Menino da Rua
Oi. E aí, beleza? Só na boa?
O meu nome é Toquinho da Calunga
Menino da Rua
Oi. E aí, beleza? Só na boa?
O meu nome é Toquinho da Calunga¹, mas pode me chamar só de Toquinho mesmo. Não sei porque esse negócio de “Calunga”, eu nunca nem entrei lá. Mas deixando isso pra lá, sou eu que vou contar a minha história pra vocês.
Eu sou um Exu Mirim, um espírito que trabalha na Umbanda². É uma religião muito maneira — como todas, quando praticadas direito e sem sacanagem.
Uma vez me perguntaram: “Toquinho, Exu Mirim é menino, garoto, criança ou adulto?”. Nenhum deles. Garoto, criança é “Ibeji” — aqueles guias fofos, bonitinhos, que comem doce branco e bebem guaraná.
Exu Mirim é menino de rua espiritual, “pivete do espaço”, “moleque”, “dimenor” “do astral”. Muitos chamam a gente assim por causa do comportamento, mas nem sabem direito o que tão fazendo. Acham que somos assim no terreiro para vestir um personagem, trabalhar nessa linha. Na verdade, a gente se comporta assim porque é assim. É nossa natureza.
Deve ser por isso que durante tanto tempo baniram a gente dos terreiros. Tinham medo da sinceridade, do nosso jeito explosivo, do nosso comportamento tão humano. Queriam guias elevados, sábios, “prontos”. Ninguém acreditava que um espírito de trabalho podia ser tão imperfeito, precisar de ajuda, de ensino, de evolução.
Antes de continuar, vamos deixar uma coisa bem clara: a palavra “pivete” ganhou no mundo de vocês um sentido ruim. Geralmente é associada ao moleque de rua que assalta, que mata, enfim, que faz tudo de errado. Mas, antes de julgar, vocês já se perguntaram por que ele fez essa escolha?
O pivete adotado, educado, tratado na boa, pode trabalhar pra luz: é assim com os meninos de rua do material e também com Exu Mirim. Sabem qual é a diferença? Os lugares que cuidam dos pivetes de carne e osso não funcionam. No astral também foi assim, a gente ralou pra conseguir nosso espaço, e a coisa tá melhorando.Hoje é só trabalhar sem sacanagem que a parada acontece. E quando a gente é adotado de verdade pelo Exu,pela Pombagira e pelo médium, aí o bagulho fica maneiro! Quem ganha o nosso coração — desde que mantenha a palavra, né? — tem um parceiro fiel na jogada.Ainda lembro da primeira vez que cheguei num terreiro. Faz o que? Sei lá quanto tempo. Vim na expectativa, cheio de perguntas na cabeça, vontade de fazer e acontecer, exatamente como seria se fossem vocês no meu lugar. E eu já andava todo coberto de carvão, mesmo tendo a pele muito branca.
Oi. E aí, beleza? Só na boa?
O meu nome é Toquinho da Calunga¹, mas pode me chamar só de Toquinho mesmo. Não sei porque esse negócio de “Calunga”, eu nunca nem entrei lá. Mas deixando isso pra lá, sou eu que vou contar a minha história pra vocês.
Eu sou um Exu Mirim, um espírito que trabalha na Umbanda². É uma religião muito maneira — como todas, quando praticadas direito e sem sacanagem.
Uma vez me perguntaram: “Toquinho, Exu Mirim é menino, garoto, criança ou adulto?”. Nenhum deles. Garoto, criança é “Ibeji” — aqueles guias fofos, bonitinhos, que comem doce branco e bebem guaraná.
Exu Mirim é menino de rua espiritual, “pivete do espaço”, “moleque”, “dimenor” “do astral”. Muitos chamam a gente assim por causa do comportamento, mas nem sabem direito o que tão fazendo. Acham que somos assim no terreiro para vestir um personagem, trabalhar nessa linha. Na verdade, a gente se comporta assim porque é assim. É nossa natureza.
Deve ser por isso que durante tanto tempo baniram a gente dos terreiros. Tinham medo da sinceridade, do nosso jeito explosivo, do nosso comportamento tão humano. Queriam guias elevados, sábios, “prontos”. Ninguém acreditava que um espírito de trabalho podia ser tão imperfeito, precisar de ajuda, de ensino, de evolução.
Antes de continuar, vamos deixar uma coisa bem clara: a palavra “pivete” ganhou no mundo de vocês um sentido ruim. Geralmente é associada ao moleque de rua que assalta, que mata, enfim, que faz tudo de errado. Mas, antes de julgar, vocês já se perguntaram por que ele fez essa escolha?
O pivete adotado, educado, tratado na boa, pode trabalhar pra luz: é assim com os meninos de rua do material e também com Exu Mirim. Sabem qual é a diferença? Os lugares que cuidam dos pivetes de carne e osso não funcionam. No astral também foi assim, a gente ralou pra conseguir nosso espaço, e a coisa tá melhorando.Hoje é só trabalhar sem sacanagem que a parada acontece. E quando a gente é adotado de verdade pelo Exu,pela Pombagira e pelo médium, aí o bagulho fica maneiro! Quem ganha o nosso coração — desde que mantenha a palavra, né? — tem um parceiro fiel na jogada.Ainda lembro da primeira vez que cheguei num terreiro. Faz o que? Sei lá quanto tempo. Vim na expectativa, cheio de perguntas na cabeça, vontade de fazer e acontecer, exatamente como seria se fossem vocês no meu lugar. E eu já andava todo coberto de carvão, mesmo tendo a pele muito branca.