadas à frente durante uma vida. Não nos faltará assistência espiritual e mesmo que seja através da dor, o expurgo se faz necessário para drenar do agregado espiritual os ácidos ali impregnados.
Nossos pensamentos modelam o nosso futuro Corpo Mental, nossas emoções o Corpo Astral e assim quando reencarnamos trazemos gravados em nossos átomos aquilo que precisa ser melhorado. Por isso surgem as dificuldades a serem vencidas, e não haveria mérito se aqui estivéssemos só para sofrer sem que isso trouxesse alguma lição e aprendizado. Essa drenagem se dá através do nosso Corpo Etérico que intermediando o Corpo Físico e o Corpo Astral, atua como usina recicladora através do trabalho dos nosso Chácras, repassando para o Corpo Físico que age como mata-borrão. Todas as doenças, sejam físicas ou psíquicas nada mais são que limpeza de nosso corpo espiritual como um todo. Por isso aconselho os filhos dessa Seara para que sempre respeitem as leis em qualquer atendimento ou ajuda a que forem induzidos. Procurem sempre verificar se existe interesse e vontade em receber essa ajuda da apometria, seja pela pessoa necessitada se essa estiver consciente, ou por parte de familiares quando esse estiver incapacitado de raciocínio próprio, para que não ultrapassem a barreira do livre-arbítrio, contrariando assim as Leis Divinas. Sois sabedores que Apometria é manipulação energética, portanto “magia”. E magia é coisa séria meus filhos, assim como ela nos dá o poder de provocar uma modificação na matéria, através do poder mental, sendo regida pela lei da causalidade produzirá sempre um efeito, seja imediato ou tardio. Existem coisas no Universo de meu Deus que podem e devem ser mudadas, mas sempre respeitando a vontade e exigindo esforço próprio de cada criatura ligada ao fato. A oportunidade de ajuda que nos faculta a Apometria vem trazer alento e apressar a evolução dos homens acomodados que estão no ir e vir na carne, e que embora alertados constantemente pela dor torturante, tardam em realizar as mudanças. Porém, esse “poder” está sujeito e deve sempre ser colocado à luz da razão, nunca querendo realizar “milagres” que possam comprometer o trabalho laborioso do grupo, adquirindo com isso um carma coletivo. O equilíbrio e a compreensão de limite, aliados à sabedoria e o amor serão os temperos que farão sempre com que os filhos possam auxiliar sem se macular.”
Mais uma vez a lição do bom amigo espiritual colocada com tanta humildade e sabedoria, fez com que vários membros do grupo que ainda tinham preconceito com a presença dos pretos velhos nos trabalhos apométricos, repensassem sobre isso.

http://terradeaganju.blogspot.com.br/2009/09/licao-de-pai-thome.html

sábado, 9 de agosto de 2014

PRA QUE GIRA DE CRIANÇAS?

images2 PRA QUE GIRA DE CRIANÇAS?Manoel adentra ao terreiro e observa meio chateado que hoje é gira de criança e se questiona: o que uma criança pode trazer de útil ou importante para este momento da vida, momento este em que está desempregado, saindo de um desgastante casamento de longos anos se sentindo desprezado, velho, sem forças ou ânimo para as novas e necessárias buscas.
Manuel se sente no fundo do poço, e diz para si mesmo: “aonde eu vim amarrar meu burro? Procurar ajuda num terreiro de macumba já é o fim, mas vir assistir a marmanjos se arrastando de joelhos, fazendo cara de criança, brincando e comendo doce, aí já é ridículo.
O que estou fazendo aqui? Deixe-me ir embora, rápido!”.
Ao se levantar para ir embora, alguém o segura pelo braço e diz: “Entre.
É a sua vez. Aquela criança vos chama”.
Manuel observa o médium incorporado com os braços levantados, chamando-o.
“Ai, ai. E agora? Bom, vamos ver no que dá!”. Entrou.
A criança lhe sorri. Manuel sério.
- Tio, me dá a sua mão.
- Olha, eu só quero um passe. Tenho de ir. Ainda tenho compromisso para hoje – diz Manuel.
