Amor de marinheiro - por Douglas Fersan
Dizem que o marinheiro olhava as estrelas e as achava solitárias, apesar de serem tantas no céu. Ouvia o lamento das ondas e acreditava que o mar chorava, mas quem chorava era seu coração.
O marinheiro estava solitário, aliás, sempre estava solitário. Sua companhia era a maresia e a garrafa de rum que esvaziava tão rapidamente. Não acreditava mais em amor. Conseguia um carinho aqui e outro ali, mas não eram carinhos sinceros, eram sempre movidos a interesses: pagava-se uma bebida e em troca recebia um beijo, um cafuné...
Mas isso não espantava a tristeza nem a solidão.
O marinheiro queria algo que preenchesse o vazio de sua alma, mas só que o satisfazia era o balanço do mar. E, diziam, no mar nunca encontraria um amor, pois o mar é profundo e obscuro, belas mulheres temem o mistério do mar.
Mas foi naquela noite, observando as estrelas, que percebeu outro som que não era apenas o lamento das ondas do mar.
♫♫♪ Um pouco de ti deixo aqui,
um pouco de ti vou levar,
no corpo um pouco de areia,
um pouco do sal do mar ♪♪♫♪♫♪
Prestou atenção naquele som... era um canto doce... doce como o mel.
Marinheiros não estão acostumados a coisas doces, já que levam a vida na água salgada e bebem o amargor da solidão.
Da pedra onde estava sentado, olhou ao redor e viu uma bela mulher... Deitada sobre o rochedo, sendo acariciada pelas ondas do mar, a bela sereia entoava seu cando delicado.
Sem titubear o marinheiros caminhou até aquela bela figura, beijou seus lábios e sentou ao seu lado e ficou ouvindo seu canto a noite inteira. Quando o dia estava para raiar, a sereia o beijou, num gesto de despedida e voltou para a água.
O marinheiro nunca mais foi visto.
Contam que não conseguiria viver sem o cheiro de sal da sereia e nem das conchinhas que enfeitavam seus cabelos. Até hoje há quem acredite que o marinheiro virou encantado e se casou com a princesa Janaína e que junto com ela reina sobre as profundezas azuis do mar,
Autor: Douglas Fersan