terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Médiuns de Transporte

DOUGLAS RAINHO

A mediunidade de transporte – em alguns casos também chamada de descarrego – é uma mediunidade que ou caiu em desuso nos terreiros ou é bem mal-explicada e trabalhada. Alguns referenciam que o cambone é um médium de transporte nato, pelo simples fato do mesmo doar energia ectoplasmática durante as sessões ou giras de Umbanda. Porém isso está incorreto.

O cambone tem sim um papel de extrema importância e pode – geralmente o faz – doar ectoplasma para os guias que ali estão para que os mesmos manipulem em prol do assistido. Veja, o ectoplasma aqui citado é a energia vital em excesso. Jamais será tirado algo que fará mal para o indivíduo e também sem a concordância deste. Quando se aceita ser cambone, tacitamente se “assina” esse tipo de contrato de doação energética. Porém, a mediunidade de transporte é bem distinta, apesar de utilizar-se do princípio do ectoplasma também.

Sabemos que o ser humano não é constituído apenas de matéria, dentro das tradições orientais mais populares, nos é dito que possuímos sete corpos: Atma (espírito), Búdico, Mental Superior, Mental Inferior, Corpo Astral (Espiritual), Duplo-Etéreo e Material. Dentro da classificação espírita, Kardec sintetizou os corpos Búdico, Mental Superior e Inferior, o Corpo Astral e o Duplo-Etéreo em um só denominado Perispírito, deixando a sua definição assim: Espírito, Perispírito e Matéria. Ele simplificou a estrutura energética do ser humano, mas sem desqualificar a sua essência.

Dentre esses corpos, o que podemos denotar é que ao desencarnar perdemos dois deles: Duplo-Etéreo e o Material. Apesar do Duplo-Etéreo ser um corpo invisível a olho nú, ele ainda é em parte material e será desagregado após o desencarne, depois de aproximadamente 48 à 72 horas. Isso pode variar, conforme o apego a matéria ou a espiritualização do indivíduo.

Em muitos casos os espíritos obsessores ou negativados (desequilibrados, desarmonizados e alguns até mesmo sem saber que estão mortos), acabam interferindo na vida material das pessoas. Trazendo perturbações de ordem espiritual, manifestações fenomênicas, etc. Alguns, precisam se nutrir da energia da vida (duplo-etéreo) para lembrar como era na matéria. Outros tantos, acabam simplesmente por obsedar pela maldade e pela vingança. Seja qual for o caso, o espírito em desequilíbrio ou em embrutecimento consciencial, acaba se esquecendo de certas particularidades da vida material. Nesses casos, quando alguns procedimentos falharam é que entra o médium de transporte. O médium cederá seu instrumento mediúnico, para que um espírito embrutecido ou desequilibrado possa “incorporar” e tomar um CHOQUE anímico. Ou seja, ele irá sentir as dificuldades e restrições da matéria e em alguns casos isso é o suficiente para colocar determinadas entidades nos trilhos novamente.

Existe até dentro dos tratamentos de passes dos centros espíritas o passe chamado Choque Anímico (CH). Que tem o mesmo princípio, vitalizar o ser desencarnado para que ele lembre-se de como é estar aqui, em uma terra de expiação.

Logo após o trabalho do médium de transporte, o espírito é então retirado do campo mediúnico do mesmo e levado para as zonas de recuperação, pelas falanges que cuidarão do espírito agora em estado de choque ou ao menos temeroso.

Hoje em dia, muitos dizem que esse tipo de artifício não é mais necessário, pois evoluímos e não precisamos mais utilizar dessa mediunidade. Outros, acabam por dizer, que é necessário, mas que qualquer pessoa pode se tornar um desses tipos de médium de transporte e pode fazê-lo. Ambos, na minha visão estão enganados.

A mediunidade de transporte ainda é necessária, mas assim como era no passado, os casos em que ela é necessária são escassos. Não é regular fazer transporte em TODAS as giras e sessões e também não é qualquer um que pode doar a sua matéria para esse tipo de atividade. Os mais antigos da tradição umbandista, chamavam esses médiuns de médiuns de descarrego ou médiuns de Exus, pois tratavam todos os espíritos em desequilíbrios, negativos, negativados, etc. como espíritos de exus catiços. Existem pessoas que tem uma certa “vitalidade espiritual” diferente, mais abundante, que são os ideais para esse tipo de trabalho.

