domingo, 28 de junho de 2015

POMBA GIRA VIÚVA NEGRA


A Pomba Gira Viúva Negra, sempre foi muito bela, lindo olhar sedutor...

Mas tinha sérios problemas para conseguir namorados, e um relacionamento duradouro, e um dia em um momento de raiva, ela decidiu se entregar a magias, encantamentos e feitiços.

Se tornando assim uma feiticeira muito forte!

E o seu encantamento sedutor passou a encantar todos os homens que a viam, e fazendo assim, muitos homens cometerem loucuras infundadas.
Com o passar dos anos, a Viúva Negra, começou a usar suas magias, e feitiçaria para enriquecer, e casou-se muitas vezes, se tornando viúva inúmeras vezes.

Fico então conhecida como a Viúva Negra.

Nos trabalhos, ela vem, muito sedutora e cheia de encatamentos, auxilia as mulheres e homens em relacionamentos, para conseguir amores;
Sempre vestida de preto com um véu sobre seus longos cabelos negros...

Na Kimbanda, conhecida como uma feiticeira muito poderosa que faz encantamentos e feitiços para a prosperidade, riqueza e para conseguir amarrar grandes amores.

Pouco conhecida na Umbanda, por ser confundida muitas vezes por Cigana das Rosas, por trazer sempre em suas mãos um buquê de rosas vermelhas...

Mas todos já ouviram falar desta feiticeira bela e poderosa!

Ela morreu viúva, mas muito rica, e é considerada feiticeira poderosa, trabalha junto de Maria Padilha do Cruzeiro das Almas, nossa Rainha Feiticeira.

Muitas histórias se conta de Viúva Negra...

MAS POUCO SE SABE DE ONDE VEIO...

MARIA RITA DAS SETE ENCRUZILHADA

Diz a história ter sido ela uma linda cortesã que amarrou o coração de um Rei Francês que a tornou Rainha. Passou-se alguns anos e o Rei veio a falecer. A rainha passou a tomar conta sozinha do seu reino o que deixou alguns membros da corte indignados porque ela não teve filhos para deixar o trono como herança e tampouco parentes sangue azul para substituí-la após a sua morte. Devido a tenacidade da rainha o seu trono começou a ser cobiçado por outros reinos o que trouxe muita preocupação para a política da corte, então o conselheiro real convenceu a Rainha a casar-se novamente com um homem cujo o reino fosse ainda maior que o seu para juntos vencerem as batalhas e trazer ao reinado a paz e a tranqüilidade que já não tinham mais. Um dia surgiu no castelo um homem que se dizia seduzido pela beleza da rainha e dono de um reinado incalculável no oriente e a pediu em casamento, a rainha preocupada com destino da sua corte e pela proteção de seu trono, aceitou a oferta de imediato e logo em seguida casaram-se. Não demorou muito a querida rainha foi envenenada pelo seu atual marido que logo após se titulou o Rei e começou a governar a corte da pior maneira possível. A saudosa rainha após o seu desencarne chegou ao mundo astral muito perdida e logo começou a habitar o limbo devido a faltas graves que na terra havia cometido. Depois de algum tempo na trincheira das trevas do astral a Rainha foi encontrada pelo seu antigo Rei que no astral era conhecido como Senhor das encruzilhadas, este senhor passou a cuida-la e incentiva-la a trabalhar do seu lado para as pessoas que ainda viviam no plano material aliviando suas dores e guerreando com inimigos astrais... O feito deste casal no astral tornou-se tão conhecido e respeitado que o Exu Belo nomeou o Senhor das encruzilhadas como Rei das Sete encruzilhadas e prontamente o Rei nomeou a sua Rainha. Juntos eles passaram a reinar os caminhos das trevas e da luz e sob o seus comandos milhares de entidades subordinadas que fizeram do Reino das sete encruzilhadas o maior reino do astral médio superior. Passou-se muitos anos e o Rei que havia envenado a rainha veio a morrer durante uma batalha, e este foi resgatado pelos soldados da Rainha das sete encruzilhadas e o mesmo foi levado até ela. O homem ainda atônico sem entender ainda o que estava acontecendo com ele, se viu diante daquela poderosa mulher a qual foi obrigado a curvar-se e a servi-la para o resto da sua eternidade como castigo por ter-la envenenado. E hoje através das suas histórias que compreendemos que o povo de Exu não são entidades perdidas do baixo astral e sim entidades respeitadas e de muita importância no mundo astral superior e inferior. A Pomba-Gira Rainha das Sete Encruzilhadas adora a cor Maravilha, Vermelho, Preto e Dourado trazendo na mão um cedro de ouro. Suas oferendas são sempre as mais caras, pois ela é muito exigente. A Pomba-Gira Rainha das 7 Encruzilhadas também é conhecida no sudeste do país como “Dona 7” Se apresenta como uma mulher de meia idade, muito reservada , educada, iteligente e culta. Ao contrários que muitas pessoas pensam... é uma entidade calma e tranqüila, mais quando chega ao mundo para deixar seu recado, traz na garganta um grito de guerra onde expressa todo o seu poder de vitórias. “Foi Iansã quem lhe deu força! Ela é a Rainha do Candomblé... vamos sarava nossa Rainha Pomba-Gira ela é o exu mulher... bis: Vamos sarava nossa Rainha Pomba-Gira ela é o exu mulher... Saravá D.Rainha!

EXU CAPA PRETA da Kalunga

Entidade de grande destaque, muito conhecimento e Guardião de um grande montante de informações que podem ser usadas positivamente (fórmulas medicinais, descobertas científicas.

No reino da Kalunga Pequena trabalha na fiscalização de outros exus que ali atuam.

Exu Capa Preta é representado como um homem envolto em um grande manto negro. Tem um caráter sério, taciturno e fechado. Na incorporação, costuma olhar fixamente para os olhos dos presentes, como que sondando suas almas.

Recebe oferendas no cemitério e em outros lugares da Natureza, pois, cruza com múltiplos caminhos. As oferendas usuais são marafo, vinho, charuto, vela preta e vermelha. Quando cruzado nas forças da mata, bebe marafo com mel. Sua arma mágica é o punhal.

Tem como companheiros de trabalho: Exu Tranca Rua das Almas, Exu Meia-Noite, Exu Sete Capas, Exu Sete Caveiras, Exu Sete Catacumbas, Exu Caveira, Exu Calungueiro, Exu Tata Caveira, Exu Sete Campas, Exu Sete Covas, Seu João Caveira, Exu Sete Cruzes, entre outros.

Quando emana seu poder nas encruzilhadas se torna Exu Capa Preta das Encruzilhadas, aparecendo como um homem elegante, vestido com manto negro, cartola e bengala. Ele então bebe cognac, licores finos e fuma charuto ou cigarrilhas.

7 CATACUMBAS

Catacumbas é um poderoso Exú da Umbanda, Kimbanda e Candomblé, conhecido no Catimbó como Mestre 7 Catacumbas.

Onde ele fica pode ter certeza não fica um egum próximo e uma característica muito impressionante é que quando ele vai embora arrasta consigo tudode ruim que houver no terreiro.

Sério, bravo, nervoso, bondoso, não tem misericórdia de espíritos que atrapalham o sossego alheio, no entanto é um fiel protetor e grande conselheiro de todos que queiram fazer do seu mundo um lugar melhor pra se viver.

Você que trabalha com o Catacumba, já recebeu seu auxílio ou mesmo se familiariza com ele venha conhecê-lo.

Atribuições de 7 Catacumbas no plano espiritual

Catacumbas, assim como a grande maioria dos Exús, é uma espécie de policial, executante das ordens de todos os Orixás no plano mais denso.

É o mensageiro, o que entra e sai das zonas umbralinas, sem temor, assumindo uma forma ameaçadora para fazer-se respeitar.

Sem Exú a força dos Orixás não atuaria no mundo, pois são eles os operários incansáveis.

Temido por não admitir a desobediência, é ele quem aplica os castigos de quem é também guardião, fazendo, na verdade, cumprir a lei de causa e efeito e desmanchando todo tipo de magia negra.

Mesmo punindo, quando há mérito, Mestre 7 Catacumbas cura, concede maiores facilidades em alcançar o que desejamos.

É um faxineiro do astral, porque purifica os ambientes e pessoas.

É comum ver-se suas legiões preocupadas em alertar contra males, jamais trabalhando contra a lei divina do amor.

O Guardião das matas

Escrito sob inspiração mediúnica por Pedro rangel Telles de Sá.



