O evangélico é, ou deveria ser, conforme dizem os dicionários: “aquele que carrega o evangelho, a boa-nova, a mensagem de Cristo dentro de si”
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O evangélico é, ou deveria ser, conforme dizem os dicionários: “aquele que carrega o evangelho, a boa-nova, a mensagem de Cristo dentro de si”. Deveria entender que a “Boa-Nova” é a vida verdadeira, e a vida eterna, não é prometida, está aqui, está em nós, enquanto vivermos nossa vida na “ética do amor”, tal como ensinou o Mestre.
Consequentemente, o verdadeiro cristão, é também um evangélico. Desnecessário dizer que é impossível ser um autêntico evangélico, sem ser um autêntico cristão. Pois somente com a prática da vida “cristã” é que alguém pode se sentir “bem-aventurado”, “evangélico”, “filho de Deus”. O evangélico, deveria lutar, dia a dia, para viver sua vida conforme Cristo vivia, pois Cristo não “morreu” para salvar os homens, mas para demonstrar como se deve viver.
“O que legou à humanidade foi a prática: a sua atitude perante os juízes, perante as autoridades, perante os seus acusadores e perante toda a espécie de calúnias e de ultrajes – a sua atitude na cruz. Não resiste, não defende o seu direito, não dá nem um passo para afastar de si o fim, mas, pelo contrário, provoca-o. Suplica, sofre e ama com aqueles, por aqueles que o maltrataram”. (Nietzsche)
Portanto, o autêntico evangélico, não oferece resistência àquele que se mostra contrário a ele, nem por palavras, nem no seu coração. Não faz diferença entre estrangeiros e compatriotas, entre judeus e não judeus. Não se aborrece com ninguém, nem despreza ninguém. Porque ele sabe que Deus está em toda parte, transcendente a todas as coisas e imanente em todas elas, compreende que não existe no Universo um único indivíduo, separado do grande Todo, e embora cada indivíduo possua suas diferenças, essencialmente, cada um é igual a todos.
E por reconhecer que todos são filhos de um Pai único, não vê diferenças entre seus irmãos hinduístas, budistas, muçulmanos, umbandistas, taoístas, xintoístas, pois humildemente reconhece que esses e tantos outros, alguns já bem antes de Cristo vir a terra, participam de uma mesma busca: religar-se com o Divino, trazer para si o espírito Crístico.
Dessa forma, ele nunca fala mal dos seus irmãos, porque leva bem a sério aquela passagem que diz: “Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz. (Tiago 4:11) E entende que essa Lei, é a ordem eterna inerente à própria natureza do universo, tomando em sua totalidade como causa e efeito. Essa Lei Universal, também pode ser chamada Deus, ou Divindade.
Um verdadeiro evangélico é sereno, paciente, não grita nem se desespera. Pensa com clareza, fala com inteligência, vive com simplicidade. Possui sempre mais do que julga merecer. O que ele possui – dinheiro ou posição social – nada significa para ele. Só lhe importa o que ele é. Porque busca “primeiro o reino de Deus, e a sua justiça” sabendo que todas as outras coisas que porventura precisar, lhe “serão acrescentadas”. (Mateus 6:33)
Tem mente de adulto e coração de criança, porque disse o mestre: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. (Mateus 19:14)
Quem carrega o evangelho dentro de si, entende que o “reino de Deus” não é algo que se espere, não vem dentro de “mil anos” – é uma experiência do coração, está em toda a parte e não está em parte alguma. Sabe também que a felicidade eterna não está prometida, nem ligada a condições, ela deve ser a única realidade!
Porque certa vez, sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, ele respondeu: “O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas 17:20-21)
Portanto, sabe o evangélico que o “Céu” é mais que um lugar, é um estado de perfeita harmonia do homem com a Lei Universal, é a consciência de Deus. E assim ele luta constantemente para trazer o “Reino de Deus” para o seu mundo e para o seu coração, porque todos os dias, no silêncio da sua alma, ele ora pedindo: “Venha a nós o teu Reino” (Mateus 6:9-13)
O evangélico é todo homem que tem a experiência mística “Eu e o Pai somos um”, e por isso ama a Deus “com toda a alma, com todo o coração, com toda a mente e com todas as forças” e com o transbordamento dessa experiência individual, pratica a ética do segundo mandamento, “amando seu semelhante como a si mesmo”.
Assim, por carregar o evangelho dentro de si, não se preocupa com templos e instituições cristãs, porque “o Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 17:24) ele mesmo é o “templo de Deus” e sabe que o “Espírito de Deus” habita nele (I Coríntios 3:16). “É um tesouro oculto, que se deve transformar num tesouro manifesto.
O evangélico autêntico sabe que a volta de Cristo sobre nuvens de glória, será quando ele definitivamente religar-se com o seu “Eu Divino” e permitir a volta de Cristo dentro do seu coração. Por isso, está sempre disposto a aprender, mesmo com as crianças ou com os tolos. Abdicando sua opinião quando verifica seu erro, pois é um eterno buscador da verdade, e sabe que a mesma, está sempre em processo de confirmação.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32)
Por isso, apesar de ser um profundo admirador de Cristo, jamais me considerei cristão ou evangélico, é muita responsabilidade assumir tais títulos.
Fiquem em Paz.