quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mensagem de Um Exu

As dificuldades da vida existem como provação de seus erros e falhas destas e de outras passagens pela vida terrena, isto não é culpa e nem obra dos Guias, Orixás, e nem da Umbanda, mais sim pela infinita bondade do criador que da à vocês seres encarnados a oportunidade de reaver suas falhas Karmais e “dividas” passadas. 
Então dificuldades financeiras, doenças, dificuldades em geral, agradeça por ela, pois é a sua chance de se redimir perante as leis do criador, porém agradeça, mas não se conforme e se entregue a elas, lute seja forte e exerça a sua fé, procure trabalho quando o problema for dinheiro, se esforce quando o problema for falta de clientes no seu trabalha corra atrás, quando o problema for saúde mude seus hábitos, se trata, ou seja, agradeça pela oportunidade de reaver seu Karma, mais lute para superar a dificuldade em seu caminho. 
A verdadeira evolução não esta no problema em si, mais sim na forma com que você ira resolve-lo e superá-lo.
E saiba sempre que o dinheiro não é a fonte da vida, não se transforme em escravo do dinheiro e sim trabalhe para cumprir suas tarefas carnais, mais tenha como objetivo a espiritualidade a ajuda ao próximo, o amor mutuo ao Criador e a sua fé.
A Bíblia do Umbandista - Por um Exu
Meus irmãos eu vou relatar um pensamento, que me foi apresentado, de um Guia, em uma gira de Exu-Velho, e sinceramente, eu fiquei impressionado com a sabedoria deste Exu-Velho, no final do relato eu conto quem foi o Sr. Da Luz.
Certo dia estava conversando com um conhecido de outra religião (totalmente oposta aos nossos conceitos) e acabamos entrando em uma discussão sobre livros e claro que o questionamento inevitável foi feito:
- Porque a sua religião não tem uma Bíblia? 
O Silêncio o tomou conta de nosso diálogo por um pequeno instante. Expliquei que temos vários livros que contam a história de nossa religião, procedimentos, condutas, fatos que são relatados, etc. Mas confesso que de início concordei com a observação do questionador. 
Bom, continuamos com a nossa conversa, mas aquilo ficou martelando em minha cabeça, por alguns dias, até a chegada da Luz de irmão e amigo Exu-Velho. 
É chegado o dia da Gira de Exu-Velho, os sábios Tatás que recebemos em nossa Sagrada Umbanda, e posso dizer a vocês de coração, realmente que sabedoria eles possuem.
Todos os preparativos prontos, então nós iniciamos, defumação sendo passada, pontos cantados, energia circulando, trabalho aberto, assistência pronta para atendimento e o meu amigo e irmão, que tenho um respeito enorme, chega ao terreiro para os trabalhos e atendimentos. 
Os atendimentos são iniciados, os passes de limpeza, de cura, de incentivo etc. e a dúvida martelando em minha mente, até que uma voz meio idosa que saía do fundo da alma no meio do vazio dizia-me:
- Sossega “burro novo”, acalme-se que depois nos conversamos, temos muito trabalho pela frente.
Acatei os conselhos do Sr. e concentrei-me no trabalho. 
Após os atendimentos é chegada à hora dos esclarecimentos. 
Então o Sr. Exu-Velho com toda a sua Divina sabedoria dá a sua palavra para este “burro novo” (é assim que sou chamado por ele):
- O “burro novo”, quando lhe perguntarem “Qual é a sua Bíblia?” você calmamente sorri e responde:
- A minha Bíblia é  imensa e chama-se Natureza, uma única e verdadeira obra, feita pelas mãos do grande Criador do Universo, onde seus capítulos e versículos são:
A Cachoeira
O Lago
O Mar
A Mata
O Céu
A Pedreira
O Caminho
O Fogo
A Terra
A Chuva
O Vento
O Dia
A Noite
A Vida
A Morte 
Onde tudo que precisamos saber está escrito nela, e já faz um bom tempo que foi escrito, antes mesmo de aparecer à nossa escrita. E que tudo isso é obra do Divino Criador do Universo, onde devemos o devido respeito. Ela é a nossa Bíblia, ela é Bíblia do Umbandista. 
Por estas poucas, e sábias, palavras eu agradeço ao Sr. Exu-Velho, pelo conhecimento passado a este “burro novo”.  
Laroyê  Sr. Tatá Caveira.

Problemas com Demanda



Em novembro/2001 passei por um problema envolvendo "fofocas" com uma turma muito próxima a mim.

Uma moça, que era muito minha amiga, envolveu minha namorada num problema sem solução, pelo menos pra mim.

Depois que a história e muitas estórias vieram à tona, tive problemas com meu pai-de-santo (que soube resolver com muita habilidade), mas sobrou para mim e um grande amigo o alvo dessas estórias.

Perdi a namorada e ganhei alguns inimigos, mesmo sem querer.

Dentre os inimigos, apresentam-se duas pessoas que, sem conhecimento de qualquer outra pessoa do meu grupo de amigos, praticam a magia negra.

Como foram atacados e, pensando que eu e meu amigo fomos os responsáveis pelo "estrago", resolveram "testar" sua magia negra contra nós. O bombardeio foi grande. Sentíamos grandes e fortes energias negativas a toda hora. Negócios dando errado. Problemas de trânsito. Problemas com a família, etc, etc, etc...

Eis o dilema: como resolver a situação???

Trabalho com um Exú que é um grande amigo e um guia de extrema sapiência.

Num dos trabalhos em que tive a oportunidade de conversar de maneira muito franca com ele e explicar-lhe a história e de como fomos envolvidos neste problema, prostrei-me a ouví-lo com toda a paciência e humildade.

Na verdade, eu queria mesmo é atacar as pessoas que me atacavam, seguindo o velho ditado: "A melhor defesa é o ataque".

O Exú, com muita calma e grande sabedoria que lhe são características, explicou-me:

"Meu amigo e querido cavalo. Dói-me saber que estão lhe atacando, ainda mais sabendo que estas pessoas pouco sabem o que estão fazendo.

Mas a solução não está em atacar também. O grande segredo é manipular a energia que está sendo enviada. Retirar dela o que lhe pode ser produtivo e positivo.

Aprender a se defender sem machucar qualquer outra pessoa.

Lembre-se, querido amigo, que saber manipular a energia é o verdadeiro segredo da magia.

A magia está em cada átomo que existe neste universo e qualquer pessoa pode ter a capacidade de manipulá-la para o bem ou para o mal.

A magia reside dentro de cada um, basta que saibam como procurá-la. Num espaço muito pequeno pode existir energia suficiente para destruir ou salvar o mundo. Os seres humanos é que não a conhecem ainda e não poderão conhecê-la enquanto houver o mal habitando seu coração.

Louvado seja aquele que a manipula para o bem, visando a cura das doenças, a paz para os aflitos, a solução dos problemas do seu próximo, pois esta é a Lei Divina.

A melhor maneira de se defender é aproveitar esta energia para tentar tirar as pessoas que a enviaram da escuridão em que se encontram.

Seu primeiro passo, embora muito difícil para qualquer um, é o perdão incondicional. Você estará combatendo esta energia com a maior força que existe: o amor.

A cada vez que estas pessoas tentarem enviar nova energia negativa contra você, seu escudo de amor e perdão a refletirá e a Lei do Retorno cuidará do resto.

Tenha sempre em mente que não há mal que supere o amor, não há energia negativa que consiga romper sua barreira de boas intenções e ações e a verdade sempre prevalecerá, cedo ou tarde ela aparecerá, cedo ou tarde em vosso limitado conhecimento do universo, mas será sempre na hora certa."

