Sua história é diferente de outros negros de sua época. Ele viveu no século XIX, no estado do Rio de Janeiro, na cidade de Cabo Frio. Quando ele
nasceu, seus pais ainda eram escravos, mas ele já nasceu pela Lei do Ventre Livre. Então foi afastado de seus pais e teve que mendigar desde
cedo para sobreviver. Aprendeu a pescar e logo tornou-se mercador de peixes. Para se defender dos ataques dos brancos e dos negros mais abastados,
ele aprendeu a lutar a capoeira e a usar o facão como arma. Mas Tomé era amaldiçoado; desde criança ouvia vozes, via almas de pessoas que já morreram e enxergava os dois mundos em constante contraste.
Sua vida era um constante isolamento, por conta de seus fantasmas interiores. Aos poucos muitos espíritos começaram a cercá-lo e a acompanhá-lo. A
todo momento, onde quer que ele fosse, as almas estavam lá acompanhando-o, esperando-o e “azucrinando-o”… Chegou um momento que ele não mais aguentou e pensou em dar cabo da própria vida. Colocou seu facão próximo ao pescoço e ia degolar-se, quando um soldado de vestimentas reais
parou em sua frente e gritou bem altou: “Patakori!” A sua armadura brilhou e ele disse: “- Como ousa, óh escravo, afrontar o teu Pai Ogun, que te tirou da senzala?! Afasta essa faca de ti e vai cumprir tua missão e salvar as almas que te procuram.” E num brado bem alto, ocavaleiro sumiu: “- Jesse, Jesse!”
Tomé caiu por terra e chorou, pois percebeu que São Jorge viera salvá-lo de um ato insano. Voltou ao cais. Pescou seu peixe, assou, matou sua fome e dormiu. Ao amanhecer do dia, procurou uma casa abandonada a beira mar. Reformou a casa, consertou, ajeitou, limpou e fez o que fez. Por fim, foi para o mar e pescou quantos peixes conseguiu pescar. Vendeu todos no mercado. Com o dinheiro comprou uma imagem de Nosso Senhor do
Bonfim e de Nossa Senhora dos Navegantes. Também comprou velas e roupas. E voltou para casa. Ajeitou tudo e colocou uma placa dizendo: “Oração e Benzeduras”. No outro dia, os primeiros raios de sol acolheram uma fila de dez pessoas, que já esperavam por atendimento.
E assim foi que Tomé iniciou seu trabalho de benzedor. Ele trabalhou sem parar por setenta anos… Mas, não viveu só. Um dia, quando já faziam dez anos que Tomé trabalhava, entrou em seu casebre uma moça da Aldeia dos Pescadores, tão acanhada e com medo, que mal levantava a cabeça. Ela se chamava Rosa Maria e, por coincidência, possuía o mesmo dom que Tomé. Tomé tratou dela, que passou a frequentar sua casa e auxiliá-lo nos atendimentos. Os dois se conheceram melhor e passaram a viver juntos. Essa convivência durou sessenta anos. Cumpriram missão e auxiliaram muitas pessoas que necessitavam de ajuda. Bom, assim é o Pai Tomé: sempre alerta e desconfiado, até que conheça bem a intenção do coração do filho…