- Sim, tio. Me dá as duas mãos e fecha os olhos.
Manuel sente uma leve vibração, convidando-o ao relaxamento, respira fundo, enchendo-se de paz. Manuel pensa: “nossa, há quanto tempo não tenho um momento de paz”.
O menino fala enquanto dá um passe espiritual, puxando do reino dos encantados essências para impregnar em Manuel:
- Tio, lembra quando você era criança e brincava na rua, lembra tio?
- Sim, uma bola foi meu único brinquedo, o único que tive em toda a minha curta infância. E eu adorava brincar de bola. Qualquer vão entre duas coisas era um gol.
- Tio, vem brincar comigo.
- Não, eu não posso, tenho mil problemas a resolver.
- Tá bom, tio. Deixa-me acabar o passe. Tio, à noite, quando você ia dormir, você rezava?
- Sim, mas não me lembro como era, faz muito tempo.
- Tio, acabou. Vai com DEUS, tio!
Manuel volta de seu pequeno transe, leve, como se tivesse deixado lá uma construção que jazia em suas costas. Mas, volta a pensar: “Não adianta. Foi gostoso, mas não resolveu meus problemas. Eles vão bater a minha porta logo, logo”.
Na volta pra casa, Manuel vai que é só recordações, se lembra tanto das alegrias quanto das tristezas, da dureza da infância pobre e das alegrias feitas de quase nada.
De repente, na calçada, quica a sua frente uma bola de futebol daquelas modernas. Manuel, contagiado pela nostalgia, não pensa duas vezes e mete uma bica na bola, que subiu as alturas e foi dar com a vidraça de uma casa velha abandonada.
Com o estardalhaço da vidraça ruindo, as casas vizinhas acenderam as luzes e
Manuel saiu correndo e rindo tal qual uma criança que fez uma traquinagem.
Correu até sua humilde casa a adentrou a porta aos soluços de cansaço.
Deitou-se na cama, fechou os olhos e se lembrou da oração que fazia quando pequeno.
Manuel se viu criança, colocou as duas mãos no peito e adormeceu com uma prece no coração. Sonhou lindos sonhos de uma vida passada, onde havia a alegria que ainda está por vir.
Acordou com os mesmos problemas, mas renovado.
Na outra semana, estava lá no terreiro novamente. Desta vez era gira de caboclos e perguntou ao entrar:
“QUANDO VAI TER OUTRA GIRA DE CRIANÇA?”.
IBEJI IBEJADA!

domingo, 3 de agosto de 2014

CONSELHOS DE UM PRETO VELHO


Faz caridade fio, faz caridade fio!
Assim era as fala do negro Ambrósio através do aparelho mediúnico que lhe servia de canal para fazer proseador.
Não era a primeira que aquele consulente ouvia esse conselho do Pai Velho, já havia se passados oito meses desde o primeiro dia que aquele senhor tinha adentrado ao terreiro, passando a fazer parte da assistência, sempre voltando ao negro Ambrósio para tirar suas duvidas.
Naquele dia ele estava decidido. Iria perguntar ao Velho porque toda vez que falava com ele escutava o mesmo conselho? Será que como espírito não estava vendo que ele já estava fazendo sua parte?
Esperou ansioso a sua vez. Aquela noite seria especial, seria diferente das outras, aquele encontro marcaria uma nova etapa no caminhar daquele senhor.
Como sempre fazia, mais por repetição do que mesmo por convicção, se ajoelhou diante do negro Ambrósio e foi dizendo:
- Benção vô Ambrósio, hoje venho lhe pedir uma explicação para melhor entender o que o senhor me diz.
- Oxalá te abençoe meu fio! Negro Ambrósio fica feliz com sua presença e gosta de fazer proseador com todos os fios que aqui vem.
- Meu vô, como o senhor mesmo sabe já faz algum tempo que venho a essa casa e falo com o senhor. Como já lhe disse não tenho uma situação financeira ruim, ao contrário, nunca tive problemas
dessa ordem o que sempre me facilitou uma vida com fartura e bem-estar
desde a infância.