O Exú me mostrou ainda que, manipulando a energia da maneira correta, primeiro e inevitavelmente, as pessoas que demandaram contra mim e meu amigo, seriam diretamente atacadas, fazendo parecer que o "trabalho de magia negra" fora muito mal feito.

É importante lembrar que existem espíritos de baixo nível que responderam às solicitações deste trabalho de magia negra, pois foram "alimentados" para isso.

O primeiro retorno que tive foi: numa segunda-feira, dia de trabalho num terreiro, um desses espíritos "pagos" para nos atacar pediu ajuda para o chefe dos trabalhos desta casa. Foi o primeiro a desistir do ataque e procurar o caminho da luz. Já conseguimos então a obter sucesso.

O segundo retorno: na mesma semana, as pessoas que nos atacaram pareciam muito perturbadas durante os trabalhos. Não conseguiam concentração nem a paz necessária para o bom andamento de seus trabalhos.

O terceiro: sem sequer pedir, o Exú da pessoa que estava me atacando, antes de "subir" veio conversar comigo, Exú este que nunca tinha me dirigido a palavra. Veio me falar que meus negócios agora teriam sucesso. E me deu a chance de lhe falar:

"Meu pai, a única coisa que está me impedindo é a falta da verdade! Só quero que seu cavalo saiba da verdade e que nesta história eu não tenho culpa e ainda estou sendo atacado, mas como o senhor sabe, não conseguiram me atingir e nunca conseguirão, pois sei que o senhor não está envolvido."

Depois de conversar com o Exú, nunca me senti tão leve e realizado, sabendo que ele sabe da verdade e que não participaria desta falcatrua.

O que me dói é saber que dentro de uma gira de Umbanda ou qualquer outro tipo de trabalho, onde vamos praticar o bem, existem alguns elementos praticando a magia negra e "testando" seus ínfimos poderes e conhecimentos contra um irmão!!! E ainda bem que foi contra um irmão!!! Pior se fosse contra uma pessoa que não conhece o poder da magia e indefesa!

Agradeço às pessoas que demandaram contra nós, pois nos deram a possibilidade de aprender um pouco sobre energia, suas origens, destinos e como manipulá-la. Deram-nos a possibilidade de aumentar nossos conhecimentos sobre o amor e sua impenetrável barreira contra o mal.

Agradeço, também, a estes 2 Exús que sempre olham por nós e por muitos.

Agradeço, principalmente, ao nosso Pai, cuja Lei do Retorno prevaleceu em prol do amor.

Laroyê Exú.

Exú é mojibá.

Trabalho de um Exú Guardião Capa Preta







O ônibus estava lotado, eu não conseguia vê-la, mas sabia que estava lá. Podia senti-la, captava sua angustia, sua indecisão, e acima de tudo seu medo. Ela não estava só, alem de mim, vi outros que a acompanhavam. Eram de outra faixa vibratória, pertenciam ao passado. Tentavam envolvê-la com uma energia densa e pegajosa. Sempre que faziam isso ela ficava mais nervosa e também mais decidida. Eu os via, mas eles não me notavam. À medida que o ônibus avançava pelas ruas centrais mais e mais pessoas entravam. Todos apressados para chegar em casa. O coletivo corria em direção a periferia da cidade. Ela esta lá, meio deslocada, olhava com insistência um pedaço de papel. Ali em suas mãos o endereço que segundo ela mudaria seu destino. Ato continuo ela toca a campainha, o ônibus para, descemos...

Aqueles que a acompanham, vibram, ela esta na iminência de servir como instrumento na vingança que planejam há muito tempo. Vibram com tanto ódio que ela enfureceu-se consigo mesma. Como se deixara envolver por aquele rapaz? Tinha que resolver isso imediatamente e tratar de seguir sua vida, sem que seus pais soubessem. Ela verifica o número anotado, esta perto. Chega a uma casa humilde, como todas as outras ali no bairro. Toca a campainha é atendida por uma senhora que executara o serviço. A mulher a analisa rapidamente, já vira muitas iguais a ela, não tem tempo para conversa fiada.

Pede-lhe o dinheiro e manda que espere, pois existem duas mulheres na frente dela. Ela senta-se e aguarda. Eu tenho que agir rápido. Vibro minha espada no ar, e os seres trevosos que a acompanham estarrecem ante minha presença. Fatalmente eles me notam,agora ou correm ou me enfrentam. Decidem sabiamente pela primeira opção, saem da casa, mas ficam do lado de fora, tentando contatar outros que podem vir ajudá-los. Aproveito para me aproximar dela. Envolvo-a com minha capa, ela se acalma, por um instante, sugestionada por mim e titubeia. Já não tem certeza se deve continuar. Eu vibro em seu mental para que saia dali vá tomar um ar fresco lá fora. Ela me atende. Quando chega , ainda envolvida por minha capa, torna-se invisível para os que a acompanham. Tenho que me materializar. Ela assusta-se ao me ver, tenta gritar não consegue, tenta voltar para dentro da casa, mas eu a impeço. Chamo-a pelo nome, digo-lhe que não deve me temer, falo que venho em paz. Tenho uma missão: Evitar que ela faça o aborto. Não deve impedir aquele espírito de vir ao mundo. Pouco importa se a concepção fora fruto de uma aventura. Deve deixá-lo vir. Será um menino, veio do passado para cumprir uma missão, ela não deve abortá-lo. Sei que seus pais não aprovarão a gravidez, mas me comprometo a acalmá-los e fazê-los aceitar.

Ela chora, não entende como pode estar ouvindo aquilo. Falo com tanta firmeza que ela quer saber quem sou. Digo-lhe que me chamam de Exu Capa Preta, sou um guardião, protegerei o menino que ela carrega no ventre. Estarei ao lado dele a vida toda, acompanhando-o, guiando-o e protegendo-o. Portanto ele não deve temer. Chorando ela consente, avança para a rua, toma um ônibus e retorna para casa. Protejo-a durante a gravidez, o menino nasce forte e saudável, cresce sem sobressaltos como prometi. Sempre que acho conveniente deixo-o que me veja, aos poucos vou me apresentando. Hoje ele esta feliz, acabara de completar 18 anos.

Seus amigos comemoram a data festiva. Movido pela curiosidade o rapaz resolve conhecer um terreiro de Umbanda. Estou ansioso, chegou meu grande dia! Ele chega, senta na assistência. Lá dentro uma gira de Exu. Eu já me entendi com o Exu chefe da casa, somos bem vindos. Quando ele entra para tomar um passe com linda Pomba Gira eu tomo-lhe à frente e incorporo. Abraço a moça com carinho, já nos conhecemos de longa data, fumo, bebo, canto. Daqui para frente haverei de incorporar sempre que necessário. E assim foi. Ele desenvolveu, abriu seu próprio terreiro, cumpre com amor e carinho sua missão. De minha parte não o abandono nunca. Estou sempre disposto e feliz, pronto para incorporar. Através dele ajudo a todos que me procuram. Também trago em terra outros que vêem cumprir a missão. Sua mãe sempre que estou em terra me abraça com carinho e gratidão.

         Salve o Trabalho dos Exus na Umbanda,

Laroyê Exú Guardião Capa Preta!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

EXÚ MARABÔ DA FIM A CARREIRA DO KIUMBA E SEU CAVALO!