O Guardião das matas
Certa vez, em um terreiro de umbanda, uma entidade amiga pediu que eu fosse fazer uma obrigação nas matas. Até aí tudo normal se este espírito amigo não tivesse me solicitado que antes de realizar a referida obrigação eu acendesse um charuto, abrisse uma marafa e oferecesse ao exu das matas pedindo licença para utilizar aquele ponto de forças da natureza e proteção e amparo para aquela obrigação que eu iria realizar.
Não entendi o porquê desta solicitação em relação ao exu e fiquei protelando por três dias a realização desta obrigação.
Quando foi a noite do terceiro dia, ao adormecer, meu duplo foi irresistivelmente atraído para uma região de matas que se encontra perto de minha casa. Vale a pena ressaltar que eu não tenho muita afinidade com a mata principalmente por ter um medo terrível de cobras. Mas lá estava eu de frente para a mata nas altas horas da noite. Interessante que o “sonho” era meu e o espírito, é óbvio, também, mas eu não tinha o mínimo controle sobre as ocorrências que aconteciam nele.
De repente, fui irresistivelmente atraído por mata adentro e fechei os olhos morrendo de medo. Por quanto tempo esta atração durou eu sinceramente não sei, só sei que quando eu abri meus olhos me vi de frente com um ser que deveria medir certamente mais que três metros de altura, seu corpo era mais musculoso que o de qualquer super-herói que eu tenha conhecido na ficção terrestre, sua face era magneticamente sedutora e impreterivelmente dura, não sei dizer por que mas aquele ser não me passava nenhum sentimento de medo mas sim um tremendo respeito, tanto que inconscientemente, quando dei por mim, estava em posição de reverência e ajoelhado a seus pés.
Apesar do respeito eu não pude sopitar a minha curiosidade e perguntei:
— Ó magnânimo ser, por caridade vós poderíeis dizer à minha pessoa quem sóis e o que eu faço aqui?
— AHahahahahahahahahahahahhahahahaha!!!!!!!!!
Dele eu escutei uma gargalhada estrondosa e devo afirmar que seu tom de voz era cavernoso e gutural.
— Não precisa usar essas palavras difíceis comigo não camarada, no dia-a-dia eu sei que várias palavras de seu vocabulário chegam ser até mesmo chulas, não é verdade?
— Sim, respondi mas é que eu só queria demonstrar um pouco de respeito para com o senhor.
— Senhor, eu? Ahahahahahahahahahahahahahahahahahaha !!!!!!!!!!!!!!
E outra vez deu mais uma gargalhada gutural para depois responder:
— Camarada, tenho que te falar duas coisas; primeiramente é que eu não sou senhor de nada e ainda estou muito longe de merecer do criador a oportunidade de receber algo de que eu possa me assenhorar para receber de você este tratamento; segundo, se você de fato quer demonstrar algum respeito por mim então seja quem você realmente é, seja verdadeiro: converse comigo da mesma forma como você fala com os outros no dia-a-dia, aí sim você estará me respeitando. Não tente jamais aparentar para mim ser o que não é por que pode ter certeza que eu conheço o mais íntimo dos recônditos da alma humana e sei que a beleza desta reside em se assumir imperfeita como é e perfectível como deve ser.
— Tudo bem companheiro,posso te chamar desta forma, não é?
— Sim !!!
— Pois então companheiro, como eu estava dizendo, será que você poderia me dizer quem é e o que eu faço aqui?
— Meu camarada,vamos por partes. Suponha que você tivesse vários tesouros, cada um em uma localidade diferente, e me responda: você teria condições de estar presente simultaneamente em cada uma destas localidades para proteger os seus tesouros de malfeitores?
— Não.
— Mas o seu tesouro teria que ser protegido de qualquer forma, não é?
— Sim.
— Então responda como você resolveria este problema?
— Bom, a resposta nem é tão difícil assim e eu digo que resolveria o problema colocando seguranças em cada um dos lugares onde eu tivesse um tesouro.
— Muito bem camarada se você que é um ser humano, membro de uma raça ainda tão imperfeita e materialista que é a raça humana, pôde encontrar uma resposta satisfatória a esta questão imagine então que solução o Divino Criador obteve para que a sua divina obra, que é a natureza, não fosse maculada em seus mais diversos e específicos reinos que são: vegetal, mineral, aquático, telúrico, ígneo, eólico e cristalino!
— Espere aí, então você está querendo dizer...
— .....sim camarada, com isso eu quero dizer que pelo fato da criação divina ser tão incomensuravelmente extensa e infinitamente contínua Ele achou por melhor colocar em cada um de seus pontos de forças da natureza um guardião que pudesse se ocupar da proteção de seus mistérios.
— Meu Deus, isto é incrível!
— Sim, camarada mas isto ainda não é tudo, tenho ainda mais uma questão a propor pra você, me diga o que aconteceria se qualquer pessoa quisesse entrar em qualquer uma de suas propriedades onde se encontra seu tesouro?
— Eles seriam impedidos de entrar pela guarda de seguranças.
— Exatamente. E qual seria a única forma legal deles adentrarem sua propriedade?
— Bem, a única forma lícita de qualquer pessoa entrar em uma de minhas propriedades seria se esta possuísse um crachá de identificação, porque a apresentação deste crachá a qualquer um dos seguranças tornaria explicitamente claro que a referida pessoa tem autorização para penetrar em minha propriedade.
— Perfeitamente, agora lhe proponho a última questão camarada: sabendo que cada ponto de forças da natureza tem um guardião, o que qualquer pessoa deveria realizar antes de fazer qualquer oferenda religiosa ou magística num ponto de forças da natureza?
— Bem, pela forma como você está explicando qualquer pessoa antes de realizar qualquer oferenda deveria mostrar tipo um “crachá ” para o guardião do ponto de força da natureza e, me atrevi dizer, sabendo que todo exu é um guardião poderia até adivinhar que este “crachá” , no caso, poderia até mesmo tomar forma de uma marafa aberta e um charuto aceso, eu estou correto?
— Sim, e agora você chegou aonde eu queria, ou seja, você sabe por que foi trazido até aqui, não sabe???
— É, agora eu sei.
— E qual foi este motivo?
— O fato de uma entidade há três dias atrás ter pedido para eu fazer uma obrigação nas matas e eu estar adiando esta tarefa até agora.
— Olha camarada, o que você falou, você sabe que é uma meia-verdade, você não gostaria de completá-la?
Acho que é desnecessário dizer o quanto envergonhado eu estava pelo fato de saber que ele, por ser um grande conhecedor da alma humana, sabia da outra metade da minha história.
— Bom companheiro exu, a outra metade da minha historia, como eu sei que você bem sabe, reside no fato de eu ter adiado esta obrigação pelo fato de que a entidade amiga que a solicitou ter determinado que, antes que eu assim procedesse, eu oferecesse uma marafa e um charuto para o exu das matas pedindo licença para usar o espaço sagrado da natureza e o amparo e a proteção para a obrigação que seria realizada a seguir.
— E você até agora ainda não realizou a obrigação por não ter entendido o porquê de a entidade amiga ter lhe solicitado que fizesse antes a oferenda para o guardião das matas se isto antes nunca havia sido feito certo?
— Sim.
— E você não consegue realizar nada se não souber o porquê, certo?
— Sim.
É importante destacar que eu respondi esta última pergunta de boca aberta e admirado de como um exu é, de fato, um grande conhecedor da alma humana. Mesmo assim, ainda, me atrevi a fazer uma pergunta.
— Mas e aquelas pessoas que fazem suas obrigações nos pontos de força da natureza sem antes fazer uma oferta para o guardião deste ponto de força?
— Ótima questão camarada e eu lhe digo que tudo é questão de nível de consciência.
— Como assim?
— Ora camarada, consciência entende? As pessoas que desconhecem a importância de se oferendar aos guardiões dos pontos de forças da natureza antes de realizarem uma obrigação, ou seja, as que desta importância não têm consciência fazem suas obrigações e a espiritualidade responde aos seus anseios (de acordo com o seus merecimentos) da mesma forma que responde a uma pessoa que fez a oferenda para o guardião. Agora a partir do momento que a pessoa entende a importância desta oferenda e deixa de realizá-la as conseqüências disto eu respondo nem por palavras minhas mas me utilizo d’aquelas pertencentes àquele que está a direita do Criador “..muito será cobrado d’aquele a quem muito for dado.”
— Mas então quer dizer que você é o guardião das matas?
— Errado camarada. Eu sou um guardião das matas e sirvo ao meu senhor que é O guardião das matas, ou como dizem vocês umbandistas, O guardião de Oxóssi. E lhe digo mais companheiro, jamais se sinta importante por estar diante de um guardião das matas,sinta-se,antes,responsável.Entenda que a vitalização nos campos do conhecimento é um dos atributos dos quais eu, no aspecto positivo, procuro honrar em meu mistério, ou seja, auxiliar a retirar das trevas da ignorância àqueles que dela desejam sair.
Já no aspecto negativo eu também, e sempre, sigo as atribuições a mim fornecidas pelo Criador e procuro punir àqueles que se utilizam mal em qualquer campo na área do conhecimento, seja paralisando-os ou esgotando-os em seus próprios negativismos.
Agora acorde camarada, meu recado já foi dado e está na minha hora, porém, nunca esqueça de se lembrar de jamais se sentir importante pelos conhecimentos que lhe foram passados esta noite, antes, sinta-se responsável. Responsável por conhecer a importância destes conhecimentos. Responsável por sua própria evolução.Responsável por passar este conhecimento adiante.Responsável porque “muito será tirado d’aquele a quem muito for dado”.
Acordei em minha cama pensando em como a vida, por vezes, é engraçada: fui me deitar relutando em fazer a obrigação nas matas por não querer oferendar, antes, a exu por que não haviam me informado a importância do gesto: eu queria alguma explicação antes para depois eu fazer a obrigação.
Mas acordei conhecendo a explicação e me sentindo responsável até demais por esta informação, desejando até mesmo nunca dela ter tido conhecimento; daí então comecei a sentir um forte cheiro de marafa em meu quarto e olhei para o relógio de parede: era meia-noite em ponto.
É, pensei, a responsabilidade era grande mas eu havia entendido o recado e iria, assim que amanhecesse, fazer minha obrigação nas matas realizando, antes, uma oferenda ao guardião deste ponto de forças; afinal depois do esclarecimento do sonho fazer esta oferenda era minha obrigação e eu iria realiza-la com todo o respeito e responsabilidade.

Ass: Um amigo espiritual

A história de Indaiara

Este texto é uma homenagem à alma feminina de todo ser humano.



