quarta-feira, 30 de setembro de 2020
Egum ou Egum-gum
BOLAR NO ORIXÁ
BOLAR NO ORIXÁ
Povo do Oriente, Povo Cigano do Oriente
Povo do Oriente, Povo Cigano do Oriente
domingo, 27 de setembro de 2020
NO QUE CONSISTE O TRABALHO DE CURA DA LINHA DO ORIENTE NA UMBANDA?
NO QUE CONSISTE O TRABALHO DE CURA DA LINHA DO ORIENTE NA UMBANDA?
Pai Tomé responde:
O trabalho vibratório de cura dos mentores orientais na Umbanda consiste em criar e dirigir conscientemente vibrações de energias vitais a indivíduos afetados por doenças e outros distúrbios. Por intermédio da irradiação intuitiva, “acostados” em seus médiuns, o fluido vital é extraído do citoplasma de suas células. Isso é feito internamente, afrouxando-se a coesão molecular e projetando-se o ectoplasma liberado, pelo poder da vontade do mentor operante. Externamente, as vibrações dos cânticos, assim como as entoações das vozes humanas com palavras cadenciadas, frases e afirmações positivas e vivificantes, impregnadas da consciência de Deus, potencializam todo o procedimento. Como toda a Criação consiste em variadas frequências de vibração, e o som tem um poder muito grande, as palavras cantadas e proferidas inteligentemente não são apenas sons de comunicação ordinária, e sim extraordinário condutor mântrico de vibrações de pensamentos e energias curativas.
- do livro ESTRELA GUIA - O POVO DO ORIENTE NA UMBANDA. Pai Tomé / Norberto Peixoto.
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"AS FORMAS-PENSAMENTO QUE SUSTENTAM AS CORRENTES MENTAIS DO PLANO ASTRAL INFERIOR"
"AS FORMAS-PENSAMENTO QUE SUSTENTAM AS CORRENTES MENTAIS DO PLANO ASTRAL INFERIOR"
PERGUNTA - o que são as correntes astrais de pensamentos parasitas e como se dá a sintonia dos encarnados com essas emanações mentais?
RAMATÍS - As emanações mentais emitidas se aglutinam por similaridade. Quando várias mentes ressoam num mesmo diapasão, se constroem as formas-pensamentos grupais ou correntes mentais coletivas, muito usadas pelos magos de toda a história para interferirem intencionalmente nos planos etérico e astral. A importância da disciplina mental, dos símbolos externos usados como pontos focais de apoio às visualizações grupais, para formarem essas imagens etéreo-astrais, são fundamentos indispensáveis dos iniciados no ocultismo e na magia. Podeis entender isso como uma manipulação energética, mas que não dispensa a forma para que a mente possa atuar, pois o universo sutil, abstrato, imponderável, não vos é acessível pela falta de capacidade perceptiva e de ideação sem o suporte no mundo concreto.
As formas-pensamentos construídas pela população encarnada e que sustentam as correntes mentais do plano astral inferior são espontâneas, desconexas, indisciplinadas e densas. Atraem-se por similaridade de frequência vibratória que as enfeixam numa mesma onda. Chegam ao ponto de adquirir vida própria, pela intensidade e amplitude gigantesca que atingem quando a coletividade encarnada de vossas metrópoles da crosta adormece embalada por interesses comuns de sexo, gula, dinheiro, vaidade e satisfações materialistas variadas. Atraem para o seu fluxo magnético, como se fosse correnteza de um rio tempestuoso que arrasta as toras de madeira, levas de semi-adormecidos anestesiados que se locupletarão no sensório em localidades do Umbral inferior que com eles sintonizam. Muitos são"puxados"para os castelos medievais de prazer mantidos por organizações trevosas feudais que têm suas contrapartidas físicas nas casas noturnas, enfumaçadas boates e bares terrenos. Como se fossem bovinos em fileira adentrando o matadouro, aguardam o momento de serem "sacrificados" pelos capatazes - vassalos dos magos negros perdidos no passado.
