LÁGRIMAS NO PARAÍSO
(História psicografada)
"Uma desencarnação em tenra idade e o retorno para os mesmos pais."
PELO ESPÍRITO ISMAEL
Estava na Espiritualidade há 50 anos, após sucessivas existências, com grandes e pequenos erros, muitas passagens pelo Umbral, onde padeci por muito tempo como escravo, até ser resgatado e internado em Posto de Socorro Espiritual por longo período e finalmente poder ser encaminhado para a minha Colônia de Luz. Nos últimos 10 anos, inúmeros trabalhos fraternos e a complementação de muitos aprendizados, fizeram-me progredir no Mundo dos Espíritos, faltando apenas reparar erros perante às Leis Divinas, que só seria possível na existência terrena.
Na reencarnação anterior, entre outros erros, fui viciado na bebida, destruindo um órgão perfeito pela cirrose hepática aguda no fígado. Fui atraído para o Umbral, iludido numa "cura por hipnose", pelo então líder, passando a exercer tarefas e serviços por pagamento, mas logo passei a servir como escravo. Lá, tudo é na base de trocas e sempre conspirando para coleções de erros.
Agora corrigido, com firme propósito de expiar pelo órgão vital por mim destruído, lembrei do bondoso Espírito que havia me resgatado e que agora reencarnara numa roupagem feminina. Desejava ser mãe pela segunda vez e eu passei a pedir para que eu viesse a ser seu filho, para uma sublime troca de energias, através do amor incondicional. Fui chamado pelo Departamento de Reencarnações, para o primeiro encontro com a futura Mamãe.
Esther, casada, 25 anos, filha de trabalhadores, a irmã mais velha de três irmãos, todos humildes e unidos, como as mais belas famílias. Há cinco anos teve um menino com Celso, outro trabalhador, espírito bondoso, marido responsável. Agora planejavam um irmãozinho para o já amado Anderson.
Naquela noite, os Mentores espirituais aguardavam comigo, Esther adormecer. Ela, em espírito desdobrado, levantou e com o auxílio dos Mentores a fizeram me ver:
"– Quem é você?" – indagou ela.
"– Sou Ismael, lembra? Há muito tempo você me estendeu a mão, me socorreste!" – respondi.
Os Mentores, que não estavam visíveis à ela, a induziram à recordar. Então Esther, sorrindo, me falou:
"– Ismael, que alegria!!! Sempre é bom rever os amigos!"
"– Podemos ser mais do que "amigos"! Vim lhe pedir sua Maternidade, se assim desejar, para breve!"
"– Vou ser sua mãe??? Nossa, como estou feliz!!! Você que agora está tão evoluído, não poderia haver melhor filho!"
"– Querida Esther: também estou muito feliz pela sua aceitação! Mas é necessário que saiba que estou reparando erros de meu passado. Ficarei com Você por breve período, ainda não determinado pela Espiritualidade: poderá ser alguns meses ou poucos anos!"
Ela encheu os olhos de lágrimas e me abraçou ternamente, respondendo:
"– Se assim Deus deseja, que assim seja! Mas permita que eu o ame, enquanto puder!!!" – e chorou muito sentida.
Pude sentir ela doar-me, nesse abraço, uma vibração sem igual, uma energia sublime, fraterna... incondicional. Os Mentores a deram um passe e a fizeram retornar ao corpo, para um sono tranqüilo e repouso seguro. Retornei com eles para a Colônia, com a nítida impressão de já haver deixado em Terra, "um pedaço de mim".
Nos dias que se seguiram, eu estava radiante, feliz, uma alegria imensa fazia às vezes extrapolar e expressar, sorridente, aos irmãos quando os encontrava nos jardins da Colônia:
"– Vou reencarnar!!!"
"– Deus o abençoe!" – respondiam.
Mesmo eu sabendo que brevemente retornaria à Pátria Espiritual, e que seria uma existência curta e sofrida, parecia-me ser a primeira vez que eu receberia esse presente: reencarnar!!! E já amava muito a nova mamãe!!!
