segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Jogo de Búzios: História e Explicações Sobre O Processo Oracular No Candomblé e Umbanda

O oráculo Jogo de Búzios é um dos métodos de adivinhação mais procurados no Brasil. Especialmente por pessoas buscam saber sobre seu futuro ou entender situações que estão passando em sua vida.
Com peças da natureza, tais como pedras e conchas, pessoas com alta espiritualidade se comunicam com divindades (Orixás) em busca de respostas.
É importante que essas pessoas realmente tenham uma alta espiritualidade e conhecimento para que o processo oracular funcione!
Vamos conhecer um pouco mais sobre o Búzios neste artigo? Continue lendo para saber mais sobre um dos processos oraculares mais famosos do nosso país.

 História e Influência do Candomblé e Umbanda sobre o Jogo de Búzios

Os africanos, que foram transportados para o Brasil pelos portugueses entre os séculos XVI e XIX por meio do comércio de escravos, trouxeram consigo uma infinidade de culturas e filosofias.
No entanto, muitas dessas crenças espirituais foram completamente erradicadas logo após a sua chegada.
Os líderes da igreja cristã e os proprietários de escravos encorajaram os africanos a se converterem ao cristianismo a fim de satisfazer suas obrigações morais e religiosas.
Isso foi parcialmente eficaz, pois o catolicismo se tornou a principal religião dos escravos.
No entanto, o medo da perseguição significava que muitos sucumbiram totalmente à nova religião que lhes foi imposta.
Os africanos de Bantu encontraram um sistema semelhante de adoração para os povos indígenas do Brasil. Essa conexão levou as pessoas a reaprenderem outras formas de adoração ancestral e criou várias novas religiões.
Assim, muitos africanos aderiram ao catolicismo enquanto ainda eram praticantes dedicados do candomblé. Durante os primeiros estágios de seu desenvolvimento, os africanos no Brasil criaram fraternidade com o catolicismo, mas praticavam o candomblé em segredo.
A razão é que eles viam semelhanças entre os santos e divindades, mas temiam a perseguição, de modo que os símbolos divinos de seus deuses ficassem “escondidos” por trás dos santos católicos correspondentes (sincretismo religioso).
Ser parcialmente fiel ao catolicismo também foi visto como uma maneira de se assimilar a nova sociedade e de minimizar a opressão.
Infelizmente, uma vez que o Candomblé chegou ao conhecimento dos líderes da igreja e proprietários de escravos, houve um forte movimento para apagar as convicções religiosas dos seguidores.
Os africanos que seguiam a prática muitas vezes enfrentavam resultados trágicos. Os católicos consideravam o Candomblé um ritual ímpio e, portanto, incompreensível, por isso atacavam frequentemente os templos afro-brasileiros.
O Brasil é um país enorme populacional e territorialmente e estima-se que cerca de quatro milhões de escravos importados deixaram sua herança cultural no país.
Eles passaram suas tradições para as próximas gerações e hoje milhões de pessoas de todos os tipos de origens seguem os caminhos espirituais dos escravos africanos. A Umbanda é hoje uma das religiões afro-brasileiras mais difundidas e inclui o culto aos Deus Orishas (Povo Yorùbá).
Há histórias diferentes para contar, especialmente quando se trata de Umbanda, ou as muitas Umbandas que existem.
Embora essas Umbandas fossem inicialmente praticadas principalmente pela classe média branca em crescimento nas cidades, elas foram mais uma vez, submetidas à repressão religiosa cristã.
Isso levou, na década de 1950, a uma “des-africanização” e ao fortalecimento das influências espíritas kardecianas (filosofia espiritual de origem francesa).
Sob a crescente influência das igrejas evangélicas de origem protestante, hoje existem casas de Umbanda que não são completamente puras e que muitas destas, excluem alguns dos traços africanos de crença e religiosidade. Para eles, a presença dos elementos africanos é como um espinho na carne.
Entendemos e praticamos a Umbanda como uma religiosidade, que basicamente segue estruturas relacionadas ao povo Bantu, assim como o Candomblé que deriva sua identidade da cultura do povo Yorùbá e do povo Ewe / Fon.
Nessa perspectiva, a formação da Umbanda, assim como outras religiões baseadas na África, tem sido descrita como um fenômeno sociológico religioso que foi desenvolvido e definido sob certas condições históricas e políticas no Brasil.
As características essenciais aqui são a incorporação de forças naturais e ancestrais em estado de transe, o que serve para propósitos de cura e a orientação da comunidade.
Isso é combinado com um senso de vida que incorpora o ser humano na natureza viva, com ritual, dança, sacrifício e transe de natureza mediúnica, como meio de comunicação entre os mortais e seres divinos.
Candomblé (Palavra ou termo que significa dança em honra dos Deuses) é uma religião encontrada principalmente no Brasil com vários elementos derivados das culturas africanas.
Nos dias de hoje, o Candomblé não apenas incorpora alguns aspectos religiosos das sociedades iorubábantu e fon africana, mas também integra gradualmente algumas características do catolicismo.
Pode-se argumentar que o Candomblé dos dias atuais representa o sincretismo religioso que transpareceu após a interação cultural entre pessoas de ascendência africana e europeus.
Muitas pessoas acreditam que o Jogo de Búzios teve origem na África, outros dizem que que esse jogo é proveniente da cultura turca.
Este oráculo começou a ser praticado na África durante o período de invasão da Turquia ao continente, então, foi neste período histórico que os africanos passaram a desenvolver e dominar a técnica de comunicação com os Orixás.
No Brasil, o Jogo de Búzios espalhou-se juntamente com o Candomblé durante o período de escravidão, permanecendo até os dias atuais.

