O Triângulo de Sabedoria
Tradução José Filardo
O tema genérico do triângulo já foi tratado em profundidade por muitos autores que agregaram elementos históricos, geométricos, de arquitetura e esotéricos. Às vezes, esse triângulo tem uma função ocultas ou secretas e diante das muitas perguntas sobre os detalhes específicos dessas formas triangulares, é útil resumir sua presença nos símbolos que permeiam todos os Ritos “maçônicos” ou correntes exotéricas e ocultas referindo-se a outras “Vias Iniciáticas”… Esse lembrete, publicado sobre a evolução do triângulo não pretende ser exaustivo, pelo contrário, é simplesmente um olhar sobre algumas maneiras de abordar o “Triângulo” para que ele seja ativo…
DO PONTO AO TRIÂNGULO
Nesse local: “Você pode ver ali a construção do Triângulo de nossa Sabedoria antiga! Muitas longas tarefas esperam por você para fazer nascer a luz em você, a luz que você está procurando!…”
Tendo recebido esse símbolo nos primeiros momentos da cerimônia de Iniciação, o questionamento é particularmente mais vivo em descobrir que essa forma representa a figura geométrica primitiva sucedendo ao ponto isolado e uma linha reta traçada; as duas primeiras expressões desenhadas sobre uma superfície plana. Assim, esse triângulo tem suas origens nos primeiros estágios da humanidade e se torna rapidamente a base de vários traçados, planos, principalmente transpostos para edifícios que foram projetados pelos construtores dessas civilizações distantes. Já na Mesopotâmia desenhos de triângulos são visíveis sobre cerâmica perto de 7.000 anos a.C. Em seguida, os sumérios usaram com frequência triângulos que faziam parte de seus costumes.
O auge da devoção aos triângulos floresceu no Egito, onde representa praticamente a seção vertical da construção das pirâmides, assim como de suas faces. Esse traçado é então elevado ao grau de divindade e sua forma responde a dimensões precisa. A importância desse símbolo contribuiu para carregar significados divinos até lhe impor o valor de “criação do mundo.”
Há uma abundância de formas triangulares, pois basta ligar três retas para obter essa figura geométrica. Para recapitular, aqui estão algumas definições comuns:
– Um triângulo qualquer se diz ” escaleno ” (Desigual).
– Um triângulo com dois lados iguais se diz ” isósceles “(igual).
– Um triângulo com três lados iguais é chamado ” equilátero “.
– Um triângulo com um ângulo reto (90°) se diz ” retângulo “.
3+4+5 = 12
Todas essas figuras têm sido amplamente utilizadas por milhares de anos e Pitágoras (cerca de 580 a.C. a 495 a.C.) a elevou em valor um caso particular de um triângulo retângulo, aplicando-lhe sua famosa fórmula: 32 + 42 = 52 (Ou seja, 9 +16 = 25).
De acordo com papiros do antigo Egito, o uso dessa fórmula desenvolvida foi amplamente aplicado na vida diária, seja para os traçados de construções, seja para as implantações em parcelas de terreno onde a corda era a ferramenta ideal.
É esta progressão de 3 para uma base, e 4 para a segunda em ângulo reto, o que dá automaticamente a diagonal 5 fechando o triângulo. Quando se soma 3+4+5, a linha assim desenvolvida é dividida em 12 segmentos iguais, ou reconstituída em um quadrado de quatro linhas retas de valor 3, sem mencionar a criação de um retângulo de valor 12.
Parece óbvio que todas as civilizações procuraram introduzir elementos simbólicos nas formas construídas em torno de um triângulo. Um dos significados primordiais é a posição do triângulo equilátero apontando para cima representando a mulher (símbolo feminino) e a ponta para baixo referindo-se ao homem (símbolo masculino). Esse recurso simbólico tem a particularidade de ser invertido considerando-se que o triângulo apontando para cima é uma representação refinada do sexo do homem e que a ponta para baixo corresponde à parte íntima da mulher.
O legado de nossos antepassados construtores está repleto de oportunidades simbólicas de formas geométricas incorporando valores numéricos que eles utilizavam para seus ofícios. Essa geometria tornou-se “secreta” pela força das coisas, em função da complexidade da elaboração dos planos. Toda a parte esotérica que é enxertado nessa geometria veio da imaginação transbordante desses mesmos construtores com o objetivo de motivar seus ofícios esperando uma proteção divina sobre o seu trabalho. As oferendas aos deuses foram substituídas por rituais para honrar o Divino. A lista desses símbolos geométricos excede essas poucas observações sobre a figura primária que representa o triângulo. Tomemos por exemplo a reta composta de 12 segmentos e juntemos as duas extremidades para formar um círculo; e em seguida, coloquemos os dois símbolos feminino-masculino no interior desse novo traço. Para alguns “iniciados”, esses dois triângulos invertidos juntos simbolizam simetricamente o material e o espiritual, e á ainda a síntese da Tábua de Esmeralda.
