Conheci cigana da Estrada
há muitos anos atrás,
e Foi ela que me ensinou
uma das maiores lições
que eu tive na vida
Conheci cigana da Estrada
há muitos anos atrás,
e Foi ela que me ensinou
uma das maiores lições
que eu tive na vida.
Eu fazia parte de um terreiro
de umbanda na zona sul
de São Paulo em um bairro
considerado de classe alta,
eu não morava lá,
apenas trabalhava perto
então acabava indo para lá
sempre após o serviço
para as sessões.
Foi então que em
uma dessas sessões
havia uma senhora incorporada
com Cigana da Estrada
e ela não era membro
do terreiro e sim uma amiga
da mãe de santo que
estava convidada ali
para a gira de ciganos.
Gostei muito da Cigana porque
era uma cigana totalmente
diferente de todas as outras,
Só muito tempo depois
fui saber que ela na verdade
não se considera
nem cigana do oriente
e nem pomba gira,
a cigana da estrada é
uma entidade única
que faz o que quer
e vive como bem entende.
Naquela gira sendo
a primeira vez que
eu a vi acabei ficando
muito próximo dela
então quando a gira acabou
a mãe de santo da casa
pediu que eu levasse
a cigana da estrada para
o quarto dos fundos para
que ela fosse embora.
Assim eu fiz e quando
chegamos no quarto
A cigana olhou para mim
e perguntou:
— Trabalhou o dia inteiro. não foi?
Fiquei espantado com aquilo
e disse que sim,
eu trabalhava como
operador de caixa em
um supermercado
que ficava no bairro.
Conversa vai conversa vem
eu todo do orgulhoso
falei para Cigana da Estrada
que naquele mês eu tinha
recebido um bônus,
e esses bônus na época
eram tickets que valiam compras
dentro do mercado,
e ao todo com todos os tickets
que eu tinha dava
Setecentos e oitenta reais
para serem usados
dentro do próprio mercado.
É claro que eu não tinha ganhado
aquilo tudo de uma vez só
e sim estava juntado
há muito tempo pois
cada ticket era de cinquenta
E alguns de dez reais.
Me gabei para Cigana da Estrada
dizendo que na semana seguinte
iria trazer tudo para
o terreiro para que
a mãe de santo fizesse
a festa de Cosme e Damião
e disse para ela:
— Nós somos da Umbanda e temos que fazer caridade.
Então para meu grande espanto
cigana da estrada abriu
um sorriso e deu uma risada
em tom de deboche.
Perguntei para ela
o que estava acontecendo
E ela simplesmente estendeu
a mão para mim e me puxou
para fora do quarto
e nós caminhamos pelo
meio do salão do terreiro
e fomos até lá fora,
até a rua.
Era de noite mas ela
apontou com o dedo adornado
por um anel de pedra verde
para as casas e os prédios
que dominavam o lugar:
— Então você vai dar tudo o que tem para que a mãe de santo dessa casa compre doces para dar para as crianças que moram nesse lugar? Você acha mesmo que qualquer criança ou qualquer pessoa que esteja necessitada vai vir até aqui? As pessoas mais pobres não se sentem confortáveis nem de andar pelas ruas do bairro meu querido, encher o bucho de moleques mimados com chocolates de marca nunca foi e nem nunca será caridade. Você passou o dia trabalhando, já a mãe de Santo passou o dia na manicure. Use a cabeça.
Eu fiquei muito chocado
com aquilo que ela disse
então perguntei o que ela
me aconselhava a fazer.