Com essa mania das novas Umbandas de que todos são médiuns, seja de incorporação ou de transporte, estão criando verdadeiros casos de obsessões complexas e até mesmo coletivas nos terreiros. Pessoas que acabam perdendo a sua própria vitalidade, sua energia vital, entrando em colapso nervoso, psicológico, emocional e até mesmo manifestando desordens físicas. Em outros casos, o terreiro inteiro acaba sendo desvitalizado e perdendo a força! Quantas vezes não ouvimos dizer que determinado terreiro era bom, mas que de uns tempos pra cá parece que ficou fraco? Que os pedidos e ajudas não são mais atendidas? Inúmeros!

Então, médium de transporte (ou de descarrego ou de exu) é um indivíduo com uma constituição físico-espiritual diferente, que passará por um processo de aprendizado e saberá utilizar da melhor maneira possível sua mediunidade sem que está lhe traga prejuízos em sua vida cotidiana ou a sua saúde.

Já para o Espiritismo, codificado pelo pedagogo francês Allan Kardec, a mediunidade de transporte é outra coisa. Usa-se a mesma nomenclatura, mas para um fenômeno diferente, que é conhecido nos meios de estudos parapsicológicos como “Apport”. Para a Doutrina Espírita, mediunidade de transporte é a capacidade de fazer com que um objeto material seja levado a outro local. Por exemplo, dentro de uma gaveta trancada, há um pequeno objeto (anel por exemplo). Através da manifestação fenomênica da mediunidade de transporte, tal objeto é desmaterializado de dentro da gaveta e levado até outro local. Isso podendo ocorrer também, com o objeto sendo deslocado “manualmente” sem proceder a desmaterialização, ou seja, determinado espírito manipulando a matéria (lembrando que é necessário ter um médium de efeitos físicos próximo) pega o anel e o carrega (como um ser humano encarnado o faria de forma ordinária) até outro local.

No livro do espírito encontramos também dentro da categoria de médiuns especiais, como médiuns de aporte:


Médiuns de aportes – Os que podem servir aos Espíritos para o transporte de objetos materiais. Variedade dos médiuns motores e de translação. Excepcionais. (Ver nº 96).

Dentro da categoria dos fenômenos mediúnicos de característica física, existem diversas subdivisões. Recomendamos a leitura do Livro dos Médiuns, para mais informações.

Dentro dessa lógica, podemos traçar um paralelo com os inúmeros relatos sobre aparições de objetos em travesseiros ou dentro de tufos de algodão. Ramatis, ponderá sobre isso em seu livro Magia de Redenção, quanto as magias negras, feitiçarias e macumbas feitas com objetos que depois se materializam em alguns locais, geralmente nos objetos que já citamos acima. Para causar um efeito magnético e uma perturbação no campo espiritual e energético do alvo dessas magias negativas.

Podemos então, claramente dizer, que determinados espíritos sob a batuta de um mago negro, feiticeiro maligno, etc. pega certos objetos de uso pessoal do médiuns – que contém sua impressão energética – e os levam até o mago negro. Esse, por sua vez, agirá com todo seu conhecimento sobre essas artes negras para que impregne com energias nocivas tais objetos, ou até mesmo, os utilizar para criar um elo (link) com o alvo. Depois ordenará a seus asseclas espirituais que devolvam os tais objetos a seus locais de origem. Em alguns casos, há ainda outro tipo de manifestação, como uso de pregos, pregos de caixão e outras coisas, sendo magnetizados negativamente junto com “links” pessoais, como cabelo, unhas, sangue, etc, do alvo. Esses serão materializados depois dentro de seu travesseiro, pela proximidade com o campo energético e também com o aparelho mental, para que possa perturbá-lo e que tenha mais eficácia em seu sórdido objetivo.

As manifestações de mediunidades de transporte são distintas pro Espiritismo e para a Umbanda, porém, acho que conseguimos deixar claro sobre as mesmas. Caso ainda persistam dúvidas, leiam os livros indicados.

O importante é sempre manter a responsabilidade sobre as questões espirituais e principalmente mediúnicas. Axé!



tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola e Caboclo Tupinambá



O transporte na Umbanda é um procedimento de desobsessão onde o médium, geralmente através de um toque com a mão, transfere para si o egun (espírito obsessor) que acompanha o paciente incorporando-o momentaneamente. Trata-se de um ato de caridade, pois além de livrar o paciente de sua obsessão espiritual, durante a incorporação (que deve ser breve), o egun recebe o que se designa como Choque Anímico, que provoca melhora em seu estado de sofrimento, facilitando e incentivando sua disposição em receber ajuda e ser encaminhado. Nesse momento, durante o transporte, é possível uma breve tentativa de doutrinação do egun (obsessor), para que entenda sua situação e siga com os espíritos socorristas.

