PAI JACÓ DO CRUZEIRO
(O coveiro dos escravos)
Nasceu em 1768 numa das tribos de Angola e foi trazido para o Brasil ainda moleque. Foi comercializado no mercado de escravos de Salvador, mas foi comprado por um senhor feudal de Minas Gerais.
Demorou em aprender a língua dos homens brancos, pois ficava o tempo todo calado. No começo acharam que ele era mudo, até que o amor de uma negra, que havia perdido seu filho, o adotou....
Ela o acolheu e o ensinou sobre as coisas da escravidão e da vida em terra de gente branca.
Ele demorou em entender e aceitar tanta barbaridade. Ficava calado, apenas observando e fazendo o que lhe mandavam.
Sempre que alguém morria por causa dos maus tratos, ele ia até o corpo, rezava em sua língua nativa, passava ervas cheirosas no corpo do falecido e depois pedia ao capataz para sepultá-lo.
No começo, estranharam esse seu gesto.....No entanto, com o tempo, começaram a lhe pedir para fazer isso, cada vez que alguém morria.
Os próprios capatazes poupavam seu serviço de enterrar os mortos, deixando esse trabalho por conta de Jacó.
E assim Jacó viveu toda a sua vida de escravidão: sepultando os mortos.
Nunca se casou nunca se envolveu com ninguém. Ofereceu sua vida a cuidar dos outros.
Também nunca foi para o tronco, pois nunca desafiou uma ordem sequer. Viveu calado, sempre observando...
Quando assinaram a Lei Áurea para a libertação dos escravos, Pai Jacó estava com 120 anos e ainda vivia.
Era cuidado por um casal de amigos da senzala. Estava quase cego e surdo, não falava, só gesticulava.
Assim que recebeu sua carta de alforria, pegou um punhado de ervas, se lavou, vestiu sua roupa mais limpa e se deitou.
Colocou a carta embaixo do travesseiro e fechou os olhos, dando seu último suspiro.
Nego Jacó estava livre, afinal, e podia partir...
Fonte: JC João Carlos.