- Certo meu fio, negro Ambrósio já tem cunhecimento de tudo isso que suncê falou.
- É meu vô, por essa razão gostaria de lhe perguntar porque o senhor toda vez que fala comigo me aconselha a fazer a caridade? O senhor não já sabe que faço isso todo mês entregando gêneros alimentícios aos que estão carentes? Além do que, na minha empresa mantenho uma creche para os filhos dos meus empregados para que assim possam trabalhar com mais tranqüilidade. Por isso gostaria que me explicasse o porquê desse conselho, dentro da minha consciência cumpro com meu compromisso.
- É verdade meu fio, tudo isso que suncê falou pra negro veio, faz parte de seu compromisso e fio cumpre direitinho sua parte. Porém fio esse compromisso faz parte de seu social. Suncê alimenta o corpo material que precisa de sustentação pra ficar de pé, pois se não for assim fio tem prejuízo, só que o fio também precisa distribuir o pão espiritual e assim fazer a caridade.

Mensagem de um Caboclo

 Ligia segurava o charuto do caboclo que estava a cambonar enquanto a entidade em questão participava dos trabalhos em uma roda de descarrego.
Terminada a tarefa o caboclo dirigiu-se em direção a sua cambone e pediu o charuto de volta agradecendo-a por haver segurado o seu instrumento de trabalho, mas Ligia, não se contendo de sadia curiosidade, perguntou a entidade:
— Senhor caboclo?
— Pois não fia?
— O senhor poderia esclarecer-me uma dúvida?
— Pode fazer pergunta fia!
— O que eu gostaria de saber é o seguinte: por que o senhor sempre me agradece a cada vez que eu entrego o charuto que estou segurando de volta para as suas mãos?
— Suncê quer saber fia?
— Se for possível, gostaria sim.
— Fia, antes de caboclo responder, observe a atuação da nossa linha de trabalho nesta próxima roda de descarrego, sim?
— Sim senhor!
Após trabalhar com todas as pessoas que estavam naquela roda de descarrego a entidade estendeu sua destra a fim de que sua cambone segurasse o seu charuto enquanto ele e as demais entidades que participavam dos trabalhos na roda pudessem finalizar o trabalho.
Ao término daquela roda de descarga a entidade, então, tornou junto à Ligia dizendo:
— Entrega o pito de volta para Caboclo fia!
Ligia devolveu o charuto à entidade que, então, disse-lhe:
— Este caboclo agradece por toda sua atenção.
Ligia sorriu meio que ainda sem entender o porquê daquele agradecimento e o caboclo perguntou a ela:
— E então fia? O que suncê observou do nosso trabalho junto à roda de descarrego?
— Bem, eu observei algumas coisas, mas fica difícil de dizer algo, no aspecto geral, sobre o trabalho dos caboclos em uma roda de descarrego por que cada um trabalha de um jeito diferente em cada assistência.
— Isto até que é verdade, mas o que suncê observou de semelhante no trabalho de qualquer mano caboclo lá na roda?
— A fumaça do charuto! Nenhum dos senhores trabalha sem ela!
— Muito bem observado fia!
A entidade soltava umas baforadas do seu charuto enquanto fitava o semblante de Ligia e, após alguns instantes, perguntou a ela:
— Suncê ainda não entendeu porque que caboclo lhe agradece por segurar o pito dele, não é?
— Não senhor!
— Fia suncê tem o dom para isso e é por esse motivo que caboclo vai dilatar um pouco de sua percepção sensorial.
— Sim senhor!
A entidade estalava os dedos e soltavas algumas baforadas do seu charuto por toda a cabeça de Ligia. O processo durou poucos segundos e quando terminou a entidade solicitou a Ligia que abrisse os olhos.
— Nossa senhor caboclo!
— O que foi fia?
— É que eu fiquei com um pouco de tontura.
— Não se preocupe que já, já ela passa.
— Sim senhor, na verdade ela já está passando.
— Fia este caboclo vai participar de outra roda de descarrego e pede a suncê que continue a observar pra ver se descobre o porquê do nosso agradecimento, sim?
— Sim senhor.
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço para Ligia que, prontamente, segurou o charuto em suas mãos.
