DEMONOLOGIA: DA RAIZ À INSANIDADE – Parte III
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“But of all the demons I’ve known
None could compare to you
Every day that you feed me with hate
I grow stronger!”
Sabendo agora da imensa lista de santos, padres apostólicos e doutores da patrística que influenciaram essa visão, podemos compreender melhor o surgimento da maioria imensa dos grimórios medievalistas, tão importantes para a demonologia.
Não sabe-se ao certo a autoria ou data precisa de surgimento da maioria deles, mas se sabe que o satanismo na Idade Média não é mera conjectura. Missas Negras eram, não incomumente, encomendadas por nobres ricos a freis e sacerdotes corruptos. bem como sacrifícios humanos. A missa Negra como conhecemos atualmente é uma inversão da Missa tridentina e já tardia, mas existem relatos anteriores de ritos semelhantes (que não adentrarei a fundo aqui por não ser o foco deste texto, talvez em algum tratado posterior eu exponha melhor o tema).
Ora, os pagãos eram em sua maioria iletrados e viviam a margem da sociedade, formando sua base trabalhadora braçal. Sua cultura voltava-se a oralidade. Os manuscritos, traduções e registros ficavam a encargo da Igreja Católica. É natural que tais livros tenham surgido em seu interior, como o Grimorium Verum, o Grand Grimoire, os mitos a respeito de São Cipriano, tratados de Necromancia e outros textos heréticos que misturavam inversões do cristianismo, blasfêmias e cultos pagãos, tudo em um único livro. Considerados “malditos” na época, era comum que se atribuísse a autoria do grimório a outro autor, normalmente um personagem famoso, bíblico, ou mitológico.
É este o caso de vários grimórios conhecidos atualmente, como o “Corvo Negro”, atribuído a Fausto, personagem do romancista Goethe e o famosíssimo expoente da Demonologia ‘Ars Goétia’, atribuído ao próprio Rei Salomão. A maioria dos grimórios atuais deriva deste último, que compõe-se em 6 partes, a saber: A Grande Chave de Salomão, contendo os ritos e preparativos básicos; a Ars Goétia (Arte do Uivo), contendo a listagem de sigilos e horários de 72 entes infernais; a Theurgia Goétia (Uivo da Pureza), contendo 122 invocações de potestades Angelicais e suas horas do dia e da noite; a Ars Paulina (Arte de Paulo), contendo invocações dos Anjos conforme suas posições zodiacais; a Ars Almadel (A Arte do Almadel de Cera) contendo 4 invocações de Seraphins Elementais, a Ars Notória (A Arte Notória) que é um apêndice e sumário aos anteriores e a Ars Nova (A Nova Arte), de datação muito recente e provavelmente retirada de alguma ordem thelemica, contendo também apêndices e instruções.
Não se conhece a real autoria deste grande livro das Artes, mas pode-se concluir, pela listagem e pelas imagens utilizadas que ele data de posterior a 1793. Isso é algo preciso, pois eta foi a data de nascimento do francês Colin de Plancy, autor e ilustrador da Pseudomonarchia Daemonum, livro em que ele compilou diversos demônios e entidades com suas descrições e esferas de atuação, bem como seu ranking. Não havia entretanto nenhuma instrução ritualística neste tomo citado.
Apesar da óbvia inspiração, a Ars Goétia conforme compilada por Macgregor Mathers, um dos fundadores da Golden Dawn (ordem que geraria posteriormente o célebre Aleister Crowley) apresenta grandes diferenças do Pseudomonarchia. Há entidades que divergem em status de poder, em número de legiões, em nome e inclusive há entidades em um que não existe no outro. A razão? Ninguém sabe. Como cabalista que era, eu apostaria que Mathers usou o simbólico número de 72 e escolheu a dedo as entidades com as quais queria trabalhar e deliberadamente omitiu outras.
A Ars Goétia foi repetida e estudada à exaustão. Crowley fez sua versão, Lon Milo Duquette fez sua versão com ilustrações diferentes, e até mesmo Michael W. Ford, patrono da Ordem de Phosphorus fez a sua versão, adaptada para a crença luciferianista nos tempos modernos, em uma célebre releitura.
Então é isso, chegamos aos tempos modernos. Fim da saga da Demonologia?
Nem de longe. Recoste-se, pegue um café. Ainda há o que ser dito, criança do caos…A.D.
2018.