EXÚ MARABÔ DA FIM A CARREIRA DO KIUMBA E SEU CAVALO!
Exu Marabô está em terra. Os poucos filhos que acompanham aquele terreiro vibram com sua presença. Na assistência algumas pessoas ansiosas aguardam para serem atendidas. O Exú ri, dança, bebe desenfreadamente.
Atende uma filha da casa recém-casada. Fala para a filha tomar cuidado com o marido, pois ele vai traí-la em breve. A moça desespera-se. Ele então passa uma longa lista para realizar o trabalho salvador. Sabe que já plantou a semente irreversível da desconfiança no jovem casal. Na assistência um pequeno empresário aguarda atendimento. O Exú diz que a firma não falirá, para isso precisa de vultuosa quantia em dinheiro para trabalho urgente. Chega a vez de uma médium, filha de outro terreiro, que visita pela primeira vez a casa. Mais uma vez o compadre não se faz de rogado. Diz para a pequena sair do terreiro que freqüenta, pois segundo ele a mãe de santo não entende nada sobre umbanda. E assim ele vai plantando a discórdia, a desunião, a dor.
Sempre que pode humilha publicamente os filhos da casa.
Os dias passam sem novidades.
O que ninguém ali imagina é que por trás daquela entidade que se diz chamar Marabô, está escondido um enorme quiúmba. Aproveitando-se do fato do tal pai de santo ser pessoa leiga, gananciosa e totalmente despreparado, ele domina o mental do incauto médium. Diverte-se com a angústia dos outros. Sempre que pode põe o pai de santo em enrascadas (cheques sem fundos, golpes que são descobertos constantemente, brigas e desunião em família). E o pai de santo não tem escrúpulos algum em usar o nome de um grande e respeitado Exú de Lei. Ao contrário, fica feliz em saber que aos poucos vai minando a credibilidade do verdadeiro Marabô. O Exú raciocina que o dia em que as trapalhadas colocarão tudo a perder e ele simplesmente abandonará o falso pai de santo à própria sorte. Não será o primeiro nem o último que ele abandonará. Afinal pensa o quiúmba, não fora ele que médium ainda novo, desenvolvendo, resolveu mistificar para dar uma abreviada no processo mediúnico de desenvolvimento? Não fora também por conta própria que o médium abandonara o terreiro de sua mãe de santo, sem ter preparo algum? Sem falar que enquanto esteve lá, desrespeitava os ensinamentos da casa, zombava dos irmãos de santo, dava golpes em tantos médiuns que muitos pediram até sua expulsão da casa? Pois então fora ele mesmo que atraiu o quiúmba e sendo assim essa sociedade duraria até quando fosse possível.
O ser do umbral ganhando energia negativa, achincalhando Marabô, e o falso pai de santo ganhando dinheiro. O quiúmba também aproveitava para trazer em terra seus falangeiros, que se aproveitam dos médiuns titubeantes da casa.
Hoje é dia de gira, no atabaque o atabaqueiro já está devidamente bêbado e sob influência dos asseclas do quiúmba. As filhas e filhos da casa cegos em sua fé e sob forte energia maléfica, são capazes de aceitar qualquer loucura ali realizadas. O falso Marabô está feliz, já olhou a assistência antes de incorporar.
Notou algumas pessoas que não lhe despertaram interesse.
Algumas mulheres velhas e sem dinheiro, um homem que também não traz dinheiro algum. Vai se divertir com eles. Pronto já está em terra!
Atende a assistência como de costume, diverte-se com as angústias, os medos, as dores daquelas pobres almas.
Chega a vez do homem que estava na assistência, ele adentra de maneira lenta. O quiúmba não lhe dá a mínima atenção.
Um erro fatal.
Pois assim que o homem fica frente a frente com o ser do umbral algo inusitado acontece: o homem incorpora, solta uma gargalhada jovial e desafiadora. Alguns médiuns do terreiro que mistificavam ou recebiam alguns asseclas do quiúmba "desincorporam" convenientemente.
O atabaqueiro de tão bêbado, acaba por cair ao lado do tambor.
A assistência não entende o que se passa.
O quiúmba entende, mas para ele é tarde demais.
Por estar incorporado ele não tem tanta desenvoltura como gostaria nesse momento crucial. Está só, já que os covardes que o seguiam fugiram dali.
O verdadeiro Marabô está ali diante dele e avança em sua direção.
No congá as velas começam a queimar a cortina que protege o altar.
Na cafua a pinga aquecida pelas velas também se incendeia.
A assistência percebe que algo muito errado está acontecendo e fogem todos.
Antes o verdadeiro Marabô se vira para eles e mostra o quanto foram tolos em se deixar enganar. Fala que devem procurar ajuda, mas em terreiros sérios aonde se pratica a caridade, o amor e a união. Mostra o quanto foram usados.
O quiúmba protesta, mas é inútil, a máscara já caiu.
Marabô não está só, sua falange e muitos Exús de Lei estão adentrando no falso terreiro.
O quiúmba é capturado e levado para o Reino de Exú, onde pagará caro pela insolência.
O falso pai de santo está entregue a própria sorte.
As chamas consomem o terreiro velozmente.
Ao chegar as primeiras viaturas do Corpo de Bombeiro o oficial de plantão presencia uma cena que jamais esquecerá: no meio das chamas o pai de santo é "tragado" por um buraco negro, e some diante dos olhos do atônito bombeiro.
Uma risada se faz ouvir. Marabô gargalha satisfeito do outro lado. Apesar das chamas o bombeiro sente um frio que lhe percorre a espinha. O terreiro vira cinza e não se acham vestígios do corpo do pai de santo.
Justiça foi feita.
Saravá Senhor Marabô!!!

domingo, 24 de novembro de 2013

MAGIA FORTE


César freqüentava aquela casa de umbanda havia dois anos: um ano enquanto assistência e outro como cambone de Pai Josias. Era um jovem que amava tanto a religião que professava que, nos últimos três meses, resolveu participar das reuniões de desobsessões daquela casa de caridade.


Naquela gira, entretanto, César demonstrava um semblante preocupado e pesaroso.


Percebendo as emoções de seu pupilo Pai Josias chamou-o a sentar-se diante de si.


─ Como é que vai suncê meu fio?


─ Eu até que estou bem vovô, graças a Deus!


─ Então por que este "até" zifio? Tem algo preocupando suncê?


César ficou desconcertado, como se estivesse procurando as palavras certas a serem ditas, mas a entidade reforçou o pedido dizendo:


─ Pode falar sem acanhamento nenhum zifio, pois qualquer dúvida no coração não é sinal de vergonha, mas desejo de saber melhor as coisas e o conhecimento é algo muito lindo meu fio, pode fazer perguntador pra nêgo!


César sorriu com aquele jeito tão curioso e perspicaz que só os preto-velhos têm de dizer as coisas e falou:


─ O senhor acha que estou bem vovô?


─ Depende meu fio, o que é estar bem para você?


César sorriu enquanto seu olhar marejava e foi quando a entidade disse-lhe:


─ O que é que tá trazendo tanta preocupação a suncê meu fio? Pode contar porque nêgo só vai escutar sem julgar!


─ O senhor me desculpe vovô, mas acho que estou necessitando de uma magia forte de proteção.


─ Mas por que zifio, o que é que tá acontecendo com suncê?


─ Como o senhor sabe faz três meses que comecei a participar dos trabalhos de desobsessão desta casa.


─ Isto, nêgo se alembra meu fio.


─ Então, acho que o senhor vê que eu procuro fazer este trabalho com todo o meu coração.


─ Nêgo não tem dúvidas disso meu fio!


─ Pois bem, mas desde quando eu entrei nestes trabalhos a cada mês que passou após um membro de minha família adoeceu seriamente: há três meses foi minha esposa, mês retrasado foi minha filha e este mês foi minha mãe que está passando um tempo conosco.


─ Nêgo tá entendendo zifio.


─ Como eu tenho vindo ao terreiro penso que deva ser mais difícil para as forças do baixo-astral atingir a mim tentando impedir-me de vir às reuniões de desobsessão, assim, acho que as trevas estão tentando atingir-me por meio de minha família.