Há muitos e muitos séculos havia uma jovem de dezoito anos que vivia em uma enorme aldeia.
Era órfã de mãe e tinha sete irmãs e três irmãos, todos mais velhos que ela.
Desde a mais tenra idade aprendera com o pai a manipular a energia das ervas e, com o passar do tempo, passou a desenvolver esta atividade com maestria. Sabia utilizar a energia das ervas com qualquer finalidade: banhos, chás, ungüentos, fumos e limpeza energética.
Em termos físicos pode-se dizer que ela não era nenhuma beldade, mas sua simpatia, seus cabelos negros e sedosos, seus enormes olhos esverdeados e seu intenso magnetismo pessoal eram suficientes para torná-la uma mulher inebriante.
Mesmo, ainda, sendo tão jovem a sua fama de curandeira já havia se espalhado por longas distâncias e até mesmo membros de aldeias distantes vinham se consultar com ela.
Entretanto, apesar de seu precioso dom, Indaiara não se sentia feliz. A causa de sua infelicidade era o fato de ainda não ter encontrado o amor.
Indaiara possuía uma visão idealista do amor: em seu modo de ver o amor era algo que, uma vez encontrado, traria a felicidade eterna não importando quais situações pessoais estivesse passando em sua vida tais como fome, enfermidades, etc.
Na realidade, ela estava muito preocupada pelo fato do tempo estar passando (era comum naquelas épocas as mulheres contraírem laços matrimoniais com no máximo quinze anos) e ela ainda não ter encontrado o idealizado amor.
Ela já havia sido cortejada anteriormente e convidada a ser casar por pelo menos meia dúzia de vezes, mas como não via nestes pretendentes a figura do amor, acabara declinando de todos os convites. Suas irmãs, todas casadas, ainda procuravam conversar com ela tentando explicar o fato de que, muitas vezes, o afeto acaba vindo com o tempo, mas ela dizia que não queria afeto e sim amor.
Mas o tempo foi passando e ela já aos dezoito anos ainda não havia encontrado o amor e este fato, muitas vezes, provocava em Indaiara uma tristeza tão intensa que ela sentia vontade de dar um fim à própria vida.
O tempo correu três anos e Indaiara já não utilizava o seu dom de curar através das ervas com a mesma satisfação, alegria e prazer de antes. Não agüentando mais a sua própria frustração por ainda não ter encontrado o amor ela, aproveitando o momento das trocas de mercadorias entre sua tribo e os homens de pele branca conhecidos como cara-pálidas, acabou se infiltrando dentro de uma embarcação.
O capitão daquela embarcação ao encontrá-la ainda tentou dissuadi-la e convence-la a retornar para sua tribo, mas ela com seu jeito faceiro e sedutor conseguiu faze-lo desistir de seu intento prometendo que faria tudo que ele quisesse e se insinuando com intenções claramente sensuais.
Indaiara não sabia o porquê de ela ter agido desta forma, mas tinha o propósito firme de querer conhecer outras partes do mundo e descobrir, por conta própria, se nelas acabaria encontrando o tão idealizado amor.
Indaiara era o braço direito de seu pai e seu motivo de maior orgulho por que fôra a única de suas filhas que se interessara pelo trabalho com as ervas e é desnecessário dizer que, seja pela idade avançada ou pelo desgosto do desaparecimento dela, alguns poucos meses depois de sua fuga ele veio a desencarnar.
Inclusive, na mesma noite em que desencarnou o seu pai veio a ter com ela no momento do sono físico para dizer que não poderia alcançar a morada de seus ancestrais sem rever, ainda que fosse por pelo menos uma única vez, a sua filha querida. Indaiara, inclusive, assustou-se tão imensamente com este sonho que acabou por perder o sono pelo resto da noite.
Na realidade, este não era o único motivo de sua insônia: Indaiara ainda não sabia, mas estava grávida de cinco meses e os enjôos conseqüentes desta, principalmente no período noturno, também estavam contribuindo muito para sua insônia.
Quando estava com sete meses de gestação Indaiara encontrava-se imensamente triste por não saber o que fazer diante daquela situação, pois faltavam poucos dias para a embarcação aportar em uma terra que futuramente seria conhecida como Espanha, e ela ter a convicção plena de que não poderia ficar com a criança naquele momento por acreditar que não conseguiria lhe ofertar de forma plena um sentimento que ela mesma ainda não havia conhecido: o amor.
Conversou, então, com o pai da criança, que era o capitão do barco, e ao expor suas incertezas ele, um homem duro e frio, riu cruelmente da aflição dela e depois explicou que se ela não quisesse filhos que não deveria nem ter entrado no barco e que se ela houvesse retornado para sua aldeia, quando ele solicitou a ela que assim procedesse, ela também não estaria grávida.
Disse ainda que se ela não quisesse pagar por sua passagem para conhecer novas terras através do sexo ela também não estaria nessa situação. E somente após manifestar as suas opiniões foi que ele lhe pediu que não se preocupasse com o bebê porque este seria vendido como escravo.
Indaiara não esboçou uma reação sequer, com exceção do fato de clamar a ele que lhe permitisse deixar pelo menos uma lembrancinha para a criança a fim de que esta, de alguma forma, nunca esquecesse de sua mãe. O capitão aquiesceu ao pedido sem colocar nenhum empecilho e Indaiara ficou a pensar que presente ofertaria à sua filha.
Ao aportar no cais, o capitão da embarcação levou Indaiara grávida para casa e tornou-a cativa sua até o nascimento do bebê.
Na noite que precedeu o nascimento do bebê, Indaiara teve um sonho simbólico onde uma dama que irradiava intensamente uma claridade na cor rósea pedia que marcasse o braço direito de sua filha, como era costume em sua aldeia, com o símbolo de sua descendência.
Indaiara despertara no dia seguinte com as contrações do parto que, por sua vez, aconteceu naturalmente.
Após o nascimento da criança o capitão quis que Indaiara fosse imediatamente embora de sua residência, mas ela, de tanto implorar, conseguiu arranjar sua permanência na casa por mais alguns dias com o argumento de que seu leite seria de extrema importância para a sobrevivência da criança pelo menos nas primeiras semanas.
Um mês e meio após esta conversa, na calada da noite, Indaiara invadiu sorrateiramente o quarto do bebê e marcou o braço direito dela, ainda tão pequenino, com o símbolo de uma meia lua. Com esta atitude a criança começou a chorar intensamente e Indaiara teve que fugir daquela residência para não ser castigada ou até mesmo morta; a marca de meia-lua no braço de sua filha ficaria como um presente que o próprio capitão houvera consentido que ela lhe ofertasse.
Mas, por favor, não pensem que Indaiara sentira terrivelmente em seus sentimentos pelo fato de ter abandonado sua filha!!Indaiara, meus irmãos, queria encontrar o tão idealizado amor e, em suas idéias, somente após o acontecimento deste fato, ela teria condições de amar a sua filha ou qualquer pessoa da forma que estes realmente merecessem.
O capitão da embarcação ficou enormemente aborrecido com a marca que Indaiara deixara no bebê porque, ao contrário do que havia dito a ela na embarcação, ele não venderia o bebê como escravo; e esta mudança em sua atitude ocorrera no momento exato em que a criança veio ao mundo e ele por ela apaixonou-se perdidamente à primeira vista.
Manuela, este foi o nome que o capitão resolveu colocar em sua filha, crescia em beleza, estatura, inteligência e formosura a cada ano que se passava, entretanto uma pergunta jamais saia de sua cabeça apesar dos esforços enormes com que seu pai fazia para que isto acontecesse: quem era sua mãe?
Ao completar sete anos de idade seu pai teve que castiga-la brutalmente quando ela pedira a ele que lhe desse de presente a identidade de sua mãe. Este fato fez com que ela nunca mais perguntasse a seu pai qualquer fato relacionado à sua genitora, entretanto, ela nunca retirou esta dúvida de seu coração; aliás, esta dúvida aumentava terrivelmente a cada dia.
No dia em que completaria dezoito anos de idade Manuela teve a idéia de fugir de casa e deixar um bilhete dizendo que só retornaria ao lar se o seu pai estivesse disposto a falar sobre o paradeiro de sua mãe, pois Mercedes, a sua velha ama-de-leite, ficaria com a incumbência de observar os efeitos de sua partida na vida de seu pai e de levá-lo até ela, como se a tivesse visto casualmente, caso este resolvesse contar-lhe a verdade.
O coração do pai de Manuela, capitão de uma embarcação e rico mercador, ficara em pedaços com seu desaparecimento, mas o que ele não imaginava era que ela estivesse tão próxima de si e vivendo no sótão de sua própria residência.
Três dias após a “fuga” de Manuela, o seu pai e nove dos dez capangas que tomavam conta de sua fazenda foram fortemente armados ao encontro dos prováveis raptores de sua filha, segundo pista que recebera.
Apenas um capanga ficou de tocaia para tomar conta da residência de seu chefe e como já passava das vinte horas Manuela resolvera descer do sótão e ir de encontro a Mercedes para tentar descobrir o que estava acontecendo. Mercedes, por sua vez, contou a ela tudo o que ocorrera e Manuela, temendo pela vida de seu pai, pela primeira vez, arrependeu-se do plano que arquitetara.
Enquanto as duas conversavam ouviram o estampido de um tiro e, assustadas, foram olhar pela cortina da sala para ver o que estava acontecendo e o que viram não foi nada agradável: os homens de Alfredo, terrível inimigo de seu pai, aproveitavam a pouca vigilância da casa e a estavam invadindo para concretizar a ameaça que este fizera ao seu genitor meses atrás de destruir-lhe a casa e violentar, para depois matar, toda sua família.
Mercedes e Manuela tentaram escapar, mas foi inútil, pois em poucos instantes elas foram capturadas, amordaçadas e colocadas em uma carruagem que tomava a direção de uma extensa floresta.
Manuela ainda fez um tremendo esforço para levantar sua cabeça e olhar para trás, mas o choque ao ver a residência onde nascera e fôra criada ardendo em chamas foi tão intenso que ela desmaiou.
Assim que despertou Manuela viu uma cena que a deixou horrorizada: todos os seus algozes, cerca de quinze homens incluindo o próprio Alfredo, revezavam-se como animais na violação do corpo de sua ama-de-leite, uma senhora de quase setenta anos. Manuela gritava e procurava agredir os seus raptores verbalmente, mas calou-se em um silêncio estarrecedor quando eles lhe disseram que não se preocupasse porque ela seria a próxima a ser “devorada”.
Lágrimas pesadas e copiosas rolavam por sua face quando ela viu Mercedes cair morta no chão e os homens ensandecidos virem em sua direção, entretanto, antes que começassem a praticar os seus atos de selvageria, os algozes de Manuela observaram um homem a galopar com toda a velocidade em sua direção; assim foi que saíram completamente nus a correrem para pegar as suas armas, mas desistiram ao verificarem que o cavaleiro em questão também fazia parte do bando.
Ofereceram, então, uma boa dose de vinho ao seu comparsa e disseram que ele chegara numa hora boa porque haviam deixado o “prato principal” para o final. Ele, assim, olhou na direção de Manuela e passou a língua vagarosa e repetidas vezes pelos lábios num claro sinal de aprovação a satisfação vindoura de seu apetite sexual desequilibrado.
