Em um mundo fantástico, um viajante é levado ao reino dos Orixás. Precisará de bravura e sabedoria para desvendar os mistérios e ajudar as princesas das águas em seus objetivos secretos!
marcosfujimoto
Capítulo 1
Estava eu perdido em meus pensamentos,quando decidi caminhar e adentrar nas matas,ao longe escutei uma linda voz.
Era uma mulher? O espírito guardião que todos falam? Não sei,só sei que fui conduzido cada vez mais a dentro,sem perceber caminhei até uma linda cachoeira, em sua queda em meio a espumas e pedras, lá estava ela: Uma mulher de belo corpo,olhar marcante ,penteando seus cabelos,sua pele reluzente como ouro, adornada com jóias preciosas.Ao perceber que estava sendo admirada aumentou seu timbre e seu canto me levou para dentro de sua morada.
- Belo habitante do Aiyê,então nos encontramos,você não se lembra de mim,mas já conversamos muito durante seu sono,sou eu! Iya Ominibu uma das princesas das águas, não se assuste nem queira dizer seu nome, já sabemos tudo sobre você... preste atenção nos ensinamentos que seu Odu deseja lhe mostrar....
Suavemente pegou em minha mão e me conduziu ao seu palácio que se escondia por detrás da nuvem de poeira d'água.- Agora que está tu aqui em minha morada se aproxime...
Estávamos em um recinto com paredes de ouro maciço, não haviam móveis, apenas um recipiente cheio de água, aquela mulher princesa foi até o centro onde estava aquele objeto estranho para ser de decoração, retirou um pequeno vidro de sua roupa e despejou três gotas de um líquido vermelho como sangue.
As paredes começaram a brilhar,se moveram,já não havia mais sala,tudo era uma névoa, fiquei com receio,afinal onde estaria?Mas a voz da princesa voltou a surgir :
- Preste atenção,no final tudo será esclarecido.
Após essas palavras a minha aventura começou, e digo o que vi :
Na pequena aldeia existia um adivinho,senhor que todos respeitavam pela sabedoria e conhecimento,seu nome era Orunmilá.
O adivinho resolvia os mais incríveis problemas, mostrava quem roubou do pastoreio do outro,se a criança ia vingar ou não, todos queriam saber o futuro através de Orunmilá.
Um certo dia o dono da adivinhação, foi chamado por um rei de uma cidade distante,preocupado,mesmo contra sua vontade,teve que ir,pois o pedido de um rei não pode ser rejeitado...
Após um longo dia de trabalho, chegando em casa já foi logo esclarecendo o que iria acontecer para sua esposa :Capítulo 2
Orunmilá chamou sua esposa e foi logo explicando o sucedido :
- Yemanjá, mulher terei que ir em uma cidade distante, o rei esta me chamando,fique tranquila,cuide da casa e lembre-se não mexa no meu quarto de oráculos.
Yemanjá sempre foi um boa mulher,fazia os afazeres da casa, zelava por tudo,ficou um pouco preocupada,pois sabia que estavam tendo uns ataques de saqueadores nos arredores da cidade, mas simplesmente concordou e deu um leve beijo no marido.
- Não saia sem jantar, fiz um bom prato de Ebô para você e suco de Igbi.
Orunmilá se deliciou com o prato de sua esposa e seguiu sua viagem.
Os dias foram passando,e nada do adivinho voltar, a comida estava acabando, Yemanjá estava ficando preocupada, em um dia quente de Sol, uma mulher chegou na porta de sua casa e disse :
- Yemanja,estou com um problema muito sério, onde esta o adivinho da cidade, pago muito bem.
A mãe dos filhos peixes triste respondeu :
- Ele não esta, foi para a cidade vizinha a pedido do rei,mas compre alguns panos meus, estou passando por dificuldades, assim poderei me alimentar.
A mulher olhou para Yemanjá e disse ironicamente :
- Ah Yemanjá,não quero me perder com bobagens como essas,se fosse o jogo de Orunmilá,com toda certeza pagaria até quinhentos mil cauris, mas pelo seu artesanato...Vou procurar outro adivinho..
Os dias foram se passando, e dia após dia,homens e mulheres de várias cidades vinham a procura do oráculo de ifá, e nada...
Yemanjá estava triste,se não fizesse algo logo morreria de fome...