─ E suncê acha que o terreiro não está fornecendo a devida proteção que suncê e família carecem pra viver sem estes ataques e fazerem o bem com menos preocupação, e justamente por isto estava todo envergonhado de vir conversar com este nêgo, não é?


César cambonava aquela entidade já há certo tempo, mas a forma como ela demonstrava conhecimento e compreensão acerca do seu atual estado mental sem que ele precisasse verbalizar muita coisa deixou-o boquiaberto.


─ Suncê não precisa se sentir envergonhado, pois como nêgo disse antes a busca do conhecimento no bem traz é luz para o espírito.


─ O senhor está certo vovô!


─ Zifio, eu entendo sua preocupação, mas antes de passar uma magia forte suncê permite nêgo contar uma história?


─ Claro vovô, suas histórias são sempre ótimas, fique a vontade!


─ Zifio, certa vez acabou a comida no esgoto e uma ratazana se viu obrigada a sair de sua morada para habitar noutro canto. Saindo de sua morada o animal observou que poderia entrar em duas casas: uma era asseada, limpa e organizada; a outra era uma imundice só, pois a não era varrida há meses, os móveis estavam cobertos de pó e havia inúmeros entulhos espalhado pelo chão, suncê tá entendendo zifio?


─ Estou sim senhor!


─ Então nêgo pergunta: se suncê fosse esta ratazana em qual destas moradas escolheria habitar?


─ Com certeza que seria a casa suja!


─ Por que zifio?


─ Por que se parece mais com o antigo habitat da ratazana.


─ Muito bem zifio, afinal na casa limpa não há nada que desperte afinidade na ratazana, não é isso?


─ Isso vovô, é isso mesmo, é tudo questão de afinidade!


─ Muito bem meu fio! Nêgo gostou desta sua ultima percepção.


─ Zifio, nêgo pode fazer mais uma pergunta?


─ Claro vovô, não precisa nem pedir!


─ Fio, tem muito tempo que suncê não defuma sua casa?


─ Tem sim vovô, por volta de dez meses.


─ Mas suncê não é umbandista?


─ Graças a Deus!


─ E o que tem impedido suncê de fazer defumador no seu casuá?


César encabulou-se e baixou a cabeça. A entidade continuou:


─ São as tarefas, as atividades, as dificuldades e os problemas do dia-a-dia não é meu fio?


─ É isso mesmo vovô, minha vida é muito atribulada e ai eu acabo me acomodando com a situação.


─ Pois é meu fio, realmente nêgo sabe que a vida de suncês no corpo de carne é realmente bastante difícil, mas, ainda assim, devo pedir que você retorne a defumar sua casa. Suncê verá como as coisas ficarão diferentes.


─ Pode deixar vovô, farei tudo como o senhor pede, mas e aquela magia forte, o senhor pode me ensinar?


─ A magia forte que nêgo falou antes zifio?


─ Isto vovô!


─ Então zifio, este preto-velho acabou de passar pra suncê.


─ A defumação?


─ É zifio! Por que a cara de espanto?


─ Ora vovô a defumação não funciona para afastar permanentemente espíritos perturbados, não é verdade?


─ Fio tá sabido hein!


─ Até onde sei, na realidade, a defumação serve mais para limpeza energética dos lugares, não é verdade?


─ Fio recordando o que conversamos ainda agorinha: onde que é mais provável de uma ratazana morar? Numa casa limpa ou numa casa suja?


─ Na casa suja vovô, mas mesmo que a casa estivesse limpa o rato poderia entrar.


─ Mas não é mais fácil expulsar o rato de uma casa se ela estiver limpa?


─ Puxa vovô ou o senhor não está entendendo ou não está querendo entender!


─ Desculpa a ignorância deste nêgo meu fio, mas explica mais um pouquinho para que suncê perceba que talvez seja suncê que num tá entendendo este véio.


─ Não vovô eu entendi tudo que o senhor falou: o senhor determinou que eu voltasse a defumar minha residência a fim de que "ratos" não a invadam e assim eu o farei, mas só que enquanto eu não defumava a casa ratos aproximaram-se de minha esposa, minha filha e minha mãe causando doenças e eu gostaria de saber o que fazer para espantar estes ratos.


─ Fio a cada vez que suncê vem em terreiro tais ratos são afastados de suncê e todo seu familiador sempre, é claro, de acordo com o merecimento de cada um! Acontece que ao longo dos dias que sucedem as giras no terreiro suncês tudo se emporcalham tanto a si mesmos quanto o casuá em que vivem que daí acabam atraindo novos ratos para perto de suncês.


A entidade amiga deu algumas baforadas em seu cachimbo e continuou:


─ Suncê com problemas no local de trabalho e sua companheira com os vizinhos, absorvendo estas energias e espalhando-as em cada canto de cada cômodo do seu lar: e tome reclamação contra a vida, contra o chefe, contra os colegas de trabalho, contra as contas a pagar!


Pai Josias continuou:


─ Aí surgem as desavenças com a esposa e suncês acabam, quase sempre, por discutir na frente da criança pela roupa amarrotada, pelo café amargo, pelo baixo salário, por que o vizinho não respondeu ao seu "Bom dia"!


─ Compreenda zifio que por conta da falta de defumação e de outras medidas energeticamente profiláticas e umbandistas como o hábito de cruzar semanalmente a casa, pode-se dizer que onde suncês moram não está devidamente asseado, mas só que suncês acabam por piorar ainda mais a situação com todo este lixo mental, emocional, psicológico e energético.


─ Defume seu casuá, mude seu padrão vibratório e consciencial que suncê, nas forças de Deus-Nosso-Pai, verá mudanças prodigiosas em sua vida. Pode deixar que dos ratos nós, segundo o merecimento de cada um, cuidamos. Preocupem-se apenas em manter as vossas duas casas higienizadas: seu casuá, onde mora suncê e os seus familiares e seu vaso corporal, onde reside vosso espírito.


─ Sei que você crê na onipotência de Deus, só não descreia jamais que grande parte do poder Dele está nas coisas simples: Gandhi venceu a intolerância por meio de simples jejuns, Moisés venceu faraó com um simples cajado e Jesus venceu o mundo com a Lei de Amor. Viver na carne não é simples, amar também não, mas creia na simplicidade das coisas de Deus, da Umbanda e dos fundamentos a ela pertinentes que suncê verá os instrumentos de que se servem as trevas para semearem discórdias, desgraças e maldades serem desativados diante de si.


─ Creia meu fio e chame as bênçãos de Deus pra junto de suncê, acredite na simplicidade das coisas de Deus e o mal, assim, da sua vida se desarmará.


─ Uma flor pode desarmar o mais bélico dos exércitos, o perdão pode desarmar o ódio mais feroz, pensamentos vibrados em paz e amor podem desarmar a mais potente magia negra, da mesma forma que uma "mera" defumação desarma a casa, a família e a vida de suncês de toda a sujeira astral com que vocês a municiam por conta das reclamações e impropérios resultantes das vicissitudes de vossas existências corpóreas; vicissitudes estas que, na realidade, são instrumentos que podem guiá-los a angelitude se corretamente manejados, mas que suncês ainda, infelizmente, não conseguem percebê-los enquanto tal.


E a entidade, que tinha diante de si um consulente aos prantos, aguardou que César serenasse as emoções. Instantes após pediu um abraço apertado e, posteriormente, disse-lhe olhando fixamente nos olhos:


─ Nêgo acredita em Deus meu filho, mas não descrê de suncê! Creia mais na simplicidade das coisas de Deus e vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Mendigo e o Tata Caveira



Eis que eu estou indo almoçar perto do cemitério da Vila Mariana e um mendigo me aborda na rua pedindo um prato de comida. Nunca dou dinheiro, mas é muito comum eu comprar pão, sanduíches, leite ou comida para pedintes quando vou no supermercado na Liberdade e tem sempre algum pedinte no caminho.