Mas os seus comparsas chamaram-no de volta a realidade quando perguntaram como havia sido a armadilha.
Só foi escutar esta última palavra para Ricardo, este era o nome dele, começar a narrar toda a arapuca sangrenta: aconteceu tudo como esperávamos. O capitão, paizinho desta coisinha saborosa que está à nossa frente, e os seus homens ficaram loucos quando souberam da pista falsa, plantada por nós, de que sua filha estaria sendo mantida como refém na companhia de quatro malfeitores em uma velha casa abandonada e quando nós ficamos sabendo que hoje ele iria até lá com seus homens no intuito de resgatá-la foi muito fácil armar uma tocaia e acabar com a vida de todos no coração da floresta; e vocês, cumpriram com o combinado?
— Mas é claro, respondeu Alfredo, matamos o capanga que vigiava a residência do capitão, incendiamos toda a casa e matamos a negra maldita que vivia naquela casa como se fosse branca.
— Então vamos completar o serviço, propôs Ricardo?
Desnecessário seria dizer que todos concordaram aos urros e partiram como animais na direção de Manuela. Esta, por sua vez, ao ouvir toda a trama macabra e descobrir que, além de seu antigo lar não existir mais, não saber o paradeiro de sua mãe, ver sua ama-de-leite e melhor amiga violentada e assassinada, o seu pai também estava morto perdera, como por encanto, o interesse por sua própria vida.
Alfredo, Ricardo e todos os demais malfeitores usufruíram dos prazeres de violentar um corpo imaculado e puro, mas que também, por todos os motivos expostos, encontrava-se inerte como se fosse um boneco.
Os capangas revezavam-se em seu sexo como se fossem animais possuídos pelos mais animalescos Entes trevosos até o momento em que Manuela, sentindo uma terrível falta de ar e um aperto no coração, desmaiou como se estivesse morta.
Ao se verem diante desta situação e julgando que Manuela estava morta os capangas, terrivelmente contrariados pela interrupção em seu momento de prazer, arrastaram o seu corpo até as imediações de um precipício e o deixaram lá como banquete a fortuitos animais famintos.
Somente após tomarem estas providências foi que os malfeitores foram embora.
Por volta das quatro horas da manhã, sentindo uma terrível dor em seu sexo e sem a mínima disposição para continuar vivendo Manuela procurou levantar-se e, andando vagarosamente, devido às dores em seu corpo, jogar-se precipício abaixo.
Faltavam aproximadamente dez passos para chegar à beira do precipício quando os gritos de uma mulher chamaram sua atenção e fizeram com que olhasse para trás: era uma mulher com o corpo marcado precocemente pelas marcas do tempo e que vestia-se como se fosse uma prostituta.
Manuela, assustada, pensando que se tratava de alguma ladra deu, de costas, mais dois passos em direção ao precipício.
— Por favor, pare!! Eu não vou fazer-lhe nada de mal, disse a mulher mal-vestida.
— Como assim não vai me fazer mal? Você é uma prostituta!
— Sou uma prostituta, mas não sou malfeitora!!!!
— Até parece que existe diferença.
— Escute moça, estou vendo que você está com vestes rasgadas e ensangüentadas; penso que você deve ter acabado de passar por uma situação terrível e que por isso é que deve estar emocionalmente tão abalada. Estou certa?
— Sim, você está certa. Vários homens defloraram meu corpo e minha honra como se fossem animais.
— Eu, como ninguém, posso precisar o tamanho de sua dor, mas creia-me: isto não é motivo para você tirar sua própria vida.
— Concordo com você.
— Mas tenho a impressão que você estava a caminhar para a beira do precipício com intenção de se jogar daqui de cima.
— Eu realmente quero fazer isso que você disse, mas não porque me violentaram e sim porque acabaram com todo o meu amor! Eu não tenho mais motivos para viver!
— Como assim acabaram com todo o seu amor?
— Os mesmos animais que me violentaram também destruíram o meu lar, violentaram e mataram minha melhor amiga e assassinaram o meu pai depois que lhe armaram uma armadilha. Diga senhora prostituta, e Manuela dissera essa frase em tom irônico, como poderia querer viver se não tenho ninguém mais para amar, se não tenho mais amor?
— Moça, acredite quando eu lhe digo que não sei onde está o amor, mas que sei que certas atitudes que tomamos na vida muitas vezes podem eliminar toda e qualquer possibilidade de o encontrarmos um dia.
Manuela notou que a mulher a sua frente, apesar de ser de vida fácil, tinha uma estranha sabedoria e, somente por causa desta sua observação, foi que resolveu lhe perguntar:
— Porque você está me dizendo isto?
— Porque há quase vinte anos acho que tive o amor bem próximo a mim, entretanto por não conseguir enxerga-lo, não lutei com todas as minhas forças para que não o levassem de mim.
— Você está falando de quem? Um amante?
— Não. Estou falando de minha filhinha.
E, dizendo esta frase, a prostituta desandou a chorar. Chorava com um pranto tão profundo e sentido que Manuela resolveu dela se aproximar.
— Mas o que foi que houve com sua filhinha que seja assim tão irreversível? Você não quer me contar?
A prostituta olhou, então, firme nos olhos de Manuela para só depois responder:
— Só se você sair de vez de perto deste precipício!
— Combinado.
Somente após encontrarem um tronco de árvore caído ao chão para se assentarem foi que a prostituta retomou o diálogo:
— Antes de lhe contar um pedaço de minha história, você poderia me dizer o seu nome?
— Manuela.
— Pois bem Manuela, minha história é a seguinte:
Há quase duas décadas, eu havia acabado de fugir da casa onde fui recebida neste país com o intuito de procurar o verdadeiro amor. Assim é que exatamente nesta época você poderia me encontrar andando perdida pelas feiras em busca de qualquer alimento que pudesse saciar a minha fome.
— Mas e sua filha? Onde ela entra nesta sua história? Não estou entendendo!
— Acalme-se Manuela, minha história começa exatamente no ponto em que eu havia acabado de perder a minha filha.
— Perder sua filha? Porque isto aconteceu?
— Porque eu havia acabado de chegar neste país e não podia fugir com ela nos braços sem ter como nos manter.
— Mas você disse que se arrepende, que seu amor é sua filhinha.
— Eu me arrependo hoje porque a vida ensina muita coisa, mas não me arrependi há quase vinte anos.
— Por favor, prossiga! Creio que estou interrompendo sua narrativa!
A prostituta deixou transparecer o esboço de um sorriso em sua face e depois continuou a sua história:
Então Manuela como eu estava lhe dizendo, há vinte anos eu havia acabado de chegar neste país e acabara de abandonar a minha filha.
Estava morrendo de fome e aproveitei que era dia de feira para ver se conseguia algum alimento. O tempo passava, a minha fome só aumentava e eu nada de conseguir um alimento, até que em uma barraca que vendia queijos e biscoitos caseiros eu percebi que um homem não parava de cobiçar o meu corpo.
Procurei me aproveitar da situação e lhe pedi um pouco de biscoitos ao que ele me respondeu que naquele dia iria me dar alguns biscoitos, mas que se algum outro dia eu quisesse mais alguns eu deveria pagar por eles.
Respondi então ao Carlos, este era o nome dele, que não tinha emprego e ele pediu que às oito horas da noite, em ponto, eu estivesse dentro da taverna, de propriedade dele, no centro daquela cidade e fosse conversar com ele.
Assim eu fiz e posso dizer que não me assustei quando ele me fez a proposta de ser prostituta em troca de um bom trocado. Eu sabia que faria muito sucesso entre os homens por ser estrangeira e, naturalmente, ter um biótipo bem diferente das mulheres deste país.
Posso dizer que realmente estava com a razão porque os homens faziam fila para ter alguns momentos comigo. Era com esse dinheiro que eu pagava alimentação, roupas e o aluguel de onde morava que, por sua vez, era a taberna onde eu tinha os meus encontros.
A vida até que financeiramente não estava tão ruim para mim, acontece que pelo lado emocional eu não poderia responder a mesma coisa, pois havia saído de minha terra em busca do amor e, apesar de já estar vivendo neste país há dez anos, ainda não o havia encontrado.
O tempo foi passando e eu fiquei com uma saudade terrível de minha terra; foi quando eu resolvi começar a juntar dinheiro para futuramente comprar passagem numa embarcação que me levasse de volta a ela.
Posso dizer até mesmo que neste meu trabalho como prostituta eu tive uma relativa dose de sorte porque nunca apanhei ou fui maltratada por cliente algum. Mais de uma dúzia deles, inclusive, pediram que largasse essa vida para ir viver com eles, entretanto como eu não tinha planos de continuar vivendo neste país, declinava dos convites.
Juntei dinheiro por cinco anos e já estava me preparando para comprar a passagem de volta para minha terra natal quando numa noite o bandido do Carlos ao escutar os meus planos, com medo de perder a clientela devido ao grande número de tavernas concorrentes que foram abrindo as portas ao longo dos anos, chamou as autoridades competentes até a sua taverna e acusou-me formalmente de roubo dizendo que todo o dinheiro que eu juntara ao longo de cinco anos dentro de uma mala atrás do guarda-roupa era dele e que eu estava pretendendo fugir do país com todo aquele dinheiro.
As autoridades, obviamente, não iriam dar crédito a uma estrangeira e eu, infelizmente, fiquei sem meu dinheiro e presa por três anos até a noite de hoje.
Também posso dizer que a vida de presidiária não foi de todo tão mal assim, pois foi lá dentro que eu pude reencontrar dentro de mim uma parte que parecia perdida e recomeçar o meu trabalho com ervas.
Preparava banhos, chás, e ungüentos tão eficientes que muitas vezes até as próprias autoridades vinham me procurar em busca de socorro junto às ervas da natureza.
Manuela escutara toda a história da prostituta com muita atenção até que, não agüentando mais de curiosidade resolveu perguntar:
— Você é estrangeira e foi acusada pelas autoridades por roubo e tentativa de fuga, o que você fez para pegar uma pena de somente três anos?
— A minha pena não era de três anos.....
— ....mas então você fugiu!
— Não! Eu fui libertada.
— Como assim?
— Você me permite terminar a história?
— Prossiga, porque eu não estou conseguindo entender!
— Então me permita continuar:
Apesar de estar me sentindo útil na prisão, nada conseguia diminuir a minha decepção por ainda não haver encontrado o amor. Na verdade, eu havia desistido dele e de três meses para cá estava sentindo uma saudade profunda de minha filha. Nas últimas três semanas, por exemplo, eu sonhava praticamente todos os dias com minha filhinha ainda bebezinho sendo segura pelos meus braços e ninada por canções antigas de minha terra natal.
— Por quanto tempo você ficou com sua filha?
— Quarenta e cinco dias.
— E como são essas canções de sua terra?
A prostituta, mesmo sem entender o pedido de Manuela, começou a entoar uma canção que ela mais gostava de cantar para sua filha e, ao chegar ao seu término, buscou o olhar de Manuela e pôde observar que estava banhado em lágrimas, fez-lhe, assim, uma pergunta:
— Porque você chora Manuela?
— Porque esta canção, estranhamente, despertou em mim emoções que eu parecia não sentir a muito tempo. Você me desculpe pela infantilidade e, por favor, prossiga com sua história.
— A emoção equilibrada manifesta na forma de lágrimas não é sinal de infantilidade, mas sim de maturidade. Já no que diz respeito a minha história não se preocupe que ela já está quase no seu fim:
Sonhei tantas vezes com minha filha nesses últimos dias que, sei lá porque, comecei a ver estes sonhos como um sinal de que o amor que eu tanto procurei poderia estar na figura de minha filhinha.
Não conseguia retirar estes pensamentos de minhas idéias até que esta noite, há algumas horas, eu pus-me de joelhos ao chão e clamei ao Divino Criador que me perdoasse pela fraqueza de ter deixado a minha filha escapar de mim e que me permitisse, nem que fosse pela última vez, ao menos vê-la de longe fosse ela escrava em qualquer canto deste vasto mundo. Na verdade, Manuela, naquele momento de oração eu me comprometi com o Divino Criador a encontrá-la onde quer que esteja.
— Mas a sua filha era escrava?
— Até quando eu pude tê-la ao alcance de meus olhos ela não era escrava, entretanto o pai dela me disse que era só uma questão de tempo até ganhar um bom dinheiro com ela no mercado de escravos.
— E o que aconteceu quando você terminou sua prece na prisão?
— Alguém que eu não via há muito tempo reapareceu para mim.
— Quem? A sua filha?
— Não. Uma dama que irradiava intensamente uma claridade na cor rósea.
— Quem?
— Não sei bem ao certo, mas eu acho que deve ser alguma enviada de uma Divindade que cultivamos em nossa terra natal.
— Divindade?
— Sim. A Divina Deusa das Cachoeiras.
— Tudo bem, mas o que aconteceu depois que ela apareceu?
— As portas da cela onde eu estava detida inexplicavelmente se abriram, os dois guardas que deveriam vigiá-la estavam dormindo e eu sai da cela e vim caminhando até aqui onde acabei por te encontrar.
— Mas e sua filha? Você fez uma prece a Deus se comprometendo a encontrá-la onde quer que estivesse, você não acha isso uma grande loucura?
— Não. Apenas penso que se fosse loucura a enviada da Divindade que eu cultuo não teria me libertado da prisão.
— Nisto você até tem razão, mas como você fará para encontrá-la?
— Não tenho a mínima idéia, mas Deus irá me guiar.
— Mas e esta Divindade que você cultua? Ela existe mesmo? Você a viu de verdade?
— Claro! Inclusive tem até uma parte de minha história que eu esqueci de lhe contar que é a seguinte: na noite que precedeu o nascimento de minha filha eu tive um sonho simbólico onde esta mesma dama que irradia intensamente uma claridade na cor rosa me pedia que marcasse o braço direito de minha filha, como era costume em minha aldeia, com o símbolo de minha descendência.
— E você, o que fez?
— Fiz o que a Divindade determinara a mim.
— O que? Você marcou a sua própria filha?
— Sim, mas foi com um símbolo pequenino e......
Manuela recusou-se a continuar ouvindo aquela história que não lhe parecia ter nem pé e nem cabeça e levantou-se do tronco onde estava sentada, entretanto, ao se levantar, deixou a mostra parte de seu braço direito que a lua cheia iluminou com tanta claridade que a prostituta não teve como refrear um grito de emoção e passou a tremer as mãos e a boca com uma emoção tão intensa que mal conseguia balbuciar corretamente as palavras:
— M-a-n- uela.... é v-ocê!!!!
— O que?
Procurando fazer um enorme esforço para conter a emoção, a prostituta também se levantou do tronco onde estava assentada e, procurando mostrar o braço direito na altura dos cotovelos, de um só fôlego disse à Manuela:
— Veja esta marca em meu braço!
Manuela olhou atenciosamente e também começou a tremer com emoção incontida ao perceber que aquela marca era idêntica a sua.
A prostituta, então, percebendo os efeitos de seu gesto na emoção de Manuela, procurou retomar o diálogo:
— Manuela, o meu nome é Indaiara e eu sou a sua mãe.
E, ao ouvir esta confissão, Manuela percebeu que ainda havia pelos menos mais um motivo para viver porque ainda havia mais uma pessoa para amar e, num frenesi emocional incontido correu de braços abertos ao encontro de Indaiara a lhe dizer:
— Mamãe! Mamãe! Minha Mãe, eu te amo!!!
— Eu também te amo minha filha, me perdoe!!!!
— Não há nada a perdoar minha mãe, nada!!!!
Após alguns minutos de intensa emotividade Manuela foi utilizando a sua extrema capacidade de raciocínio e disse a Indaiara:
— Mãe, meu Deus como é bom conhece-la finalmente!!!
— Também tenho esta mesma sensação minha filha, mas agora procure serenar as emoções e me diga tudo o que tenha para me dizer!
— Tudo bem! É o seguinte: temos que sair do país o mais rápido possível: você para não ser recapturada pelas autoridades e eu para não ser encontrada pelos homens que me violentaram.
— É verdade, mas como faremos isto?
— Sei onde meu pai guardava algumas barras de ouro e sei que apenas uma delas é plenamente suficiente para voltarmos para sua terra natal.
— Mas você faria isso? Abandonaria toda sua cultura e civilização para ir viver comigo?
— Claro! É como lhe disse mãe, nada mais me prende nesta terra onde, como já disse anteriormente, corro até mesmo risco de vida. Para falar a verdade, minha mãe, Deus e esta Divindade das Cachoeiras devem mesmo fazer questão que fiquemos juntas!
— Por que você diz isto?
— Você porque ao meu lado estará sempre próxima de parte deste amor que tanto procurou na vida e eu porque ao seu lado terei sempre um motivo a mais para viver.
— Que coisa mais linda Manuela!!!!
E as duas continuaram conversando e matando a saudade durante os sete meses que durou a viagem de volta à terra natal de Indaiara.
Assim que retornaram de volta a aldeia alguns de seus irmãos e irmãs não as receberam com bons olhos devido ao desgosto e tristeza tão intensos que ela provocara em seu pai com sua partida repentina causando, na interpretação destes, a morte dele.
Mas não há feridas que o tempo não cicatrize e é assim que vamos ver doze anos após o retorno de Indaiara, juntamente com a filha, para sua terra natal, a convivência plenamente harmoniosa entre todos os membros da aldeia.
Indaiara ensinara a Manuela todos os segredos no trato com as ervas e ela aprendera com tanto afinco que se tornou a sucessora natural de sua mãe na aldeia.
E é assim que vamos encontrar, cinco anos após todos estes eventos, Indaiara cozinhando o almoço ao mesmo tempo em que lágrimas gotejavam de seus olhos.
É importante que se diga que eram lágrimas provenientes da mais pura alegria por finalmente ter encontrado o amor na figura representativa de sua filha Manuela.
E foi no exato instante em que pensava desta forma que Indaiara viu mais uma vez a figura da enviada da Divindade das cachoeiras. Ela estava a lhe dizer que seus pensamentos estavam equivocados e que o verdadeiro amor, na realidade, estava dentro de um rio que distava dois quilômetros de onde ela estava.
Com intensa curiosidade, Indaiara caminhou a passos céleres em direção ao rio indicado. Quando se aproximou das margens do rio a enviada da Divindade das cachoeiras apareceu aos olhos de Indaiara pela última vez naquela sua encarnação e lhe disse:
— Olhe para dentro do rio e veja o amor que você tanto buscou em sua vida!
Indaiara olhou, olhou e olhou, mas a única coisa que via no rio era o reflexo de sua própria imagem.
Passado alguns instantes a enviada da Deusa das cachoeiras perguntou a Indaiara:
— E então, o que você viu?
— Sinceramente, eu só vi o reflexo de minha própria imagem.
— Então você realmente encontrou o amor!
— Como é?
— Isto mesmo que você acabou de ouvir: você acabou de encontrar aquilo que foi tão longe buscar, mas que estava aqui mesmo e onde quer que você fosse!
— Ainda não entendi.
— Você viu a sua imagem refletida na água e eu lhe disse que ela representa a resposta na sua busca pelo amor porque, na realidade, o amor está dentro de você mesmo.
— Que amor?
— O amor Divino ou você não sabia que todo ser humano é um templo vivo de Deus?
— Não, eu não sabia!
— Então nunca se esqueça de que qualquer ser humano, se não procurar descobrir e desenvolver a essência do amor Divino que carrega dentro de si, jamais virá a encontrá-lo exteriormente.
— Concordo certamente com a senhora, mas eu descobri o amor que tanto procurava na figura de minha filha.
— Engano seu, você só descobriu este amor por sua filha quando procurou encontrar a essência do amor Divino que habita dentro de ti através da realização diária de preces e do desenvolvimento da habilidade de praticar a caridade por meio do uso de ervas. Estou falando alguma mentira?
— Não. Então quer dizer que a minha Manuela não representa para mim a figura do amor?
— Não. Sua filha certamente representa para você a figura do amor, mas você só conseguiu encontrar o amor através desta representação quando buscou desenvolver o amor Divino através da caridade, está entendendo?
— Sim. Agora tudo clareou.
— Busque primeiramente a Deus e as virtudes que desenvolvem o amor Divino, pois somente assim outras coisas vos poderão ser agregadas, como por exemplo, o amor na forma de um filho, um homem, uma profissão, etc. Entendido?
— Sim senhora.
Dizem que Indaiara ficou extremamente feliz com a descoberta do local onde se encontra o amor: dentro de seu coração!!!
Indaiara também descobriu que, como desconfiara, a dama de coloração rósea era, de fato, uma enviada posicionada à direita da Divina Deusa das Cachoeiras.
Atualmente Indaiara também está a servir esta Divindade, à esquerda, como Senhora Pomba-gira Indaiara, sim, uma pomba-gira ligada à Deusa das Cachoeiras, mas atuando sob a irradiação da Deusa do Mar Sagrado, ou seja, uma pomba-gira cuja uma das atribuições é estimular a geração de sentimentos amorosos que, se vivenciados, podem aproximar os seres de suas essências Divinas e de Deus, o que significa dizer, uma Pomba-gira da Vida.
Manuela, atualmente, também serve a Divindade das Cachoeiras só que pela direita, trabalhando como uma preta-velha que não devo revelar o nome, mas que posso dizer que é um fato bastante conhecido um de seus pontos cantados revelar que ela “tem o segredo da lua”.
Quanto a mim, que estou a lhes narrar esta história, pouco importa a revelação de meu nome. Só o que posso e devo revelar é o fato de que, se você se encontra perdida e desesperada, querendo encontrar um amor, clame por nosso auxílio, pela ajuda das guardiãs do amor fatoradas à vida porque, de acordo com seus merecimentos, poderemos estimulá-la a encontrar o verdadeiro amor, que é o amor pelas obras e virtudes que possam levá-las na direção Daquele que é dono e criador de todo o amor: O Divino Pai Olorum!
Somente por meio da vivência e prática deste Seu amor é que vocês poderão ter a possibilidade de verem agregados aos seus merecimentos outros tipos de amores e desfrutarem deles com plenitude.
Que Ele os abençoe e possa agregar em suas vidas, além do amor, divinos sentimentos que também podem levá-las até ele: justiça, lei, conhecimento, fé, evolução e vida.