Hipnotizados em espécie de transe, qual pássaro que não reage diante da serpente, são sugados em sua vitalidade que está potencializada pelo êxtase coletivo semiconsciente que alcançam nesses cenários lúgubres e concupiscentes. No entanto, como a sintonia se dá inicialmente pelo pensamento, que se manterá na densidade e "peso" específico do corpo astral, em faixa vibratória semelhante, podeis ir mudando gradativamente vossa casa mental, elevando vossa consciência e alterando vossos hábitos comportamentais, e consequentemente sutilizando vosso veículo astral.
A elevação não significa mudança de lugar no espaço como entendeis, mas transferência do foco de consciência, das coisas ligadas ao sensório do ego inferior, para as concepções espirituais dentro das leis de causalidade cósmica, que equilibram e harmonizam. É como se fôsseis vos tomando refratários às vibrações de uma ordem de baixos fenômenos ocultos que vos cercam, sintonizando as de categoria mais elevada. É necessário que essa reforma se concretize em vosso universo íntimo, para explorardes com segurança o imponderável ao plano físico, mas que vos cerca como se fosse unha à carne.
RAMATÍS - JARDIM DOS ORIXÁS
MÉDIUM: NORBERTO PEIXOTO
PODE HAVER MANIFESTAÇÃO DE ESPÍRITOS SOFREDORES NA UMBANDA?
PODE HAVER MANIFESTAÇÃO DE ESPÍRITOS SOFREDORES NA UMBANDA?
Existem chefes de terreiro que são contra a manifestação de Espíritos sofredores, mesmo em sessão mediúnica específica, justificando que podem “danificar” a sutil estrutura dos chacras dos médiuns que estão vibrados para “receber” os guias e protetores da Umbanda. Alegam também serem arriscadas tais “passagens”, em razão da baixa moralidade desses “estropiados”, pois fazem de tudo para “colar” nos aparelhos, que devem ser preservados. Devemos proceder assim?
RAMATÍS: É uma ilusão querer poupar os médiuns dessas manifestações, pois o contato com Espíritos sofredores de baixa moralidade poderá ocorrer pelo desdobramento natural do sono, por afinidade e “peso” vibratório correspondente, demonstrando que as atrações estão latentes no Espírito, prontas para aflorar tão logo as condições propícias se apresentem. Portanto, o que de fato os atrai é a falta de controle do próprio sensitivo sobre o apego inconsciente aos desejos carnais.
Se a atração é sentida, mesmo que o médium não sucumba a ela, não terá ele dominado completamente o desejo pelo prazer sensório. Ao ficar isolado, e não exposto às tentações de toda a espécie pelos dedicados diretores terrenos, deixando de passar pelas provações que o exercício da mediunidade oferece no intercâmbio com os Espíritos sofredores, não sairá triunfante nem terá garantia de que não sucumbirá e será completamente dominado pelos prazeres da vida material, pois os guias e protetores, com suas vibrações superiores, não poderão estar todo o tempo com seus pupilos, como fazem as babás zelosas com os bebês em praças e parques.
Constatem que, ao serem isolados dos sofredores que enxameiam no mundo do além, não são ajudados na verdadeira libertação, embora isso seja necessário para os viciados das sensações do corpo físico nos primeiros estágios de recuperação. A manutenção da condição vibratória de seus chacras e dos corpos sutis à “altura” dos guias e protetores se efetivará pela vivência, que fortalece o discernimento que faz refulgir sua luz interna. São a razão e o bom senso, atuando na transformação incessante dos maus hábitos e apegos irracionais, que sustentam a “purificação” de seus corpos e mentes, tornando-os livres dos desejos mais grosseiros, refinando sua mediunidade, desbastando as ilusões temporárias que os fascinam diante da perenidade do Espírito, sustentando com firmeza o intercâmbio com Espíritos sublimados do outro lado, ao contrário de proibições simplórias, como desmerecer o trabalho socorrista com a mediunidade, como se assim sua pureza como instrumento fosse mantida.