Foi então que teve uma idéia! Se tantos queriam pagar pelas adivinhações de Orunmilá, ela iria começar a adivinhar também, foi até o quarto de adivinhações e pegou o jogo de ifá, respirou profundamente e abriu a cabaça....
Foi aí que tudo começou a mudar.....
Capítulo 3
A cabaça do segredo havia sido aberta! Quando Yemanjá começou a pegar os cauris mágicos,iniciou-se um grande processo de visões e ela percebeu que o poder da adivinhação não estava preso somente a Orunmilá, a partir de agora Yemanjá também era uma grande adivinha.
- Ah, então agora também sou dona dos segredos de Orunmilá.. pelo menos não passarei mais fome.
Yemanjá passou a fazer adivinhações e começou a ganhar fama.
Passaram alguns dias e Orunmilá esta regressando para sua cidade,quando um forasteiro apareceu e disse :
- Orunmilá,meu querido adivinho, estou indo para sua cidade, existe uma boa olheira de ifá,dizem até que seus poderes são maiores que os seus!
Orunmilá não acreditou no que estava ouvindo,como alguém ousaria a fazer adivinhações em sua cidade, e além disso, ele era o único que sabia os verdadeiros segredos de ifá, e então bolou um plano :
- Atenção a vocês que estão na minha caravana,sigam viagem pois não irei para casa agora,estou sabendo de uma nova adivinha em minha cidade,preciso descobrir quem é,irei arranjar um disfarce e então terei essa olheira de ifá na minha mão.
Orunmilá disfarçado,foi em busca da adivinha. Chegando na cidade percebeu que todos diziam que a tal mulher estava adivinhando em sua casa!
Era muita folga! Yemanjá, será que estava bem?
Chegando no quintal levou um susto! Que fila ! Resolveu se aproximar e viu um menininho dizendo :
- A adivinha parou por hoje, quem não foi atendido, volte amanhã!
Agora Orunmilá estava furioso, correu para dentro de casa e não acreditou no que viu !!!
Era Yemanjá, sua mulher fiel! Havia sido traído,correu até a mesa de ifá e gritou :
- Yemanjá,mulher ! O que pensa que está fazendo? Que loucura é essa, quem te deu autorização a mexer no meu Ifá??
- Se acalme meu marido, eu precisei fazer isso, senão iria morrer de fome, a quantidade de cauris era muito pouca, precisei dar um jeito na vida!
Yemanjá estava com lágrimas nos olhos,mas sabia que Orunmilá não iria perdoa-la....
Capítulo 4
Orunmilá puxou Yemanja pelo cabelos e gritou :
- Sempre confiei em você, como pode fazer isso: Chega, vamos até Olorum, deixarei na mão dele,se prepare para ser penalizada!
E saíram os dois a caminho do castelo de Olorum, Yemanja estava se sentindo humilhada, Orunmilá tinha que ver o lado dela,foi uma necessidade!
Mas o senhor do céu era justo e com certeza já havia visto sua razão de ter mexido nas coisas do marido.
Chegando ao palácio, lugar lindo,todo de mármore, árvores e pássaros de todas as cores.
Na entrada estava Jagun,guerreiro conhecido pela sua força e mágica, ao perceber os dois ,foi recebe-los:
- Orunmilá, o que fazes aqui? Algum recado de ifá para Olorum?
Perguntou o guerreiro curioso,Orunmilá como estava com fúria nos olhos,não se preocupou em explicar:
- Sim tenho um recado importante para Orunmilá.
Jagun levouo casal para os recintos de Olorum, Yemanja ao ver a dimensão do grande rei do céu, caiu em lágrimas, afinal,estava com medo.
- Meu pai Olorum,senhor que tudo vê, estou solicitando seu julgamento pelo que Yemanja fez,usou do oráculo sem minha autorização, faça algo meu pai.
Olorum respirou profundamento e disse :
- Silêncio, eu sou Olodumare,senhor que tudo vê,rei de tudo e todos,farei meu julgamento! Yemanja,quando você jogou ,falou coisas que não deviam? Deixou de ajudar quem pediu ajuda? Mentiu sobre coisas que iriam acontecer?
Yemanja aos prantos olhou nos olhos do rei e respondeu :
- Não meu senhor,pelo contrário, muitas vezes ajudava quem não tinha condições ,só abri ifá por necessidade, não poderia morrer de fome.
