domingo, 28 de janeiro de 2018

SIGNIFICADO DE OBI E SUAS PROPRIEDADES MEDICINAIS



Ebora kì ìko èbè fún Obi. (As divindades nunca desconsideram uma súplica feita com Obi).

O Obi que é um fruto africano de uso imprescindível no Candomblé, sem ele nenhuma obrigação é feita. Para que a obrigação, ou outro rito prossiga com aceitação dos Òrísás é necessário uma resposta positiva a ser dada através do Obi. Ele deve ser jogado antes da obrigação para saber se o ritual pode ser realizado e depois de feito para saber se foi aceito pelos Deuses.
O fruto utilizado deve ser o que possui quatro gomos, chamado de Obi Abatá, sua divisão deve ser natural, ou seja é proibido o uso de faca ou qualquer material cortante, para dividi-lo em quatro partes, se naturalmente ele só contiver duas partes.
As duas metades correspondem a dois casais, caso o Obi contenha mais de quatro partes, o excedente deve ser retirado, para que somente as quatro permaneçam.
O local onde o Obi será lançado deve ser plano, no chão ou sobre um prato branco, onde fundamentalmente contenha água. As partes são lançadas simultaneamente, sem manipulação ou lançamento individual.
Uma exceção deve ser feita no uso do Obi como jogo, para o Òrìsá Sàngó deve ser utilizado Orogbò em substituição ao Obi.
O fruto dessa árvore tem uma dimensão tão importante no Candomblé que sua utilização vai desde os rituais de iniciação até a consulta, por meio das suas sementes, para saber se determinada oferenda agrada às Divindades. Em tempos de urbanização acelerada, em que os terreiros têm sua áreas verdes reduzidas ou sob constante ameaça de perda, ter Obi nessa quantidade é uma grande vantagem.
 O Obi é muito usado nos boris, que são rituais ligados à iniciação no culto. “A planta é usada na oferenda e no ritual de cabeça para o feitio de orixá.

Fruto do corpo e do espírito
O Obi é uma planta africana que, como muitas outras, veio para o Brasil por necessidades do culto. É consagrado a Òsáàlá. Saber a quem ele é dedicado já é uma pista para conhecer sua função, não só ritualística – iniciação e adivinhação –mas também medicinal. Na indicação popular ele é tido como estimulante físico e de fertilidade.
“Òsáàlá é o grande Pai de todas as outras divindades. Ele é filho de Olorun, o Deus Supremo. E o OBI é a ligação entre ele, os outros Deuses e a humanidade”, explica o antropólogo, chefe do Departamento da Ufba e ogã da Casa Branca, Ordep Serra.
Dentre as espécies catalogadas, encontra-se o obi, cujo nome científico é Cola acuminata. “O obi tem como princípio ativo a cafeína. O teor dessa substância varia muito. Daí por que ele é usado em processo de iniciação, quando se dá uma importância grande aos conhecimentos traduzidos de forma oral ao qual é necessário manter-se atento, em vigília”, explica Eudes Velozo, doutor em química orgânica, professor de química farmacêutica na Faculdade de Farmácia da Ufba e um dos coordenadores do Projeto Ossain.
A massinha branca que reveste a semente do obi é rica em açúcares. “Esse tipo de experiência nos mostrou o quanto há de sabedoria nesse conhecimento dos terreiros. Exercer o conhecimento das ervas é um cargo no Candomblé em que não é necessária apenas a habilidade mística, mas também o estudo”, acrescenta Velozo.
Um outro aspecto notado pelos pesquisadores é a individualização dos tratamentos, coisa que Velozo diz que a medicina tradicional, a partir da genética, passou a utilizar. “A medicina já reconhece que um remédio não tem necessariamente a mesma eficácia em todas as populações. E isso o povo-de-santo já sabe há muito tempo. A planta que serve para uma pessoa numa determinada situação, não vai necessariamente ser utilizada por outra do mesmo jeito”, diz. Esses cuidados, inclusive, fazem parte de um preceito caro ao povo-de-santo: "a mesma erva que pode salvar, se usada indevidamente, pode matar."
Obi, obi d’água ou simplesmente obi. Todos estes nomes referem-se à mesma obrigação, voltada exclusivamente a confortar uma pessoa em um caso de doença, desemprego, distúrbios nervosos, ou até mesmo para um iniciado dentro dos preceitos do "Asè Òrìsá", quando por um motivo ou outro, o mesmo não pode passar por um bori. Esta obrigação tem seu nome em referência a uma fruta africana, o obi, sem a qual nada podemos realizar para os òrìsás, no tangente a sacrifícios, uma vez que é com ela que conversamos com nossos antepassados para sabermos se aquele santo está satisfeito com a obrigação, etc.
Esta obrigação é a mais simples realizada dentro do asè, no tangente a dar de comer a uma cabeça. Trata-se neste ato, de confortar o anjo da guarda da pessoa, seja consulente ou filho de santo, ocasião onde alimentamos Òsàálá, no intuito de pedir a misericórdia para aquele filho que se encontra em tal sofrimento.
Claro que esta obrigação não cria uma obrigatoriedade do cliente com o santo, ela apenas serve como um modo de resolver de imediato uma questão. Existem aqueles que após o obi, sentem-se tão felizes que optam por penetrar de forma mais profunda dentro de nossa religião.
Antigamente quando uma pessoa desejava entrar para os preceitos de uma casa, ou seja, ser filho ou filha de santo naquele templo, ou mesmo quando seu òrìsá exigia feitura, os zeladores tinham por hábito realizar esta como uma primeira obrigação, para daí então estudar a pessoa, ver se ela realmente tinha amor e dedicação para com os òrìsás, e até mesmo para se certificarem de que era realmente sua casa e sua mão que aquele santo desejava, e não apenas uma empolgação material ou espiritual.
Em terra yorubás,é costume oferecer OBI a alguém em sinal de cortesia, de amizade, de cordialidade... Repartido, constitui um pacto de lealdade e de comunhão entre as partes.