É por intermédio da renúncia diária diante das oportunidades de gozos sensórios que se efetiva a destruição progressiva das ilusões e dos apegos, causa primária da escravidão dos homens ao ciclo “prazeroso” das reencarnações, que resultará na libertação da consciência dos grilhões que a prendem aos mundos inferiores.
Vocês podem se afastar dos objetos dos sentidos, distanciando-se de um boêmio, bebedor ou uma prostituta do além-túmulo, mas isso não os dará a segurança que o Cristo tinha quando andava entre eles e os socorria, pois o Divino Mestre não tinha gosto e afinidade por esse tipo de comportamento, mas d’Ele irradiava a claridade que fazia indicar o caminho reto a todos aqueles que O procuravam, indistintamente, como o Sol que diariamente ilumina suas cabeças.
- do livro A MISSÃO DA UMBANDA. Ramatís / Norberto Peixoto.
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DESMISTIFICANDO EXU - " EQUÍVOCOS RELATIVOS À NATUREZA E FUNÇÃO DE EXU"
DESMISTIFICANDO EXU - " EQUÍVOCOS RELATIVOS À NATUREZA E FUNÇÃO DE EXU"
*trecho retirado do livro Exu - O poder organizador do caos, de Norberto Peixoto.
Legião Publicações.
Muitos equívocos relativos à natureza e função de Exu decorrem do fato de ele ter sido maquiavelicamente traduzido da expressão original da língua iorubá como Satã, o diabo judaico-católico, ou Príapo, o deus fálico greco-romano, guardião das casas, praças, ruas e encruzilhadas. Na mitologia de origem, nagô, explica-se a criação do universo manifestado, assim como em tantas outras religiões. Na cosmogonia iorubana, Exu foi o primeiro Orixá a ser criado para ser ordenador de todo o sistema cósmico. A gênese mítica nagô, em alguns registros etnográficos – não unânimes –, relata que Oxalá já era criado, mas “habitava” imanifesto “internamente” em Deus. Após Exu ser criado, ele é o primeiro Orixá a se manifestar. Então, a seguir, Oxalá “pôde” expressar-se como espaço infinito, que deixou de ser o nada, a vacuidade inerte – voltaremos a este conceito mais de uma vez. Simbolicamente, pois os mitos são metáforas, devemos interpretá-los à luz de fundamentos que permeiam as verdades cósmicas. A partir de Exu, Deus se “desdobra” em muitos atributos com interferência “direta” no mundo das formas, no sentido de que este “elemento” criado primeiro foi propiciatório à criação dos demais Orixás, assim como o cimento com areia não dá liga se não for acrescentada água. Ou seja, os vários atributos divinos que entendemos como Orixás tiveram Exu como elemento de ligação para que pudessem, num impulso de movimento, se desgarrar do Criador e se expressar nas primeiras formas criadas. Então, Exu é atributo divino primordial na criação universal que se manifestou em idos primevos, que “permite” e permeia toda expressão das vidas, que se deslocam do Imanifesto – Deus – e se tornam manifestas, precisando ser “agasalhadas” por uma forma. Enfim, Exu impõe movimento no espaço – que já seria Oxalá manifestado depois dele – “cheio” de fluido cósmico fazendo-o condensar-se, como consequência da própria Mente Universal imprimindo sua força n’Ele (o contém e é contido por Exu), no início de toda coisa criada existente no Cosmo. Ou seja, nada existia, tudo era vacuidade. Eis que se fez a primeira luz e movimento, nasce Exu, o primeiro elemento morfológico universal.