Saravá ao amor que habita o íntimo de toda mulher!!!!!!
Saravá à essência feminina que existe dentro de cada homem!!!!!!
Saravá à energia do amor!!!!!!
Saravá à todas as pomba-giras!!!!!!
Saravá à todas as pomba-giras do Amor e da Vida!!!!!!!!!





Ass: Sra Bombogira Sete Rosas

Simples charuto de caboclo


Ligia segurava o charuto do caboclo que estava a cambonar enquanto a entidade em questão participava dos trabalhos em uma roda de descarrego.
Terminada a tarefa o caboclo dirigiu-se em direção a sua cambone e pediu o charuto de volta agradecendo-a por haver segurado o seu instrumento de trabalho, mas Ligia, não se contendo de sadia curiosidade, perguntou a entidade:
— Senhor caboclo?
— Pois não fia?
— O senhor poderia esclarecer-me uma dúvida?
— Pode fazer pergunta fia!
— O que eu gostaria de saber é o seguinte: por que o senhor sempre me agradece a cada vez que eu entrego o charuto que estou segurando de volta para as suas mãos?
— Suncê quer saber fia?
— Se for possível, gostaria sim.
— Fia, antes de caboclo responder, observe a atuação da nossa linha de trabalho nesta próxima roda de descarrego, sim?
— Sim senhor!
Após trabalhar com todas as pessoas que estavam naquela roda de descarrego a entidade estendeu sua destra a fim de que sua cambone segurasse o seu charuto enquanto ele e as demais entidades que participavam dos trabalhos na roda pudessem finalizar o trabalho.
Ao término daquela roda de descarga a entidade, então, tornou junto à Ligia dizendo:
— Entrega o pito de volta para Caboclo fia!
Ligia devolveu o charuto à entidade que, então, disse-lhe:
— Este caboclo agradece por toda sua atenção.
Ligia sorriu meio que ainda sem entender o porquê daquele agradecimento e o caboclo perguntou a ela:
— E então fia? O que suncê observou do nosso trabalho junto à roda de descarrego?
— Bem, eu observei algumas coisas, mas fica difícil de dizer algo, no aspecto geral, sobre o trabalho dos caboclos em uma roda de descarrego por que cada um trabalha de um jeito diferente em cada assistência.
— Isto até que é verdade, mas o que suncê observou de semelhante no trabalho de qualquer mano caboclo lá na roda?
 — A fumaça do charuto! Nenhum dos senhores trabalha sem ela!
— Muito bem observado fia!
A entidade soltava umas baforadas do seu charuto enquanto fitava o semblante de Ligia e, após alguns instantes, perguntou a ela:
— Suncê ainda não entendeu porque que caboclo lhe agradece por segurar o pito dele, não é?
— Não senhor!
— Fia suncê tem o dom para isso e é por esse motivo que caboclo vai dilatar um pouco de sua percepção sensorial.
— Sim senhor!
A entidade estalava os dedos e soltavas algumas baforadas do seu charuto por toda a cabeça de Ligia. O processo durou poucos segundos e quando terminou a entidade solicitou a Ligia que abrisse os olhos.
— Nossa senhor caboclo!
— O que foi fia?
— É que eu fiquei com um pouco de tontura.
— Não se preocupe que já, já ela passa.
— Sim senhor, na verdade ela já está passando.
— Fia este caboclo vai participar de outra roda de descarrego e pede a suncê que continue a observar pra ver se descobre o porquê do nosso agradecimento, sim?
— Sim senhor.
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço para Ligia que, prontamente, segurou o charuto em suas mãos.
Minutos depois de terminada mais uma roda de descarrego a entidade pediu a Ligia:
— Entrega de volta o pito pra Caboclo fia!
Ligia assim o fez e ele novamente agradeceu-a para depois perguntar:
— E agora fia? O que suncê observou do nosso trabalho na roda?
— Nossa senhor caboclo! Parecia que eu estava ficando louca!
— Por que isso fia?
— Parecia que a fumaça do charuto dos senhores funcionava perispiritualmente para os assistidos na roda como se fosse uma espécie de chuveiro que tira todas as sujeiras do corpo físico.
A entidade sorriu com a comparação de Lígia e ela prosseguiu:
— É sério Sr. Caboclo! Quando a roda de descarrego terminou alguma coisa nelas parecia que estava muito mais limpo do que antes: algumas pessoas respiravam melhor, outras estavam como se tivessem retirado um peso do coração, enfim foi muito bonito de se ver.
— Fia antes de ir para a próxima roda de descarrego este caboclo pede que suncê segure o pito dele.
E, estendendo-lhe a destra, o caboclo entregou o charuto a sua cambone solicitando:
— Fia, agora feche os seus olhos e faça uma prece ao Criador pedindo bênçãos por todos aqueles que ainda passarão pelas rodas de descarga na gira de hoje!
— Sim senhor!
Ligia fez a prece com todo o fervor de sua mente e do seu coração e, então, abriu os olhos.
A entidade, assim, disse-lhe:
— Fia este caboclo agradece por suncê ter segurado o pito dele mais uma vez e pede que suncê observe o trabalho de nós em mais uma roda de descarga para ver se agora descobre o porquê dele agradecer a suncê por segurar o pito, tudo bem?
— Sim senhor!
Quando o caboclo terminou de realizar o seu trabalho com o charuto naquela roda ele, então, estendeu o braço e Ligia, prontamente, segurou em suas mãos o charuto da entidade.
O trabalho naquela roda foi finalizado e quando a entidade aproximou-se de Lígia esta estendeu-lhe as mãos na intenção de devolver o charuto para o caboclo, mas este lhe disse:
— Deixe o pito por mais um tempo em suas mãos que na hora certa este caboclo pede de volta a suncê, sim fia?
— Sim senhor!
— Este caboclo agradece por toda sua dedicação fia e pergunta: o que suncê observou nos trabalhos da última roda que caboclo acabou de participar?
— Senhor caboclo eu realmente observei algumas coisas, mas eu peço ao senhor que, se eu houver visto demais, que o senhor fale francamente comigo como sempre o fez.
— Nossa fia Ligia! Mas por que todo este alvoroço?
— Por que se na penúltima roda que o senhor participou eu percebi que a fumaça dos charutos funciona como a água de um chuveiro, nesta última roda parece que eu vi o que funciona como uma espécie de sabão ou sabonete.
A entidade deu um discreto sorriso para sua cambone e esta tornou a dizer-lhe:
— E então Senhor caboclo? Eu vi coisa onde não existia?
— De forma alguma fia! Suncê só viu o que havia para ver!
— Nossa, mas o senhor fala isto de uma maneira tão calma!
— E qual é o espanto nisto fia?
— Por que o desconhecido assusta um pouco e eu não sei nem um pouco do que eu vi.
— Fia, mas é como suncê mesma disse antes: o que tem de assustador em se tomar uma boa ducha?
— Ducha?
— É fia ou, como suncês encarnados mesmo dizem uma boa chuveirada!
— ?????
— Fia conte pra este caboclo o que foi que suncê viu!
— Bem, enquanto o senhor dava umas baforadas em uma pessoa da roda de descarrego milhares de minúsculos seres ficavam a rodear esta assistência em questão sempre na direção da cabeça para os pés. Estas espécies de seres giravam numa velocidade absurdamente alta e direcionada como se estivessem sendo controlados por alguém a distância. Eles apareciam e sumiam como que por encanto quando o senhor terminava o trabalho em uma pessoa participante da roda de descarga e passava para outra. Bom, foi isto que eu vi.
— A fia só está se esquecendo de um detalhe fundamental em tudo que observou da participação deste caboclo na última roda de descarrego!
— Verdade?
— Fia, fale uma coisa pra este caboclo!
— Sim senhor!
— Segundo a sua observação, participar desta última roda de descarrego foi mais fácil ou mais difícil do que a penúltima em que este caboclo participou?
— Ah, é verdade! Bom quem estava na dinâmica do trabalho lá na roda é o senhor, mas para mim que observava dava a nítida impressão que o senhor conseguia realizar o trabalho com muito mais facilidade, tendo em vista que na penúltima roda parecia que o senhor se concentrava muito mais para poder fazer o seu trabalho do que nesta última.
— Não foi impressão sua fia: para este caboclo, trabalhar nesta ultima roda, foi muito mais fácil que na penúltima e você fia teve uma grande parcela de responsabilidade para que caboclo obtivesse esta facilidade.
— Eu?
— Claro fia, não é suncê que é a cambone deste caboclo?
— Sou eu sim senhor, mas não sei dizer qual foi minha contribuição!
— Pense um pouco minha filha! Qual foi a grande diferença entre a penúltima e a última vez que suncê entregou o pito para este caboclo antes dele participar das rodas?