Como ele não estava bêbado nem em trapos, não teria problema em entrar no restaurante. Ao invés de só comprar um lanche, acabei almoçando com ele. Ele me contou que trabalhava como carroceiro e que chegou até a ser casado, “com a mulher da vida dele”, mas que eles brigavam muito por causa da bebida e ela o largou, e acabou morrendo de alguma doença um tempo depois. Ele se sentiu culpado, disse que se ele estivesse do lado dela ela não teria ficado doente, e largou a bebida. Depois, acabou se mudando ali para a região do cemitério, onde faz uns bicos ajudando nas floriculturas e tomando conta dos carros. E todo dia ele ia visitar a esposa antes de voltar pro barraco. Ele perguntou se eu era casado e, quando falei que sim, disse pra eu sempre tomar conta da minha esposa.
Antes de nos despedirmos, peguei uma das rosas vermelhas do buque da Maria Navalha que estava comigo e entreguei pra ele. Falei pra dar de presente pra esposa, que ela iria gostar. Ele agradeceu e saiu, em direção do portão do cemitério, cantarolando baixinho:
“Portão de ferro
Cadeado de madeira
Na porta do cemitério
Eu vou chamar Tatá Caveira“
Não teve como não lembrar das palavras do Seu Tatá Caveira no domingo: “Pode deixar, filho… você cuida dos meus que eu cuido dos seus…”

Uma Lição de Amor e persistência de Pai Cipriano e do Sr. Tatá Caveira


 

- Os valores e a responsabilidade da fé.
Muito eles nos dizem com o intuito de que possamos, através da repetição, pensarmos se houve aprendizado ou estamos de recuperação na escola da vida. Nos questionam quais são nossos objetivos? Quais são nossos reais compromissos? Quais são nossas responsabilidades?
Pai Cipriano diz que muito "Seu Cavalo" (médium) tem escrito e falado exaustivamente para todos, inclusive para a mídia sobre a sociedade que tem exacerbado valores materiais em detrimento dos valores espirituais. Que o homem tem brincado de Deus, adaptando a fé as suas necessidades e interesses, assumindo para si até mesmo o poder da vida e da morte de outro ser humano.
Será que estamos, de fato, perdendo nossos valores espirituais e deixando a materialidade ser o maior objetivo em nossas vidas? Estamos adaptando fé, a religião 'as nossas necessidades? Onde fica a fé, Deus, a irmandade entre os seres humanos, o amor ao próximo? Onde está nossa caridade, valores familiares?
- Deus e o servir: fé consciente.
Os homens tornam-se cada vez mais "poderosos" desagradando a Deus. Ruim para Deus, ruim para os homens.
Estamos colocando Deus, Orixás, guias em uma posição servil . Para muitos os guias estão trabalhando para o ser humano, e acreditam que eles precisam de nós para se manifestar, para evoluírem... Não deveria ser ao contrário?
Somos nós que precisamos servir a Deus, somos nós que devemos louvar e agradecer aos Orixás e guias pela sua presença em nossas vidas. Nós é que precisamos evoluir e servir. Mas fazemos de fato isso? Sabemos de fato agradecer a Deus, aos orixás e aos guias? Ou só lembramos deles quando estamos com problemas?
Pretos-velhos e sacerdotes não são bengalas. Isso é dito por eles constantemente, mas foi aprendido?
Aprendemos de fato que eles nos dão orientação espiritual, mas a caminhada, as escolhas, são nossas? Entendemos o livre arbítrio, compreendemos a importância de nossas escolhas, pensamos nas possíveis consequências de nossos atos e estamos prontos para assumi-las sejam estas boas ou ruins?
Pai Cipriano diz que a sociedade atual não difere da romana, com sua perda de valores... buscamos nas ofertas, oferendas, sacrifícios cruentos e na fé interesseira, a solução de nossos problemas. Porém, é preciso lembrar a importância das palavras (que saem de nossas bocas naquilo que prometemos, nas responsabilidades que assumimos). "João disse: ... no início era o verbo, o verbo era Deus, e o verbo se fez homem."
A intenção do pensamento se faz em palavras e atitudes; assim, não basta pedir ou pensar algo e fazer o contrário, pois a palavra do pensamento irá se materializar em nossas vidas, em nossos atos (nos bons e nos maus pensamentos).
Pai Cipriano diz e ensina, na sua forma de preto-velho, a importância da atitude, da obra, da pratica, e de uma fé consciente e inteligente, em que os guias e os Orixás não são "bocas famintas" ou "barrigas vazias" a procura de trocas, barganhas ou migalhas, em troca de oferendas quaisquer.
- Função da religião (não somente da Umbanda) em nossas vidas.
Ele nos lembra sempre: qual a função da religião, na ajuda e no benefício ao próximo; na disciplina, dignidade e no valor humano?
As entidades e guias não precisam nos satisfazer em tudo. Os assistentes nem sempre são crentes, às vezes vêm apenas pedir, outras vezes são crentes e durante a busca eles louvam e glorificam.
Louvar e glorificar é o objetivo e o papel do crente.
Terreiro é comunidade, Igreja significa comunidade, então todo terreiro é uma Igreja, uma assembléia, uma comunidade que entrar em comunhão para louvar ou entrar em consonância com as divindades na procura de ajuda (material e espiritual) e para pedir.
Pedir é algo que o homem faz desde que se tornou homem; o erro não está no pedir, mas sim, no que se pede. E o pedido não pode ir contra a consciência divina, a moral, os valores, o respeito ao livre-arbítrio de cada um. Se o pedido vai contra essa consciência divina, ai sim, perdemos o amor divino, o respeito ao significado da própria fé e da religião, sua entre a Deus.
Hoje o homem não faz a entrega (pede tudo e qualquer coisa, inclusive prejudicando ou tentando prejudicar o próximo), não se dá ao próximo, não compartilha. Rompemos o vínculo com o divino olhamos apenas para nós mesmos.
Foi avisado por Pai Cipriano para trocarmos o ver pelo enxergar, a necessidade do comprometimento com a fé e com o trabalho espiritual. Que o médium deve assumir deveres diversos e cabe ao sacerdote orientar, ensinar e cobrar a participação dos médiuns.
Não devemos confundir o que é responsabilidade, o que é comprometimento e o que é entrega.
Aos ignorantes não há compreensão do real valor de Deus. O mínimo necessário para que a manifestação de Deus seja válida e forte em suas vidas, tudo foi resumido ao dinheiro, ao bem-estar, a acumulação de bens... quem assim age e assim vive e consegue essas coisas, é valorizado e se diz que Deus o está ajudando.
Muitas pessoas desfrutam dessa visão, mas sem a responsabilidade para com o divino (independente até da religião que professam). Poucos adquirem a consciência do sacro-ofício, do se dar, do se importar uns com os outros. Veem apenas Deus por $$$.
Pai Cipriano diz que Deus começa e termina dentro de nós mesmos. Naquilo que pensamos em Deus e materializamos em nossas palavra e atitudes.
- Entrego, aceito, confio e agradeço.
É preciso saber vivenciar o que nos foi ensinado: entrego, aceito, confio e agradeço.
Nos é exemplificado que "o livro da vida" existe espiritualmente e nós somos este livro. Trazemos algumas páginas escritas por Deus, por nossas escolhas e atos; outras páginas estão em branco e que deveram ser preenchidas ao longo de nossa caminhada. A página seguinte pode estar escrita ou não. Sendo, 'as vezes, consequência do que nós escrevemos anteriormente, do como superamos e mediamos em nossos problemas.
O entendimento do "livro da vida" manifesta-se o Carma (acontecimentos que irão ocorrer: bons ou ruins) e do Darma (o modo, as circunstâncias pelas quais lidaremos com os carmas), para seguir nossa caminhada na vida e entre nossos semelhantes.
A religião irá nos ajudar; mas não está ali para resolver todos os nossos problemas. É através da religião que nos aproximamos do divino e conseguimos o equilíbrio para entender, aceitar e manifestar nossas próprias escolhas, sejam elas boas ou ruins.
Existe uma diferença entre o se dar e se achar merecedor, assim como o de ser merecedor. Esta diferença esta no que se aprendeu no caminho, na maturidade de saber que o material e o espiritual nem sempre se encontram.
- O que queremos e o que merecemos.
Será que sabemos de fato o que fazemos?
Não existem só caminhos bons. Independente quantos milagres tenham sido feitos, poucos irão compreender e aceitar que os problemas ocorreram e que estão vinculados as escolhas sejam elas boas ou ruins.
Às vezes somos avisados, mas, mesmo assim, negamos o ruim, pois só queremos o bom. Devemos entender que não existe bem sem mal, ou mal sem bem; o importante é aprender como lidar com ambos.
O grande fascínio de viver é saber viver. Buscando na religião a fonte de ajuda para degustar os momentos bons e ruins, aproveitando com plenitude a existência e sem amarguras, culpas e medos.
Quando não se tem tudo que se quer, devemos saber aproveitar o que se tem, do jeito que tem (seja pouco ou até o mínimo, seja bom ou ruim).
Saber avaliar ações e consequências torna mais fácil o trato com o ser humano. Daí a necessidade de se por valores a cada escolha, a cada momento.
O que vale são as conquistas verdadeiras. Lembrando que gentileza gera gentileza e devemos praticá-la. Um ato de agressão e ofensa não deve ser devolvido, mas entendido e levado 'a justiça (seja dos homens, seja a de Deus).
- Crença, fé, ação e trabalho.
Devemos questionar sempre: esta forma me atende? Estou louvando da forma adequada? Estou servindo a Deus ou me servindo dele? Estou ajudando aos meus semelhantes ou os usando para meu benefício? Estou me dando a uma fé inteligente ou sendo cega e buscando na fé benefícios próprios?
Sr. Tatá Caveira nos diz: fé sem trabalho não serve para nada. Sem trabalho esta fé não tem força. Sem consciência, valores, respeito, comprometimento, doação, inteligência, essa fé se torna banal e manipulável, interesseira e corrupta. Não agrada a Deus ou a seus representantes.
Aceitem se quiser o desafio do Sr. Tatá:
"-Vocês acreditam que basta somente a fé cega e tudo acontece? Pois bem, peguem um punhado de terra em sua mão e com sua fé cega façam crescer dali um Baobá. Se conseguirem não deixem de me mostrar. Pois aí acreditarei que só a fé cega basta."