Orunmilá revoltado quis interromper os dizeres das esposa mas Olorum informou que já tinha seu veredito final :
- Pois bem,Yemanja , os Odus simpatizaram com você, fez o correto e não desapontou ifá, a partir de agora eu Olodumare sentenço Yemanja,a ter todos os conhecimentos de ifá e do destino dos seres humanos! Yemanja Sabá também será dona do Oráculo!
Yemanja explodiu de felicidade! Olorum era realmente muito justo,seu marido Orunmilá não teria mais o que discutir, deste dia em diante ela seria um adivinha de ifá.
O vilarejo foi se esvaindo,e a névoa voltou a aparecer,o viajante foi retornando ao palácio da princesa Ominibu.
- Então viajante,o que você aprendeu ao vivenciar esta história? Perguntou Ominibu
- Minha senhora,ainda estou em estado de choque,nunca imaginei que passaria por isso.
- Pois bem,direi para você! Vocês seres humanos tem tendência a não acreditar em seu potencial, fecham os olhos para situações e oportunidades, como Olorum fez com Yemanja,também faz com vocês, mostrem sua vontade ao passar por uma dificuldade,tentem resolver,o Sol nasce todos os dia para iluminar a todos sem distinção! Espero que leve esse ensinamento com você!
Tome leve isso,essa será nossa ligação...
Ominibu entregou uma pequena pena vermelha para o viajante,e o levou até a beira do rio.
- Foi um prazer viajante,siga seu caminho,volte pela floresta,mas cuidado com a caçadora da noite !
Ao ouvir essas palavras e com peso no coração de ter que deixar essa mulher de rara beleza, o viajante seguiu seu caminho,rezando para não encontrar com essa tal de caçadora da noite....
Capítulo 5
O Caminho era estreito, entre pedras e arbustos o viajante seguia sua viagem, já havia anoitecido, o medo da floresta com seus mistérios e barulhos era o maior sentimento que habitava seu ser. Guiado pela lua seguiu tentando encontrar a trilha que havia utilizado para retornar a sua casa, a copa das árvores estava bloqueando a luz, quando de repente ouviu um pássaro, era diferente, seu canto arrepiava até o último fio de cabelo, apressou o passo, o som que ouvia não era muito bom,precisava encontrar qualquer lugar que fosse ao menos seguro.
A trilha se abriu um pouco, deixando assim a visão melhor,barulho de animais, visão difícil, um zunido e uma flecha...a paixão estava começando...
O viajante começou a correr,seu coração batia acelerado,alguém o estava observando,no escuro da floresta enxergou olhos de todos os tipos,olhou para trás e nada viu,continuou sua corrida pela vida mas foi impedido por um obstáculo.
Era um caçador? Tinha roupas com penas de pássaros, panos dourados e azuis, usava um arco de ouro e adereços todos desse metal, seu rosto estava tampado por uma máscara em forma de coruja, não dando para distinguir sua fisionomia.
- Viajante, o que pensa que fazes aqui em minha morada? Disse o caçador.
Sua voz era suave,como o de uma mulher,será que não era uma?
O caçador se aproximou do viajante,agarrou seu braço e mandou seguir por uma trilha de vários arbustos e plantas rasteiras,seguiram até uma clareira,onde havia árvores que com certeza tinham mais de cem anos,no meio dessa colônia de gigantes da natureza viu uma cabana,simples,mas muito linda,feita com palha nova,bem cuidada,parecia bem aconchegante.
-Vamos,entre,quem não vive na noite não sobrevive a ela! O caçador seguiu em frente e abriu a porta de sua morada.
Ao entrar, o viajante não acreditou no que estava vendendo,as paredes,móveis,aposentos,todos eram do mais puro ouro maciço! Será que este senhor conheceu a princesa Ominibu?
O caçador tirou a máscara, os panos e surpreendeu o nosso aventureiro, era uma mulher, e muito bela !
- Viajante,dá na próxima vez que estiver na floresta este horário,saiba que existem forças e senhores donos do local,as Ajés por pouco não encontrou você,sente-se! Muito prazer, Sou YeYe Okê, um caçadora da noite!