O MAU-OLHADO pode originar-se acidentalmente de estados de espírito censuráveis, como ambição, inveja, ciúme, despeito, ira, cobiça ou vingança, projetando fluidos ruinosos. Existem pessoas invejosas portadoras do mau-olhado, que causam prejuízos ou males involuntários semeados na vida do próximo! Basta, às vezes, expressar o desejo muitíssimo natural de possuir uma planta, ave ou animal, que outros possuem, para que a carga fluídica acumulada no olhar se despeje sobre tais coisas ou seres, produzindo efeitos nefastos, como doença, melancolia e até a morte.
Ramatís
Texto baseado em Magia de Redenção.
Quando você tenta experimentar suas convicções espirituais, começa a abrir-se um outro mundo para você. Não viva com um falso senso de segurança, crendo que será salvo porque ingressou numa igreja. Você próprio tem de fazer o esforço para conhecer a Deus. Sua mente pode ficar satisfeita com o fato de que você seja muito religioso; mas, a menos que sua consciência se satisfaça com respostas diretas às suas orações, nenhuma religião formal poderá salvá-lo. Que vantagem há em orar a Deus se Ele não responde? Por mais difícil que seja obter a resposta Dele, isto pode ser feito. Para garantir que afinal chegará ao céu, você precisa submeter a prova o poder de suas orações até torná-las eficazes.
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Paramahansa Yogananda,
No Santuário da Alma.
A MAGIA NA UMBANDA, AS DIMENSÕES FÍSICA, ETÉRICA E ASTRAL E A MOVIMENTAÇÃO MEDIÚNICA DE ENERGIAS ENTRE ELAS.
A MAGIA NA UMBANDA, AS DIMENSÕES FÍSICA, ETÉRICA E ASTRAL E A MOVIMENTAÇÃO MEDIÚNICA DE ENERGIAS ENTRE ELAS.
Magia é movimentação de energia pela aplicação da vontade e da força mental de um agente encarnado ou desencarnado (ou ambos, em união de interesses), com a finalidade de criar campos de forças magnéticos específicos (atração, defesa, retenção, repulsão). Atraímos energias quando riscamos um ponto com essa finalidade e, ao mesmo tempo, realizamos uma invocação.
Quando tocamos uma sineta diante da tronqueira de exu (local onde é fixado vibratoriamente o guardião do templo, geralmente à entrada e aos fundos do terreiro), nos defendemos pedindo proteção e segurança. Da mesma forma, alguns atos magísticos podem ter por objetivo a retenção de certas energias, como por exemplo: ao acendermos uma vela para um determinado orixá no local vibrado dentro do terreiro para essa finalidade específica, ou quando rogamos amor para Oxum ou prosperidade para Iemanjá. Temos de liberar o ato magístico da conotação de misticismo fantástico, de mistério fenomênico, de algo sobrenatural. Toda ação de magia se baseia em leis da natureza e delas não se consegue prescindir. Umbanda é essencialmente magística e toda a sua magia tem por finalidade o bem do próximo. É importante deixar bem claro que todo ato de magia deve visar ao bem dentro da máxima evangélica de que "devemos fazer ao nosso semelhante aquilo que desejamos a nós mesmos".
A aplicação prática da magia se dá por meio de invocações, evocações, esconjuros, consagrações, contagens, cânticos, mantras e outros recursos utilizados para facilitar a concentração mental. Quanto mais unido for um grupo que objetiva praticar a magia, mais coeso e força terá o ato magístico, embora um mago adestrado consiga interferir em campos de energia somente pela sua mente disciplinada. Quando falamos em energia, tratando-se de magia, temos de contemplar as dimensões vibratórias mais próximas que nos cercam, ou seja, a física, a etérica e a astral. O pensamento tem poder criador e o que emitimos se movimenta nessas três dimensões. A partir dessa realidade, nos conscientizamos de quão responsáveis somos pelo que pensamos. Detalhando melhor: a dimensão física é formada de energia condensada (matéria); a dimensão etérica tangencia e é contígua à física e se sustenta pela constante emanação fluídica desta, fazendo parte dela; e finalmente temos a dimensão astral, da qual a dimensão material (em que nos encontramos encarnados) é conseqüência, como se fôssemos um gigantesco mata-borrão. Salientamos que a verdadeira morada planetária é o mundo astral, onde passamos a maior parte de nossa existência como desencarnados.