Os irmãos da Colônia, me passavam o tempo inteiro, palavras, pensamentos e vibrações positivas, sem jamais traçar "um pingo" sequer, do contrário. Passaram dois meses e a Irmã do Departamento de Reencarnações veio me avisar:
"– Vamos, Ismael? Já é tempo!"
Como uma criança, prestes a ganhar um brinquedo novo, fui quase que saltitante à minha internação. Fui adormecendo e tive um sonho antes de entrar em letargia profunda: Vi Esther de braços abertos e a sorrir. Apaguei!!!
A EXPIAÇÃO
Enquanto encarnado, nada senti a não ser o calor do aconchego de mamãe. As lembranças abaixo, foram-me reveladas depois que desencarnei, precisamente quando despertei, já com o Perispírito de volta à origem.
Aos 7 meses de gestação algo dava errado, dando os primeiros sinais de longo período de sofrimentos e angústias para mamãe e todos que a rodeavam. Em parto prematuro, fui colocado na encubadeira, repleta de tubos e aparelhos. Mamãe havia perdido os sentidos, pela forte anestesia necessária para a cesariana. Nem pôde me ver.
Diagnóstico apontava para disfunção do fígado. Precisaria de doadores de sangue e o pior: um doador de fígado para o transplante, sem previsão de data. Tudo dependeria de minha resistência orgânica e dos recursos disponíveis para me manter. Enquanto isso, vegetava na encubadeira, sob o olhar aflitivo de mamãe, que no dia seguinte veio me ver. Ela era pessoa de atitudes e não se horrorizou com a minha aparência medonha e assustadora. Esqueceu-se de suas próprias dores e não quis se afastar de mim, dando um jeito de permanecer 24h ao meu lado. Inteligente, intruiu-se com médico e enfermeiras, passando a assessorar-me liberando-os para outras crianças.
Ela passou a recorrer no telefone celular, para pedir ajuda nas questões de doadores de sangue e do fígado. Aos poucos, orientada, ela foi me tocando com as luvas da encubadeira e, mesmo assim, podia jurar que sentia o calor de seus dedos. E foi assim por meses! Ela encabeçava correntes de preces à meu favor e conversava muito comigo, em palavras dóceis com algumas lágrimas.
Nove meses depois, a esperança veio pela doação, além do sangue necessário. A cirurgia de transplante veio, com a recepção do hospital lotada de amigos e parentes de mamãe e, segundo ela, inúmeras mensagens positivas no telefone. O médico sorridente anunciou:
"– Foi um sucesso!"
Todos se abraçaram emocionados e mamãe chorou muito, aliviada mas apreensiva pelo alerta do médico:
"– Vamos agora aguardar a aceitação do organismo! Poderão vê-lo de longe na UTI neonatal."
Durante uma semana foi sendo retirado aparelhos para as observações, ficando apenas o tubo da alimentação parental (pelo nariz). Mamãe recebeu as últimas instruções e, finalmente, depois de quase um ano de hospital, saí nos braços dela para casa. Havia meu quartinho, mas ela pôs o berço ao seu lado.
Em dois meses estava com melhor aparência e mamãe me exibia para todos. Anderson, meu irmão, também estava feliz com minha presença e mamãe, emocionada, tirou várias fotos comigo no cólo dele. Faceira e sorridente eram as marcas registradas de mamãe ao me ver brincar no chão da sala. Passou-se dias.
Ao completar três meses em casa, 12 de existência, após uma festa de um aninho à noite, foi-me dando convulsões generalizadas e entrei em coma (estava sendo desligado do corpo físico, findava minha expiação e clinicamente era a rejeição do organismo ao órgão transplantado). Correria e desespero até o hospital. Todos os esforços foram feitos mas, em duas horas, foi declarado o falecimento dos órgãos.
