quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Boemia - Salve o Rei da noite - Trecho 11

"Meu Rei usa terno branco, o seu traje é de linho. É ele quem me conduz, Seu Zé é o dono do meu caminho."
- Fez um puxadinho Zé. Ficou bom seu Malandro. Não contou nada pra ninguém. 
- Não sou homem de falar Zé Pretinho. Comemoro as conquistas porquê não espalho notícia. O homem que quer fazer vai lá e faz. O que não quer, vai lá e manda.
- E o samba hoje é por isso? Pra agradecer? Aliás Zé, que cerveja boa essa meu amigo. Tá descendo feito água.
- Aqui sempre tem samba e cerveja gelada meu amigo Zé Pretinho. Agradeço todos os dias em silêncio pela família que Deus me deu, pela comida na mesa e por poder fazer as coisas que faço. Maria e eu juntando forças não tem pra ninguém. Mas tudo em silêncio. Que é pra não chacoalhar o guizo das cobras.
- Tem cobra que vem sorrateira, querendo invejar e dar o bote. O pior veneno que tem se chama inveja. Se o povo soubesse metade das lutas, não se atrevia nem a cobiçar o que é teu Zé.
- O povo acha que as coisas caem do céu meu amigo Malandro. Confesso que aqui na colina o dedo de Deus fica mais perto, mas é pra eu ficar mais esperto e não vacilar.
- Nunca vi nada cair do céu sem ser chuva Zé. Povo vive pedindo e não abraça as oportunidades que a vida dá. Deus dá o barco mas tem que saber remar.
- Falou tudo Zé Pretinho. Aqui tudo o que conquistamos foi debaixo de sol e com muito suor. Tentaram dar rasteira várias vezes, mas quem tentou amanheceu deitado. Sou protegido e quem me guia conduz com maestria quem só quer o bem.
- O povo fala da casa mas não vem levantar a obra. Fala da cerveja mas não vem trazer uma garrafa. Fala das contas mas não vem pagar as nossas.
- Aprendi a me fingir de cego e de surdo Zé Pretinho. Finjo que não sei de nada e vou seguindo o meu caminho. Me desequilibro, bambeio. Até caio pra aprender. Mas sempre tenho quem me levanta. Fé no homem que ele não falha.
- Vamos com fé e parar de prosear Zé antes que a cerveja esquente.
- Não fala isso. Cerveja quente ninguém merece. E deixa o povo imaginar. Enquanto o povo imagina, a gente realiza com fé, humidade, suor. E cerveja que ninguém é de ferro.
- Salve Zé.