Na umbanda, a movimentação de energias entre essas dimensões se dá pela via mediúnica, não bastando "apenas" ser um mago sacerdote. São os guias do "lado de lá" quem conduzem todos os trabalhos e têm o alcance de justiça e outorga do Astral superior para determinar a amplitude das tarefas realizadas. Por esse motivo, ficamos bastante receosos com os muitos magos existentes atualmente, e com a rapidez com que são formados. Somos de opinião que está faltando mediunidade em muita magia praticada por aí. Preocupa-nos os cursos de formação coletiva, regiamente pagos, para se obter insígnias sacerdotais de mago disto ou daquilo, com solenidades grandiosas de entrega de títulos e paramentos bonitos. Todo o cuidado é pouco quando tratamos com magia cerimonial caritativa de auxílio ao próximo, pois "aquele que não tem patuá que não se meta com mandinga", diz-nos sempre a veneranda Vovó Maria Conga, sabedora do efeito de retorno para todos nós quando interferimos em campos de energias de outras pessoas, sem autorização para fazê-lo em conformidade com as leis cármicas. É preciso comentar que todo médium da umbanda é, em maior ou menor proporção, um mago, mas nem todo mago é um médium, pois a premissa para se ter uma função sacerdotal na umbanda é a mediunidade, e não o contrário: dirigentes magos, sem nenhuma mediunidade, na frente de um congá. Nada temos contra a ênfase mágica sacerdotal e iniciática de outros cultos, que até podem ser confundidos com a umbanda, em vários aspectos ritualísticos, pelos olhos leigos da sociedade. Ocorre que não somos "meros" repetidores de ritual, qual cenógrafos de teatro. Não sabemos exatamente o que se está fazendo por aí, mas com certeza esse grande comércio de magia que está virando indústria não é umbanda, aquela umbanda simples e de pujança mediúnica instituída pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. A ênfase iniciática e mágica, meramente pelo efeito ritual externo, vistoso, decorre da vaidade humana e é um reducionismo da nossa religião, da sua humildade, simplicidade, e principalmente do mediunismo com as suas entidades, verdadeiras mantenedoras da força e do axé de nossos congás por este Brasil afora.
“Umbanda Pé No Chão”
Ramatís/Norberto Peixoto
O Violino Cigano
O Violino Cigano
Numa bela casa rodeada por um bosque enorme e sombrio viveu muito tempo atrás um barão viúvo e rico com suas três filhas. A mais velha chamava-se Dronha e era talvez a pessoa mais insuportável das redondezas. Porque além de muito feia, com sua boca enorme de dentes pontiagudos, ela conseguia deixar uma impressão horrível em todos que a conheciam. Achava que o mundo conspirava contra ela e não poupava ninguém do seu mau humor, com suas palavras sempre ríspidas e seus olhos apertados em constante irritação. A filha do meio era mais tonta do que propriamente de má índole. Mas era preguiçosa e impaciente, e maltratava todo mundo exigindo que seus desejos fossem satisfeitos imediatamente. Seu nome era Catina e sua aparência de igualava à de Dronha em feiura. O pior de tudo era o contraste entre as duas e a irmã mais nova, Leila. Não havia ninguém que não gostasse dela. Bela como um botão de rosa, parece que sua beleza tornava-se ainda mais exuberante pela alegria e doçura que acompanhavam todos os seus gestos, pela graça do seu olhar, pelo acolhimento atencioso que dispensava a quem se aproximava dela. Por sua causa, a situação das outras irmãs ficava ainda mais delicada. Era evidente, por exemplo, a preferência do velho barão pela filha mais nova e, o mais grave, todos os jovens do povoado só pediam a mão de Leila em casamento. Para garantir que as outras duas não ficassem solteiras, o pai dizia que só permitiria que Leila se casasse depois das irmãs. Isso não adiantou nada já que ninguém aparecia para cortejar Dronha e Catina.
