Maria, 48 anos. 5 filhos. O mais novo com 4 anos. Seu mais velho, fez 11 ano ano passado.
Trabalha quando consegue, uma faxina aqui e ali. Seus problemas de saúde, impedem de esforço extremo.
Mas, ela não está preocupada com sua saúde. A maior e, única preocupação, é fazer o máximo para seus filhos crescerem bem e com saúde.
Sua casa (podemos chamar de casebre), espaço para todos é o que falta.
Uma pequena sala que, durante a noite, se transforma em quarto. Colchões sobre papelão, viram camas confortáveis (Se é que isso seja possivel).
Sua cozinha, composta de pia, uma geladeira que só fica fechada, quando amarrada. Seu armário de mantimentos, encontrado no lixo, pregado na parede de madeira. O fogão de lenha, quando funcionando, enche a casa de fumaça.
O seu único banheiro, não tem chuveiro (é muito caro).
O vaso sanitário sem descarga, foi doado por uma pessoa.
A casa, coberta com telhas de amianto, montado por diversos pedaços. Porém, a chuva insiste em entrar, por qualquer espaço possível.
Mas Maria é forte. Pelo menos, não aparenta fraqueza. Ela engole as dores, engole seu sofrimento.
Um sorriso de qualquer dos filhos, dá a ela uma energia mágica.
Um dia Maria passava em uma rua, em busca de doações. As negativas eram muitas. Andando debaixo de sol quente, carregando seus filhos debaixo do braço, Maria passa por uma porta, quando uma senhora chama por ela.
Ao se aproximar, a senhora pergunta:
-Do que a senhora precisa ?
Maria humildemente, responde:
-Dona, o que a senhora puder me dá, eu vou aceitar de coração.
A senhora pediu para aguardar. Entrou em casa e, após um tempo, ela volta com algumas sacolas contendo alimentos e, uma caixinha de madeira entalhada.
Maria já com os olhos lacrimejando, não sabia como agradecer. Mesmo assim, um pouco atônita, pediu obrigado em seu nome e, em nome dos seus filhos.
A senhora disse de imediato, que ela não precisava agradecer. Que tudo que recebeu, estava guardado para ela. Que ela fizesse bom uso.
Mais uma vez, ainda sem entender nada, Maria agradeceu. Antes de sair, Maria perguntou qual o nome da senhora ? Quero falar seu nome, nas minha orações a noite.
A senhora respondeu:
- Meu nome é Maria
Maria espantada com a coincidência, disse sorridente:
- Meu nome também é Maria.
A senhora disse:
- Eu sei. Por isso guardei essas coisas para você.
Maria, novamente sem entender nada, agradeceu e foi embora. Feliz pelo dia próspero. Andando mais rápido, para poder fazer a comida que ganhou para seus filhos, ela volta para casa.
Já fazia tempo que eles não comiam com fartura.
Chegando em casa, Maria colocou as coisas no seu único armário. Encantada e, ansiosa para usar seu fogão de lenha.
Começou a preparar a comida. Arroz temperado com sal. Feijão com carne seca, um pedaço de paio ( não podia usar tudo. Tinha que guardar para outros dias). Mas, depois de tempos difíceis, não custava esbanjar um pouco.
Cozinhou algumas sobrecoxas. E para fechar com chave de ouro, alface com cenoura.
As crianças eram sorrisos de alegria. Maria, não sabia se chorava de alegria ou, se chorava pela graça recebida.
Ao terminar de comer, Maria como sempre, inicia a arrumação das camas para deitar.
Mas, pelo menos essa noite, Maria fazia com satisfação. Seus filhos alimentados, era tudo que poderia acontecer de melhor.
Após colocar todos na cama e, vê-los dormir com um discreto sorriso de felicidade, Maria também resolve deitar.
Mas, não poderia dormir, sem antes agradecer pelo dia maravilhoso.
Ela de joelhos, começa seu Pai Nosso e sua Ave Maria e, agradece pelo alimento dado pela D. Maria.
Porém, Maria lembra da caixinha. Foi conferir o que era. Achou que seria um brinquedo para as crianças se distrairem.
