Saiona é uma lenda da Guatemala, dizem que homens não podem falar de mulheres nas montanhas, pois isso a atrai.
Diz a lenda que uma bela mulher chamada Melissa havia se casado com um ótimo marido, um verdadeiro príncipe, e teve um filho maravilhoso também, ela tinha uma vida perfeita com eles.
Certo dia Melissa foi tomar banho num riacho quando viu um homem estranho a qual nunca havia visto antes. O estranho disse para ela que seu marido a traia com sua própria mãe, a mulher visivelmente em choque foi até sua casa e encontrou o marido e o filho dormindo.
Mesmo em uma cena completamente sem suspeitas, a mulher queimou a própria casa com o marido e o filho dentro. Logo em seguida foi até a casa de sua mãe e esfaqueou a mesma várias vezes. A mãe antes de morrer amaldiçoou a filha pelo que ela havia feito.
Desde então Melissa passou a se chamar Saiona e sai mundo todo, disposta a castigar severamente todos os maridos infiéis.
Abaixo o conto de um livro chamado contos de assombração, que também é uma das estórias mais conhecidas do folclore venezuelano.
OS DOIS CAÇADORES E A SAIONA
A Saiona é o espectro de uma mulher altíssima, que caminha fazendo um
ruído como o de ossos que se chocam e arrastando a cauda de uma longa
túnica negra. Dizem que a cara da Saiona é a cara da morte
e que ela não possui olhos, mas um brilho como o de brasas acesas no
fundo das órbitas.
Aparece nos povoados e no meio do mato, depois do toque das ave-marias,
ao anoitecer.
Aproxima-se dos homens que estão longe de casa e que têm maus
pensamentos. Ela os atrai para um lugar solitário e então mostra-lhes a
sua cara, assustando-os.
Depois, esses homens aparecem mortos, como se tivessem sido atacados
pelas garras de um animal selvagem.
A Saiona foge ao ver uma cruz e também ao escutar o primeiro canto do
galo na madrugada.
Uma tarde, dois caçadores deixaram o vilarejo onde viviam e se
embrenharam na montanha. Levavam comida para vários dias. Caminharam a
tarde toda e, ao cair da noite, acenderam uma pequena fogueira e armaram
as suas redes numas árvores, no meio do mato cerrado.
E aí, enquanto esquentava a comida, um deles se pôs a lembrar da
namorada: como era linda, que olhos tão negros possuía, e a voz tão
suave, assim como a pele do rosto e do pescoço...
— Não fale de mulheres, compadre. Então não vê que estamos no meio da
montanha?
— E o que é que tem?
— É que não se deve falar de mulheres no meio da montanha.
— Mas eu não estou falando de mulheres, estou falando da minha
namorada.
— Dá na mesma. A Saiona pode aparecer.
Foi só mencionar esse nome e ouviram um assovio vindo do lado do
desfiladeiro. E também uns passos. O fogo começou a crepitar como se
tivessem atirado óleo nele. Os dois caçadores, então, ficaram bem
quietos, sentindo a escuridão, escutando apenas o assovio e olhando sem
enxergar, até que uma luz começou a vir na direção deles, como flutuando.
Quando já estava bem perto, viram que se tratava de uma linda jovem de
olhos brilhantes, que vinha sorrindo e caminhando com muita graça.
— Boa noite — disse ela ao chegar.
E sem esperar que lhe respondessem, sentou-se ao lado deles, sempre
sorrindo. Com os seus longos e brancos dedos, foi logo pegando uns
pedaços de beiju e, estranhamente, mal os colocava na boca, cuspia-os no
chão.
— A Saiona! — disse um deles com um fiozinho de voz. Ela escutou, é
claro, porém não disse nada.
O outro, no entanto, o da namorada, olhava-a embasbacado. Ela se
parecia muito à sua namorada: esses olhos tão lindos e esse sorriso... E
quando chegou a hora de dormir, fez lugar para ela na sua rede, que era
das grandes, enquanto o compadre apagava a lanterna e se deitava na outra
rede, pendurada um pouco mais abaixo.
Então tudo mergulhou na escuridão, já que não havia lua essa noite.
Escutavam-se apenas os ruídos da montanha. O compadre nem viu se o outro
dormiu. O certo é que, já tarde da noite, ouviu um ruído de gotas
pingando no chão, uma após outra, compassadamente: tac, tac,
tac... Como um fim de chuva na folhagem, porém eram gotas mais pesadas
que as da chuva. Esticou a mão e sentiu cair nela uma gota quente,
espessa e pegajosa. Tremendo, acendeu a lanterna e aproximou-se da rede
do rapaz. Ali estava o seu compadre, esvaído em sangue, todo
desconjuntado e com os olhos completamente brancos voltados para o céu.
Porém, mal teve tempo de vê-lo, porque uma mão ossuda e o rosto de uma
caveira cujos olhos eram como a chama de uma candeia saltaram da rede e a
Saiona veio para cima dele.
Ele atirou a lanterna longe e saiu correndo. Largou-se pelas montanhas,
na escuridão, com a Saiona pulando detrás dele, soltando o seu assovio de
morte e lançando fogo pelos olhos. E quando já parecia que ia ser
agarrado, quando ele já podia sentir a respiração quente da
Saiona no seu pescoço, avistou um regato. Atirou-se na água, no meio do
areal, com os braços abertos em cruz.
A Saiona ficou parada, assoviando e bufando.
— Vem, vem, vem... — gritava ela.
O homem tratou de desviar o olhar e balbuciou uma oração.
— Vem, vem, vem.., — repetia a Saiona com a sua retumbante voz de
caveira.
E essa horripilante voz de caveira o enfeitiçava de tal modo que a
oração morreu em seus lábios e, mesmo estando em posição de cruz, teve a
impressão de que a Saiona ia pular por cima dele. Porém, justo nesse
momento, os galos cantaram.
E a Saiona ficou primeiro como se fosse de água e depois como se fosse
de ar. O seu assovio cessou e num segundo ela não estava mais lá.