DE VOLTA AO PARAÍSO DA COLÔNIA
Os bebês que desencarnam são conduzidos para a ala hospitalar do Educandário, existentes em todas as Colônias. Há um processo, de alguns dias, para o retorno do corpo Perispiritual à sua origem (nenhum espírito é "criança"). Nas crianças maiores esse processo é gradual e mais lento, para não haver choques psíquicos. Futuramente, após retornar à sua origem, os espíritos podem plasmar a aparência da criança, no momento da desencarnação, para o reencontro com a mãe, se houver merecimento.
Isso não acontece com os bebês! A mãe, no entanto, reencarnada ou não, reconhecerá seu filho pela energia compreendida na constituição perispiritual.
Grande parte dos bebês que desencarnam, já possuem adiantado estado evolutivo e tão logo são despertados, com o Perispírito "adulto", tomam conhecimento de toda a existência sofrida, ou não, e são registrados em sua memória todos os envolvimentos afetivos, especialmente a mãe. Nenhum espírito evoluído seguirá sua jornada, sem olhar para àqueles que lhe deram amor incondicional, até nas últimas horas, e que muito prantearam a separação física.
Assim sendo, quando eu despertei, ao lado de meu leito estavam o médico e o meu Mentor espiritual. Eles foram me orientando e aos poucos veio-me à mente cenas de minha existência, de meu velório e enterro. Fui tomado por compaixão pela mamãe Esther e passei a derramar lágrimas. Disse-me meu Mentor:
"– Em poucos dias poderá visitá-la! Ela não o verá, mas sentirá sua energia."
"– Gostaria de fazer mais por ela!" – respondi.
"– Talvez possa! Ela aceitou a missão e não se revoltou contra Deus. Poderá acompanhá-la e ser seu Socorrista futuramente."
"– Ela ainda é jovem! Seria possível voltar a ser seu filho novamente? Ela sentiria ou saberia isso?"
"– Ismael, isso seria estacionar. Alguns espíritos optam por isso, com o objetivo fraterno – esperam que alguns membros de seu Grupo progridam para depois seguirem as suas jornadas!"
"– Eu queria compensar todo aquele sofrimento!"
"– Dependerá do livre arbítrio dela, em querer outro filho! Se positivo, ela o reconhecerá por intuição. Entretanto, você terá sintomas de alguém bem mais evoluído, já que terá alguns meses de progresso nesta Colônia, até chegar esse momento. Além disso, seu ciclo reencarnatório encerrou; teria que encontrar uma Missão que justifique. Mas para isso tem tempo." – concluiu meu Mentor.
Dias depois tive alta e consegui autorização para visitar mamãe. Volitei até meu antigo lar e a encontrei na cozinha, em tarefas domésticas. De repente ela parou. Perguntou em voz alta:
"– É Você, Ismael?"
Eu disse-lhe:
"– Sim, mamãe estou aqui. Diferente, mas estou aqui."
Ajoelhei-me e beijei suas mãos. Lágrimas silenciosas correram em sua face e falou:
"– Sei que estás no paraíso, filhinho, depois de tanto sofrer! Obrigada, vá com Deus!!!" – e desabou a chorar.
"– Se for possível, voltarei para Você! Diferente, mas voltarei."
O mentor dela, presente, conteve-se e a amparou, me dizendo:
"– Ela não o vê nem ouve, apenas sente!"
Retirei-me da cozinha e fui ver Anderson, que brincava na sala. Dei-lhe um beijo em seu rosto e regressei para a Colônia.
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CONSIDERAÇÕES
– Ismael, Esther e seu pai Celso, estiveram juntos em outras existências e vieram nesta, para encerrar um ciclo de reconciliação e reparações de erros.
– Ismael reencarnou novamente, depois deste relato, com os mesmos pais, mas afirmou que somente Esther o reconheceria por intuição. Sua nova missão não foi revelada.
– Não existem regras gerais na espiritualidade, mas há casos semelhantes na Literatura Espírita.
– Nomes e locais foram preservados.
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Fonte: Psicografia de acervo, 2016 – Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes – Porto Alegre/RS – 103 anos.