O viajante ficou sem reação, essa era a caçadora da noite? Pelos avisos de Iya Ominibu provavelmente estariam em um emboscada....
- Perdão minha senhora,jamais tive a intenção de ofender sua morada,estou em busca da trilha que leva até minha cidade,entrei na floresta e fui levado pelo canto de Ominibu e agora não sei regressar.
YeYe Okê olhou bem nos olhos do viajante e abriu um sorriso:
- Viajante,você não encontrou seu caminho de retorno porque não deixamos,eu também sou uma Princesa das águas,minha irmã o trouxe até mim,você não ouviu? Disse um ninfa rindo.
Medindo as palavras respondidas:
- A Princesa Ominibu pediu para ter cuidado ao me encontrar com a senhora,por isso tive tanto medo.
A princesa da floresta,caiu na gargalhada e não se contendo gritou:
-Você deve mesmo ter medo,afinal todos os homens que entraram na minha morada,se perderam na minha beleza,e não conseguiram mais voltar.....
Agora sim, o viajante estava com medo,afinal não sabia o que a princesa estava tramando,será que era apenas um local para dormir durante a noite?
YeYe Okê o levou para a parte de trás da cabana,incrivelmente lá havia um rio,com suas águas correndo seu fluxo por dentro da floresta escura,a lua brincava nas águas,se refletindo como em um espelho,a princesa parou próximo a beira do rio,e perguntou:
- Preparado para saber um dos maiores segredos dos caçadores?
O viajante não teve tempo de responder,a princesa em um movimento rápido o jogou para dentro do rio,as águas geladas e profundas estavam o afundando,uma força incontrolável o levava para o fundo,percebi que quem o estava puxando era a própria princesa, não estava aguentando prender a esportiva por tanto tempo,sua vista começou a escurecer,despediu-se do mundo,da vida,dos amigos que deixaram para trás,tinha certeza de uma coisa: Iria morrer...
Capítulo 6
O ar aos pulmões faltavam,não sentia mais a fração de vida e de esperança de viver,esse era o fim? Seu último suspiro...
- Viajante,acorde,não temos tempo para suas viagens tolas da vida carnal,você não desencarnou,levante logo! Disse Yeye Okê.
Ela não estava usando as mesmas roupas de antes,agora estava muito bela, com roupas luxuosas com fios de ouro e penas vermelhas enfeitando sua cabeça e pescoço.
- Desculpe princesa,por um minuto achei que ia morrer,ainda tenho medo da senhora. Disse o viajante agora mais tranquilo em ver seu corpo salvo do pesadelo da morte.
YeYe Okê virou para o viajante e começou a rir :
- Mas como você é tolo, ainda não percebeu que é peça fundamental para nós,eu jamais sujaria minhas belas mãos com alguém sem um propósito, eu sou a dona das montanhas não uma princesa qualquer.
O local que estavam era diferente,não tinha nenhum rio ou cachoeira, a mata também estava distante,se encontravam em uma estrada e a alguns quilômetros podia ver uma pequena aldeia,de repente percebem um jovem rapaz correndo pela estrada,era magro, negro, tinha colares amarelos no pescoço. Ao passar por eles disse :
- Corram esta acontecendo um grande problema no reinado das matas,parece que o rei não convidou as Grandes Mães Ancestrais para a festa da colheita e agora o pássaro delas está pairando pela cidade!
- Viajante,siga com esse rapaz,tenho alguns afazeres por aqui,mais tarde me encontre no povoado dos caçadores. Disse YeYe Okê e em um passe de mágica desapareceu.
- Perdão, terei que seguir viagem com você, qual o seu nome? Perguntou o aventureiro.
- Sou Oxotocanxoxô, vamos logo, ainda temos muito que andar, você não se importaria se antes passarmos na casa de minha mãe? preciso falar com ela e pegar algumas coisas.
Caminharam pela estrada de terra até chegarem em uma bifurcação, de um lado o povoado dos caçadores, do outro o reinado das matas, Oxotocanxoxô tomou a frente e seguiram para o povoado, estava quase anoitecendo quando chegaram, era um lugar simples, com muitas casas feitas de barro e palha, unidas formavam um círculo, local onde provavelmente seria um espaço de convivência, no meio havia um poço comunitário e alguns pedaços de tronco que deveriam servir de assento.