Um dia elas pediram ao pai que não deixasse mais Leila ir junto com elas aos bailes e festas, para ver se alguém as convidava para dançar. Assim foi feito mas mesmo Leila tendo concordado de bom grado em não sair de casa, as irmãs ficavam a noite inteira sentadas num canto da festa, ignoradas por todos. A raiva que as duas sentiam de Leila foi aumentado dia a dia, até que Dronha chamou Catina e lhe disse:
- Temos que fazer alguma coisa para nos livrarmos de Leila. Se ela continuar viva, não há esperança para nós, vamos ficar solteiras até nossa morte.
- Que horror – disse Catina -, ela é nossa irmã, você não pode nem pensar em fazer nada contra ela. Não conte comigo para nenhum plano.
- Pois então está bem. Cuido de tudo sozinha, não preciso mesmo de uma idiota que só atrapalha como você.
No dia seguinte Dronha convidou Leila para um passeio no bosque. Leila ficou feliz, afinal quase nunca saía de casa e adorava caminhar no meio das árvores. As duas passaram a tarde conversando enquanto se embrenhavam cada vez mais para o fundo do bosque, onde havia um grande precipício à beira do caminho. Foi para lá mesmo que Dronha conduziu a irmã sem que ela desconfiasse de nada.
- Nossa – disse Leila -, eu nunca tinha chegado até aqui. Imagine se alguém cair lá embaixo, dá medo só de pensar.
- Que tal experimentar esse medo pessoalmente? - gritou Dronha, empurrando Leila com toda força abismo abaixo.
No meio da queda, a pobre menina agarrou um ramo de zimbro enraizado no morro e ali ficou dependurada, tentando não soltar a mão de jeito nenhum.
- Por favor – ela dizia -, não faça isso comigo, Dronha. Não me deixe morrer nesse lugar. Ajude-me a sair daqui.
- Vou ajuda-la, com certeza – respondeu a irmã completamente transtornada. E, pegando um pedaço de pau, Dronha bateu com fúria na mão da irmã que segurava o galho de zimbro.
Com um grito de dor, Leila largou o galho e caiu nas profundezas do abismo. A irmã olhou para baixo e não viu nem sinal dela. No silêncio daquele lugar tenebroso ficou guardado o segredo do seu crime, e ela foi para casa certa de que tinha feito o que era necessário e que agora sua sorte ia mudar.
No dia seguinte o barão achou estranho que Leila não estivesse na casa e que ninguém soubesse dizer para onde ela tinha ido. Preocupado, ordenou que os empregados dessem uma busca nos arredores, depois foi ele mesmo acompanhado de homens valorosos procurar a menina nos quatro cantos daquele reino, dia e noite sem parar. Mas Leila tinha desaparecido e, por incrível que pareça, ninguém se lembrou de procurá-la no abismo do bosque. Um ano se passou, e enquanto na casa grande o barão chorava a perda de sua filha querida, Leila jazia sem vida no fundo do precipício. Mas enquanto seu corpo se decompunha e se misturava à terra, às folhas secas, às pedras e à areia, o ramo de zimbro de permanecia na sua mão foi se enraizando e ganhando força no meio daquele solo fértil e úmido. Depois de dois anos transformou-se numa árvore comprida, cujos ramos mais altos chegaram até o caminho, à beira do abismo. A copa imponente da árvore de zimbro balançava ao vento, e de seus galhos emanava uma estranha melodia, que em tudo se parecia com uma música cigana.
Todos os dias, atraído por essa melodia, um jovem pastor cigano chamado Lavuta se aproximava da árvore sentava-se embaixo dela. Ele era conhecido como o melhor tocador de violino da região. As pessoas diziam que, quando ele tocava, era como se os mais melodiosos espíritos da floresta estivessem animando seu coração e seus dedos. Todos paravam seus afazeres para escutá-lo, até as crianças, as plantas, os animais e os rios se aquietavam num silêncio embevecido, quando Lavuta tocava.
