História de um Preto-Velho
Noite na senzala. Os escravos amontoam-se pelo chão arranjando-se como podem. Engrácia entra correndo  e vai direto até onde Amundê está e o sacode: - A sinhazinha está  chamando, é urgente! - O Escravo é conhecido pelas mezinhas e rezas que aplica a todos seus irmãos e o motivo do chamado é justamente esse. O filho de Sinhá Tereza está muito doente. É apenas uma criança de cinco anos e  arde em febre há dois dias sem que os médicos chamados na corte  consigam faze-la baixar. Sem ter mais a quem recorrer, no desespero  próprio das mães, resolveu 
seguir  o conselho de sua escrava de dentro e chamar o africano. Aproveitando a  ida de seu marido à cidade, ele jamais concordaria, manda que venha.  Sabendo do que se tratava o homem foi preparado. Levou algumas ervas e um grande vidro com uma garrafada feita por ele e cujos ingredientes  não revelava nem sob tortura. Em poucos minutos adentram o quarto do  menino e Amundê percebe que precisa agir com presteza. Manda que  Engrácia busque água quente para jogar sobe as ervas que trouxe enquanto  serve uma boa colherada do remédio ao garoto. Dentro de uma bacia  coloca a água pedida e vai colocando as folhagens uma a uma enquanto  reza em seu dialeto. Ordena que desnudem a criança e carinhosamente a  coloca dentro da bacia passando-lhe as ervas no pequeno corpo. Nesse  instante a porta se abre e surge o Sinhô Aurélio acompanhado do padre da  cidade. Tereza grita e corre até o marido desculpando-se. O padre dirige-se a ela com ferocidade: -  Como entrega seu filho a um feiticeiro? - dirigindo-se ao marido - Diga  adeus ao menino, após passar por essa sessão de bruxaria ele morrerá sem  dúvida! Tereza corre até o filho e o cobre com um cobertor enquanto o  marido 
ordena  que o escravo seja levado imediatamente ao tronco onde o capataz  aplicará o castigo merecido. - Engrácia, acorde todos os negros para que  vejam o fim que darei ao assassino de meu filho! Todos reunidos no  grande terreiro ouvem a ordem dada ao capataz: - Chibata até a morte! E  vocês - aponta todos os escravos - saibam que darei o mesmo fim a todos  que ousarem chegar perto de minha família novamente. As chibatadas são  dadas sem piedade, Amundê deixa escapar urros de dor entremeados com  rezas o que somente aguça a maldade do capataz. Lágrimas copiosas correm  pelas faces de muitos escravos. Após duas horas de intensa agonia o negro entrega sua alma e seu corpo retesa-se no arroubo final, finalmente  descansará. O silêncio do momento é cortado por um grito vindo da  principal janela da casa grande: - Aurélio, pelo amor de Deus - é Tereza  com o filho nos braços - o menino está curado, a febre cedeu e ele está  brincando! Assim morreu Amundê conhecido em nossos terreiros como o  velho Pai Francisco de Luanda. 
seguir  o conselho de sua escrava de dentro e chamar o africano. Aproveitando a  ida de seu marido à cidade, ele jamais concordaria, manda que venha.  Sabendo do que se tratava o homem foi preparado. Levou algumas ervas e um grande vidro com uma garrafada feita por ele e cujos ingredientes  não revelava nem sob tortura. Em poucos minutos adentram o quarto do  menino e Amundê percebe que precisa agir com presteza. Manda que  Engrácia busque água quente para jogar sobe as ervas que trouxe enquanto  serve uma boa colherada do remédio ao garoto. Dentro de uma bacia  coloca a água pedida e vai colocando as folhagens uma a uma enquanto  reza em seu dialeto. Ordena que desnudem a criança e carinhosamente a  coloca dentro da bacia passando-lhe as ervas no pequeno corpo. Nesse  instante a porta se abre e surge o Sinhô Aurélio acompanhado do padre da  cidade. Tereza grita e corre até o marido desculpando-se. O padre dirige-se a ela com ferocidade: -  Como entrega seu filho a um feiticeiro? - dirigindo-se ao marido - Diga  adeus ao menino, após passar por essa sessão de bruxaria ele morrerá sem  dúvida! Tereza corre até o filho e o cobre com um cobertor enquanto o  marido 
ordena  que o escravo seja levado imediatamente ao tronco onde o capataz  aplicará o castigo merecido. - Engrácia, acorde todos os negros para que  vejam o fim que darei ao assassino de meu filho! Todos reunidos no  grande terreiro ouvem a ordem dada ao capataz: - Chibata até a morte! E  vocês - aponta todos os escravos - saibam que darei o mesmo fim a todos  que ousarem chegar perto de minha família novamente. As chibatadas são  dadas sem piedade, Amundê deixa escapar urros de dor entremeados com  rezas o que somente aguça a maldade do capataz. Lágrimas copiosas correm  pelas faces de muitos escravos. Após duas horas de intensa agonia o negro entrega sua alma e seu corpo retesa-se no arroubo final, finalmente  descansará. O silêncio do momento é cortado por um grito vindo da  principal janela da casa grande: - Aurélio, pelo amor de Deus - é Tereza  com o filho nos braços - o menino está curado, a febre cedeu e ele está  brincando! Assim morreu Amundê conhecido em nossos terreiros como o  velho Pai Francisco de Luanda. Que Oxalá nos abençoe sempre