Este símbolo assim formado foi gravado na construção de edifícios marcados pela cultura judaico-cristã. Um exemplo é a catedral de Basileia (Suíça).
Os 12 segmentos do desenvolvimento horizontal do triângulo retângulo de Pitágoras pode ser associada aos laços de amor (lac = laço) da corda de nós que decora a maioria dos lugares onde se reúnem os irmãos e irmãs.
Os laços de amor também representam, com um olhar mais penetrante, o céu estrelado (abóbada celeste) e sua divisão em relação aos 12 espaços do Zodíaco.
Para simplificar, algumas paredes são decoradas com uma corda TRÊS nós reduzindo o número 12 a 3 (1 +2 = 3) oferecendo um paralelo simbólico aos TRÊS pontos de um traçado triangular tornado misteriosa e invisível ou, ainda, uma ligação direta com uma trilogia em relação aos construtores de catedrais. Os mitos e lendas situavam ainda três lugares distintos: – a Terra para os seres humanos – céu para os deuses – o inferno para os demônios muitas vezes sinônimo da morte.
Esse símbolo geométrico TRÊS convertido em versão numérica 3 é assim o fundamento de toda a hierarquia da “criação do mundo” e do equilíbrio de forças vivas da vida. Dada a extrema importância atribuída a este símbolo, parece evidente que as três pequenas Luzes representadas no centro da loja contêm tanto o traçado do triângulo, o valor numérico 3 e a luz que completa esse ternário único e inabalável. Em destaque, essa declinação do TRÊS estará presente na maioria dos graus do Rito sob todas as suas formas: a) sua adição, b) sua multiplicação, c) seu alcance em poder, etc.
DO TRÊS AO NOVE
Essa presença evocadora do TRÊS resultará em muitas baterias em torno deste número, assim como as idades em diferentes graus de iniciação, amplamente atribuídos à família do TRÊS. Esse fio vermelho percorrendo o Rito pode ser objeto de um desenvolvimento particular, que encontramos principalmente nos Telhadores em que é possível tirar algumas lições. A bateria de TRÊS golpes está presente nos seguintes graus (no REAA):
1º. grau Aprendiz Maçom
12º. grau Grão Mestre Arquiteto
20º. grau Mestre Ad Vitam
21º. grau Cavaleiro Prussiano ou Patriarca Noaquita
23º. grau Chefe do Tabernáculo
Vejamos como o TRÊS é descrito por Irene Mainguy: “A unidade primordial ao se dobrar conduz à dualidade. Mas não podemos parar por aí, porque sob seu aspecto negativo ela é a oposição, e sob seu aspecto positivo ela é complementar. Um terceiro termo conciliador permite reencontrar a unidade e sair do binário das oposições. Três é um número arquetípico: 1 representa o Céu, 2 a Terra, 3 representa o ser vivo nascido simbolicamente da união do Céu e da Terra, o Espírito e a Matéria… ”
O escritora também afirma que o TRÊS está ligado aos “Três mundos: mineral, vegetal e animal ou, ainda, aos três mundos físico, psíquico e espiritual”.
Para que esse simbolismo do TRÊS encontre seu equilíbrio e corresponda a um conjunto estruturado, convém também mencionar sua multiplicação por si mesmo que correspondente ao número 9. O sistema de base NOVE daí resultante impõe essa redução automática dos números superiores a 9. Assim, seja os múltiplos de 9 ou de 3 vezes 3 representando a apoteose do Ritual do 3 o grau Venerável Mestre (REAA) pela manifestação do Respeitabilíssimo Mestre: “Meus veneráveis Irmãos e Irmãs, eu vos saúdo por três vezes três…”
Irene Mainguy prossegue em seu estudo afirmando: “… Ele representa o estado perfeito, limite humano ideal… O número 9 recorda os 9 meses de gestação necessários para cada nascimento; esse mesmo número encontra-se nos nove mestres que partiram em busca de Hiram… Esse número 9 simboliza bem a realização necessária do ciclo de perfeição e sua implantação, antes de subir ao outro ciclo luminoso do conhecimento.”
O NOVE está presente na bateria do 3 o grau Venerável Mestre e também é introduzida no 25 o. grau Cavaleiro da serpente d’Airan bem como no 29 o grau Grande Escocês de Santo André. Em seguida, a bateria baseada no NOVE retorna no 31º. grau Grande Inspetor Inquisidor.