Toda vez que ele ouvia o lamento da árvore de zimbro, deixava seu rebanho e vinha para perto dela, sentava-se, punha seu velho violino sob o queixo e começava a tocar. O violino estava bastante estragado, mas Lavuta gostava dele como se gosta de um amigo querido. Um dia, enquanto tocava entretido embaixo da árvore, o arco do violino se partiu. Lavuta depositou o violino no chão para examinar o arco, e no mesmo instante o violino escorregou precipício abaixo. Ele se levantou de um salto mas não conseguiu pegá-lo. O pastor desesperou-se pois aquele violino era tudo que ele tinha neste mundo, e chorou por muito tempo, até adormecer, inconformado, deitado de bruços, com o rosto na terra.
E então ele teve um sonho: ele estava ali, naquele mesmo lugar, escutando os murmúrios dos galhos da árvore de zimbro, e aos poucos o triste lamento foi se transformando numa música que soava como um violino. Ele percebeu que era seu violino que tocava sozinho e, junto com ele, uma voz de mulher cantava uma triste melodia cigana. Ele compreendia muito bem as palavras da canção, que dizia:
“Lavuta, pegue seu violino e toque, para todo mundo saber que eu fui morta por uma mulher má de dentes pontiagudos.”
O pastor, dentro do seu sonho, pensou que não poderia tocar, pois o violino tinha caído no precipício. Como se tivesse escutado seus pensamentos, uma voz ecoou lá do fundo do abismo, dizendo-lhe que cortasse o alto do tronco da árvore de zimbro e que com a madeira fizesse outro violino.
Quando acordou logo em seguida, Lavuta lembrou do sonho com todos os detalhes, achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo resolveu não dar muita importância, pois aquilo tinha sido apenas um sonho.
Depois de reunir o rebanho, ele voltou para seu quarto, que ficava num lugar distante, dentro das terras do barão. Naquela mesma noite ele teve outro sonho: via uma linda jovem entrar no seu quarto segurando um violino. Olhando melhor, percebeu que era seu violino que ela estendia na sua direção. Em língua cigana ela dizia:
- Toque seu violino e depois quebre-o de encontro à mesa. Se fizer isso, eu serei sua mulher.
Em seguida ela desapareceu no ar e Lavuta acordou. Nesse mesmo momento ele tomou uma decisão. Na manhã seguinte, assim que se levantou, foi até a beira do precipício para cortar a árvore de zimbro. Passou o dia inteiro esculpindo e moldando a madeira, até que o violino ficou pronto quando a noite chegou. Feliz da vida, admirando sua obra, Lavuta se preparou para experimentar o violino, mas assim que ele levantou o arco, o violino começou a tocar sozinho. Era a mesma melodia e a mesma voz cantando a canção cigana do seu sonho.
A melodia soava muito alto e chegava lá fora, pela janela aberta do seu quarto. O cuidador de cavalos do barão, que passava por ali naquele momento, ouviu as estranhas palavras daquela música e foi falar com Lavuta.
- Quem está cantando? – ele perguntou.
Lavuta lhe contou toda a história desde seu primeiro sonho, e o amigo o aconselhou a mostrar o violino mágico para o barão.
- Você sabia – ele disse – que a mulher do barão era cigana? Acho que ele vai gostar de conhecer esse milagre e vai até compreender as palavras da canção.
Os dois foram juntos até a casa grande e pediram para ver o barão. Quando ele apareceu, o violino começou a tocar e o pobre arregalou os olhos, sobressaltado:
- É a voz da minha filha. Onde é que ela está?
