AS PERTURBAÇÕES NO MOMENTO DA MORTE
AS PERTURBAÇÕES NO MOMENTO DA MORTE
Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se ainda um outro fenômeno de importância capital, a perturbação.
Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações.
É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro.
Dizemos quase nunca, porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento.
A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurável por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos.
À proporção que a alma se liberta, se encontra numa situação comparável, à de um homem que desperta de profundo sono; as ideias são confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, lhe desperta a memória e o conhecimento de si mesma.
O despertar pode ser:
Calmo para uns, que sentem boas e tranquilas sensações.
Tétrico, aterrador e ansioso, para outros, como um terrível pesadelo.
O último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria, nos estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação.
Ressalto que esse estado, não é geral, sendo que a intensidade e duração do sofrimento, estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e perispírito.
Assim, quanto maior for essa afinidade, mais penosos e prolongados serão os esforços do espírito para se desprender.
Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; é como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o caso das mortes calmas, de pacífico despertar.
A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma.
A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria, que atinge o seu máximo no homem, cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente à vida e gozos materiais.
Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo.
E desde que a lentidão e a dificuldade do desprendimento, estão na razão do grau de pureza e desmaterialização da alma, e só depende de nós, o tornar fácil ou penoso, agradável ou doloroso, esse desprendimento.
Livro: O Céu e o Inferno
Allan Kardec
Centro Espírita Chico Xavier - Canadá