Como funciona?

O Búzios é praticado por uma Mãe ou Pai de Santo em terreiros de Umbanda e/ou Candomblé. É uma arte de adivinhação regida por Deuses conhecidos como Orixás.
Essas entidades, influenciam a posição em que objetos, como conchas e pedras, caem e se espalham sobre a mesa de consulta oracular. Essa posição reflete muito na interpretação do jogo e como esta refletirá na  vida do consulente.
Embora haja muitos métodos de jogo, o método mais comum é aquele em que se arremessam 16 objetos (conchas ou pedras) sobre uma mesa previamente e adequadamente, preparada ritualisticamente pela Mãe ou Pai de Santo.
Antes de iniciar a interpretação, o adivinho reza e saúda todos os Orixás e durante os arremessos, faz suas perguntas a essas divindades a fim de buscar respostas.
Acredita-se, como já dito linhas acima que os orixás afetam o modo como as conchas se espalham pela mesa, dando assim as respostas que a pessoa procura através de formas que ganham forma na mesa e que são interpretadas como mensagens desses Deuses.
Não há como qualquer pessoa, que não seja alguém preparada e espiritualmente forte realizar tal processo, o trabalho só deve ser feito apenas por quem tem uma força espiritual aguçada (iniciação) e uma ligação com os Orixás (poderosa intuição).