Divaldo Pereira Franco afirma que a terapia desobsessiva pela doutrinação do obsessor incorporado no médium, independentemente da eficácia da doutrinação propriamente considerada, já traria em curto prazo uma melhoria de 30% a 40% no nível vibratório do obsessor só pelo choque anímico.

Blog: Umbanda, aprecie com moderação

Para que a puxada tenha objetivo e finalidade correta é importante ressaltar;


1- Que exista mediunidade de fato (não seja um anímico);


2- Não tenha medo, e confie naqueles que vão ampará-lo neste trabalho, tanto na parte material como na espiritual - se não confiar, nem é bom tentar;

3- Tenha recebido treinamento adequado ou, se for iniciante, que tenha à sua volta uma corrente muito bem firmada por espíritos que tenham este tipo de treinamento;

4- Que saiba controlar moderadamente as atitudes do "puxado" para que não haja excessos. O exemplo da ilustração acima em azul é uma pista;

5- Tenha protetores de fato que tanto o prepare para a (s) puxada (s) quanto para a limpeza posterior, sempre necessária (fator imprescindível);

6- Entenda que ele é um intermediário e que está ali para permitir ou facilitar o contato do obsessor com os espíritos que vão encaminhá-lo depois e que, por isto mesmo, não pode entrar em sintonia máxima com o obsessor sob pena de dificultar a sua retirada por parte dos espíritos auxiliares em casos em que esses obsessores se tornam ou se mostram muito obstinados.


No processo de puxada, dependendo muito do treinamento do médium para isto, ele vai sentir a aproximação; vai sentir a "entrada" da entidade até o ponto em que ele médium permitir, sem perder a consciência. Mantendo-a, mesmo que parcialmente, não poderá deixar que todas as sensações "físicas" da entidade, bem assim como os comportamentos sejam expostos em toda a sua plenitude, fato este que denotará que, mesmo parcialmente incorporado, o dono do corpo é ele - o médium - o que fará ver à entidade que "ela não é tão forte como quer parecer", nos casos em que isto se torna evidente.

Se o médium se deixar comandar totalmente é sinal de que ele é "mais fraco" que a entidade, o que por si só já transmite a ela a ideia (quase sempre correta) de que pode "mandar no pedaço" e fazer o que bem quer com este médium.


Indicação Chave: Neste tipo de processo, tudo o que o médium não pode é FICAR TENSO. Pelo contrário, deve deixar fluir por seu corpo todas as sensações que forem necessárias de uma forma que ele mesmo não acabe prendendo-as e com isto continue a senti-las após a saída do "invasor". Se sentir enjoo, não deve se ligar a ele; se sentir ânsia de vômitos não deve forçá-lo, mas se ele vier, deve deixar vir o mais naturalmente possível, sem se importar com o que os outros vão pensar porque, de outra forma, prenderá toda a energia que provoca a ânsia dentro de si dificultando o trabalho dos espíritos que o assistem de fora. De uma forma geral, num processo bem coordenado, essas sensações (e possíveis outras) PASSAM pelo médium e, se ele não as bloquear dentro de si por tensões e medos, vão embora assim como vieram.


Liberdade de comando do corpo só se dá aos espíritos seguramente amigos (Ou seja, seus Protetores de fato e direito) e nunca aos que apenas passam por nós, temporariamente, para que possam vir a ser encaminhados. Questão de segurança!

Médiuns em desenvolvimento, em sua maior parte já tendem a não deixarem QUALQUER ENTIDADE lhes tomar adequadamente (por medo mesmo, quase sempre). Se aprenderem com a prática a deixarem se tomar por Protetores e não se deixarem tomar por "invasores", já terão um bom caminho andado nesta prática.

Os médiuns mais antigos que não tiveram este tipo de treinamento inicial, costumam ter maiores dificuldades e às vezes não conseguem se livrar de todas as sensações que esses espíritos trazem consigo e passando mal, após, por conseguinte. Em casos mais problemáticos, digamos assim, não conseguem nem se livrar do próprio obsessor, de tanto que lhe deram permissão de invasão.