— Quando era viva Acabei sendo expulsa do acampamento Cigano que fazia parte porque segundo o chefe do acampamento eu era uma mulher sem vergonha. Uma Cigana de personalidade forte é sempre mal vista pois é um povo que até hoje gosta de colocar a mulher como submissa, e submissa eu jamais fui. O que acontece é eu tinha quatorze anos de idade e me deixaram sozinha na beira de uma estrada e foram embora. Me lembro como se fosse hoje, as carruagens indo embora e eu ali com a roupa do corpo, o vento soprando nos cabelos e uma jornada incerta pela frente. O chefe do Acampamento, que no caso era meu pai, acreditava que eu não iria sobreviver, porém eu sobrevivi. Minha história é muito longa não vou contar ela toda mas o que aconteceu foi que muitos anos depois meu pai soube que eu estava bem financeiramente, então apareceu diante de mim pedindo ajuda financeira para o acampamento. Disse que precisava de dinheiro para sair do Brasil e voltar para Espanha, queria comprar passagens de navio e tudo mais. Eu com uma quantidade exorbitante de moedas de ouro simplesmente olhei para ele e disse não. E você pode pensar que eu fiz por vingança Mas não é verdade, o que acontece é que durante os anos em que eu vivi sozinha acabei sendo acolhida em um cabaré, e eu nunca me prostitui pois as moças do cabaré nunca me obrigaram a fazer nada que eu não quisesse. Aquelas mulheres se tornaram minhas grandes amigas. Mas a vida no Cabaré é muito difícil e aquelas que não se organizam bem na vida acabam envelhecendo indo para Rua da Amargura. Esse ditado de ir para Rua da Amargura significa se tornar uma pessoa sem teto entende? Ir mendigar o pão nas sarjetas. E aí com o meu pai ali na minha frente eu apenas desviei que meu caminho e levei o dinheiro que eu tinha para o cabaré e comprei uma casa singela na vizinhança, uma casinha simples dentro das posses que eram possíveis e abriguei minhas amigas que estavam em necessidade. A caridade Não é sair dando dinheiro aos outros meu querido pois todo ato feito sem Inteligência é um ato vazio. O que é que valia mais? eu dar ouro ao meu pai para ele comprar passagens de navio para ir de volta à Europa ou colocar um teto sobre a cabeça daquelas que me ajudaram e mataram a minha fome quando eu tive necessidade? A caridade tem que ser pensada caso contrário ela não passa de idiotice. E se quer o conselho, o conselho que eu dou é que você pense no que vai fazer com o dinheiro que tem, você pode tanto mudar a vida de alguém quanto jogar o seu dinheiro na lata do lixo. A escolha é sua.
Fiquei pensando naquilo
e naquela noite quando
voltei para casa
voltei pedindo dentro
da minha mente que dona
Cigana da Estrada me ajudasse
a tomar a melhor decisão possível.
Quando cheguei no meu bairro,
que era na periferia,
fui entrando em casa
então de um jeito muito engraçado
ouvi um som de um
pandeiro batendo,
tocava em ritmo de
música cigana.
No mesmo quintal havia
outra casa e eu dei uns passos
no corredor até o fundo
E então percebi que
não tinha pandeiro nenhum
e na verdade era apenas
aqueles sininhos colocados
em Jardim que balançam
com o vento,
A vizinha tinha vários pendurados
Perto da porta.
Quando eu cheguei ali na frente
ouvi através da janela
minha vizinha dos fundos
falando com a filha,
que era uma jovem que
tinha tido um bebê recentemente.
Minha vizinha dizia para filha
não se preocupar porque
ela iria dar um jeito,
elas tinham dinheiro suficiente
para pagar o aluguel daquele mês
mas não tinha o dinheiro
para mais nada.
Então para meu espanto ouvi
a moça mais jovem ali
que devia estar com o bebê
no colo falar que o bebê
já não aguentava mais
tomar água com aveia na mamadeira
pois já fazia uma semana
que não tinha leite em casa.
Corri para minha casa
e apanhei lá os tickets
então voltei a casa da vizinha
e bati na porta,
ela prontamente me atendeu
com um sorriso pois sempre
foi uma mulher muito simpática
então eu estendi para ela
o envelope com os tickets.
— Dona Maria, senhora sabe que eu trabalho em um mercado, lá eu ganho vários tickets alimentação mas eu moro sozinho e é coisa demais para eu gastar. A senhora aceitaria?
Ela olhou para mim
e olhou para o envelope
na minha mão então pegou ele
com delicadeza e o abriu,
enquanto ia passando
os papeizinhos pela mão
ela baixou a cabeça e as
lágrimas começaram a rolar
pelo seu rosto.
Por educação fingi não notar nada
apenas disse para ela que
usasse bem e que podia usar
em qualquer uma das filiais
da rede de supermercados.
Quando me virei para ir embora
Acabei vendo pela janela
Entreaberta ela indo mostrar
Para a filha o envelope,
Então as duas se abraçarem
E juntas agradecerão a Deus
Por aquilo.
No dia seguinte quando cheguei
do meu trabalho abri
a porta de casa e vi que
alguém tinha colocado
uma carta por debaixo dela.