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Os múltiplos ritos e a união dos espíritos

Caboclo Pena Branca

  "As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente."

Por um artificio, mais literário do que lógico, costumamos situar em posições extremas as tendências que não caminham de mãos dadas na vida. Mas, se nos detivermos em serena meditação analítica, verificaremos que só aparentemente são opostos os extremos, isso na ciência, nas artes e nas religiões, pois nenhuma voz e nenhuma ação nesses campos de meditação e do sentimento deixam de ser uma afirmação de vida.
Essa é uma verdade que se perde nos confins milenários de eras remotas. Pta-hoep, que viveu mais de três mil anos antes de Cristo, filósofo que foi ministro do faraó, dizia que: “tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem seu oposto; os opostos são idênticos em natureza e diversos em grau; os extremos se tocam; os paradoxos se reconciliam em manifesta forma os opostos se reúnem”.
Todos caminham para o mesmo fim, com o mesmo conteúdo sentimental, com suas cambiantes de amor, de felicidade e de crença, todos são cavaleiros andantes de perpetuação da vida, igualmente heróis do mesmo exército: o amor.
Que importa existam múltiplos rituais desde que seja um só espiritualismo?
Os valores da contribuição nos diversos ritos constituem a formação de quadros educativos que tem, todos eles, os mesmos obreiros silenciosos, aqueles que comungam das tarefas gerais - os espíritos do lado de lá. ( grifo nosso )
Certa vez, quando Chefe de Policia o coronel João Alberto, fomos convocados para uma reunião cujo fim era o de traçar rumos tendentes a estabelecer um critério uniforme quanto à pratica do espiritismo. Entre outros representantes das diversas organizações estávamos eu e o Presidente da Federação Espirita.
No gabinete do Chefe, enquanto aguardávamos sua chegada, palestrávamos sobre assuntos espiritualistas, sendo que eu discordava radicalmente dos propósitos da reunião, pois que, sendo leigo o Estado, qualquer intromissão da autoridade nos Centros Espiritas não só era ilegal, inconstitucional, como ainda criminosa face o Código Penal, ponto de vista esse que foi vitorioso e deu em resultado a revogação de uma portaria sobre o assunto.
Durante a tertulia ouvi do Presidente da Federação Espirita o seguinte e eloquente episódio: 
– eu recebera diversos convites de um centro de Umbanda, por intermédio de pessoa amiga, para assistir a uma reunião de suas práticas, sempre me esquivando, pois entendia que o umbandismo era “baixo espiritismo”. Certa ocasião foi-me impossível deixar de atender a um desses convites. Durante a reunião, vendo médiuns manifestados, fumando charutos e falando um vocabulário eivado de erros, a minha decepção era tal que cheguei a me tomar de piedade profunda por aqueles seres atrasados e aquelas práticas que eu reputava inferiores. E maior foi a minha convicção quando o Guia Chefe do terreiro pôs-se a dizer que minha fazenda estava com a divisa errada e que eu devia aceitar a proposta que fora feita para vendê-la ao vizinho confinante. Contestei que minha propriedade estava certa, que meu irmão a administrava e nenhuma proposta de venda fora feita. O Guia insistiu em suas afirmativas e no conselho da venda, para evitar uma triste demanda.
Deixei o terreiro com o pensamento firme de que se fazia mister impedir reuniões como essa, pois os chamados guias eram seres atrasados e até tratando de assuntos materiais e inverídicos.
Na primeira reunião da Federação falei ao nosso Guia espiritual sobre o que vira e ouvira e com surpresa ouvi dessa entidade que aquele espírito com a forma de preto velho e que me dera aqueles conselhos era ele mesmo, o nosso amado mentor.
Dias depois chegou meu irmão ao Rio trazendo a proposta do vizinho e declarando-me que de fato as divisas da propriedade estavam erradas. Vendi-a sem discutir.
O ritual da Federação Espirita tão diverso daquele humilde terreiro era apenas aparência, pois a contribuição do obreiro espiritual era a mesma, o ser valoroso o mesmo, os fins educativos e de caridade igualíssimos.

Findley, o grande sábio inglês, uma das glórias científicas, que realizava admiráveis sessões de voz direta em Londres, confessa em sua obra “No limiar do etéreo” que estranhava e até ficava irritado por ver nessas reuniões, a que compareciam espíritos da mais elevada cultura, mestres sublimados, a direção inicial era dada a um ser cujo linguajar, modos bruscos e atitudes autoritárias revelavam tratar-se de um espirito atrasado, que se dizia Caboclo Pena Branca.
Foi tal sua ojeriza que um dia reclamou de um dos mestres essa presença, ouvindo então que sem o Caboclo Pena Branca nada poderiam fazer, pois ela era o mentor do grupo.
As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente.

Carlos de Azevedo - texto do livro Umbanda: religião do Brasil, publicado pela Editora Obelisco em 1968 - 

Mandinga de Preto-Velho!

