Comunidade Terreiro Caxuté | |
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Tipo | Espaço de Religião de Matriz Africana/Bantu |
Religião | Candomblé |
Sacerdotisa | Maria Balbina dos Santos |
Website | comunidadecaxuteblog |
Geografia | |
Localidade | Valença, Bahia, Brasil |
A Comunidade Terreiro Caxuté é um território de identidade bantu-ameríndia, que se constitui num terreiro de candomblé bantu fundado em 1994, pela sacerdotisa afro Maria Balbina dos Santos,[1] Mãe Bárbara de Cajaíba, Valença, Baixo Sul da Bahia, Costa do Dendê. Dentro da Comunidade Caxuté, são realizadas várias atividades afro-brasileiras e afro-ameríndia, tem a Escola Caxuté, a Associação Cultural e Religiosa (ACULTEMA). Tem como inquice (divindade) regente: Lembaranganga e Quitembo. Teve sua utilidade pública declarada pela lei municipal de Valença nº 2.257, de 1º de novembro de 2012. Está registrado na Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro FENACAB, sob o número 3445.
É justamente por entender a importância da autoafirmação como estratégia básica para manutenção da identidade e superação das desigualdades que o terreiro se constitui em um território que resguarda e atualiza um conjunto de sabedorias produzidas por sujeitos historicamente excluídos dos lugares oficiais de “poder”, onde se resguarda a ordem verticalizada a sociedade de consumo vigente. A Comunidade Caxuté vem ao longo dos últimos anos, construindo junto a uma série de parceiros, um conjunto de iniciativas que possibilite uma prática social e cultural para além da colonialidade, enraizada em uma cosmovisão construída e compartilhada pelos Povos e Comunidades de Terreiro oriundos da tradição Bantu, é neste sentido que propomos a realização da III Vivência Internacional na Comunidade Caxuté (VIVER TERREIRO). (2016, pag 1)
História[editar | editar código-fonte]
Fundado em 1994 por Mãe Bárbara e por seu primeiro esposo, Irênio Querino Barbosa, juntamente com Mãe Mira (Almira da Conceição), da Rua dos Cajueiros, que fundamentou e sacralizou todo o espaço religioso. Inicialmente funcionou na Rua das Flores, em Valença, mudando-se depois, no ano de 2000 para a Rua da Graciosa onde encontra-se até hoje.
Calendário anual[editar | editar código-fonte]
Méa Kambuká - Águas de Lemba de 1 a 16 de janeiro
Mulheres Caxuté: Encontro de Mulheres e das Relações de Gênero (geralmente ocorre no mês de março).
Festa "Kizoomba Maionga" - Malunda Kitembu - de 6 a 10 de agosto.
ENAFRO - Encontro Afro Ecumênico da Comunidade Caxuté de 1 a 4 de dezembro.A Escola Caxuté é parte integrante da comunidade cultural religiosa, é a primeira Escola de Religião e Cultura de Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia. A Escola Caxuté é um espaço educativo, onde jovens, adultos e crianças estão em constante interação na busca da melhor maneira possível de compreender o contexto de forma a melhor integrar-se na vida. O nosso grande desafio é possibilitar o acesso ao conhecimento oficial, buscando alternativas que permitam o desrecalque cultural e promovam a afirmação da nossa entidade cultural.
Pretende, como dizia Mãe Ondina, falecida Ialaxé na comunidade terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, ver as crianças de hoje, amanhã com anel no dedo e aos pés de Xangô. No universo Nagô, Oxumaré, representado pelo arco –íris com sua multiplicidade de cores, emergindo da Terra em seu transcurso para o além, é o Orixá que expressa a variedade dos destinos, as diferentes qualidades do axé, força vital, a multiplicidade da vida e de seu conhecimento.
Hoje o olhar para os mestres de capoeira, para as baianas de acarajé, para o samba de roda, para o zambiapunga, nos dá a certeza de que reavivar esses saberes, representa manifesto de resistência contra a violência das desigualdades. Procuramos atuar na interação das diferenças na busca do equilíbrio, da harmonia, da complementação. Para tanto buscamos uma educação baseada no apelo a todos os sentidos, onde as cores, sons, danças, roupas, culinária, banhos combinam-se na ação e expressão da elaboração, realização e comunicação de uma visão de mundo que ultrapasse os umbrais do texto."
Associação representativa[editar | editar código-fonte]
Associação Cultural e Religiosa Terreiro Caxuté Tempo Marvila Senzala do Dendê - ACULTEMA
Vivências[editar | editar código-fonte]
Com a finalidade de integrar-se a diversos segmentos da sociedade o Terreiro Caxuté promove vivências.
- A "Primeira Vivência Estadual Vivenciando a Comunidade Terreiro Caxuté" aconteceu em agosto de 2010; foi a primeira experiência em nível estadual, no Encontro de Educadores e Lideranças Quilombolas.
- A Segunda "Vivência Nacional Vivenciando a Comunidade Caxuté" foi realizada em 2012 em parceria com diversas universidades federais e estaduais do Brasil, promovida pelo 55º Congresso Nacional de Estudantes de Agronomia - CONEA.