- Vamos viajante, minha casa é a segunda a direita! Disse Oxotocanxoxô.
- Claro, desculpe entrar em sua morada sem ao menos ter algo em mãos na situação que eu estou,não tenho muito a oferecer, Oxotocanxoxô, não tem nenhum outro nome que eu possa te chamar? Perguntou o viajante
- Me chame de Caçador! Quero ser um grande caçador como todos da minha aldeia, treino muito para isso,se ficar aqui por alguns dias mostrarei minhas habilidades com as flechas para você. Respondeu o caçador.
Ao entrar na casa do caçador sentiu um cheiro maravilho de algo sendo cozido, uma mulher já de idade,estava varrendo os aposentos, era muito parecida com o caçador, seu rosto era calmo e tranquilo, mostrava ter muita sabedoria e simpatia também.
- Oxotocanxoxô,meu filho, como faz uma coisa dessa com sua pobre mãe,saiu para caçar, deixou suas coisas aqui e se adentrou na mata novamente, menino ,parece que a mata e você são um só ! E quem é esse rapaz que trouxe consigo? Por Olorum,me avise quando for trazer visitas! Disse a mulher timidamente.
- Viajante, essa é minha mãe, percebeu que não precisa de muitas cerimonias?
Oxotocanxoxô ria, ao ver a mãe correndo de um lado para o outro tentando preparar algo mais elaborado para o jantar.
Anoiteceu,várias pessoas estavam na porta das casas olhando as estrelas a beira das pequenas fogueiras que tinham feito próximo ao poço central,o caçador colocou dois bancos perto do fogo e chamou nosso viajante para conversar um pouco.
- Sabe viajante, eu tenho muitos sonhos, como eu disse para você,quero ser reconhecido pela minha gente,minha mãe não sabe,mas amanhã irei até o rei e direi para ele que eu matarei o pássaro das Iyamis, eu sou o grande caçador, corro atrás dos meus sonhos,mas vamos lá conte como você veio para até aqui!
O viajante começou a contar tudo, desde o dia que entrou nas matas, o encontro com as princesas e seus medos de estar em um lugar desconhecido, nosso aventureiro não sabia,mas iria presenciar algo que mudaria toda uma história na terra dos Irunmolés...
Capítulo 7
Já amanhecia, os pássaros cantavam anunciando o novo dia, o viajante acordou e levantou de sua esteira, que noite boa, conversa agradável com o caçador,a única coisa que o preocupava era o grande objetivo do rapaz, ele poderia ser um caçador bom,mas era muito jovem,haviam muitos caçadores experientes no vilarejo...
- Bom dia viajante,achei que não iria acordar mais, aqui na minha terra costumamos acordar junto com o Sol. Disse o caçador rindo.
- Eu não durmo há alguns dias,tinha esquecido como é descansar o corpo. Respondeu o Viajante.
Os dois foram até a cozinha comer algo e logo saíram para a vila, Oxotocanxoxo apresentou todos os caçadores , o primeiro era o caçador de elefantes, o segundo o de três flechas, os outros eram o de quatro e dez flechas.
- Viajante,vou te pedir um favor,não comente com minha mãe que irei com os outros caçadores ver o Rei,quero provar que sou o melhor caçador de todos! Estava realmente convencido que seria o único capaz de atingir o pássaro das Iyas.
- Mas o que falarei para ela? Perguntou o viajante aflito.
- Diga que estou dentro das matas,ela mesma diz que sou parte dela! Me deseje sorte, seguirei com meus irmãos para o reino...
E lá se foram os caçadores seguindo pela estrada,rezou para que tudo acontecece dá melhor maneira possível,não queria perder o amigo que acabará de fazer....
A tarde foi chegando e a Mãe do Caçador chegava dos campos,estava com uma cesta cheia de frutas e hortaliças,provavelmente o jantar da noite seria muito bom.
- Viajante,você viu meu querido filho? Hoje farei seu prato favorito,espero que ela já tenha tirado a ideia de ir atrás do rei, hoje no campo ouvi dizer que ele irá matar quem tentar e não conseguir tirar o pássaro de lá...
O caçador estava em perigo, o viajante congelou ao ouvir as palavras que a mãe estava falando,o que poderia ser feito,precisava correr atrás do caçador,ele era o caçador de apenas uma flecha,o viajante não queria perder seu amigo..