Minutos depois de terminada mais uma roda de descarrego a entidade pediu a Ligia:
— Entrega de volta o pito pra Caboclo fia!
Ligia assim o fez e ele novamente agradeceu-a para depois perguntar:
— E agora fia? O que suncê observou do nosso trabalho na roda?
— Nossa senhor caboclo! Parecia que eu estava ficando louca!
— Por que isso fia?
— Parecia que a fumaça do charuto dos senhores funcionava perispiritualmente para os assistidos na roda como se fosse uma espécie de chuveiro que tira todas as sujeiras do corpo físico.
A entidade sorriu com a comparação de Lígia e ela prosseguiu:
— É sério Sr. Caboclo! Quando a roda de descarrego terminou alguma coisa nelas parecia que estava muito mais limpo do que antes: algumas pessoas respiravam melhor, outras estavam como se tivessem retirado um peso do coração, enfim foi muito bonito de se ver.
— Fia antes de ir para a próxima roda de descarrego este caboclo pede que suncê segure o pito dele.
E, estendendo-lhe a destra, o caboclo entregou o charuto a sua cambone solicitando:
— Fia, agora feche os seus olhos e faça uma prece ao Criador pedindo bênçãos por todos aqueles que ainda passarão pelas rodas de descarga na gira de hoje!
— Sim senhor!
Ligia fez a prece com todo o fervor de sua mente e do seu coração e, então, abriu os olhos.
A entidade, assim, disse-lhe:
— Fia este caboclo agradece por suncê ter segurado o pito dele mais uma vez e pede que suncê observe o trabalho de nós em mais uma roda de descarga para ver se agora descobre o porquê dele agradecer a suncê por segurar o pito, tudo bem?
— Sim senhor!
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço e Ligia, prontamente, segurou em suas mãos o charuto da entidade.
O trabalho naquela roda foi finalizado e quando a entidade aproximou-se de Lígia esta estendeu-lhe as mãos na intenção de devolver o charuto para o caboclo, mas este lhe disse:
— Deixe o pito por mais um tempo em suas mãos que na hora certa este caboclo pede de volta a suncê, sim fia?
— Sim senhor!
— Este caboclo agradece por toda sua dedicação fia e pergunta: o que suncê observou nos trabalhos da última roda que caboclo acabou de participar?
— Senhor caboclo eu realmente observei algumas coisas, mas eu peço ao senhor que, se eu houver visto demais, que o senhor fale francamente comigo como sempre o fez.
— Nossa fia Ligia! Mas por que todo este alvoroço?
— Por que se na penúltima roda que o senhor participou eu percebi que a fumaça dos charutos funciona como a água de um chuveiro, nesta última roda parece que eu vi o que funciona como uma espécie de sabão ou sabonete.
A entidade deu um discreto sorriso para sua cambone e esta tornou a dizer-lhe:
— E então Senhor caboclo? Eu vi coisa onde não existia?
— De forma alguma fia! Suncê só viu o que havia para ver!
— Nossa, mas o senhor fala isto de uma maneira tão calma!
— E qual é o espanto nisto fia?
— Por que o desconhecido assusta um pouco e eu não sei nem um pouco do que eu vi.
— Fia, mas é como suncê mesma disse antes: o que tem de assustador em se tomar uma boa ducha?
— Ducha?
— É fia ou, como suncês encarnados mesmo dizem uma boa chuveirada!
— ?????
— Fia conte pra este caboclo o que foi que suncê viu!
— Bem, enquanto o senhor dava umas baforadas em uma pessoa da roda de descarrego milhares de minúsculos seres ficavam a rodear esta assistência em questão sempre na direção da cabeça para os pés. Estas espécies de seres giravam numa velocidade absurdamente alta e direcionada como se estivessem sendo controlados por alguém a distância. Eles apareciam e sumiam como que por encanto quando o senhor terminava o trabalho em uma pessoa participante da roda de descarga e passava para outra. Bom, foi isto que eu vi.
— A fia só está se esquecendo de um detalhe fundamental em tudo que observou da participação deste caboclo na última roda de descarrego!