Quando eu abri a carta
li o que estava escrito
E era o seguinte:
"Seu Lucas, o senhor me desculpe de não ter te agradecido quando me deu os tickets, é que fiquei muito emocionada. Eu sou viúva e ganho uma aposentadoria muito pequena, minha filha teve o bebê a pouco tempo e infelizmente por uma tragédia o marido dela acabou pegando tuberculose enquanto ela estava grávida e morreu assim que o bebê nasceu. Então eu acabei tendo muitas despesas para trazer ela de volta para cá, as passagens para ela vir do Paraná consumiram tudo o que eu tinha, e minhas economias usei para comprar tudo que o meu neto precisava. Usei todo o dinheiro que tinha e acabei ficando sem nada na dispensa e naquele dia que o senhor trouxe aqueles papeizinhos nós não tínhamos nada para jantar e acabamos comendo apenas pão seco com água, mas graças a sua ajuda de manhã eu fui no mercado e fiz uma compra muito grande e agora nós temos comida para o mês todo e ainda temos tickets para usar no mês que vem. Não sei qual é a sua religião mas eu peço muito que Deus te abençoe pelo que fez e que te retribua cem vezes mais."
Fiquei muito contente com aquilo,
percebi que eu realmente
tinha feito uma caridade
de verdade.
Mas a coisa não ficou boa
para o meu lado
pois lá no terreiro a mãe de santo
ficou furiosa com o fato de
eu não ter dado os tickets para
ela comprar os doces.
Hoje em dia Setecentos reais
não é nada mas quinze anos atrás
Era muita coisa e pagava
Praticante a festa de cosme toda.
A mãe de Santo acabou
me tratando muito mal
mesmo dizendo para ela
que tinha ajudado
uma pessoa que precisava
muito mais do que as crianças
Daquele bairro chique.
A mãe Santo teve de usar o
Dinheiro que ela tinha
Guardado das mensalidades
Para poder fazer a festa.
A situação ficou tão desagradável
que eu acabei sendo convidado
a me retirar do terreiro.
Mais um dia,
alguns meses depois
um amigo meu me chamou
para ir em um terreiro
muito humilde que
era ali mesmo no meu bairro
mas que eu nem sabia
que existia pois era
uma casinha pequena
que não fazia alarde.
Quando chegamos lá
entrei no terreiro e vi
aquele lugar pequeno que
em vez de parecer um salão
era basicamente a sala
de uma casa,
e ali no meio estava
uma moça muito nova
usando roupas ciganas
em tons de vermelho e dourado.
A moça olhou para mim, sorriu
e veio andando na minha direção
e eu reconheci que era
a filha da minha vizinha,
era justamente aquela moça
que tinha tido o bebê.
Mas nos olhos dela
Eu reconheci a Cigana da Estrada
que sorriu para mim
com grande alegria e me disse:
— Aquele que ajuda um filho meu ajuda a mim.
Ela me chamou para ir
No cômodo atrás daquela sala
Onde havia um altar cigano,
E me pediu para levantar
A estátuas da cigana de
Roupas vermelhas que
Estava no meio de tantas outras.
Quando levantei vi que havia
Um papel embaixo dela
E a cigana da estrada me
pediu para ler.
"Dona Cigana, peço que abençoe a vida de Lucas Nogueira, que nos ajudou sem pedir nada em troca."
Então olhei para a Cigana e
Perguntei:
— A gerente do meu trabalho hoje disse que tem uma vaga aberta para ser fiscal dos caixas e que o salário é muito melhor. Ela disse que vai me por lá. Eu nunca achei que ela gostasse de mim mas ainda assim vai me promover. Foi a senhora que fez isso?
A cigana só sorriu para mim e sacudiu os ombros de forma Festiva.
—Fiquei muito feliz que tenha me ouvido rapaz, de agora em diante você saiba que tem em Cigana da Estrada uma amiga.
Fiquei chocado com aquilo
mas também muito satisfeito.
Hoje em dia eu faço parte
daquele terreiro pequeno
e minhas vizinhas agora
são minhas irmãs de Santos,
e elas superaram a crise
que estavam passando
e hoje em dia já
não precisam de
caridade de ninguém
e sim são elas que fazem
para ajudar as outras pessoas
inclusive em um momento
muito especial acabaram
me ajudando.
Eu sempre que ajudo alguém
ajudo quando
o meu coração pede
mas também quando
a minha cabeça Analisa
e percebe que é necessário.
Cigana da estrada sempre
me abençoa me dando condições
para ajudar os outros
e eu retribuo a ela fazendo
o que ela me pediu,
só faço aquilo que é necessário.
