REVISTA ESPÍRITA 1868 » Fevereiro » INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS » OS ESPÍRITOS MARCADOS
5. ─ Há muitos Espíritos superiores que concorrerão poderosamente à obra reorganizadora, mas nem todos são messias. Há que distinguir:
1.º ─ Os Espíritos superiores que agem livremente e por sua própria vontade;
2.º ─ Os Espíritos marcados, isto é, designados para uma importante missão. Eles têm a radiação luminosa que é o signo característico de sua superioridade. São escolhidos entre os Espíritos capazes de cumpri-las; entretanto, como têm livre-arbítrio, podem falir por falta de coragem, de perseverança ou de fé, e não estão ao abrigo dos acidentes que podem abreviar os seus dias, mas como os desígnios de Deus não estão à mercê de um homem, o que um não faz, outro é chamado a fazer. Eis por que há muitos chamados e poucos escolhidos. Feliz aquele que realiza sua missão segundo as vistas de Deus e sem desfalecimentos!
3.º ─ Os Messias, seres superiores que chegaram ao mais alto degrau da hierarquia celeste, depois de haverem atingido uma perfeição que os torna infalíveis daí por diante, e acima das fraquezas humanas, mesmo na encarnação. Admitidos nos conselhos do Altíssimo, eles recebem diretamente a sua palavra, que são encarregados de transmitir e fazer cumprir. Verdadeiros representantes da Divindade, cujo pensamento eles têm, é entre eles que Deus escolhe os seus enviados especiais, ou seus Messias para as grandes missões gerais, cujos detalhes de execução são confiados a outros Espíritos encarnados ou desencarnados que agem por suas ordens e sob sua inspiração.
Espíritos dessas três categorias devem concorrer no grande movimento regenerador que se opera.
(Êxtase sonambúlico; Paris, 1866)
6. ─ Meus amigos, venho confirmar a esperança dos altos destinos que esperam o Espiritismo. Esse glorioso futuro que vos anunciamos será realizado pela vinda de um Espírito superior que resumirá, na essência de sua perfeição, todas as doutrinas antigas e novas e que, pela autoridade de sua palavra, religará os homens às crenças novas. Semelhante ao sol nascente, ele dissipará todas as obscuridades amontoadas sobre a eterna verdade pelo fanatismo e pela inobservância dos preceitos do Cristo.
A estrela da nova crença, o futuro Messias, cresce na sombra, mas já os seus inimigos tremem, e as virtudes dos céus estão abaladas.
Perguntais se esse novo Messias é a mesma pessoa de Jesus de Nazaré. Que vos importa, se é o mesmo pensamento que os anima a ambos? São as imperfeições que dividem os Espíritos, mas quando as perfeições são iguais, nada os distingue; eles formam unidades coletivas, sem perder a sua individualidade.
O começo de todas as coisas é obscuro e vulgar; o que é pequeno cresce; nossas manifestações, a princípio acolhidas com o desdém, a violência ou a indiferença banal da curiosidade ociosa, espalharão ondas de luz sobre os cegos e os regenerarão.
Todos os grandes acontecimentos têm tido os seus profetas, ora incensados, ora ignorados. Assim como Moisés conduzia os hebreus, nós vos conduziremos para a Terra prometida da inteligência.
Similitude chocante! Os mesmos fenômenos se produzem, não mais no sentido material, destinado a ferir os homens infantis, mas na sua acepção espiritual. As crianças tornaram-se adultos; crescendo o objetivo, os exemplos não mais se dirigem aos olhos; a vara de Aarão está quebrada, e a única transformação que operamos é a de vossos corações que se tornaram atentos ao grito de amor que, do Céu, repercute na Terra.
Espíritas! Compreendei a gravidade de vossa missão; estremecei de alegria, porque não está longe a hora em que o divino enviado alegrará o mundo. Espíritas laboriosos, sede abençoados por vossos esforços e sede perdoados por vossos erros. A ignorância e a perturbação ainda vos roubam uma parte da verdade que só o celeste Mensageiro vos pode revelar por inteiro.
SÃO LUÍS.
(Paris, 1862)
7. ─ A vinda do Cristo trouxe para vossa Terra sentimentos que por um instante a submeteram à vontade de Deus, mas os homens, enceguecidos por suas paixões, não puderam guardar no coração o amor ao próximo, o amor ao Mestre do Céu. O enviado do Todo-Poderoso abriu à Humanidade a rota que conduz ao repouso bem-aventurado, mas a Humanidade recuou um passo imenso que o Cristo a tinha feito dar; caiu no carreiro do egoísmo, e o orgulho a fez esquecer o seu Criador.
Deus permite que ainda uma vez sua palavra seja pregada na Terra, e tereis que glorificá-lo, porque ele quis chamar-vos, como primeiros, a crer no que mais tarde será ensinado. Rejubilai-vos, porque estão próximos os tempos em que essa palavra far-se-á ouvir. Melhorai-vos, aproveitando os ensinamentos que ele permite que vos demos.
Que a árvore da fé, que neste momento fixa raízes tão vivazes, produza os seus frutos; que esses frutos amadureçam, como amadurecerá a fé que hoje anima alguns entre vós!
Sim, meus filhos, o povo comprimir-se-á sobre os passos do novo mensageiro anunciado pelo próprio Cristo, e todos virão escutar essa divina palavra, porque nela encontrarão a linguagem da verdade e o caminho da salvação. Deus, que permitiu que vos esclarecêssemos e que sustentássemos vossa marcha até hoje, permitirá que novamente vos demos as instruções que vos são necessárias.
Mas também vós, os primeiros favorecidos pela crença, tendes vossa missão a cumprir; tereis que trazer aqueles dentre vós que ainda duvidam das manifestações que Deus permite; tereis que fazer luzir aos seus olhos os benefícios daquilo que tanto vos consolou. Nos vossos dias de tristeza e abatimento, vossa crença não vos sustentou? Não fez nascer em vosso coração essa esperança que, sem ela, teríeis ficado no desencorajamento?
Eis o que é preciso fazer partilhar os que ainda não creem, não por uma precipitação intempestiva, mas com prudência e sem chocar de frente os preconceitos longamente arraigados. Não se arranca uma velha árvore de um só golpe, como um broto de erva, mas pouco a pouco.
Semeai desde já o que mais tarde quereis colher; semeai o grão que virá frutificar no terreno que tiverdes preparado, e cujos frutos vós mesmos colhereis, porque Deus levará em conta o que tiverdes feito por vossos irmãos.
LAMENNAIS.
(Havre, 1862