— Verdade?
— Fia, fale uma coisa pra este caboclo!
— Sim senhor!
— Segundo a sua observação, participar desta última roda de descarrego foi mais fácil ou mais difícil do que a penúltima em que este caboclo participou?
— Ah, é verdade! Bom quem estava na dinâmica do trabalho lá na roda é o senhor, mas para mim que observava dava a nítida impressão que o senhor conseguia realizar o trabalho com muito mais facilidade, tendo em vista que na penúltima roda parecia que o senhor se concentrava muito mais para poder fazer o seu trabalho do que nesta última.
— Não foi impressão sua fia: para este caboclo, trabalhar nesta ultima roda, foi muito mais fácil que na penúltima e você fia teve uma grande parcela de responsabilidade para que caboclo obtivesse esta facilidade.
— Eu?
— Claro fia, não é suncê que é a cambone deste caboclo?
— Sou eu sim senhor, mas não sei dizer qual foi minha contribuição!
— Pense um pouco minha filha! Qual foi a grande diferença entre a penúltima e a última vez que suncê entregou o pito para este caboclo antes dele participar das rodas?
— Na ultima vez, diferentemente da penúltima, eu fiz uma prece ao Criador pedindo bênçãos para todas as assistências que participariam das rodas. Foi isto senhor caboclo? A prece que fiz a Deus?
— Fia toda prece a Tupã é sempre muito válida em nosso trabalho de fazer a caridade, mas suncê pode relembrar para este caboclo o que suncê possuía em mãos quando proferiu a referida prece?
— Meu Deus é verdade! Em minhas mãos estava o charuto do senhor!
— Exatamente fia! E então, suncê descobriu por que caboclo agradece suncê a cada vez que pede o pito dele?
— O senhor me desculpe, mas é que eu ainda não consegui chegar lá!
— Então este caboclo não vai mais fazer mistério fia: Caboclo agradece a suncê por que a cada vez que sunce entrega o pito de volta pra ele, acaba entregando junto boa parte de sua firmeza, de sua vibração, de sua energia.
— Eu???
— Não só suncê, mas cada cambone que trabalha junto a cada mano caboclo que milita em cada terreiro de Umbanda neste mundo de Tupã Nosso Pai.
— Isto é surpreendente!
— Antes da última roda que caboclo participou suncê fez prece sentida a Tupã e entregou o pito pra caboclo trabalhar cheio destas sutilíssimas e importantíssimas vibrações do desejo de caridade ao próximo.
— Sim, mas eu devo ser sincera e dizer que só fiz isto da última vez.
— Este caboclo sabe.
— Mas se das outras vezes que eu segurava o charuto do senhor eu não fazia prece alguma por que o senhor, mesmo assim, me agradecia?
— Independente de suncê fazer preces ou não, a cada vez que suncê entrega o pito para caboclo, suncê passa muito de sua energia para ele.
— Mas e se eu não estiver com energia boa no dia da gira? Eu vou acabar passando o pito para o senhor impregnado com minhas energias não muito positivas, mesmo assim o senhor me agradeceria?
— Já houve alguma gira que suncê entregou o pito pra Caboclo e ele não lhe agradeceu?
— Não senhor!
— Mas já houve giras em que suncê veio trabalhar com uma energia não muito boa, não é verdade?
— Isto é verdade, mas então por que o senhor sempre agradece?
— Fia, na verdade, o que caboclo agradece é a oportunidade de trabalho no bem que suncês dá pra nós. Umbanda é parceria fia!
— Desculpe, mas como é?
— Parceria fia: estar juntos por um objetivo em comum. Quando suncês cambones estão bem, então suncês fazem preces ou não as fazem, mas entregam o pito para nós com as energias boas que suncês estão naquele dia para nós trabalhar em favor do próximo, não é assim?
— É sim senhor!
— Já quando é suncês que não estão bem, daí somos nós que fazemos preces ao Criador, enquanto seguramos o nosso pito, rogando que suncês possam encontrar melhoras para as dificuldades de suncês e ajudar nós a trabalhar em nome da caridade cada vez mais e melhor e daí, somente após esta prece fervorosa, é que nós entregamos o pito de volta pra suncês segurar a fim de que, captando um pouco de nossa energia que deixamos no pito, suncês consigam encontrar um pouco de lenitivo que o merecimento de suncês lhes facultar.