Salve a Cigana da Estrada
que muito tem me ajudado,
e salve ela também por
ter me dado o verdadeiro
direcionamento da Fé.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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há muitos anos atrás,
e Foi ela que me ensinou
uma das maiores lições
que eu tive na vida.
Eu fazia parte de um terreiro
de umbanda na zona sul
de São Paulo em um bairro
considerado de classe alta,
eu não morava lá,
apenas trabalhava perto
então acabava indo para lá
sempre após o serviço
para as sessões.
Foi então que em
uma dessas sessões
havia uma senhora incorporada
com Cigana da Estrada
e ela não era membro
do terreiro e sim uma amiga
da mãe de santo que
estava convidada ali
para a gira de ciganos.
Gostei muito da Cigana porque
era uma cigana totalmente
diferente de todas as outras,
Só muito tempo depois
fui saber que ela na verdade
não se considera
nem cigana do oriente
e nem pomba gira,
a cigana da estrada é
uma entidade única
que faz o que quer
e vive como bem entende.
Naquela gira sendo
a primeira vez que
eu a vi acabei ficando
muito próximo dela
então quando a gira acabou
a mãe de santo da casa
pediu que eu levasse
a cigana da estrada para
o quarto dos fundos para
que ela fosse embora.
Assim eu fiz e quando
chegamos no quarto
A cigana olhou para mim
e perguntou:
— Trabalhou o dia inteiro. não foi?Fiquei espantado com aquilo
e disse que sim,
eu trabalhava como
operador de caixa em
um supermercado
que ficava no bairro.
Conversa vai conversa vem
eu todo do orgulhoso
falei para Cigana da Estrada
que naquele mês eu tinha
recebido um bônus,
e esses bônus na época
eram tickets que valiam compras
dentro do mercado,
e ao todo com todos os tickets
que eu tinha dava
Setecentos e oitenta reais
para serem usados
dentro do próprio mercado.
É claro que eu não tinha ganhado
aquilo tudo de uma vez só
e sim estava juntado
há muito tempo pois
cada ticket era de cinquenta
E alguns de dez reais.
Me gabei para Cigana da Estrada
dizendo que na semana seguinte
iria trazer tudo para
o terreiro para que
a mãe de santo fizesse
a festa de Cosme e Damião
e disse para ela:
— Nós somos da Umbanda e temos que fazer caridade.Então para meu grande espanto
cigana da estrada abriu
um sorriso e deu uma risada
em tom de deboche.
Perguntei para ela
o que estava acontecendo
E ela simplesmente estendeu
a mão para mim e me puxou
para fora do quarto
e nós caminhamos pelo
meio do salão do terreiro
e fomos até lá fora,
até a rua.
Era de noite mas ela
apontou com o dedo adornado
por um anel de pedra verde
para as casas e os prédios
que dominavam o lugar:
— Então você vai dar tudo o que tem para que a mãe de santo dessa casa compre doces para dar para as crianças que moram nesse lugar? Você acha mesmo que qualquer criança ou qualquer pessoa que esteja necessitada vai vir até aqui? As pessoas mais pobres não se sentem confortáveis nem de andar pelas ruas do bairro meu querido, encher o bucho de moleques mimados com chocolates de marca nunca foi e nem nunca será caridade. Você passou o dia trabalhando, já a mãe de Santo passou o dia na manicure. Use a cabeça.Eu fiquei muito chocado
com aquilo que ela disse
então perguntei o que ela
me aconselhava a fazer.
