Adão existiu?
Sim, mas não foi o primeiro nem o único a povoar a Terra. Segundo os Espíritos superiores, Adão viveu cerca de 4.000 anos antes de Cristo, mas como o povoamento da Terra iniciou-se em épocas mais remotas, não descendemos dele, mas de outros ancestrais que aqui já viviam. O Livro dos Espíritos traz a informação de que a espécie humana não teria começado por um único homem, e que Adão foi apenas um “dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam.”
Os Espíritos informam que as leis da natureza são contrárias à afirmação do progresso da humanidade ter ocorrido em alguns séculos, como ocorreria se o homem não existisse na Terra senão a contar do período indicado para a existência de Adão, razão pela qual muitos o veem apenas como um mito ou alegoria a indicar as primeiras idades do mundo.
O Espírito Miramez, tecendo considerações sobre o assunto, confirma não terem sido Adão e Eva os geradores da humanidade, simbolizando ambos as raízes do povoamento da Terra: ele, como gérmen primitivo dos primeiros ensaios da raça humana vivenciada no globo, e ela como elemento vindo posteriormente, na época da fecundação. Acresce ter o surgimento do homem no planeta ocorrido de modo coletivo, havendo registros de sua passagem em várias partes do planeta, em todas as épocas, tudo em obediência ao comando do Cristo.
Jesus teria organizado os meios e as condições necessárias para o aparecimento do homem em várias partes da Terra, da mesma forma que os animais de todas as espécies, surgindo em avalanches, “qual aparecem flores e frutos, como o trigo na lavoura”, sem que houvesse qualquer privilégio para o surgimento de um inicialmente, do qual seguiriam todos os demais. Portanto, Adão pode ser considerado um tronco de raça, como vários outros. Destaca Miramez haver ainda “muitos segredos a desvendar na face da casa terrena e eles serão conhecidos na medida em que os homens estiverem preparados para tal”.
Conforme orientações trazidas em A Gênese, a raça adâmica originou-se de uma grande imigração de Espíritos que vieram de outra esfera, simbolizada na figura de Adão. Quando chegou ao planeta Terra, esta já se encontrava povoada desde tempos imemoriais, igual à América durante a chegada dos europeus. A raça adâmica era mais adiantada intelectualmente que os habitantes do planeta, tendo contribuído para o progresso de todas as outras raças, visto não ter passado no planeta a sua infância espiritual. Kardec assevera que “tudo prova que a raça adâmica não é antiga na Terra e nada se opõe a que seja considerada como habitando este globo desde apenas alguns milhares de anos”, situação condizente com os fatos geológicos e com as observações antropológicas.
Ressalta que, no atual estágio de conhecimento, não é razoável a doutrina que defende a procedência de todo o gênero humano apenas de uma individualidade única. O Codificador elenca considerações a contradizerem tal afirmação, indicando que o aspecto fisiológico de algumas raças detém características peculiares, não se permitindo assinalar uma origem comum, tendo em vista as diferenças que não decorrem unicamente do clima. Outras raças, como a negra, mongólica ou caucásica, surgiram de uma origem própria, com nascimento simultâneo ou sucessivo em diversas partes do globo.
Outro aspecto trazido por Kardec é o fato de Adão e seus descendentes serem mostrados na Gênese como homens bastante inteligentes, com a construção de cidades e o cultivo da terra a partir da segunda geração. Sendo assim, não é lógico descender deste único tronco povos tão atrasados, de inteligência tão rudimentar, perdendo todos os traços e lembranças de seus pais, atestando tal fato diferença de origem.
Kardec ainda destaca que a própria população do globo atesta a existência do homem antes da data fixada pela Gênese, citando o exemplo da cronologia chinesa, que remonta a algo em torno de trinta mil anos, ou documentos autênticos que demonstram serem o Egito, a Índia e outros países, já povoados e fecundos há pelo menos três mil anos antes da Era Cristã, tão somente mil anos após a criação do primeiro homem, o que segundo a cronologia bíblica seria um tempo insuficiente para tamanho desenvolvimento.
Atrelado a isto, Kardec aponta a impossibilidade lógica da humanidade ter decorrido de Noé e sua família, pois caso se admita que o grande dilúvio ocorrido no ano de 1656 tenha destruído todo o gênero humano, não seria razoável admitir que 612 anos após este evento, teria o Egito – já então um poderoso império – povoado-se em menos de seis séculos. Assim, o Codificador compreende estar o homem na Terra desde tempos imemoriais, muito antes da época assinalada pela Gênese bíblica.”
Conforme conta-nos Emmanuel, em A Caminho da Luz, o grupo de pessoas simbolizado na figura de Adão veio exilado de um planeta do sistema de Capela, da constelação do Cocheiro, por ser ainda rebelde ao seu processo de evolução, tendo sido a raça mais inteligente que encarnou na Terra e, pela dor e nos trabalhos penosos, aprendeu as grandes conquistas do coração e estimulou ao progresso seus irmãos inferiores. Esses Espíritos de almas aflitas e atormentadas reencarnaram, proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam localizado as tribos e famílias primitivas, descendentes dos “primatas”, estabelecendo-se, assim, fatores definitivos na história etnológica dos seres.
As raças adâmicas, segundo o autor espiritual, guardavam vaga lembrança da sua situação pregressa, refletida nas tradições do paraíso perdido as reminiscências de seu planeta, sendo isso transmitido de gerações a gerações, até ficarem arquivadas nas páginas da Bíblia. Aqueles seres decaídos e degradados deram origem a quatro grandes povos, os egípcios, os Indus, os indo-europeus e os israelitas.