Como todos sabem, a semana de quaresma deve ser guardada. Mas, havia um menino muito traquina chamado João Jiló. Ele adorava fazer malvadezas com os bichos e as plantas, e para ele, a semana de quaresma era só mais uma semana como qualquer outra.
Um belo dia, na semana de quaresma, João Jiló resolveu caçar um passarinho e ele tinha uma mira boa como nenhum outro naquelas redondezas.
Mesmo com os avisos de sua mãe, João Jiló era teimoso, e quando punha uma idéia na cabeça ninguém o fazia desistir, e, naquele mesmo dia foi até a mata caçar passarinho, a fim de fazer um ensopado muito gostoso.
Saiu, caminhando pela mata, até que encontrou um passarinho bonito de dar gosto, o mais bonito que ele já tinha visto até então. Não pensou duas vezes, preparou o estilingue e quando se preparava para atirar a pedra, não é que o passarinho cantou para ele?
Não me mata não, João Jiló
Eu vim pra cantar, João Jiló
Sou bichinho do mato, João Jiló
Para piar…
João Jiló nem se importou, acertou bem na cabeça do passarinho que caiu durinho no chão. Sem piscar os olhos duas vezes, pegou o passarinho e correu para casa para fazer aquele cozido…
Quando João ia depenar o passarinho, ele de novo cantou para João Jiló:
Não me depena não, João Jiló
Eu vim pra cantar, João Jiló
Sou bichinho do mato, João Jiló
Para piar…
João Jiló nem deu assunto, arrancou as penas, tirou as tripas e o jogou dentro da panela com mais algumas verduras e legumes.
Mas na hora em que João Jiló ia mexer a panela, o passarinho cantou para ele:
Não me cozinha não, João Jiló
Eu vim pra cantar, João Jiló
Sou bichinho do mato, João Jiló
Para piar…
João ligou? Nada…Mexeu e remexeu. Fez um bom cozido, colocou no prato e quando ia dar a primeira colherada. Quem canta de novo?
Não me come não, João Jiló
Eu vim pra cantar, João Jiló
Sou bichinho do mato, João Jiló
Para piar…
João Jiló comeu que lambeu os dedos. Ao terminar saiu para o quintal todo satisfeito. Mas de repente, começou a sentiu uma coisa estranha na barriga, era o passarinho querendo sair. João ficou assustado, olhou para barriga e perguntou:
-É você, passarinho?
-Sou eu, João, quero sair daqui.
-Ah, então sai.
-Sai por onde João?
-Acha um buraquinho e sai!
-Sei não… Um aqui é muito fedorento, o outro está cheio de meleca… e o outro, o outro tem cera para todo lado. Você não é muito asseado não, João! E o único que resta é o olho e este é apertadinho de mais!
-Então fica aí! – João respondeu.
Quem disse que o passarinho se conformou? Começou a se mexer e remexer na barriga de João, que foi inchando, inchando, inchando e…BUM… explodiu.
O passarinho saiu voando e ainda cantou para João Jiló:
Eu sobrevivi, João Jiló
Eu vim pra cantar, João Jiló
Sou bichinho do mato, João Jiló
Para piar…
O menino ficou lá com a barriga estourada e as tripas nas mãos. Sua mãe, desesperada, chamou o médico do vilarejo, que veio com uma agulha e uma linha enormes e costurou sua barriga. Depois desta, João Jiló ficou tortinho, curvado para baixo.