TRABALHOS MÉDIUNICOS REALIZADOS NO LAR
PERGUNTA: - E que dizeis dos trabalhos mediúnicos realizados no lar onde a receita, o passe, a água fluidificada e o conselho são recursos convocados facilmente, mas para atender com exclusividade a toda a parentela?
RAMATÍS: - É sempre louvável que a família se reúna para o intercâmbio mediúnico, no seio do lar, em vez de viciar-se à jogatina doméstica, regada a rum, gin, vodka ou uísque fornecidos pelo "barzinho" de casa. No entanto, os médiuns já desenvolvidos e com serviços determinados pelo Alto não devem estiolar-se em compromissos egoístas e exclusivos à família ou parentela interesseira, e que os explora à semelhança de um rico veio de ouro.
Alguns médiuns imprudentes são prestimosos, solícitos e acodem prazenteiramente a participar das sessões na casa do famoso acadêmico, do político prestigioso ou do militar graduado, exaurindo-se em esforços para provar-lhes a sobrevivência da alma, a que eles opõem malicioso ceticismo. Lastimavelmente, deixam-se dominar por um complexo messiânico de provar a imortalidade do espírito aos amantes do mundo de César e indiferentes ao reino de Cristo, negligenciando, porém, seu concurso às tarefas de esclarecimento espiritual de irmãos mais modestos. Os mais afoitos enfrentam noites chuvosas e frígidas para atender às indagações particulares e capciosas dos ricos curiosos, mas em noites enluaradas desculpam-se de visitar o tugúrio do operário pobre ou a choupana da velhinha analfabeta.
O médium que realmente se devota aos objetivos fundamentais da doutrina espírita não deve distinguir, no socorro espiritual, o soldado ou o general, o pobre ou o rico, o analfabeto ou o sábio, a prostituta ou a dama, o delinqüente ou o bom cidadão. E quando se entrega, incondicionalmente, às indagações excessivas por parte dos ricos de intelecto ou fartos de sensações, não demora a transformar-se numa espécie de "caixinha de perguntas indiscretas" daqueles que se interessam somente por assuntos ou problemas de ordem material. Realmente, o trabalho mediúnico no lar pode transformar-se em uma etapa de progresso espiritual da própria família, assim como recurso doutrinário mais eficiente para os parentes desencarnados. Mas o serviço com o Cristo requer do médium a sua ação proveitosa no mundo profano, cooperando com o medicamento, o passe, a água fluidificada e o conforto espiritual em favor das criaturas que realmente procuram a paz espiritual e o conhecimento de si mesmas.
PERGUNTA: - Conhecemos alguns trabalhos mediúnicos realizados exclusivamente no lar, em que vários dos seus familiares desencarnados reajustaram-se e livraram-se de suas perturbações no Além, graças à doutrinação que lhes foi proporcionada pelos seus parentes ainda encarnados. Que dizeis?
RAMATÍS: - Todo trabalho medi único de intuito benfeitor é serviço louvável e cooperação às tarefas dos guias espirituais, os quais vivem onerados pelo imenso serviço de socorro aos espíritos perturbados no mundo astral. Mas é preciso que os componentes das sessões mediúnicas domésticas, que tanto podem esclarecer os parentes desencarnados como outros espíritos em perturbação, não prescindam do estudo e do contacto com os irmãos mais experimentados a fim de conseguirem resultados mais seguros e proveitosos.
Os grupos familiares que se acomodam ingenuamente aos ensinamentos habituais e se entregam com displicência à orientação exclusiva do guia da casa ou do médium principal da família, indiferentes ao conhecimento e à experimentação progressiva da doutrina espírita, terminam por estagnar-se num intercâmbio mediúnico anímico e improdutivo.
A inexperiência doutrinária e a falta do mínimo conhecimento da psicologia humana quase sempre terminam por escravizar os membros da sessão doméstica à influência absoluta do animismo incontrolável do médium principal. Então a fantasia otimista substitui a veracidade espiritual das comunicações, especialmente quando se referem aos parentes desencarnados.