— Na ultima vez, diferentemente da penúltima, eu fiz uma prece ao Criador pedindo bênçãos para todas as assistências que participariam das rodas. Foi isto senhor caboclo? A prece que fiz a Deus?
— Fia toda prece a Tupã é sempre muito válida em nosso trabalho de fazer a caridade, mas suncê pode relembrar para este caboclo o que suncê possuía em mãos quando proferiu a referida prece?
— Meu Deus é verdade! Em minhas mãos estava o charuto do senhor!
— Exatamente fia! E então, suncê descobriu por que caboclo agradece suncê a cada vez que pede o pito dele?
— O senhor me desculpe, mas é que eu ainda não consegui chegar lá!
— Então este caboclo não vai mais fazer mistério fia: Caboclo agradece a suncê por que a cada vez que sunce entrega o pito de volta pra ele, acaba entregando junto boa parte de sua firmeza, de sua vibração, de sua energia.
— Eu???
— Não só suncê, mas cada cambone que trabalha junto a cada mano caboclo que milita em cada terreiro de Umbanda neste mundo de Tupã Nosso Pai.
— Isto é surpreendente!
— Antes da última roda que caboclo participou suncê fez prece sentida a Tupã e entregou o pito pra caboclo trabalhar cheio destas sutilíssimas e importantíssimas vibrações do desejo de caridade ao próximo.
— Sim, mas eu devo ser sincera e dizer que só fiz isto da última vez.
— Este caboclo sabe.
— Mas se das outras vezes que eu segurava o charuto do senhor eu não fazia prece alguma por que o senhor, mesmo assim, me agradecia?
— Independente de suncê fazer preces ou não, a cada vez que suncê entrega o pito para caboclo, suncê passa muito de sua energia para ele.
— Mas e se eu não estiver com energia boa no dia da gira? Eu vou acabar passando o pito para o senhor impregnado com minhas energias não muito positivas, mesmo assim o senhor me agradeceria?
— Já houve alguma gira que suncê entregou o pito pra Caboclo e ele não lhe agradeceu?
— Não senhor!
— Mas já houve giras em que suncê veio trabalhar com uma energia não muito boa, não é verdade?
— Isto é verdade, mas então por que o senhor sempre agradece?
— Fia, na verdade, o que caboclo agradece é a oportunidade de trabalho no bem que suncês dá pra nós. Umbanda é parceria fia!
— Desculpe, mas como é?
— Parceria fia: estar juntos por um objetivo em comum. Quando suncês cambones estão bem, então suncês fazem preces ou não as fazem, mas entregam o pito para nós com as energias boas que suncês estão naquele dia para nós trabalhar em favor do próximo, não é assim?
— É sim senhor!
— Já quando é suncês que não estão bem, daí somos nós que fazemos preces ao Criador, enquanto seguramos o nosso pito, rogando que suncês possam encontrar melhoras para as dificuldades de suncês e ajudar nós a trabalhar em nome da caridade cada vez mais e melhor e daí, somente após esta prece fervorosa, é que nós entregamos o pito de volta pra suncês segurar a fim de que, captando um pouco de nossa energia que deixamos no pito, suncês consigam encontrar um pouco de lenitivo que o merecimento de suncês lhes facultar.
— Meu Deus, mas isto é lindo!
Assim exclamou Ligia com a voz embargada de emoção pungente e sincera.
— Isto é Umbanda fia e Umbanda, como caboclo disse, é parceria: quando suncê não está bem e entrega o pito impregnado de energias não muito positivas para caboclo, ele então, quando pega este pito das suas mãos, agradece a suncê pela oportunidade que suncê está dando a ele de trabalhar junto a Tupã objetivando a sua melhora energética, vibracional.
— Nossa pelo que o senhor me diz a Umbanda é parceria mesmo, hein?
— Com certeza fia e é por isso que cada vez que um mano caboclo pede o pito de volta para seus cambone ele só tem a agradecer a este.
— Mas o ideal, quando o cambone não está bem, é fazer sempre preces, pedir auxílio a alguma entidade e ficar vigilante para sua vibração não cair e, assim, dificultar o trabalho das entidades, não é assim?
— Certamente não é fia!?! Mas este caboclo sabe que a filha põe em prática aqui no terreiro muito do que acabou de perguntar pra caboclo, não é verdade?
— Infelizmente não é sempre, mas graças a Deus acaba sendo a maioria das vezes, mas...
A voz de Lígia mal conseguia sair dos seus lábios tamanha era a emoção de estar aprendendo coisas tão básicas e importantes para o bom andamento de uma gira, mas de uma forma simples e prática. Mesmo percebendo a dificuldade de Lígia em falar, devido à emotividade, o caboclo incentivou-a dizendo:
— Pode falar fia.
E, fazendo um esforço grandioso para não embargar a sua voz com uma honesta emoção, foi que Lígia disse:
— Sabe o que eu acho mais lindo na Umbanda em relação a tudo isto que o senhor acabou de revelar para mim?
— A voz de suncê está embargada não é fia? Embargada de singela emoção por contemplar a prova do que disse Jesus sobre a simplicidade da misericórdia e benevolência das coisas de Deus materializada na religião de Umbanda pela presença de um simples charuto de caboclo, não é verdade fia?
As lágrimas de agradecimento por estar tendo aquela preciosa conversa com o caboclo deslizavam aos borbotões pela face de Ligia e esta emoção tão bonita e sincera a impedia de proferir qualquer resposta em relação à indagação feita pela entidade e ela, assim, só pôde respondê-lo positivamente acenando com a cabeça.
O caboclo então continuou a conversa dizendo:
— Caboclo agradece a Tupã pela parceria entre suncê e este caboclo e respeita cada lágrima de gratidão ao Criador que está deslizando pelo seu rosto, mas deve solicitar licença por um breve instante neste seu processo de agradecimento para pedir a suncê que devolva o pito deste caboclo para que ele possa participar de mais uma roda de descarrego em nome da caridade ao próximo.
As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto de Ligia e ela, assim, só pôde estender as mãos para devolver o charuto sem nada conseguir dizer a entidade.
A entidade pegou o charuto nas mãos, deu as costas para Ligia, andou um passo a frente e ficou parado de costas para sua cambone.
Talvez fosse para substituir um pouco daquelas lágrimas de alegria por um sorriso singelo feito da mesma emoção, talvez não, o fato foi que o caboclo novamente virou-se de frente para Ligia e disse:
— Pensou que caboclo houvesse se esquecido desta vez não é fia Ligia? Mas este caboclo não esquece nunca de agradecer a suncê por haver segurado por mais uma vez o pito dele. Que Tupã abençoe em dobro toda a atenção que suncê dispensa a este caboclo nesta nossa parceria e que seja abençoada também a parceria que Tupã tem com todos nós através da nossa sagrada e amada religião de Umbanda.
Ao que Lígia, já um tanto refeita em suas emoções, respondeu:
— Que assim seja!!!!!





Mensagem de um caboclo canalizada por Pedro Rangel em 27/01/2010

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A história de Pai Joaquim de Cambinda


Era o final do século XVII, costa oeste da África, em uma aldeia de Cambinda. Com apenas 5 anos de idade, Pai Joaquim assistiu a aldeia ser invadida pelos escravagistas, que mataram sem piedade todos aqueles que não 'seviam' para o comércio. 
Juntamente com seus pais foi colocado com outros negros no porão de um navio, rumo ao Brasil.
Devido às péssimas condições deste porão, a falta de comida e água potável, muitos desencarnaram na viagem, entre eles, os pais de Pai Joaquim , que foram jogados ao mar, assim como todos aqueles que 'morriam' durante o trajeto.

Chegando ao Brasil, litoral da Bahia, Pai Joaquim foi vendido e levado a uma fazenda de cacau. Além de cacau, plantavam também café e cana de açúcar. Lá chegando, recebeu o nome de Joaquim, mas era chamado mesmo de 'neguinho'.

Embora muito criança ainda, trabalhava juntamente com os outros negros na lavoura, o dia inteiro. Não havia tempo nem vontade para brincadeiras. À noite, cansado da lida, deitava na senzala e deixava o pranto aliviar a saudade que sentia de sua aldeia, seus pais, seus amigos da África. O sono chegava e antes do sol surgir, já estava de pé para mais um dia como todos os outros.

Ainda em Cambinda, seu pai era o curandeiro da aldeia e desde cedo passou a ele o conhecimento que podia absorver sobre as ervas e seu poder de cura. 

Na fazenda, continuou aprendendo com uma negra já velha, que usava as ervas para tratar os escravos.
Intuído por seus guias espirituais, com quem já tinha contato, seguiu pesquisando e descobrindo novas ervas e raízes e como utilizá-las para a saúde de todos.

