Origens
As referências bíblicas ao Leviatã parecem ter evoluído do ciclo cananeu de Baal, envolvendo um confronto de proporções épicas entre o deus e um monstro marinho de sete cabeças chamado Lotan. As referências bíblicas também se assemelham ao épico da criação babilônica Enuma Elish, no qual o deus da tempestade Marduk mata o monstro marinho e deusa do caos e da criação Tiamat e cria a terra e o céu a partir das duas metades de seu cadáver.
Tais criaturas marinhas são comuns a quase todas as civilizações antigas, particularmente aquelas que estavam geograficamente próximas à água. Mesmo durante o período posterior da navegação marítima grega e romana, os oceanos eram lugares perigosos e misteriosos, no qual os humanos dificilmente podiam penetrar para descobrir o que se escondia abaixo. Avistamentos de baleias, lulas e outros grandes animais marinhos provavelmente alimentaram a misteriosa crença em monstros marinhos.
No Livro de Jó, tanto Behemoth quanto Leviatã estão listados ao lado de vários outros animais que são claramente mundanos, como cabras, águias e falcões, levando muitos estudiosos cristãos a supor que Behemoth e Leviatã também poderiam se tratar de criaturas mundanas. O animal mais frequentemente proposto para o Leviatã é o crocodilo do Nilo, que é aquático, escamoso e possui dentes ferozes.
Outros sugerem que o Leviatã é um relato exagerado de uma baleia. Essa visão enfrenta algumas dificuldades, no entanto, como o fato de que os primitivos judeus no Oriente Próximo provavelmente não teriam encontrado baleias em uma região tão quente. Durante a era de ouro da navegação marítima, os marinheiros europeus viam o Leviatã como um gigantesco monstro marinho semelhante a uma baleia, geralmente uma serpente marinha, que devorava navios inteiros nadando ao redor deles tão rapidamente que criava um redemoinho.
O Leviatã também pode ser interpretado como o próprio mar, assim como suas contrapartes Behemoth e Ziz são como a terra e o ar, respectivamente. Alguns estudiosos interpretaram o Leviatã e outras referências ao mar no Antigo Testamento, como referências altamente metafóricas a saqueadores marítimos que uma vez aterrorizaram o reino de Israel.
Judaísmo
No Judaísmo, o Leviatã é citado várias vezes no Talmude. Em uma das citações, é dito que o Leviatã será morto e sua carne servida como um banquete para os justos no "Tempo por Vir" e sua pele será usada para cobrir a tenda onde o banquete acontecerá. Aqueles que não merecem consumir sua carne sob a tenda podem receber várias vestimentas do Leviatã variando de coberturas (para os merecedores) a amuletos (para os menos merecedores). A pele restante do Leviatã será espalhada nas paredes de Jerusalém, iluminando assim o mundo com seu brilho.
No Zohar, o Leviatã é uma metáfora para a iluminação. O Zohar observa que a lenda dos justos comendo a pele do leviatã no final dos dias não é literal, e apenas uma metáfora para a iluminação.
Em uma lenda registrada no midrash Pirke de-Rabbi Eliezer , afirma-se que o peixe que engoliu Jonas evitou por pouco ser comido pelo Leviatã, que come uma baleia por dia.
O Dicionário Judaico de Lendas e Tradições de Alan Uterman afirma que os olhos do Leviatã iluminam o mar a noite e podem ser vistos a milhas de distância. A água ao seu redor ferve com o hálito quente de sua boca, o que o faz ser sempre acompanhado de cortinas de vapor escaldante. O odor fétido do Leviatã pode superar até a fragrância do jardim do Éden, e caso seu fedor lá penetrasse, ninguém poderia sobreviver.
Na Bíblia, a palavra "leviatã" aparece em cinco passagens (seis se for a Bíblia Católica):
Isaías 27: 1: "Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar".
Salmos 74:14: "Fizeste em pedaços as cabeças do leviatã, e o deste por mantimento aos habitantes do deserto".
Salmos 104: 25,26: "Eis o mar, imenso e vasto. Nele vivem inúmeras criaturas, seres vivos, pequenos e grandes. ... Nele passam os navios, e também o Leviatã, que formaste para com ele brincar".
Jó 3: 8: "Amaldiçoem aquele dia os que amaldiçoam os dias e são capazes de atiçar o Leviatã".
Jó 41:1-34 (o capítulo inteiro trata dele):
"Você consegue pescar com anzol o leviatã ou prender sua língua com uma corda?
Consegue fazer passar um cordão pelo seu nariz ou atravessar seu queixo com um gancho?
Pensa que ele vai lhe implorar misericórdia e lhe vai falar palavras amáveis?
Acha que ele vai fazer acordo com você, para que você o tenha como escravo pelo resto da vida?
Acaso você consegue fazer dele um bichinho de estimação, como se ele fosse um passarinho, ou pôr-lhe uma coleira para as suas filhas?
Poderão os negociantes vendê-lo? Ou reparti-lo entre os comerciantes?
Você consegue encher de arpões o seu couro, e de lanças de pesca a sua cabeça?
Se puser a mão nele, a luta ficará em sua memória, e nunca mais você tornará a fazê-lo.
Esperar vencê-lo é ilusão; só vê-lo já é assustador.
Ninguém é suficientemente corajoso para despertá-lo. Quem então será capaz de resistir a mim?
Quem primeiro me deu alguma coisa, que eu lhe deva pagar? Tudo o que há debaixo dos céus me pertence.
"Não deixarei de falar de seus membros, de sua força e de seu porte gracioso.
Quem consegue arrancar sua capa externa? Quem se aproximaria dele com uma rédea?
Quem ousa abrir as portas de sua boca, cercada com seus dentes temíveis?
Suas costas possuem fileiras de escudos firmemente unidos;
cada um está tão junto do outro que nem o ar passa entre eles;
estão tão interligados, que é impossível separá-los.
Seu forte sopro atira lampejos de luz; seus olhos são como os raios da alvorada.
Tições saem da sua boca; fagulhas de fogo estalam.
Das suas narinas sai fumaça como de panela fervente sobre fogueira de juncos.
Seu sopro faz o carvão pegar fogo, e da sua boca saltam chamas.
Tanta força reside em seu pescoço que o terror vai adiante dele.
As dobras da sua carne são fortemente unidas; são tão firmes que não se movem.
Seu peito é duro como pedra, rijo como a pedra inferior do moinho.
Quando ele se ergue, os poderosos se apavoram; fogem com medo dos seus golpes.
A espada que o atinge não lhe faz nada, nem a lança nem a flecha nem o dardo.
Ferro ele trata como palha, e bronze como madeira podre.
As flechas não o afugentam, as pedras das fundas são como cisco para ele.
O bastão lhe parece fiapo de palha; o brandir da grande lança o faz rir.
Seu ventre é como caco denteado, e deixa rastro na lama como o trilho de debulhar.
Ele faz as profundezas se agitarem como caldeirão fervente, e revolve o mar como pote de ungüento.
Deixa atrás de si um rastro cintilante; como se fossem os cabelos brancos do abismo.
Nada na terra se equipara a ele; criatura destemida!
Com desdém olha todos os altivos; reina soberano sobre todos os orgulhosos".