A baiana chegou da Bahia…
Rosalva caminhava com dificuldade equilibrando os baldes com água que trazia, um sobre a cabeça e mais um em cada mão. Essa era sua tarefa de todas as manhãs, seguia até a cacimba que ficava a cinco quilômetros de seu pequeno povoado, enchia os três baldes que serviriam para as tarefas diárias de sua família e voltava cantarolando pelos caminhos secos e arenosos do sertão nordestino. Normalmente ia e voltava com outras pessoas que faziam o mesmo percurso, mas hoje, tinha pressa, era dia de procissão na igreja de São João e ela não queria perder tempo, despediu-se dos acompanhantes e partiu com pressa. Na flor de seus dezesseis anos, sonhava encontrar alguém para casar e nada melhor que a quermesse da paróquia. Ia fazendo planos de namoro e casamento com alguém que encontraria logo mais a noite. De repente dois homens pularam em sua frente. Seu coração disparou. Eram cangaceiros. Conhecia as histórias que se contavam a respeito deles e sabia que teria de fugir imediatamente, jogou os baldes e precipitou-se em uma corrida desesperada. A perseguição foi difícil, a menina corria muito, mas os homens conseguiram enfim alcança-la. As lágrimas e pedidos de clemência foram inúteis. Rosalva foi impiedosamente deflorada por ambos. Jogada no chão tentando cobrir a nudez com os restos do vestido rasgado, encarou seus algozes que riam satisfeitos: – Vou com vocês! – falava sério, com o olhar vidrado de ódio – O que mais me resta depois do que me fizeram? Os homens entreolharam-se surpresos: – O que tá dizeno menina? – Quero seguir seu bando, não posso mais casar, estou perdida! Vou com vocês. Assim Rosalva entrou para a vida errante do cangaço. Durante vários anos fez parte do grupo que perambulava pelas cidades fazendo assaltos que garantiam a sobrevivência do grupo. Não aprovava as mortes espalhadas pelo bando e por isso nunca usara nenhuma arma, fazia apenas o “apanhamento” que era como eles chamavam o furto praticado depois de algumas chacinas. Foi em um desses ataques que tudo se precipitou. Um pequeno sitio foi invadido por eles e dois homens foram mortos. Rosalva recebeu a ordem de fazer o apanhamento, como de hábito. Ao entrar no quarto para exercer sua tarefa encontrou uma mulher, grávida, totalmente descontrolada que empunhava uma grande faca e partiu para cima dela. A lâmina provocou um corte profundo em seu braço fazendo com que gritasse de dor. Roxinho que estava em outro cômodo correu para lá a tempo de chutar a mão da mulher, o que fez com que a faca voasse por sobre a cama e a mulher em desequilíbrio fosse ao chão. O cangaceiro ao perceber a avançada gestação, entregou sua garrucha para Rosalva: – Mate a vagabunda, fiz promessa de não matar prenha! Ela olhou pra o companheiro espantada. – Não posso, nunca matei ninguém! – Sempre tem primeira vez, mate logo. Essa franga te cortou! Ela sabia que as ordens de Roxinho não deviam nunca ser desobedecidas. Empunhou a arma e apontou para a cabeça da mulher. Esta, acuada e pronta para a morte, olhou com ódio para ela: – Mate infeliz e leve para o inferno o pecado de ter matado dois! Rosalva, trêmula, engatilhou. Em uma fração de segundos levou o cano para a própria fronte e disparou. Acabava aí a história de uma mulher que nunca conseguiu ser feliz.
Hoje, nossa companheira de todas as horas traz na terra o nome de Maria Olindina, na linha dos baianos é só sorriso e alegria, deixou para trás a vivência sofrida em terras nordestinas para ser nossa mãe, amiga e confidente para todas as horas.
Hoje, nossa companheira de todas as horas traz na terra o nome de Maria Olindina, na linha dos baianos é só sorriso e alegria, deixou para trás a vivência sofrida em terras nordestinas para ser nossa mãe, amiga e confidente para todas as horas.
Sarava Dona Maria Olindina da Luz