— Quando era viva Acabei sendo expulsa do acampamento Cigano que fazia parte porque segundo o chefe do acampamento eu era uma mulher sem vergonha. Uma Cigana de personalidade forte é sempre mal vista pois é um povo que até hoje gosta de colocar a mulher como submissa, e submissa eu jamais fui. O que acontece é eu tinha quatorze anos de idade e me deixaram sozinha na beira de uma estrada e foram embora. Me lembro como se fosse hoje, as carruagens indo embora e eu ali com a roupa do corpo, o vento soprando nos cabelos e uma jornada incerta pela frente. O chefe do Acampamento, que no caso era meu pai, acreditava que eu não iria sobreviver, porém eu sobrevivi. Minha história é muito longa não vou contar ela toda mas o que aconteceu foi que muitos anos depois meu pai soube que eu estava bem financeiramente, então apareceu diante de mim pedindo ajuda financeira para o acampamento. Disse que precisava de dinheiro para sair do Brasil e voltar para Espanha, queria comprar passagens de navio e tudo mais. Eu com uma quantidade exorbitante de moedas de ouro simplesmente olhei para ele e disse não. E você pode pensar que eu fiz por vingança Mas não é verdade, o que acontece é que durante os anos em que eu vivi sozinha acabei sendo acolhida em um cabaré, e eu nunca me prostitui pois as moças do cabaré nunca me obrigaram a fazer nada que eu não quisesse. Aquelas mulheres se tornaram minhas grandes amigas. Mas a vida no Cabaré é muito difícil e aquelas que não se organizam bem na vida acabam envelhecendo indo para Rua da Amargura. Esse ditado de ir para Rua da Amargura significa se tornar uma pessoa sem teto entende? Ir mendigar o pão nas sarjetas. E aí com o meu pai ali na minha frente eu apenas desviei que meu caminho e levei o dinheiro que eu tinha para o cabaré e comprei uma casa singela na vizinhança, uma casinha simples dentro das posses que eram possíveis e abriguei minhas amigas que estavam em necessidade. A caridade Não é sair dando dinheiro aos outros meu querido pois todo ato feito sem Inteligência é um ato vazio. O que é que valia mais? eu dar ouro ao meu pai para ele comprar passagens de navio para ir de volta à Europa ou colocar um teto sobre a cabeça daquelas que me ajudaram e mataram a minha fome quando eu tive necessidade? A caridade tem que ser pensada caso contrário ela não passa de idiotice. E se quer o conselho, o conselho que eu dou é que você pense no que vai fazer com o dinheiro que tem, você pode tanto mudar a vida de alguém quanto jogar o seu dinheiro na lata do lixo. A escolha é sua.Fiquei pensando naquilo
e naquela noite quando
voltei para casa
voltei pedindo dentro
da minha mente que dona
Cigana da Estrada me ajudasse
a tomar a melhor decisão possível.
Quando cheguei no meu bairro,
que era na periferia,
fui entrando em casa
então de um jeito muito engraçado
ouvi um som de um
pandeiro batendo,
tocava em ritmo de
música cigana.
No mesmo quintal havia
outra casa e eu dei uns passos
no corredor até o fundo
E então percebi que
não tinha pandeiro nenhum
e na verdade era apenas
aqueles sininhos colocados
em Jardim que balançam
com o vento,
A vizinha tinha vários pendurados
Perto da porta.
Quando eu cheguei ali na frente
ouvi através da janela
minha vizinha dos fundos
falando com a filha,
que era uma jovem que
tinha tido um bebê recentemente.
Minha vizinha dizia para filha
não se preocupar porque
ela iria dar um jeito,
elas tinham dinheiro suficiente
para pagar o aluguel daquele mês
mas não tinha o dinheiro
para mais nada.
Então para meu espanto ouvi
a moça mais jovem ali
que devia estar com o bebê
no colo falar que o bebê
já não aguentava mais
tomar água com aveia na mamadeira
pois já fazia uma semana
que não tinha leite em casa.
Corri para minha casa
e apanhei lá os tickets
então voltei a casa da vizinha
e bati na porta,
ela prontamente me atendeu
com um sorriso pois sempre
foi uma mulher muito simpática
então eu estendi para ela
o envelope com os tickets.
— Dona Maria, senhora sabe que eu trabalho em um mercado, lá eu ganho vários tickets alimentação mas eu moro sozinho e é coisa demais para eu gastar. A senhora aceitaria?Ela olhou para mim
e olhou para o envelope
na minha mão então pegou ele
com delicadeza e o abriu,
enquanto ia passando
os papeizinhos pela mão
ela baixou a cabeça e as
lágrimas começaram a rolar
pelo seu rosto.
Por educação fingi não notar nada
apenas disse para ela que
usasse bem e que podia usar
em qualquer uma das filiais
da rede de supermercados.
Quando me virei para ir embora
Acabei vendo pela janela
Entreaberta ela indo mostrar
Para a filha o envelope,
Então as duas se abraçarem
E juntas agradecerão a Deus
Por aquilo.
No dia seguinte quando cheguei
do meu trabalho abri
a porta de casa e vi que
alguém tinha colocado
uma carta por debaixo dela.