Da mesma forma, o número DOZE, originário do triângulo através de seu desenvolvimento 3 +4 +5 em uma linha reta se encontra mencionado em várias ocasiões nos Rituais de diferentes graus, como, por exemplo do 11 o grau Sublime Cavaleiro eleito e também no 19 o grau Grande Pontífice.
Claude Le Moal afirma em uma de suas obras 3 : “3+4+5 = 12, a figura do pendurado no Livro de Thoth, o Lamed do alfabeto hebraico, sinal de tudo o que se estende, se eleva, se espalha, ou ainda de toda ideia de extensão, de elevação, de posse; é um movimento de reunião e dependência… …12 O Pendurado (The Iniciado), o equilíbrio entre Necessidade e Liberdade, a experiência adquirida através do Conhecimento, o Iniciado realizando a Grande Obra através da sublimação das leis da Providência e as do Destino, e que expande sua Consciência nas esferas superiores sutis. Impotência, espírito escapando da matéria e não tendo tido domínio dela, apóstolo, mártir da estupidez “.
A multiplicação de figuras e suas complicações demonstram o campo do possível perto de infinito que os arquitetos e construtores tiveram o cuidado de criar em todas as épocas. Uma ginástica cerebral que permitiu ocultar dados secretos em símbolos anódinos para os profanos. Um meio sutil e lúdico de garantir essa transmissão entre gerações.
OS TRIÂNGULOS DE PLATÃO
Jules Boucher em “O simbolismo maçônico História e Tradição 4 ” evoca Platão (428/427 a.C. morto em 348/347 a.C.), que classificou os diferentes triângulos da seguinte forma: “Platão relatou os poliedros regulares, e em que os lados e ângulos sólidos são iguais aos Elementos … Ele classificou a poliedros regulares da seguinte forma:
– O Tetraedro (Quatro faces formadas de triângulos equiláteros) correspondente para o elemento Fogo.
– O Octaedro (oito faces formadas por triângulos equiláteros) corresponde ao elemento Ar.
– O Icosaedro (vinte faces formadas por triângulos equiláteros) corresponde ao elemento Água.
– O Hexaedro ou Cubo (Seis faces quadradas) correspondente para o elemento Terra.
– A Dodecaedro formado por doze faces que são pentágonos regulares correspondentes correspondente ao que podemos chamar de Éter. (Fim de citação).
As figuras descritas são reproduzidas como segue:
O Tetraedro.
O Octaedro.
O Icosaedro.
O Hexaedro.
O Dodecaedro.
Para determinar as circunstâncias das descobertas de Platão, é indispensável lembrar que ele tinha conhecimento de várias narrativas históricas que alimentavam seus contemporâneos, tão longe quanto a Atlântida, a Mesopotâmia e o Egito Antigo. Por isso, é possível manter a suposição de que suas descobertas geométricas remontem aos tempos antes da extinção dessas civilizações, depois de desastres naturais ou a passagem do tempo que levou às suas quedas. Essa suposição é baseada na probabilidade de que essas formas triangulares tenham sido criadas e recriadas em cada etapa da história humana registrada sobre nosso planeta.
A figura reunindo o triângulo, a pirâmide e o Hexaedro tornou-se um dos mais conhecidos símbolos nos Ritos “maçônicos” sob a forma da “pedra cúbica”, que contém os fundamentos da tradição dos construtores desaparecidos.
DO TRIÂNGULO AO TETRAGRAMA
Através dos séculos, a existência extraordinária do triângulo carregou-se de mitos e lendas inevitáveis; ele carrega um exoterismo que é gravado em pedra, bem visível aos olhos de todos. Mas o seu lado esotérico permaneceu encerrado em um “segredo” que lhe foi prejudicial, pois a cada vez é preciso voltar a descobrir sua fonte original em um caminho semeado de dúvidas e muitas vezes de incompreensão.
De uma maneira mais geral, Jules Boucher continua sua explicação: “O triângulo evoca a ideia da Trindade, e essa não é uma concepção própria apenas da religião cristã. A Trindade é encontrada:
No Trimurti Hindu: Brama (Criador);
Vishnu (Conservador); Siva (Destruidor). No Egito incluem: a Tríade de Mênfis, composta do deus Ptah, sua esposa Sekhmet e seu filho Nefertum;
A Tríade Osiriana: Osiris, Isis, Horus;
A Tríade Tebana: Amon, Mut, Khonsu. Persia: Auramazda ou Ormazd, o Mestre ou o Sábio Gênio; Vohu Mano, o bom pensamento; Asha Vahista a justiça mais perfeita.
Poderíamos multiplicar os exemplos de “trindades” na maioria das religiões. (Fim de citação).
Trimurti Hindu.
(Templo de Halebid, região de Karnataka.)