Quando tinha já 12 anos, a filha mais nova do Sinhô adoeceu gravemente e não havia tempo para buscar um médico. Os brancos já tinham conhecimento de seu poder com as ervas e, embora relutantes, entregaram a Sinhazinha aos seus cuidados. Com o auxílio de seus amigos espirituais, Pai Joaquim restabeleceu a saúde da moça e ganhou a confiança do patrão, sendo sempre requisitado a partir de então, a cuidar da saúde da familia da Casa Grande.

Cresceu e tornou-se um negro forte e saudável, sendo escolhido então para ser um dos negros reprodutores da senzala, ajudando o Sinhô a aumentar seu contingente de escravos. 
Como 'médico' e reprodutor, adquiriu alguns privilégios, como sair da senzala e morar em uma cabana, só para si. Porém, não tinha o direito de ter uma companheira.

MªRedonda (desenho feito pela Débora, 
filha do Cavalho de Pai Joaquim)
Apaixonou-se por uma escrava de dentro, ama de leite dos filhos da Sinhá e que todos os dias ia ao ribeirão lavar a roupa. Era lá que se encontravam às escondidas, até que alguém os denunciou.
A partir de então, ela foi proibida de sair da Casa Grande e, com 28 anos, desencarna por pneumonia. Hoje, ela trabalha em nossa casa, na Falange dos Pretos Velhos, com o nome de Maria Redonda.

Quando já estava com quase 40 anos, Pai Joaquim adotou e criou como filha, uma mulatinha, filha de uma escrava com o Sinhô, que passou a morar com ele e para quem ensinou tudo que sabia sobre as ervas.
Hoje, espírito, se chama Nina e auxilia Pai Joaquim na adminsitração desta casa, intuindo a esposa de seu 'cavalo'.

Pai Joaquim era também o guia espiritual dos escravos, orientando-os sobre as verdades do espírito e passando a eles o conhecimento que recebia de seus guias.
Desencarnou naturalmente, aos 74 anos de idade, e finalmente pôde reencontrar sua companheira, com quem vive até os dias de hoje.


Quando a Umbanda surgiu, no Brasil, Pai Joaquim (após cerca de 30 anos de estudo e preparação), engajou-se à Linha dos Pretos Velhos.
E hoje, ao contar mais uma vez a sua história, revelou que seu 'cavalo' hoje, foi o seu Sinhô, da época da escravidão.

- Ontem eu o servi, hoje ele me serve! - disse ele, finalizando a história.

Saravá, Pai Joaquim de Cambinda!

Saravá a todos os Pretos Velhos!

Mineiro Boiadeiro

Mineiro Boiadeiro, esse mineiro, como é normalmente chamado, vem deu ma peregrinação lá das bandas de Minas Gerais.

Conhecido como Mineiro de Lorena por ter vivido a maior parte de sua vida terrena por estas bandas.

Como todas as entidades desta linha(como linha intermediária), ele trabalha na linha da direita e diretamente ligado à linha da esquerda.

Por ser uma entidade de linha intermediária, ele tem livre passagem por todas as camadas das linhas conhecidas, e também daquelas que não tomamos conhecimento.

Por conseqüência disso, é uma entidade que tem seus trabalhos em todas as direções.

Quando de sua passagem por essa vida, ele foi um grande tocador de boiada, vaqueiro bom de laço e também muito bom de copo, de onde herdou o codinome de mineiro bêbado.

Viveu por muito tempo a tocar a sua boiada pelos campos de Minas e sul do nosso país.

Foi também muito bom com as mulheres, garanhão por natureza, não deixava passar nenhuma prenda sem que com ele passasse um tempo.

Hoje, no astral, ele ainda vem com o mesmo biotipo de sua última vida na terra, como caboclo boiadeiro, vem em nosso socorro, e em socorro de todos os seres aflitos e injustiçados fazendo assim com que todos os males a nós direcionados sejam levados nas patas de sua boiada para os campos longe do alvo ao qual foi enviado.

Por ser uma entidade de força incomum, vem sempre em auxílio das forças do bem, e com a ajuda de outras entidades da mesma linhagem alcançam com firmeza todos os seus propósitos.

Materiais usados em seus trabalhos: Velas vermelhas, charutos, cachaça, punhal, chifre de boi.

Local de entrega: Encruzilhada de caminho de campos.

CHICO BAIANO

É DA BAHIA MEU PAI

Ele nasceu Francisco, mas cedo virou Chico.

Nascido em família pobre viviam modestamente no sertão baiano, seus pais lavradores, seus nove irmãos, um velho cachorro que outrora era de caça, mas há muito tempo nada mais havia para caçar.

Chico vivia em meia a seca e a miséria do sertão.

Era um menino esperto e querido por todos do povoado.

Não tinha estudo, mas era esperto que só.

Estava sempre pronto a ajudar do jeito que fosse.

Mas por vezes Chico sumia e ninguém conseguia achar o menino.

Voltava no outro dia e encontrava pai e mãe desesperados, não raro apanhava por isso.

Contava que se embrenhava no mato e acabara por encontrar vários indiozinhos, com os quais fizera sólida amizade.

A família jamais acreditava nele, pois todos sabiam que índio por ali não tinha há décadas.

Outras vezes o menino vinha falando numa língua estranha, e o povo achava que tava ficando demente Chico sumia com bastante freqüência, e alem dos amigos indiozinhos imaginários agora dizia conhecer velhos escravos.

E de fato aquelas terras já haviam sido prosperas e muitos escravos passaram por lá, mas isso também acabara com o tempo.

E assim o menino Chico ia crescendo, e cada vez mais preocupando a família.

Será que o menino tava ficando louco?

Um dia a avó de Chico ficou doente, então o pai do menino mesmo tendo enorme dificuldade o trouxe para morar com eles “onde comem dez comem onze”.

Foi então aconteceu um fato que marcaria profundamente o menino.

Numa noite de lua sua vó passava muito mal, então ele se meteu no mato e quando voltou trazia consigo varias ervas, que pediu a sua Mãe para transformá-las em chá.

Sua vó tomou a beberagem e sarou por completo.

Para alegria de toda a família.

Mas como é que um menino de 7 anos poderia conhecer tais ervas?

Em sua inocência Chico confessou que foram seus amigos índios que lhe ensinaram.

Dessa vez ninguém ousou bater nele.

E sua vó que até então nada sabia das histórias, chamou Chico do lado e segredou:

“_ meu filho isso que tu vê não é ser vivente, mas espíritos que te acompanham, segue eles meu neto, pois são de luz, e se estão com tu é porque é de seu merecimento”.

E assim fez.

Chico sempre no mato onde ninguém sabia e lá foi aprendendo coisas.

O tempo passando ele já adolescente, ajudando e dando conselhos a toda gente, era mal de quebranto, era verme, era mal de amor, tudo vinha parar no pé de Chico.

A notícia se espalhou e muitos vieram ter com Chico e para todos, ele tinha um conselho, uma reza, uma planta.

Ate que o coronel dono das terras soube da historia e nada gostou.

Resolve ter com o pai do menino, disse que em suas terras feiticeiro não vivia e acompanhado de capangas exigiu: ou o menino se mudava ou ele expulsaria a família toda.

Não tendo escolha mesmo a contra gosto da família o jovem se foi numa noite estrelada, tendo como testemunha e companhia dos amigos que só ele via.

E assim foi seguindo sertão adentro, ajudando a quem quer que fosse e recebendo comida e amor como paga.

Não viu a infância passar, também nada percebeu da adolescência, e virou adulto sem perceber.

Não tinha conta de quantas cidades conhecia, foram anos de peregrinação e saudade da família, mas sabia que pai, mãe, a avó, e alguns irmãos já estavam no plano espiritual, pois em sonho sempre que alguém dos seus ia falecer ele via um homem com roupa de palha e uma linda mulher vestida de vermelho trazendo pela mão o parente que se ia.

E Chico chorava sozinho e pedia a DEUS proteção para eles.

Agora Chico se estabelecera numa casa de pau a pique no meio do mato.

E muita gente do local acorria ate ele, e sempre que isso acontecia, ele via seus amigos espíritos, e muitas vezes, via que eles entravam em seu corpo e ele a tudo assistia, maravilhado e agradecido.

E assim a fama do já então pai Chico se espalhava pelo sertão afora.

Hoje à noite está linda como a muito ele não via, seus amigos do mundo espiritual mostram que ele terá visita.

E assim ocorre; não tarda a aparece por lá um velho e rico senhor acompanhado de seu neto que esta muito doente e que doutor nenhum consegue lhe ajudar.

Chico percebe que o menino esta acompanhado de espíritos maus.

Mas ele pede força a Deus e aos seus mentores, e com rezas, folhas, e certos apetrechos, consegue como por milagre curar o menino.

O velho fazendeiro chora emocionado e só agora Chico percebe que ele não lhe é estranho.

Sim!Trata-se do fazendeiro que expulsou o então menino Chico de suas terras.

O homem também descobre isso e de joelhos pede perdão.

Chico emocionado diz ao velho homem que todos na terra merecem perdão e que não seria ele soldado de Oxalá a negar.

De tão contente o fazendeiro implora a Chico que volte para a velha fazenda e assuma parte das terras da fazenda.

E assim foi feito, ao retornar ele transformou a casa dos falecidos pais em um terreiro de Umbanda que funcionou ate o dia em que ele foi passear na mata para não mais voltar.

Ninguém achou o corpo dele e a noticia se espalhou: Chico se encantara!

Dizem que muitas pessoas em noite de lua ouvem o seu canto e suas rezas alegres.

O tempo passa rápido e Chico agora mora em Aruanda, tem muitos filhos que lhe servem de aparelho.

Incorpora em todos com amor e carinho e procura continuar levando avante a bandeira da caridade.

Na giras de Baiano ele é sem duvida uma das entidades mais alegres e prestativas.

Tem especial predileção por uma moça filha de Oxum que ele sabe ser ótima médium e carregar linda baiana; e embora a moça tema a incorporação, tem missão e logo será também médium ao lado do pai que é cavalo de Chico Baiano.

E assim segue a Umbanda com seus espíritos de luz e sempre prestando a caridade.

SARAVA A BAIANADA

SALVE CHICO BAIANO!!!

Autor: Cássio Ribeiro