Quando eu abri a carta
li o que estava escrito
E era o seguinte:
"Seu Lucas, o senhor me desculpe de não ter te agradecido quando me deu os tickets, é que fiquei muito emocionada. Eu sou viúva e ganho uma aposentadoria muito pequena, minha filha teve o bebê a pouco tempo e infelizmente por uma tragédia o marido dela acabou pegando tuberculose enquanto ela estava grávida e morreu assim que o bebê nasceu. Então eu acabei tendo muitas despesas para trazer ela de volta para cá, as passagens para ela vir do Paraná consumiram tudo o que eu tinha, e minhas economias usei para comprar tudo que o meu neto precisava. Usei todo o dinheiro que tinha e acabei ficando sem nada na dispensa e naquele dia que o senhor trouxe aqueles papeizinhos nós não tínhamos nada para jantar e acabamos comendo apenas pão seco com água, mas graças a sua ajuda de manhã eu fui no mercado e fiz uma compra muito grande e agora nós temos comida para o mês todo e ainda temos tickets para usar no mês que vem. Não sei qual é a sua religião mas eu peço muito que Deus te abençoe pelo que fez e que te retribua cem vezes mais."
Fiquei muito contente com aquilo,
percebi que eu realmente
tinha feito uma caridade
de verdade.
Mas a coisa não ficou boa
para o meu lado
pois lá no terreiro a mãe de santo
ficou furiosa com o fato de
eu não ter dado os tickets para
ela comprar os doces.
Hoje em dia Setecentos reais
não é nada mas quinze anos atrás
Era muita coisa e pagava
Praticante a festa de cosme toda.
A mãe de Santo acabou
me tratando muito mal
mesmo dizendo para ela
que tinha ajudado
uma pessoa que precisava
muito mais do que as crianças
Daquele bairro chique.
A mãe Santo teve de usar o
Dinheiro que ela tinha
Guardado das mensalidades
Para poder fazer a festa.
A situação ficou tão desagradável
que eu acabei sendo convidado
a me retirar do terreiro.
Mais um dia,
alguns meses depois
um amigo meu me chamou
para ir em um terreiro
muito humilde que
era ali mesmo no meu bairro
mas que eu nem sabia
que existia pois era
uma casinha pequena
que não fazia alarde.
Quando chegamos lá
entrei no terreiro e vi
aquele lugar pequeno que
em vez de parecer um salão
era basicamente a sala
de uma casa,
e ali no meio estava
uma moça muito nova
usando roupas ciganas
em tons de vermelho e dourado.
A moça olhou para mim, sorriu
e veio andando na minha direção
e eu reconheci que era
a filha da minha vizinha,
era justamente aquela moça
que tinha tido o bebê.
Mas nos olhos dela
Eu reconheci a Cigana da Estrada
que sorriu para mim
com grande alegria e me disse:
— Aquele que ajuda um filho meu ajuda a mim.Ela me chamou para ir
No cômodo atrás daquela sala
Onde havia um altar cigano,
E me pediu para levantar
A estátuas da cigana de
Roupas vermelhas que
Estava no meio de tantas outras.
Quando levantei vi que havia
Um papel embaixo dela
E a cigana da estrada me
pediu para ler.
"Dona Cigana, peço que abençoe a vida de Lucas Nogueira, que nos ajudou sem pedir nada em troca."
Então olhei para a Cigana e
Perguntei:
— A gerente do meu trabalho hoje disse que tem uma vaga aberta para ser fiscal dos caixas e que o salário é muito melhor. Ela disse que vai me por lá. Eu nunca achei que ela gostasse de mim mas ainda assim vai me promover. Foi a senhora que fez isso?A cigana só sorriu para mim e sacudiu os ombros de forma Festiva.
—Fiquei muito feliz que tenha me ouvido rapaz, de agora em diante você saiba que tem em Cigana da Estrada uma amiga.Fiquei chocado com aquilo
mas também muito satisfeito.
Hoje em dia eu faço parte
daquele terreiro pequeno
e minhas vizinhas agora
são minhas irmãs de Santos,
e elas superaram a crise
que estavam passando
e hoje em dia já
não precisam de
caridade de ninguém
e sim são elas que fazem
para ajudar as outras pessoas
inclusive em um momento
muito especial acabaram
me ajudando.
Eu sempre que ajudo alguém
ajudo quando
o meu coração pede
mas também quando
a minha cabeça Analisa
e percebe que é necessário.
Cigana da estrada sempre
me abençoa me dando condições
para ajudar os outros
e eu retribuo a ela fazendo
o que ela me pediu,
só faço aquilo que é necessário.
Salve a Cigana da Estrada
que muito tem me ajudado,
e salve ela também por
ter me dado o verdadeiro
direcionamento da Fé.
Arte e texto por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
Quer saber sobre os mistérios da vida? Sobre sobre os seus caminhos?
Ou descobrir quem são suas entidades?
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