-- Bom, temos um problema,não achei que aqui as coisas funcionavam dessa forma, seu filho foi com os outro caçadores para o Reinado da Matas.....
- Meu Pai Olorum,não posso perder meu filho! Gritou a Mãe de Odé aos prantos! Me dê uma luz meu pai!
Naquele momento um caroço de dendê,em meio as frutas que havia trazido cai no chão,a mãe do caçador então sorri aliviada e diz:
- Obrigado meu pai,tive uma ideia,consultarei ifá, o adivinho irá me dizer o que fazer!! Vamos viajante,não fique aí parado,o tempo está a nosso favor!
Capítulo 8
A mãe do caçador estava apresada, ela e o viajante , corriam para um canto distante da aldeia. Por que seu filho desobedeceu seus conselhos de mãe? Agora corria um sério risco de vida!
Chegaram a um local isolado, envolto em grandes e frondosas árvores, uma cabana simples, provavelmente de alguém solitário, esquecido no tempo e pelas pessoas.
- Viajante, entre sem fazer barulho, está é casa do grande adivinho de mil olhos! Disse a mãe.
- Estava esperando por vocês, minha senhora, vejo morte em um que tem seu sangue! Gritou o adivinho.
- Pelo amor de Olorum, meu pai, não deixe meu filho morrer! Faço qualquer coisa, tire minha vida, mas jamais de um filho, essa não é a ordem natural das coisas, quero ver meu filho se tornar um grande homem! Disse chorando a pobre mãe.
- Calma minha filha, consultaremos ifá, os Odus dirão o que deve ser feito, o destino é escrito em pequenas partes, para dar espaço para as mudanças! Perdão viajante,ainda não é o momento de nossa apresentação,volte aqui mais tarde, depois da solução desse problema,tenho um recado da princesa para você! Disse o adivinho.
O viajante congelou! O que quer que fosse,não se relacionando com mais afogamentos ou morte já o deixaria mais tranquilo.
E lá foi o adivinho de mil olhos consultar ifá,pegou umas sementes, alguns búzios, pós de cores diferentes... silêncio....balançou a cabeça, lançou novamente os búzios ao ar, fez um símbolo estranho no chão e soltou um brando. O adivinho estava em transe!
-Shhhhhhhhhhhhhhhhhh, ouço o barulho de suas asas, elas se movem mais rápido que um leopardo, seu grito cala até mesmo a criança que está para nascer, elas estão no ontem, hoje e no amanhã, jamais desagrade uma grande mãe....somos muitas, somos poucas, somos ar, fogo e água, esta que lava e envenena,que salva e destrói! Mãe do Caçador,você só terá a segurança de seu filho se agradar a Grandes Mães Ancestrais!shhhhhhhhhhhhhhhhh......
O adivinho voltou a sua consciência e olhou diretamente nos olhos dos dois que estavam presentes:
- Esta tarefa não será fácil,mãe do caçador. Entre na floresta proibida, faça uma oferenda para elas como vou lhe explicar, quando a oferenda for aceita, neste momento o peito do pássaro da Iyamis estará vulnerável, é neste momento que seu filho deve acertar a flecha, nem um minuto a menos!
- Claro adivinho, faço tudo pelo meu filho. Viajante, preciso que você vá ao encontro do Caçador, não deixe que ele tente acertar o pássaro antes! Mas adivinho,como meu filho saberá? Perguntou a mãe ainda tremendo pelo medo de perder o filho.
- No momento que fizer o ebó, o pássaro pousará sobre o castelo para descansar e receber as energias que você estará enviando! Respondeu o Adivinho.
- Então vá viajante, corra o mais rápido que puder! Olorum está do nosso lado! Disse a mãe
- Mas minha senhora, não sei como chegar! E se eu me perder? Perguntou o viajante assustado.
- Use os segredos do meu filho, vá até minha casa, lá existe uma cabaça verde e branca que ele sempre utilizou para entrar nas matas, já peguei ele várias vezes falando com ela como se fosse gente! Entre nas matas com ela e veja o que acontece, hoje só temos a fé ao nosso favor!
E lá se foram , para lados opostos, a mãe do Caçador saiu correndo atrás de seu ebó para entrar na floresta proibida das feiticeiras e o viajante em busca desta cabaça misteriosa....