Orixás Ligados Ao Jogo de Búzios

Embora tradicionalmente  todos os Orixás pudessem se manifestar em um Jogo de Búzios, com todo o processo de escravidão, sincretismo religioso e outras fatores menores fizeram com que fossem “selecionados” certos Orixás na maioria das consultas deste oráculo nas religiões afro brasileiras.
Então, entre os Orixás que se encontram mais presentes em um Jogo de Búzios seja do Candomblé ou da Umbanda estão:
OXUM: filha de Iemanjá e Oxalá. Esposa de Oxóssi, Ogum e Xangô (segunda esposa). Deusa do Ouro, de todo tipo de riquezas e do amor. Esta entidade divina também rege a arte da adivinhação e a magia. Sua bebida ao ser cultuada e oferendada é o champanhe.
EXU: força divina conhecida popularmente como “a argamassa do universo”. Leva e traz mensagens entre os humanos e os Deuses Orixás. Como Orixá não é cultuado de forma direta na Umbanda, mas sim como uma espécie de Guardiões (Exu) e Guardiãs (Pombo-Giras).
AJALÁ: responsável por moldar as cabeças humanas com elementos retirados de Orum. Muitos o consideram como uma entidade  independente no panteão iorubano. Também parece haver um consenso de que, na realidade, este Orixá se trata de umas das inúmeras qualidades de Oxalá.
XANGÔ: entidade da Justiça. Filho de Oxalá e Iemanjá. Representa também a decisão, a concretização, a vontade, a iniciativa. Esposas: Obá, Oxum e Iansã.
OGUM: Orixá patrono dos conhecimentos práticos, da tecnologia, simboliza a inovação e a abertura de caminhos em geral. Deus do sangue, que sustenta o corpo, da forja, da espada e também do ferro. Padroeiro dos ferreiros, soldados, motoristas de caminhão, mecânicos, barbeiros entre outros.
IBEJIS: entidade dual, formada por dois Deuses distintos. Pais: Xangô e Oxum. Representa tudo o que é nascimento e tudo o que se inicia. Na Umbanda é comum cultuar-se a Linha de Yori ao invés de se cultuar diretamente os Ibejis como é feito no Candomblé.
OXÓSSI: Deus da fartura e da caça. Tem ligação com as árvores, florestas, aos antepassados e rege a lavoura e a agricultura. Irmão de Exu e Ogum, filho de Oxalá e Iemanjá segundo a mitologia africana.
IEMANJÁ: Mãe de todos os Deuses do panteão africano dos Orixás. Rege as casas, os lares, comemorações familiares, as uniões, as festas de casamento e é considerada a Rinha dos Mares.
OBALUAÊ: entidade que tem o corpo e o rosto cobertos por palha-da-costa com a finalidade de esconder as marcas da varíola. Orixá responsável pelas doenças pela saúde, além das passagens de plano a plano, de dimensão a dimensão, do espírito para a carne e da carne para o espírito.
OXALÁ: o maior de todos os Orixás, responsável pela criação do mundo e do homem, também é pai de todos os Orixás. e a entidade responsável de conceder ao ser humano o seu bem mais precioso…o livre-arbítrio.
IANSÃ: Senhora dos Ventos, das Tempestades, dos trovões também dos eguns (espíritos desencarnados) e tem a missão divina de conduzir esse tipo de espírito para os outros planos de existência.
OBÁ: Nanã Orixá maior, responsável pela criação do mundo e do homem. Possui duas qualidades básicas e distintas: Oxalufã (o Oxalá mais velho) e Oxaguiã (o Oxalá novo) e representa a sabedoria, o respeito, a serenidade e a pureza do branco (o funfun)
OSSAIM: Orixá das plantas e das folhas, presentes nas mais diversas manifestações do culto aos Orixás. Em algumas casas é cultuado como Iabá (Orixá feminino). Alguns segmentos Umbandistas trabalham com Ossaim, enquanto elemento masculino, e Osanha, como elemento feminino.
OXUMARÉ: Filho mais novo e preferido de Nanã. Este Orixá participou da criação do nosso planeta, enrolando-se energeticamente ao nosso mundo, reunindo a matéria, dando assim vida ao nosso globo terrestre.
LOGUN-EDÉ: Príncipe dos Orixás. Filho de Oxóssi e Oxum, vive metade do ano na água (como mulher) e a outra metade no mato (como homem). Deus solidário do panteão africano dos Orixás, preocupa-se com aqueles que sofrem e os que nada tem, distribuindo para eles riqueza e caça.
EUÁ: Divindade do Rio Yewa é considerada a dona dos horizontes e do mundo. Também é ligada às águas e, por vezes, associada a fertilidade. Esposa de Oxumaré, está relacionada a cor ou faixa branca do arco-íris.
IROCO OU TEMPO: Orixá cultuado na Nigéria  em uma árvore do mesmo nome. Iroco é o Deus dos bosques nigerianos e sua cor é a branca. É um Orixá pouco cultuado na Umbanda.

Preparação

Como já é do conhecimento de praticantes e/ou estudiosos deste oráculo, acredita-se que o método de preparação do Búzios influencia muito na eficácia na leitura.
O preparo das mesas, por exemplo, é um fator muito importante principalmente sob o ponto de vista religioso. Há diversas maneiras de “preparar ritualisticamente” a mesa para uma leitura de Búzios, mas a mais conhecida chama-se URUPEMA.

Qual é o objetivo da leitura?

O Jogo de Búzios é mais uma leitura realizada através de lances de determinadas conchas, como já é do conhecimento popular. A finalidade dele é comunicar-se com os Orixás (Entidades Divinas) para perguntar-lhes sobre diversas questões (amorosas, financeiras, familiares etc.).
Os Orixás são nossos espíritos guardiões. Ori significa cabeça e Ixá significa guardião, ou seja, “Guardiões de nossas cabeças”.
Os orixás são capazes de nos proporcionar resoluções para problemas de nossa vida cotidiana, seja esses problemas materiais, sentimentais, emocionais ou até mesmo financeiros.
Por fim, outra finalidade do Búzios é descobrir se alguém fez algum trabalho espiritual maligno para o consulente (magia negra), como por exemplo, feitiçaria.
Esse privilégio você não só encontrará através do Búzios, mas também em outros métodos de adivinhação que assim como os búzios, podem descobrir este tipo de problema (principalmente a cartomancia e as cartas do tarô).