terça-feira, 24 de agosto de 2021

REVISTA ESPÍRITA 1858 » JANEIRO » RESPOSTAS DOS ESPÍRITOS A ALGUMAS PERGUNTAS

 REVISTA ESPÍRITA 1858 » JANEIRO » RESPOSTAS DOS ESPÍRITOS A ALGUMAS PERGUNTAS


Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Revista Espírita JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS PUBLICADA son DIREÇÃO DE ALLAN KARDEC Tradução por JULIO ABREU FILHO REVUE SPIRITE JOURNAL D'ÉTUDES PSYCHOLOGIQUES Publié sous la direction de M. ALLAN KARDEC 1858 EDICEL"P. ─ Como podem os Espíritos agir sobre a matéria? Isto parece contrário a todas as ideias que fazemos da natureza dos Espíritos.

R. ─ Em vossa opinião, o Espírito nada é, e isto é um erro. Já vos dissemos que o Espírito é alguma coisa, e por isso pode agir por si mesmo, mas o vosso mundo é muito grosseiro para que ele possa fazê-lo sem um intermediário, isto é, sem um laço que una o Espírito à matéria.

OBSERVAÇÃO: Sendo imaterial, ou pelo menos impalpável, o laço que une o Espírito à matéria, esta resposta não resolveria a questão se não tivéssemos o exemplo de forças igualmente imponderáveis que agem sobre a matéria: assim é que o pensamento é a causa primeira de todos os movimentos voluntários; que a eletricidade derruba, levanta e transporta massas inertes. Porque se lhe desconhece o móvel, seria ilógico concluir que não existe. Pode, pois, o Espírito ter suas alavancas, para nós desconhecidas. A Natureza nos prova diariamente que seu poder não se limita ao testemunho dos nossos sentidos. Nos fenômenos espíritas, a causa imediata é incontestavelmente um agente físico, mas a causa primeira é uma inteligência que age sobre esse agente, como o nosso pensamento age sobre os nossos membros. Quando queremos bater, o nosso braço é que age; não é o pensamento que bate, mas é ele que dirige o braço.

P. ─ Entre os Espíritos que produzem efeitos materiais, os que costumamos chamar de batedores formam uma classe especial ou são os mesmos que produzem os movimentos e os ruídos?

R. ─ O mesmo Espírito pode, por certo, produzir efeitos diversos, mas há os que se ocupam mais particularmente de certas coisas, assim como entre vós tendes os ferreiros e os carregadores.

*P. ─ O Espírito que age sobre um corpo sólido, para mover ou para bater, penetra na substância do corpo ou age fora dela?

R. ─ Uma coisa e outra. Já dissemos que a matéria não é um obstáculo para os Espíritos, porque eles tudo penetram.

P. ─ As manifestações materiais, tais como os ruídos, os movimentos de objetos e todos os fenômenos que nos apraz provocar frequentemente, são produzidos indistintamente pelos Espíritos superiores e pelos inferiores?

R. ─ São apenas os Espíritos inferiores que se ocupam dessas coisas. Os Espíritos superiores por vezes os empregam como farias com um carregador, a fim de chamar a atenção. Podes crer que os Espíritos de uma categoria superior estejam às vossas ordens para vos divertir com travessuras? É como se perguntasses se, no teu mundo, são os homens sábios e sérios que fazem papel de palhaços e bufões.


OBSERVAÇÃO: Os Espíritos que se revelam por efeitos materiais, em geral são de ordem inferior. Divertem ou espantam aqueles para quem os espetáculos visuais têm mais atração que o exercício da inteligência; são, de certo modo, os saltimbancos do mundo espírita. Por vezes agem espontaneamente; outras, por ordem de Espíritos superiores.

Se as comunicações dos Espíritos superiores oferecem um interesse mais sério, as manifestações físicas têm igualmente utilidade para o observador; revelam-nos forças desconhecidas da Natureza, e dão-nos meios de estudar o caráter e, se assim podemos dizer, os costumes de todas as classes da população espírita.

P. ─ Como provar que o poder oculto que age nas manifestações espíritas está fora do homem? Não poderíamos pensar que reside em nós mesmos, isto é, que agimos sob o impulso do nosso próprio Espírito?

R. ─ Quando uma coisa é feita contra a tua vontade e o teu desejo, é que não és tu que a produzes, embora muitas vezes sejas a alavanca de que se serve o Espírito para agir, e tua vontade lhe venha em auxílio; podes ser para ele um instrumento mais ou menos cômodo.

OBSERVAÇÃO: É sobretudo nas comunicações inteligentes que se patenteia a intervenção de um poder estranho. Quando espontâneas e estranhas ao nosso pensamento e ao nosso controle; quando respondem a perguntas cuja solução é desconhecida pelos assistentes, devemos procurar fora de nós a causa dessas comunicações. Isto se torna evidente para quem quer que observe os fatos com atenção e perseverança. As nuanças de detalhes escapam ao observador superficial.

P. ─ Todos os Espíritos são capazes de dar manifestações inteligentes?

R. ─ Sim, pois todos eles são inteligências. Como, porém, os há de todos os graus, como entre vós, uns dizem coisas sem sentido ou estúpidas, e outros coisas sensatas.

P. ─ Todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que se lhes fazem?

R. ─ Não. Os Espíritos inferiores são incapazes de compreender certas perguntas, o que não os impede de responderem certo ou errado. É ainda como entre vós.

OBSERVAÇÃO: Por aí se vê quanto é essencial estar atento contra a crença no ilimitado saber dos Espíritos. Eles são como os homens; não basta interrogar o primeiro que aparece para ter uma resposta sensata: é preciso saber a quem nos dirigimos.

Aquele que deseja conhecer os costumes de um povo deve estudá-los de um extremo a outro da escala. Ver apenas uma classe é fazer uma ideia falsa, pois se julga o todo pela parte. A população dos Espíritos é como a nossa; há de tudo: o bom, o mau, o sublime, o trivial, o saber e a ignorância. Quem não os houver observado seriamente, em todos os graus, não se pode gabar de conhecê-los. As manifestações físicas dão-nos a conhecer os Espíritos de camadas inferiores; são a rua e a choupana. As comunicações instrutivas e sábias põem-nos em contato com os Espíritos elevados; são a elite social: o castelo, o Instituto.