Mas, ao abrir a caixinha, havia dentro muitas notas de dinheiro com diversos valores . Uma pulseira dourada. Um anel com uma pedra vermelha brilhante .
Também tinha dentro, um cordão dourado feminino.
Maria sem saber o que pensar,digamos, perdendo o controle, já não sabia o que fazer.
Se não fosse tão tarde da noite, sairia para devolver o que estava na caixa.
Esperou o dia amanhecer. Nem conseguiu dormir direito. Pegou seus filhos como sempre. Deu a eles, o café com leite matinal. Arrumou as crianças e saiu imediatamente, de volta ao endereço da nobre senhorinha.
Após longa caminhada, chega ao portão. Bate por alguns minutos, que para ela, foram horas.
Ninguém atende, mas ela insiste
Até que uma moça no portão ao lado, abre a porta e, dia a maria:
- Bom dia senhora. Posso ajudar ?
A senhora está batendo nesse portão porém, nessa casa não mora ninguém há anos.
Maria atônita, sem entender, conta a moça o que aconteceu. Mostrando a caixa a ela.
Ela ouve maria e, com os olhos cheio d’água, diz para Maria.
- Entre aqui. Vou servir um café a senhora e as crianças. Quero contar para a senhora o que houve.
Maria entra. Senta no sofá meia sem jeito. Não sabia o que estava por vir. A moça, coloca na mesa da cozinha, um farto café. Tinha de tudo. Frutas, pães de dois tipos, leite, aveia, queijo, mortadela.
Maria nunca havia visto uma mesa com tantas coisas. Suas crianças, apesar de alimentadas, não resistiram à tentação.
Nesse momento, enquanto tomavam café novamente, chega na cozinha o marido da moça. Ela diz a ele.
- Jorge, essa senhora bateu no portão ao lado. Olha a caixa que ela tem nas mãos !!
O marido ao ver a caixa, começa a chorar como criança. Pede desculpas a Maria e, sai da cozinha sem rumo.
Maria que já não sabia o que pensar, ficou mais perplexa ainda.
Ela já se imaginava, sendo presa acusada de qualquer crime. No mínimo quem sabe, por furto.
A moça, ainda emocionada, esperou Maria e as crianças se alimentarem e, disse:
- A senhora não imagina a satisfação que tenho, ao receber sua visita.
Durante alguns anos, esperamos por esse momento, tão especial. Eu nasci na casa ao lado. Vivi ali, até que eu casei. Ali naquela casa, na parte dos fundos, era um terreiro de umbanda.
(Maria não tinha a mínima noção do que seria um terreiro, quanto mais, de umbanda)
E a moça, continuou. Peço desculpa a senhora. Minha emoção está tão intensa que esqueci de me apresentar. Meu nome é Isaura. Minha mãe, também morou na casa ao lado, desde muito pequena. Morava ela, minha avó e, meu avô.
Eles fundaram o terreiro e, quando minha avó e meu avô faleceram, minha mãe ficou na direção da casa.
Durante anos, minha mãe tocava semanalmente. Vinham pessoas de todos os lugares. A casa era cheia.
Crianças corriam para todos os lados, quando tinha as festas.
Um certo dia, o caboclo da minha mãe, após suas consultas, nos disse que o tempo dele, estava próximo.
Não entendemos muito, ele sempre deixava alguns recados para a casa e, poucos entenderam, a importância do que disse.
Na semana seguinte, a pombogira da minha mãe, ao chegar na sua festa, nos disse que tinha alguns recados que deveriam ser seguidos a risca.
Maria ouvinte, não estava entendendo muito. Mas, a pobreza, não significava falta de educação e, dando toda a atenção, ouvia cada palavra.
E Isaura prosseguiu:
- Seu primeiro recado foi que a casa, estaria fechada a partir daquela data.
Alguns chorando, ouviam em silêncio total. O terreiro parecia vazio, tão grande era o silêncio das pessoas.
Depois ela nos disse:
-"Vai bater nesse portão, uma senhora de nome Maria. Ela vem com crianças. Podre na vida mas, rica de espírito.