  Ele não tinha outra ocupação na vida, nenhum outro pensamento, a não ser que Ele era um espírito, desvencilhado, livre. Com sua visão maravilhosa, descobrira Ele que cada homem e cada mulher, fosse judeu ou gentio, rico ou pobre, fariseu ou romano, escriba, rico ou pobre, santo ou pecador, era a encarnação, como ele próprio, de um espírito imortal provindo da mesma fonte infinita de amor. O trabalho de sua vida foi chamá-los a sentir a natureza espiritual deles próprios, dizendo que "o reino de Deus estava dentro deles" e que "eles e o Pai poderiam ser um".

       Eis aí o evangelho eterno, a unidade ensinada por todos os grandes mensageiros das religiões, no qual o Cristo Cósmico pede a todos nós, que primeiro ouçamos e depois percebamos por nós mesmos. 
Swami Vivekananda
                                  


* * *

Certo dia uma pessoa procurou ajuda de nego-velho para solucionar uns probleminhas. Compareceu ao centro espírita  e desfiou um rosário de lamentações à pessoa que o atendeu.
A resposta de pai velho veio logo em seguida no receituário mediúnico:
“Levante pela madrugada, mais ou menos às 4 horas. Colha então algumas rosas brancas no roseiral que está plantado no fundo do seu quintal e, ao fazê-lo, sinta seu aroma. A cada rosa arrancada do pé, faça uma oração pedindo a Deus que o abençoe, bem como aqueles que ama. Depois, dirija-se à cozinha, ponha água no fogo e, enquanto ferve, meu filho, procure o Evangelho e faça uma leitura, preparando assim o ambiente de sua casa para a mandinga de nego-velho. A seguir, coloque as rosas dentro da água fervendo, apague o fogo e abafe. Enquanto aguarda para que esfrie um pouco, vá tomar um banho de asseio, lavando-se todo, da cabeça aos pés. Quando estiver debaixo do chuveiro, ore e feche os olhos, reparando atentamente na água que cai em seu corpo. Enxugue-se e pegue a água de rosas, derramando-a pelo corpo. As rosas que foram cozidas devem ser jogadas em água corrente, no riacho que fica um pouco distante de sua casa. Saia com as rosas embrulhadas e vá cantando uma cantiga qualquer, daquelas que transmitem felicidade. Por fim, volte para casa e, do jeito que puder, deite-se, pois ainda não terá amanhecido o dia. Lembre-se de aproveitar as oportunidades que se fizerem presentes.”
Quando o médium viu o receituário, ficou estarrecido com nego velho. Questionou a eficácia do banho, as orações, o horário que deveriam ser feitas e a fórmula dada para aquele caso particular. Nego velho pensou um pouco e depois respondeu ao médium:
“Sabe meu filho, as rosas servem para perfumar o ambiente e o corpo do nosso companheiro. É que ele reclama que o casamento vai mal, que sua companheira está evitando-o sempre e que ela agora arranjou um trabalho noturno do qual ele está desconfiado. Mas sabe, meu filho, é que o marmanjo não gosta muito de tomar banho, e com aquele cheiro não tem mulher que agüente a situação. Conhecendo a fé do homem em nego-velho, resolvi dar um empurrão no relacionamento. Ele também não gosta muito de estudar o Evangelho nem de rezar. Porém, ajuntando tudo numa receita de pai-velho ele vai seguir à risca. Passará então a se levantar muito cedo, apanhar as rosas, tomar um bom banho e meditar debaixo do chuveiro. Quando despeja o banho de rosas no corpo, então se perfuma todo, e, aí, nego-velho o induz a levar as rosas restantes do banho para jogar no riacho que fica um pouco distante de sua casa, ainda de madrugada. Sabe por quê meu filho? É que a mulher dele é enfermeira e retorna do plantão noturno exatamente naquele horário, de ônibus, e é obrigada a andar sozinha por um bom pedaço até chegar em casa, mesmo na escuridão da noite. Quando for até o riacho, já está na hora da mulher chegar. O resto você já sabe, meu filho, é só confiar na natureza e as coisas se resolvem. Isso é mandinga de nego-velho.”
Ao ouvir a explicação, o médium pegou a receita e entregou ao consulente. O caso se resolveu em alguns dias. Nosso irmão precisava apenas de um empurrão para aprender a tomar banho e se perfumar e de uma desculpa para agradar a mulher, apanhando-a no ponto de ônibus. Nego-velho riu muito ao saber que os dois haviam se reconciliado graças a um banho despretensioso, feito de rosas, e algumas orações acompanhadas de meditação debaixo do chuveiro.
Muita gente, meu filho, tem necessidades as mais estranhas, mas que costumam se resolver com pequenas receitas de paz, diálogo, orações e - quem sabe? – um pouco de higiene também.
Assim como há quem sofra com o corpo sem higiene, há os que mantêm a mente poluída com pensamentos de desarmonia. Precisam urgentemente de uma mandinga bem feita para aprender a se livrar dos maus pensamentos através de uma meditação nas palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo. Limpe os pensamentos, harmonize suas emoções e prossiga sua caminhada, meu filho, acertando o quanto puder as desavenças entre você e os seus. Diversas queixas de meus filhos são questões simples de solucionar, e, na maior parte dos casos, um banho de Evangelho associado ao perfume do coração conseguem fazer muito mais por você do que as complicações que procura para dar respostas imediatas aos seus desafios. Desenvolva a capacidade de simplificar as coisas, pois a vida é cheia de caminhos complicados, e, ao percorrê-los, abrimos certas trilhas que nos conduzem, às vezes, à infelicidade. É importante descomplicar nossa busca e simplificar as soluções.
Quer um exemplo? Muitos estão à procura de “se dar bem” na vida e, com esse intuito, perseguem a todo custo um amor impossível para a realidade terrestre ou, em outras ocasiões, vivem atormentados por não possuir aquilo que os distinga no meio social em que se relacionam. Correm o tempo inteiro. Essa situação, embora seja louvável caso leve em conta valores espirituais, faz nego-velho lembrar do que Nosso Senhor falou: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” [Mc 8:36].
Grande parte dos conflitos humanos, meu filho, seria resolvida simplesmente com um sim ou um não, o que indica que muitos filhos de fé ainda não aprenderam a impor limites às dificuldades ou às atitudes alheias que os prejudicam. O silêncio constrangedor ante a ação do mal torna vocês coniventes com o erre, perturbando a problemática. Outras vezes, convencidos da possibilidade de superar os obstáculos, os homens esperam coisas complicadas demais, que, caso fossem concretizadas, se constituiriam em entraves à felicidade, pois meus filhos têm uma visão muito estreita a respeito da própria vida. Pedem recursos que não sabem administrar e ambicionam situações que, no futuro, só trariam incômodos; reclamam auxílio, mas recusam-se a participar do trabalho que transforma o panorama geral; aspiram a bênçãos para as quais não concorreram.
O alto envia os recursos; no entanto, não se recebe o que foi pedido, mas o que é necessário para o crescimento interior. Meus filhos então se revoltam, falam coisas indevidas, recusam-se a compreender e repelem o tipo de ajuda enviada. Em vão. Deus não se curva à rebeldia de filhos imaturos. O corpo que você utiliza, meu filho, é tão somente um disfarce para camuflar sua infantilidade em relação às questões espirituais. É hora de crescer espiritualmente e experimentar atitudes mais adultas ante os desafios que cruzam seu caminho.
É impressionante o efeito que os contratempos pequeninos têm sobre você, fazendo-o sofrer e se sentir ofendido com migalhas de comportamento de outras crianças espirituais. Que tal abrir os olhos para uma realidade diferente, meu filho? Talvez você descubra o quanto pode realizar em benefício da própria felicidade. São atitudes simples, pequenos gestos, apenas algumas palavras, e, de repente, todo o panorama estará renovado. Ah! Nego-velho esqueceu que meus filhos não se contentam com o que é simples e com soluções que dependam de si mesmos.
Nego repara como muitos pedem e reivindicam, mas querem tudo pronto. Exigem sem se esforçar, rogam auxílio e logo se enrolam na trajetória, em meio à ajuda enviada. Não reconhecem o surgimento de uma oportunidade, pois Deus escreve através de palavras inarticuladas, que ó poderão ser interpretadas com o coração.
Os problemas de hoje, meu filho querido, não são diferentes daqueles com os quais a humanidade de dois mil anos atrás se deparou. Por isso mesmo as recomendações ainda são as atualíssimas lições ditadas por Nosso Senhor. As palavras de nego-velho não passam de uma versão cabocla da mensagem que Cristo Nosso Senhor trouxe; não há nada de novo.
Urge reconhecer que estamos excessivamente distantes do céu; sendo assim, onde estivermos há muito trabalho por realizar em prol da simplificação das questões da vida.
Utilizemos as rosas da boa-vontade, da ternura e do amor de modo nunca antes experimentado, a começar de cada um, em sua intimidade. A partir daí, experimentemos em nosso ser a avalanche de valores e forças que será encadeada para, em seguida, identificar as águas da fé, que descem perfumadas em nossa alma. Cultivemos essa fé em cada atitude e, assim, simplificaremos muito nossas rogativas e expectativas.
Capítulo 14 do livro “Alforria”
espírito “pai João de Aruanda”
médium robsom pinheiro
editora “casa dos espíritos”

