O DIA QUE O ERÊ VEIO COBRAR
Duas da madrugada, foi quando acordei assustada...
Com algo que caiu lá na cozinha...
Nunca tive medo de nada então levantei e fui ver o que era...
A geladeira estava aberta!
E o litro de refrigerante que comprei na janta explodiu lá dentro...
Como isso aconteceu?
Naquele momento não entendi...
Mas o cansaço era tanto que nem quis saber de limpar...
Fechei a geladeira, pensei mais tarde organizar tudo...
Foi quando voltei para quarto e lá estava ela...
Dei um pulo pra trás e o coração acelerou...
- Calma tia, sou eu aninha...
- Se lembra de eu?
Pensei e respondi:
Como entrou aqui sua peste?
Quem é você?
De onde veio?
Só pode ter mais alguém aqui dentro...
Foi quando gritei dizendo que iria chamar a polícia...
E tudo que a criança fazia era dar boas gargalhadas...
- Tia, lembra da vez que foi na macumba pedir o emprego?
- Sou eu...
- Fui eu quem lhe dei...
- O que você me prometeu, bala, doce, pirulito, água de bolinha, nuvem doce...
- Eu quero tia?
Fiquei em êxtase e não soube o que dizer...
Pois realmente a dois anos atrás fui em um terreiro...
E pedi um emprego pois a situação estava precária naquele tempo...
Em sete dias recebi exatamente tudo...
Porém nunca mais voltei naquela "espelunca"...
- Tia, chega mais perto senta aqui do meu lado...
- Vou te mostrar uma coisa...
Foi quando me aproximei daquela criança...
E ela repentinamente puxou meu rosto contra o travesseiro...
Era surpreendente de onde ela tirava tanta força...
Mas a criança conseguiu fazer...
Com que eu não conseguisse movimentar meu pescoço...
E me sufocou no travesseiro...
-"Tá vendo tia...
- Hahaha, quero minha água de bolinha...
- Quero minha bala, meus doces...
- Tia, tia, você me prometeu...
- Eu quero, eu vim buscar!
Consegui gritar dizendo que assim que amanhecesse...
Eu iria lhe pagar!
Foi quando em meu último suspiro pulei da cama e acordei daquele pesadelo...
Assustada, levantei rapidamente e fui até a cozinha...
Pois tudo parecia muito real...
Mas tudo o que vi era a geladeira aberta...
E o refrigerante estourado na prateleira...
Como assim?
Não era um sonho?
Nunca deva para um erê!
(Texto: Contos do Orun)
Saravá Fraterno!
Pai Jonathas de Ogum.'