segunda-feira, 5 de setembro de 2022

DEMONOLOGIA: DA RAIZ À INSANIDADE – Parte IV

 

DEMONOLOGIA: DA RAIZ À INSANIDADE – Parte IV



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Então, até agora analisamos a história da demonologia, de forma explanada pra um tratado tão pequeno (isso aqui dá um TCC maneiro…) mas para que possamos compreender o foco disso aqui. E claro, transgredirmos um pouco além.

 
 style="box-sizing: inherit;" />Perceba bem que inicialmente tudo começou em uma rixa sócio-política entre hebreus e povos ”gentios’. Conforme os hebreus adotavam um modo de vida nômade eles entravam em choque direto com a cultura e a política dos gentios. Estes, pagãos em seu sentido mais literal, eram profundamente conectados com a terra. Seus Deuses tinham características animalescas ou elementais profundas, mesclando-se com as características de pessoas de destaque na tribo ou clã. Um grande guerreiro com chifre de touro, uma grande serpente que habitava nas profundezas, tudo remetia a este caráter “natural”. 
Com o tempo os hebreus deixaram este caráter de lado. Não havia forma de culto conveniente com a vida de nômade. Cultuar um panteão é trabalhoso, requer recursos, tempo, gastos. Abandona-se então o politeísmo e se adota o monoteísmo, reunindo em apenas um Deus os atributos de TODO um Panteão. Assim nasce o monoteísmo primitivo dos hebreus. Sob a figura do ‘Elohim’, do ‘Senhor dos Exércitos’, de “YHWH”, coloca-se as atribuições de todos os deuses. Ele é masculino e feminino, ele é amável e terrível, ele cria e destrói, ele ama e odeia, tudo contido em um só Ser. A propósito, o famoso mito de Qayin e Abel retrata justamente esse choque cultural entre os novos nômades e os gentios ligados a terra. Uma análise teológica facilmente é capaz de expor tal paralelo.

Pois bem, estas características foram herdadas com o passar das Eras. O pensamento grego também via as entidades desta forma, os zoroastras também, e assim o fizeram os monges cenobíticos e até os dias modernos.

Mas houve a re-significação.

Não apenas por remeter a caráter natural, os Demônios possuem traços animalescos por lembrarem sua primitividade. Não são seres dotados de humanidade total como nós. São seres muito mais antigos, de certa forma “bárbaros” dotados de sua própria moralidade.

Essa ausência de moralidade os torna “grotescos” e animalescos a nossos olhos, mas isso é também simbólico. Eles são a expressão viva e consciente de tudo aquilo que tememos dentro de nós mesmos. Nosso lado Bestial, primal, capaz de coisas que jamais imaginaríamos – e quando imaginamos sentimos vergonha. Eles são aquele dragão acorrentado no peito, urrando pra se libertar e alçar voo pelo Abismo para devorar as raízes da própria existência.

Seja nos chifres de bode de Baphometh, na cabeça de Asno de Orobas, nas mãos com garras de Lucifuge Rofocale, nas asas de morcego de Lúcifer, nas escamas serpenteantes de Botis ou nos traços disformes de Ronové, na cabeça de Mocho de Andras… o Bestial tanto temido pelos monges da antiguidade, este caráter primitivo que faz com que todos nós busquemos escapes da realidade ou consultas com psicólogos para manter acorrentado por sabemos os efeitos de sua libertação, este aspecto bestial sempre está lá.

Entretanto há um porém. Os Aeons passaram. Os tempos mudaram. O que era temido antes não é mais temido hoje. Se os Demônios da Era Antiga e Medieval eram espelhos negros refletindo o interior animalesco do Mago, não são mais. A mulher com pés de rapina que escolhe seus parceiros não choca como na era medieval. O homem que exercita seu corpo como um touro e participa de lutas em um ringue não é mais visto como um Deus da força como na Grécia antiga.

Mas estamos falando de Demônios não nascidos e de existência ilimitada.

Eles mudaram. Ou algo no Abismo de nossas almas mudou eles. Adaptabilidade é a chave da perpetuação. O que nos conduz a um próximo e impensado passo…A.D.

2018.

(créditos da segunda diabinha da capa do “Montagem”, da banda Maldita. A primeira imagem eu desconheço a autoria)