- Já a última foi a “Primeira Vivência Internacional”, com a participação de estudantes e professores da Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, no Terreiro Caxuté, em 09 e 10 de agosto de 2014. Nesse evento, com uma programação voltada para encontros com convidados especiais, mostra de vídeos, exposição fotográfica e oferta de iguarias da culinária afro-baiana, o Terreiro Caxuté comemorou duas décadas de existência. Nessa ocasião, foi possível integrar o ritual sagrado a uma roda de conversa com docentes e discentes da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira – Unilab, campus dos Malês. Em roda de conversa com a sacerdotisa afro Mãe Bárbara, adeptos do Candomblé, intelectuais e simpatizantes puderam saber um pouco mais sobre Ancestralidade, Memória, Educação e Resistência do Candomblé Angola Bantu - Terreiro Caxuté. Na ocasião, houve uma inspiradora exposição fotográfica intitulada “Nos corredores da fé: na intimidade da Comunidade Terreiro Caxuté,” autoria do fotógrafo francês Richard Mas.[3]
- Depoimentos sobre a 1ª Vivência Internacional
“ | "A minha participação na festa do Terreiro foi ótima. O ambiente era de harmonia, convivência, amor e reconhecimento dos valores das crenças tradicionais africanas. O preconceito que muitas pessoas têm sobre esta religião, o Candomblé, não tem relação direta com as práticas que vi e vivi durante a minha experiência na Festa de Maionga; é uma festa sagrada que valoriza as crenças tradicionais africanas e reconhece as raízes dos ancestrais. O que me marcou foi flexibilidade, a simpatia, a vontade incansável da lutadora Mãe Bárbara, que conseguiu reunir todos os participantes num ambiente muito agradável. Não tem melhor e nem pior religião no mundo. A fé determina a pessoa na sua escolha." (Leonel Vicente Mendes - Guiné-Bissau – graduando em Humanidades da Unilab) | ” |
“ | "A minha experiência durante a “Festa da Maionga” é que o Candomblé não é assim como as pessoas falam e pensam que é uma religião do mal. Não é verdade, pois o que eu observei ao momento do culto são coisas normais. O que mais me encantou foi a Mãe Bárbara, uma mãe 100% acolhedora, honesta, simpática, e enfim uma mãe com coração puro, cheio de amor, que acolhe qualquer pessoa independente de sua religião" (Luís Fernandes Júnior - Guiné-Bissau – graduando em Humanidades da Unilab) | ” |
“ | "Participar da Festa da Maionga, nos dias 9 e 10 de agosto deste ano, foi uma experiência singular. Pude conhecer uma comunidade que professa o Candomblé, pela primeira vez. A tradição religiosa a que pertenço (presbiterianismo) não vê com bons olhos as religiões africanas: no meio evangélico-protestante há forte tendência à demonização dessas manifestações. Experimentei uma convivência respeitosa e fraterna e pude testemunhar a força dos elos étnico-comunitários que alimentam sonhos e ideais da Comunidade Caxuté, que resiste, com vigor, aos preconceitos que os descendentes africanos sofrem, no Brasil." (Dr. Paulo Sérgio de Proença — professor da Unilab) | ” |
Visitas internacionais - Intercâmbios[editar | editar código-fonte]
- Recebeu representantes do governo de Maputo, capital de Moçambique.
- Recebeu o casal de pesquisadores norte americanos, Case Waktikns (doutorando no departamento de geografia e antropologia na Universidade da Louisiana (LSU) nos EUA)e da sua esposa, a cientista política Kristin (Cristina) Wylie que é doutoranda no departamento de governo (ciências políticas) na Universidade do Texas (UT-Austin) nos EUA, os quais pesquisaram em 2 meses sobre o uso do dendê no Terreiro Caxuté, para sua pesquisa de doutorado.
- Recebeu o antropólogo português João de Pina Cabral, o qual gravou um documentário com Mãe Bárbara, chamado de "Estrada da Graciosa", que consta no acervo do Terreiro Caxuté.
Participações[editar | editar código-fonte]
- O Terreiro Caxuté e o Conselho Quilombola do Território do Baixo Sul participaram de uma Sessão Plenária da Câmara dos Lojistas (CDL) de Valença na Bahia, o deputado Luiz Alberto (PT/BA) do Baixo Sul declarou: “Estamos reafirmando o nosso apoio as associações e ao movimento social do Baixo Sul, para garantir o fortalecimento do programa de biodiesel, da agricultura familiar, das comunidades quilombolas, das comunidades de terreiros, aos pescadores, marisqueiras e para a luta de combate ao racismo e pelo fim das desigualdades”[4]
Utilidade Pública[editar | editar código-fonte]
Utilidade Pública Municipal:
- Lei Municipal nº 2.257 de 1º de dezembro de 2012. Diário Oficial do Município de Valença
Utilidade Pública Estadual:
- Lei n º 13.292, publicada no Diário do Legislativo nº 21.627 do Estado da Bahia
Prêmios e reconhecimentos[editar | editar código-fonte]
Nota 100 no PRÊMIO CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS - 2014 - Fundação Cultural Palmares[5]
Livros, monografia, artigos[editar | editar código-fonte]
- Terreiro Caxuté, Um Caminho na minha vida, da autoria do pedagogo Gilberto Magalhães. Universidade Estadual da Bahia. 2011.
- Mapeamento dos Espaços de Religião de Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia, lançado pela SEPROMI.
- Cotidiano e trabalho das marisqueiras e catadeiras de Valença-Ba (1960-2000), da autoria da Mestra Maria de Fátima Fernandes Brasão.
- Mãe Mira: a Estrela Negra da Costa do Dendê. Monografia de autoria de Taata Luangomina para obtenção do título de Bacharel em Humanidades (UNILAB).
- A Nzo e Nzambi.