PERGUNTA: - Podereis exemplificar-nos melhor essa situação?
RAMATÍS: - É de senso comum que a família terrena além de fortemente sentimentalista, ainda é apegada aos preconceitos e às tradições ancestrais.
O ladrão de cavalos, que faz parte da família do nosso vizinho antipático, é sempre um ladrão de cavalos; porém, quando ele é nosso parente, alegamos que se trata de um aventureiro, um boêmio, cuja vileza e desonestidade causam até humorismo. Em conseqüência desse orgulho de raça, o parente desencarnado ou seja a "prata da casa", malgrado esteja enfrentando sérias dificuldades espirituais no Além-túmulo, geralmente "baixa" na sessão espírita da família alegando saudade ou algum incômodo de breve duração, mas sempre com alguma "luz" que já mereceu no Espaço. Os seus defeitos, a sua avareza ou egoísmo censuráveis, que manifestou na vida carnal, desaparecem miraculosamente. E então, acontece o seguinte: aqui, o esposo desencarnado, que foi administrador corrupto e homem sensual, perseguidor de donzelas, baixa pela esposa-médium, que no seu animismo sentimentalista o julga amparado pelos espíritos do Alto, afirmando que em vida praticara inúmeros atos bons e fizera a caridade ocultamente; ali, o negociante impiedoso, egoísta e avaro, que só atendia ao conforto e à suntuosidade da família, mas retinha o pagamento do mísero operário ou penhorava os bens da viúva pobre, "incorpora", manifestando virtudes ou sentimentos que não possui; acolá, o filho perdulário, viciado e indiferente à luta heróica dos progenitores terrenos, manifesta-se pela médium-parente afirmando que a sua rebeldia filial resultava de maus espíritos que o perseguiam.
A família espírita, mas de poucas letras e ignorante dos mais rudimentares princípios da psicologia, acredita, ingenuamente, que a morte do corpo é salutar banho miraculoso, capaz de modificar instantaneamente os espíritos faltosos e imperfeitos. Julga que as portas do céu entreabrem-se festivamente para os seus parentes, embora eles tenham sido pecadores empedernidos, pois há de descobrir-lhes as virtudes ocultas e ignoradas, aflorando depois da desencarnação.
É muito difícil convencer os terrícolas de que eles são os únicos responsáveis pelos seus atos, cumprindo-lhes sofrer os efeitos bons ou maus após a morte. Não conhecemos, no Além, qualquer processo de magia capaz de atear fulcros de luz no coração daqueles que ainda não souberam apurar o sentimento crístico no contato com o mundo material.
Diz um provérbio hindu, que "o pecado do vizinho é virtude em nossa casa", motivo pelo qual os médiuns participantes de trabalhos mediúnicos no seio do lar ainda se deixam dominar pelo falso sentimentalismo que minora sempre o passado pecaminoso do parente desencarnado. Não há dúvida de que, para a família, o resfriado do caçula é acontecimento bem mais importante e trágico do que a tuberculose que devora o filho alheio. Mas o certo é que o fenômeno corriqueiro da morte física não estabelece privilégios nem produz milagres extemporâneos, pois aqueles que atravessam a vida terrena cometendo estripulias condenáveis pelas leis espirituais, embora o otimismo dos encarnados depois lhes atribua virtudes ignoradas, hão de permanecer perturbados no Além e destilando os venenos psíquicos que tenham movimentado contra si mesmos. Malgrado nas sessões mediúnicas familiares os médiuns descubram louvores e dons espirituais desconhecidos nos seus parentes desencarnados, estes não se eximem de colher os frutos podres das sementes daninhas que tenham semeado na existência física. E nada é mais constrangedor e desairoso para os espíritos desencarnados, do que ouvirem louvores e
serem agraciados com atributos santificados, quando ainda sentem na alma o fel amargos o de suas próprias vilezas morais e mazelas espirituais.
RAMATIS - ELUCIDAÇÕES DO ALÉM