Na Religião de Umbanda, observamos em sua estrutura ritualística diversas crenças e culturas, hoje já bem organizadas e explicadas pelo plano superior. Nessa ritualística, cultuamos o Divino Criador Olorum (Deus), os Sagrados Orixás (Divindades de Deus), Anjos, Santos (sincretismos com nossos Orixás) e as Linhas de trabalho (espíritos).
Nas Linhas de trabalho, observamos a manifestação de espíritos de diversas formações (religiosas, culturais, etc), incorporados a um sistema Divino e perfeito de trabalho, dentro de um arquétipo cultural da nossa religião. Religião significa religar-se a Deus, a algo maior; porém, a cultura local do nascimento de uma religião também tem fortíssima influência no desenvolver da mesma.
Posto isso ao entendimento, podemos ver e sentir espíritos humanos se manifestando em linhas de Pretos Velhos, Caboclos, Boiadeiros, Marinheiros, Baianos, Exus, Pombagiras, etc. Mas entre essas Linhas de trabalho temos algumas nas quais sua formação não comportam totalmente espíritos humanos ou espíritos que já encarnaram, como Erê, Exu Mirim, Caboclinhos e Sereias.
Essas Linhas, em particular, são formadas por espíritos que vivem em outras dimensões da vida, no qual fazem este “intercâmbio” entre as dimensões e assim fortalecem seus mentais e sua evolução como também nos ajudam muito nesta realidade da vida.
Falando especificamente da Linha das Sereias, podemos afirmar que na Umbanda ela não surgiu logo no início desta religião, sendo que se apresentou conforme o tempo e o nosso merecimento, espalhando-se assim por muitos Terreiros.
Hoje, esta maravilhosa Linha ainda existe na religião de Umbanda, sendo que sua manifestação ocorre em “poucos” Terreiros se compararmos aos de antigamente.
A Linha das Sereias é constituída por seres femininos que nunca encarnaram e que vivem no 5˚ Plano da Vida, o Plano Encantado da Criação. Esses seres encantados da natureza vivem em suas dimensões aquáticas regidas pelas Mães Orixás no qual são tratadas como Mães Divinas, tendo como principal irradiação e regência a Orixá Iemanjá, mas também encontramos Sereias regidas por Oxum e Nanã.
Importante frisar que as Sereias não são Orixás Iemanjás, apesar de serem regidas por ela e seu Mistério Aquático e Gerador. São seres que caminham em uma evolução natural e vertical, e quando atingirem os limites de evolução da dimensão em que habitam, atingirão o 6˚ Plano da Vida e se tornaram seres denominados Ninfas (estágio inicial ou anterior a um Orixá natural) , iniciando assim seus preparos dentro da evolução para se tornarem Mães Orixás.
Voltando para sua manifestação na Umbanda, esta Linha de trabalho é poderosíssima, pois quando se manifesta no Templo de Umbanda sua atuação é a total limpeza e higienização de energias negativas, miasmas, pensamentos-formas, magias negativas, entre outros, tanto na assistência, nos médiuns como no ambiente. Esses seres não falam, apenas transmitem um som, um canto, que na verdade é um mantra aquático e junto a seus movimentos, trazem toda a energia aquática geradora para dentro do Terreiro, limpando tudo que for contra a geração da vida, dos princípios de Deus, da Lei Maior e da Justiça Divina.
Nesta linha temos como “ícone”, a Sereia Janaína, que é a princesa do Mar. Se Iemanjá é a Rainha do mar, Janaina é a princesa. Outros nomes de Sereias já foram revelados no passado, mas hoje são cultuadas apenas como Sereias do Mar.
Essa Linha regida por Iemanjá, hoje com todo o entendimento ensinado por Rubens Saraceni, nos mostra que na Linha de Iemanjá se manifesta na sua esquerda Exus, Pombagiras e Exus Mirins do Mar e, na sua direita, os Caboclos e Caboclas do Mar, Marinheiros e as Sereias, intitulados muitas vezes como o Povo do Mar.
Historicamente falando, as Sereias que se manifestam na religião de Umbanda não tem ligação com os mitos e lendas contados e ensinados durante tantos anos. Se formos a fundo nas lendas ou mitos das Sereias, poderemos ver claramente que esses seres estão presentes na humanidade muito antes da Mitologia Grega, no qual o conto de Sereia tomou maior notoriedade, pois nossos ancestrais desenhavam em cavernas seres metade mulher/homem metade peixe.
Existem muitas lendas sobre as Sereias, desde a Grécia Antiga ao Oriente Médio, Europa, América do Sul e até mesmo no Brasil – com a lenda da Sereia Iara, uma sereia do Rio, de água doce. Mas tantos mitos, histórias e lendas, devem ficar apenas como nota de conhecimento, pois, de fato, muitas histórias das Sereias retratam seres malvados e perversos, no qual não tem nenhuma identificação com os seres encantados que se manifestam nos Templos de Umbanda.
Para evocar a Linha das Sereias no Terreiro podem ser cantados Pontos de Iemanjá ou das próprias Sereias. Sua cor é o azul claro e rosa e sua oferenda ou firmeza pode seguir o mesmo formato da Mãe Iemanjá.