Para que não haja erro de pessoa por vocês, ela vai trazer nas mãos minha caixinha de madeira.
Todos aqui, sabem dessa caixinha e, como eu cuido dela.
Essa será a prova do que digo.
Maria parecia estar vendo um fantasma, de tanto espanto. Se tivesse um buraco, ela se enfiava dentro com as crianças, para sumir dali.
Não era medo. Era uma mistura de espanto com, não estou acreditando em nada.
Mas, não arredou o pé
Para fazer Maria perde é o chão de vez, a moça diz:
- D.Maria, minha mãe faleceu há anos. Meu pai e meus avós, mais ainda. No portão que a senhora bateu, não mora ninguém há muito tempo.
As coisas do terreiro, estão lá dentro. Eu e meu marido, não conseguimos entrar de tanta saudade.
A ordem da Dona Mulambo foi. Quando essa senhora com a caixinha aparecer aqui, ela vai passar a morar nessa casa.
E eu voltarei até vocês. Portanto, não estou dizendo adeus. Estou dizendo até um dia.
Nós vamos nos encontrar novamente.
Desabou na cabeça de Maria, uma bomba atômica, que nunca havia caído. Com os olhos arregalados, ela não sabia para onde olhar.
As crianças sem nada entender não imaginavam o que estaria por vir.
Maria quase sem palavras, disse:
Moça, eu agradeço sua atenção. Agradeço seu carinho com meus filhos. Mas, não sei o que dizer. Minha vida sempre foi muito difícil. Passei momentos, que a senhora não tem a mínima noção. Eu ficaria horas aqui, contando trechos da minha vida e, dos meus filhos.
E digo a senhora, na fé que tenho eu Deus. Essa senhora me atendeu no portão. Falou comigo com muito carinho. Me deu tudo que eu precisava momento. Meus filhos, estão sorrindo até agora, da comida que comenram ontem.
Dormiram sem chorar de fome.
Deus é testemunha do que digo. Ela falou comigo.
Foi quando Isaura se levantou. Pediu a Maria para aguardar. Foi até um cômodo da casa e, voltou de lá, com foto emoldurada.
Perguntou a Maria:
- Foi essa senhora que atendeu ontem?
Maria rapidamente, até com um pouco de alegria, e disse:
- Sim. Foi ela mesma.
De imediato a Isaura diz: Essa era minha mãe que faleceu.
Então D. Maria, eu preciso seguir o que foi pedido por Dna. Mulambo. A senhora pegue tudo que tem. Meu marido vai ajudar. Traga tudo seu e, venha morar na casa ao lado. Ela é sua a partir de hoje. Não se preocupe com mais nada. A casa é sua.
Maria, não sabendo mais o que dizer ou fazer, disse a moça.
- Minha senhora, 8 anos atrás, um velhinha me parou na rua e, vestia uma roupa preta, com uns desenhos que não sei dizer, de cor amarela. Ela usava uns colares misturados.
Ela me disse que um dia minha vida mudaria. Que meu marido iria me deixar com meus filhos e, sumiria no mundo.
Eu tive raiva da velha. Ela não me conhecia e, vinha opinar sem que eu perguntasse nada a ela.
Minha vontade era bater nela, por falar mal do meu marido. Mas, passado um tempo, ele, foi embora mesmo.
Isaura mais uma vez, pede a Maria para esperar. Volta ao quarto e, traz uma roupa.
Maria mais que assustada, diz que a roupa era igual a essa.
Não havia mais o que dizer e, contestar. Maria se convenceu de que, a sua vida sofrida, se encerrava ali.
Para finalizar, a moça diz:
Dna. Maria, quem tem e, acredita em Dna. Mulambo, jamais ficará na rua por toda a vida.
Ela é a dona da casa e, quem tem casa, não deixa os seus na rua.
A vida de Maria mudou. A sua, também pode mudar.
Só precisa de uma coisa: Acredite!!
Copie se desejar, na integra.
Texto: Ogan Asogun Alcides de Igbo
Não modifique.
Não exclua a autoria.
Lei N°. 9610. De 19/02/1998.
#Povodafloresta