terça-feira, 12 de novembro de 2013

CONVERSA DE PRETO VELHO


À noite, quando a maioria das pessoas estão dormindo, diversas falanges espirituais se desdobram em trabalhos socorristas de assistência à humanidade encarnada. Devido ao sono, a queda natural do metabolismo e das ondas cerebrais, o corpo espiritual desprende-se naturalmente do corpo físico. Aproveitando-se desse fato natural e inerente a todo ser humano muitos amigos espirituais trabalham nessa hora da noite retirando essas pessoas do seu corpo físico, dando um toque sensato a elas diretamente em espírito, ou, simplesmente, trabalhando as energias do assistido com mais liberdade a partir do plano espiritual da vida.

Um dia desses, durante um trabalho de assistência, estava conversando com um preto-velho, que responde nas lidas de Umbanda, pelo nome de pai José da Guiné. Segue o diálogo:

_ Pai José, esse trabalho de assistência na madrugada é enorme, não? O médium umbandista muitas vezes nem imagina o tamanho dele, não é mesmo?

_É sim fio. Trabalho grande, toda noite. Mas são poucos que lembram da espiritualidade dia-dia e mantém sintonia elevada antes de dormir. Isso acaba por barrar as possibilidades de trabalho em conjunto conosco, você sabe disso. A maioria dos médiuns por aí pensam que o único dia de trabalho espiritual é o dia de trabalho no terreiro. É uma pena.

_ É verdade, as pessoas tendem a se preparar muito para o dia de trabalho no terreiro, mas esquecem dos outros dias.

_ Preparar? Muitas vezes eles nem se preparam fio. A maioria chega lá cheia de problemas e preocupações na cabeça. Dá um trabalhão danado acoplar na aura toda encardida de pensamentos e sentimentos estranhos deles. E nego num tá falando que preparação é tomar um banho de erva antes do trabalho, não...

_ Ué, mas o banho de erva é importante, não é pai?


_É, claro que é. Mas num é tudo. Antes do banho de erva, seria melhor um banho de bom-humor, com folhas de tranqüilidade e flores de simplicidade, hehehe... Isso sim ajudaria. Num adianta colocar roupa branca, defumar, tomar banho, se o coração tá sujo, se a boca maldiz, se o rosto está sem alegria e o espírito apagado. Limpeza interna fio, antes de limpeza externa...

_ Tá certo...

_ Tá certo, mas você muitas vezes num faz isso né? Hehehe... Tudo bem, todo mundo tem lá seus dias ruins, o problema é quando isso se torna constante. Fio, a Umbanda é muito rica em rituais, em expressões exteriores de alegria e culto a divindade. Mas isso deve ser utilizado sempre como uma forma de exteriorizar o que de melhor trazemos dentro de nós. Não uma fuga do que carregamos aqui dentro. Volta seus olhos pra dentro e lá presta culto aos Orixás. Só depois disso, canta e dança...]

_ Quando estiver participando de um trabalho, esteja por inteiro, em corpo físico, coração e mente. Não faça das reuniões espirituais um encontro social. Antes de começar os trabalhos, medita, ora, entra em sintonia com o trabalho que já está acontecendo. Durante os cantos, busca a sintonia com os Orixás. Nesse momento, você e Eles não estão separados pela ilusão da matéria. Tão juntos. Em espírito e verdade...

_ Acompanha as batidas do atabaque e faz elas vibrarem em todo seu ser. Defuma seu corpo, mas defuma também sua alma, queimando naquela brasa seu ego, sua vaidade, seu individualismo, que lhe cega os sentidos.

_ Trabalha, aprende, louva, cresce meu fio. Mas o mais importante: Leva isso pra fora do terreiro! Lá dentro, todo mundo é filho de pemba, todo mundo tá de branco, todo mundo ama os Orixás...

_Mas aqui fora, logo na primeira dificuldade, duvidam e esquecem dos ensinamentos lá recebidos. Aqui fora, num tem caridade, fraternidade, Orixá, espiritualidade. Mas a Lei de Umbanda não é pra ficar contida no terreiro. A Lei de Umbanda é pra estar presente em cada ato nosso. Em cada palavra, em cada expressão de nosso ser...

_Percebe fio? Você é médium o tempo todo, não só no dia de trabalho, mas todo dia. Você é médium até quando tá dormindo...hehehe

Pai José fez uma pausa e eu fiquei a pensar a respeito da responsabilidade do trabalho mediúnico. De quantos médiuns por aí nem tinham idéia do trabalho espiritual que as muitas correntes de Umbanda desenvolvem. De como, a vivência de terreiro, demandava uma mudança interior, uma postura diferente em relação à vida. Enquanto pensava a respeito, pai José disse:

_ É por aí mesmo fio. A partir do momento que a pessoa internaliza os valores espirituais, um novo mundo, cheio de novas perspectivas surge. Novas idéias, novos ideais. Uma forma diferente de encarar a vida. Esse é o resultado do trabalho. A caridade não é mais uma obrigação, mas torna-se natural e inerente ao próprio ser, assim como a respiração. A sintonia acontece esteja onde ele estiver, carregando consigo a Lei da Sagrada Umbanda em seu coração...

_ Lembre-se: Aruanda não é um lugar! Aruanda é um estado de espírito... Você a carrega para onde for. Isso é trabalho. Isso é sacerdócio. Isso é viver buscando a espiritualização...

_ Por isso, meu fio, faz de cada trabalho espiritual que você participar um passo em direção a esse caminho. Um passo em direção a unidade com o Orixá. Cada reunião, um passo... Sempre!

Notas do médium Fernando Sepe: Pai José de Guiné é um espírito que há muito tempo eu conheço, trabalhador incansável nas lidas da cura espiritual. Apresenta-se como um negro, com cerca de 50 anos, sempre com seu chapéu de palha a cobrir-lhe a cabeça e seu olhar firme e determinado. Tem um jeito muito direto e reto de falar as coisas sempre nos alertando a respeito de posturas incompatíveis com o trabalho espiritual. É um espírito muito bondoso com quem já aprendi muitas coisas. Fica aí o toque dele, que muito me serviu, a respeito de levar o terreiro para o nosso dia-dia.