segunda-feira, 16 de agosto de 2021

"HÁ ALGUNS ANOS EM MINHA PASSAGEM PELA TERRA, EU ERA UM PEQUENO COMERCIANTE", PSICOGRAFIA DO "ESPÍRITO "J".

 "HÁ ALGUNS ANOS EM MINHA PASSAGEM PELA TERRA, EU ERA UM PEQUENO COMERCIANTE", PSICOGRAFIA DO "ESPÍRITO "J".


Pode ser uma imagem de 2 pessoas e texto que diz "ATENÇÃO CALÚNIA!"Com trinta anos, casei-me com Marina, muito mais jovem do que eu. Construímos uma casa num movimentado bairro do Rio de Janeiro. Desconfiado e inquieto, amava minha esposa com doentia paixão. Marina amava as cores alegres, o cinema e a vida social. Por ter um comportamento meio infantil, logo tornou-se vítima da calúnia. Em torno de nós, fez-se o “disse-me-disse”. Quando passávamos na praça do bairro, éramos objeto de olhares assustados, enquanto cochichavam nossos nomes.

Começaram para mim as cartas anônimas, os telefonemas, e os conselhos de família, reunindo várias acusações.

– “Marina fugiu dos compromissos do lar”

– “Marina é ingrata”

– “Marina é infiel”

Minha própria mãe pedia-me providências.

Amigos faziam piadas com sentido indireto.

Acabou-se em casa a alegria.

Marina se inocentava, alertando-me o coração; entretanto, eu continuava criando quadros horríveis em torno de faltas inexistentes.

Como se eu fosse puro, exigia pureza em minha mulher.

Deplorável cegueira humana!

Foi assim que, numa tarde inesquecível para o remorso que ainda me mata, tocou o telefone.

Alguém do outro lado dizia que um estranho estava em minha casa; no meu quarto.

Transtornado, saí do trabalho, peguei meu revólver e voltei para casa.

Sem barulho entrei em nosso quarto e, de olhos embaçados pelas lágrimas e o desespero, vi Marina curvada, ao lado de um homem que se curvava igualmente a dois passos da nossa cama.

Não tive dúvida, atirei nos dois... E porque não pudesse eu mesmo resistir a tamanha infelicidade, estilhacei meu crânio, caindo, logo após, para acordar no túmulo, agarrado a meu corpo que servia de engorda a vermes famintos.

Em vão tentei fugir daquele calabouço de lama e sombras.

Gargalhadas irônicas de Espíritos infelizes cercavam-me a prisão.

Descrever minha pena é tarefa impossível no vocabulário dos homens, porque o verbo dos homens não tem bastante força para pintar o inferno que brame dentro da alma.

Por muito tempo, amarguei meu cálice de aflição e pavor, até que mãos amigas me afastaram daquele cárcere, que parecia não ter mais fim.

Vim então a saber que, Marina sem culpa, foi sacrificada em minhas mãos de louco.

Esposa verdadeira e inocente que era, simplesmente pediu ao meu próprio irmão que consertasse em nosso quarto a tomada elétrica, a fim de passar a roupa que me era precisa para o dia seguinte.

Tomado de vergonha e enojado de mim, antes de suplicar perdão às minhas pobres vítimas, implorei humilhado, a prova que me espera…

E é assim que, falando às almas descuidadas que cultivam na Terra o vício da calúnia, venho dizer a todas, na condição de um réu, que para me curar da própria insensatez, roguei ao Pai Celeste, e me foi concedida a bênção de meio século de doença e martírio, luta e flagelação, na dor de um corpo cego.

J.

Livro: O Espírito da Verdade/Chico Xavier.