Ele correu pelos cantos da sala, por toda parte, e não encontrou ninguém. Mas as palavras da música ele havia entendido muito bem, e sabia perfeitamente quem era a mulher má de dentes pontiagudos. Horrorizado, ele foi atrás da filha mais velha e não teve muito trabalho em fazê-la confessar o que havia feito. O velho barão expulsou as duas filhas de sua casa, dizendo-lhes que nunca mais voltassem, achando que Catina tivesse sido cúmplice da irmã, embora ela não soubesse de nada.
Enquanto isso, de volta ao seu quarto, Lavuta ficou um certo tempo segurando o violino mágico, pensando na jovem que havia aparecido no seu sonho.
- Será que é mesmo Leila, a filha do barão? – ele dizia para si mesmo. – Ela prometeu que se casaria comigo se eu quebrasse o violino na mesa.
Ele não sabia se devia ou não acreditar no sonho. Olhou o violino pela última vez e com um gesto firme espatifou-o de encontro à mesa. No mesmo momento, Leila apareceu, viva, diante dele. Na mão ela trazia seu velho violino, consertado, com cordas novas, a madeira brilhando, perfeita. Completamente aturdido, Lavuta escutou sua história.
- Durante dois anos eu fiquei enterrada no abismo – ela começou, falando com voz doce e perfumada. – Minha mãe foi uma cigana conhecedora das artes da magia. Quando meu pai a conheceu, ficou encantado com sua beleza e apaixonou-se por ela. Ela também o amou, mas antes de se casarem ela foi amaldiçoada por um espírito que a desejava para si. O espírito determinou que todas as crianças que nascessem daquela união seriam feias e más. Depois que minhas duas irmãs nasceram minha mãe suplicou ao espírito que a libertasse do feitiço. Ele concordou, com uma condição: quando ela tivesse outra criança, deveria morrer e ir viver com ele no reino dos espíritos. O preço da minha beleza foi a morte da minha mãe. Depois, quando minha irmã me empurrou no precipício, a alma da minha mãe se converteu no ramo de zimbro que eu agarrei na queda. E foi segurando o ramo, a mão de minha mãe, que eu caí lá embaixo. Criando raízes, o ramo virou árvore e eu pude nascer pela segunda vez do corpo da minha mãe. Mas minha forma humana eu só poderia recuperar se um homem transformasse a madeira da árvore no objeto mais querido do seu coração. Você amava seu violino, Lavuta, e quando ele caiu no abismo eu sabia que apenas você, com seu amor, poderia me devolver à vida. Por isso apareci no seu sonho e agora estou aqui.
- Parece que o que tinha que acontecer já foi feito – disse Lavuta. – Eu recebi meu violino de volta e você voltou a viver. Mas também me lembro de uma certa promessa...
- Eu não a esqueci – disse Leila com um sorriso encantador. – Você não quer experimentar seu violino antes de mais nada?
Lavuta se preparou para tocar e, como antes, o violino começou a tocar sozinho a melodia do sonho acompanhada da canção cigana. Pouco depois, o barão entrou , atraído pela música, e mal pôde acreditar quando viu a filha estendendo os braços apara abraçá-lo.
- Meu pai – ela disse -, o pastor Lavuta me devolveu à vida e eu prometi casar-me com ele.
O velho barão estava tão radiante que não fez nenhuma objeção ao casamento. Pouco importava se seu futuro genro era um pobre pastor; a única coisa que ele queria era ver sua filha feliz e viva.
E ele nunca teve nenhuma razão para se arrepender do seu consentimento. O pastor Lavuta ficou conhecido em todo o reino, não por ter se casado com a filha do barão, mas sim por ser o maior violinista de que aquele povo teve notícia. Até hoje se contam histórias que falam de como Leila e Lavuta se amaram, dos filhos que tiveram e de como o pastor prosperou e tornou-se senhor daquelas terras, graças à sua arte, que a todos encantava. Mas todas as histórias que foram contadas, de geração em geração, começam falando do verdadeiro amor e da sabedoria de uma mulher cigana.
Recontado por Regina Machado em: O violino cigano e outros contos de mulheres sábias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.