— Meu Deus, mas isto é lindo!
Assim exclamou Ligia com a voz embargada de emoção pungente e sincera.
— Isto é Umbanda fia e Umbanda, como caboclo disse, é parceria: quando suncê não está bem e entrega o pito impregnado de energias não muito positivas para caboclo, ele então, quando pega este pito das suas mãos, agradece a suncê pela oportunidade que suncê está dando a ele de trabalhar junto a Tupã objetivando a sua melhora energética, vibracional.
— Nossa pelo que o senhor me diz a Umbanda é parceria mesmo, hein?
— Com certeza fia e é por isso que cada vez que um mano caboclo pede o pito de volta para seus cambone ele só tem a agradecer a este.
— Mas o ideal, quando o cambone não está bem, é fazer sempre preces, pedir auxílio a alguma entidade e ficar vigilante para sua vibração não cair e, assim, dificultar o trabalho das entidades, não é assim?
— Certamente não é fia!?! Mas este caboclo sabe que a filha põe em prática aqui no terreiro muito do que acabou de perguntar pra caboclo, não é verdade?
— Infelizmente não é sempre, mas graças a Deus acaba sendo a maioria das vezes, mas...
A voz de Lígia mal conseguia sair dos seus lábios tamanha era a emoção de estar aprendendo coisas tão básicas e importantes para o bom andamento de uma gira, mas de uma forma simples e prática. Mesmo percebendo a dificuldade de Lígia em falar, devido à emotividade, o caboclo incentivou-a dizendo:
— Pode falar fia.
E, fazendo um esforço grandioso para não embargar a sua voz com uma honesta emoção, foi que Lígia disse:
— Sabe o que eu acho mais lindo na Umbanda em relação a tudo isto que o senhor acabou de revelar para mim?
— A voz de suncê está embargada não é fia? Embargada de singela emoção por contemplar a prova do que disse Jesus sobre a simplicidade da misericórdia e benevolência das coisas de Deus materializada na religião de Umbanda pela presença de um simples charuto de caboclo, não é verdade fia?
As lágrimas de agradecimento por estar tendo aquela preciosa conversa com o caboclo deslizavam aos borbotões pela face de Ligia e esta emoção tão bonita e sincera a impedia de proferir qualquer resposta em relação à indagação feita pela entidade e ela, assim, só pôde respondê-lo positivamente acenando com a cabeça.
O caboclo então continuou a conversa dizendo:
— Caboclo agradece a Tupã pela parceria entre suncê e este caboclo e respeita cada lágrima de gratidão ao Criador que está deslizando pelo seu rosto, mas deve solicitar licença por um breve instante neste seu processo de agradecimento para pedir a suncê que devolva o pito deste caboclo para que ele possa participar de mais uma roda de descarrego em nome da caridade ao próximo.
As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto de Ligia e ela, assim, só pôde estender as mãos para devolver o charuto sem nada conseguir dizer a entidade.
A entidade pegou o charuto nas mãos, deu as costas para Ligia, andou um passo a frente e ficou parado de costas para sua cambone.
Talvez fosse para substituir um pouco daquelas lágrimas de alegria por um sorriso singelo feito da mesma emoção, talvez não, o fato foi que o caboclo novamente virou-se de frente para Ligia e disse:
— Pensou que caboclo houvesse se esquecido desta vez não é fia Ligia? Mas este caboclo não esquece nunca de agradecer a suncê por haver segurado por mais uma vez o pito dele. Que Tupã abençoe em dobro toda a atenção que suncê dispensa a este caboclo nesta nossa parceria e que seja abençoada também a parceria que Tupã tem com todos nós através da nossa sagrada e amada religião de Umbanda.
Ao que Lígia, já um tanto refeita em suas emoções, respondeu:
— Que assim seja!!!!!

Mensagem de um caboclo canalizada por Pedro Rangel em 27/01/2010