A doutrina espírita é clara: Deus não pune! Somos responsáveis por nossas ações e recebemos de volta o resultado delas...
A doutrina espírita é clara: Deus não pune! Somos responsáveis por nossas ações e recebemos de volta o resultado delas...
Algumas vezes, ficamos refletindo quando vemos uma ação como um assassinato brutal, tentando compreender o porquê daquele acontecimento. E muitas vezes não encontramos uma linha de raciocínio lógico dentro dos padrões da sociedade e buscamos no Espiritismo a explicação. Porém, cada caso é um caso, e sendo assim, ficamos ainda com um ponto de interrogação na mente, já que não existe uma resposta para tudo e sim uma linha de raciocínio na doutrina espírita onde buscamos o entendimento dos motivos que levam a determinada atrocidade. Por outro lado, quando vemos uma ação benéfica, ficamos comovidos e motivados a trabalhar na Seara do Bem.
Quando tive a pretensão de pensar já ter visto de tudo um pouco neste planeta, cheguei à conclusão de que ainda há muito para aprender sobre expiações e provas. Digo isto porque chegou-me, por e-mail, o jornal virtual da BBC Brasil com o seguinte título: “Bebê com dois rostos é tratado como “deusa” na Índia”. O subtítulo concluía: “Um bebê de um mês que nasceu com duas faces devido a um problema raro, virou alvo de devoção dos vizinhos em um vilarejo perto de Délhi, na Índia”.
A primeira impressão que tive é que se tratava de gêmeos siameses, mas ao ler a matéria entendi que o problema da criança é um caso raro, conhecido na Medicina como duplicação craniofacial. Apesar do problema, os médicos diagnosticaram que a menina, de nome Lali, encontra-se saudável. Outra curiosidade neste caso é que ela consegue beber leite por qualquer uma das bocas e também respira normalmente.
Ao ler a matéria, pude refletir que o mundo está mudando, realmente, pois em tempos remotos ou em outras culturas, uma criança que nascesse com esta anomalia seria considerada obra do “demônio” e provavelmente sacrificada. Porém, Lali, transformou-se em objeto de fascinação e reverência, com os moradores fazendo fila para ver a criança. Eles trazem oferendas em dinheiro, acreditando que ela tem poderes especiais.
O pai de Lali, Vinod Singh, um lavrador muito pobre, disse que “A primeira vez que a vi fiquei com medo, é natural. Mas agora me sinto abençoado”. Jatinder Nagar, vizinho que assumiu o papel de guia das visitas à criança, comentou que “Quando se vê algo que não é natural, só pode ser algo de Deus. É tão mágico que acreditamos que ela seja uma deusa”. A população desse vilarejo acredita que Lali seja a reencarnação de uma deusa hindu e estão pensando em construir um templo em sua homenagem.
Apesar dos médicos insistirem em fazer novos exames para saberem da possibilidade de separar a cabeça de Lali, obtendo a certeza que seus órgãos internos são normais, encontram a resistência dos pais, que não concordam que a menina se submeta a novos exames. Vinod Singh é taxativo e questiona: “Qual a necessidade dos exames? Até onde sabemos, ela é como qualquer criança. Só queremos aproveitar o tempo que temos com nossa primeira filha”.
Entretanto, os pais de Lali estão se sentindo desconfortáveis com a situação e já mostram sinais de cansaço, com tanta adoração do povoado do vilarejo, afinal, a família está perdendo a privacidade.
Intrigado com o assunto, perguntei ao conceituado palestrante e escritor espírita, Richard Simonetti, sobre como o Espiritismo explica esta expiação desse espírito encarnado. Ele gentilmente respondeu, dizendo: “Problema curioso! Nunca tinha visto. Situações dessa natureza sempre configuram uma provação para o reencarnante e para os pais ou expiação para o grupo (algo imposto pela lei de ação e reação)”. E acrescentou, escrevendo que “Quanto à natureza do crime ou crimes que tenham cometido para se verem numa situação dessa natureza, é algo que não sabemos. O fato é que não se trata de mero acidente biológico”.
Realmente, um fato como este não acontece por acaso e tem uma explicação, mesmo não sendo de nosso conhecimento no mundo físico. Para fundamentar essa opinião, encerro com O Livro dos Espíritos:
“964. Mas, será necessário que Deus atente em cada um dos nossos atos, para nos recompensar ou punir? Esses atos não são, na sua maioria, insignificantes para Ele?
Deus tem Suas leis a regerem todas as vossas ações. Se as violais, vossa é a culpa.
Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: Foste guloso, vou punir-te. Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a conseqüência dos excessos. Eis aí a punição; é o resultado da infração da lei. Assim em tudo.”.
E Kardec complementa: “Todas as nossas ações estão submetidas às leis de Deus. Nenhuma há, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma violação daquelas leis. Se sofremos as conseqüências dessa violação, só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores da nossa felicidade, ou da nossa infelicidade futuras. [...]”.
Revista Cristã de Espiritismo, edição 58.