sábado, 3 de junho de 2023

Carona indesejada Há cerca de 20 anos, eu trabalhava como mototaxista em minha cidade.

 Carona indesejada
Há cerca de 20 anos, eu trabalhava como mototaxista em minha cidade. 


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Carona indesejada
Há cerca de 20 anos, eu trabalhava como mototaxista em minha cidade. Era um serviço exaustivo, mas garantia-me uma boa quantia em dinheiro no final de cada semana. Eu era muito rigoroso com meus horários e nunca voltava para casa sem ter batido minha meta diária. Costumava passar por quase todos os pontos de ônibus da cidade em busca de clientes, exceto um, que ficava em frente ao cemitério.
Certa segunda-feira, o dia tinha sido pouco movimentado e me vi obrigado a trabalhar até muito mais tarde. Faltava apenas uma corrida para alcançar minha meta do dia e cumprir minha rotina. Já era por volta da meia-noite, e circulei por vários pontos da cidade sem avistar ninguém. Isso me deixou muito frustrado, pois nunca havia falhado em minha meta pessoal. Foi então que pensei: "Por que não passar perto do cemitério? Próximo dali, há uma empresa que trabalha em três turnos e pode ser que algum funcionário esteja esperando pelo ônibus."
Apesar de sentir um pouco de apreensão, afinal, morro de medo dessas coisas de assombração, decidi seguir em frente e cumprir com minhas obrigações, afinal, era mais importante do que esse medo bobo.
Então, pilotei em direção ao cemitério, e minha mente já havia feito várias orações, como Pai Nosso, Ave Maria, versículos da Bíblia e tudo o que me vinha à mente. Eu estava aterrorizado, sentindo como se algo de ruim estivesse por vir. O vento uivava na viseira do capacete, criando uma atmosfera ainda mais bizarra e assustadora, para minha infelicidade. Mas eu acelerei minha moto, tentando ignorar esse sentimento, afinal, que tipo de homem eu seria se me deixasse ser amedrontado por coisas tolas como essa?
Quando finalmente cheguei em frente ao cemitério, vi uma moça sentada no banco do ponto de ônibus. Seu rosto era lindo, mas algo estava errado. Ela parecia jovem, mas suas roupas não condiziam com a idade que aparentava ter. Eram antiquadas, da época em que minha avó era viva. Seus cabelos castanhos escuros eram longos e lisos, mas pareciam estar emaranhados. Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos, encarando o nada. Eu parei em frente a ela e perguntei: "Está esperando o ônibus? Sou mototaxi e posso te deixar em casa." Tive que falar rapidamente para que ela não pensasse que eu fosse um assaltante.
Ela me encarou com um olhar vazio e distante, como se estivesse olhando para algum lugar além do meu campo de visão. Se levantou com uma calma e sutileza incomum, sem nenhum pertence à mão, como se estivesse vagando sem rumo pela noite.
Quando perguntei se ela precisava de ajuda, ela respondeu com um tom de voz grave e arrastado: "Sim, claro! Meu pai vai ficar feliz em me ver." Era um sotaque diferente, que parecia indicar que ela não era nativa, mas havia algo de estranho em sua expressão. Seus olhos não se focavam em nada em particular, como se ela estivesse em um estado de transe.
Eu só conseguia imaginar que ela estivesse sob o efeito de substâncias ilícitas.
Não consegui deixar de sentir um mal-estar enquanto a ajudava a subir na moto. Parecia que algo estava errado, mas eu não conseguia entender o que era. Os cabelos da moça balançavam ao vento, enquanto ela se segurava firmemente em minha cintura, com as mãos geladas. Acelerei a moto com o coração quase saindo pela boca, sem saber o que esperar do caminho que se estendia diante de mim.
Enquanto saía da rua do cemitério, eu me virei para a moça na minha garupa e perguntei com urgência: "Qual é o seu endereço? Preciso saber onde deixá-la." Mas ela permaneceu em silêncio, olhando fixamente adiante, ela apontou para uma direção e disse calmamente: "Vá sempre em frente!"
Eu não gostei daquilo. Era como se ela estivesse me guiando para uma armadilha, mas eu não podia simplesmente deixá-la ali. Insisti: "Moça, você precisa me dizer onde mora. É importante para a nossa segurança."
"Eu moro na fazenda da barra", disse ela num sussurro quase inaudível, e isso só aumentou meu medo. Eu me esforcei para ouvir suas palavras, enquanto tentava manter a moto sob controle.
"OK!", respondi sem pensar, mas logo comecei a questioná-la: "O quê? Como assim? É no bairro? Perto de lá?" Meu coração batia tão forte que eu senti que enfartaria ali mesmo.
Eu entrei em pânico, porque além de ser completamente fora da rota que eu costumava fazer, a fazenda da barra era um lugar longínquo e abandonado, um dos locais mais antigos da cidade que existia desde a metade do século 19, e não morava ninguém por lá, apenas um lugar histórico que agora me parecia ainda mais assustador.
Não era possível. Eu sabia que aquele lugar estava abandonado há décadas, desde antes de eu nascer. "Não, eu moro lá", disse ela com a voz calma. "Moça, você está brincando comigo né?", perguntei, tentando ignorar a sensação de pavor que me dominava. Era impossível que alguém morasse naquela fazenda.
A moça não respondeu, apenas manteve o olhar fixo adiante, como se estivesse em transe. Eu acelerei a moto e continuei seguindo, mas não conseguia tirar da cabeça a ideia de que algo estava errado.
"Já que estou aqui, bora! Essa moça não está bem e isso é nitido", pensei, tentando me convencer de que estava fazendo a coisa certa. O caminho que se estendia à minha frente parecia cada vez mais longo, e eu não tinha ideia do que fazer a não ser continuar.
Para quebrar o gelo e aliviar a tensão que me paralisava na pilotagem da moto, decidi perguntar: "Qual é o seu nome, moça?" Ela respondeu com uma voz grave e arrastada:
"Meu nome é Carmela. Minha família veio da Itália há alguns anos, para trabalhar nas plantações de café aqui na cidade". Sua resposta me arrepiou dos pés a cabeça e me fez engolir a seco.
"Pelo amor de Deus, mulher, pare de falar essas coisas. Você bebeu? Usou drogas? Eu vou te levar para o hospital, é melhor do que seus pais te verem nessas condições", disse eu. Já não conseguia mais disfarçar o nervosismo que estava tomando conta de mim.
"Hospital de novo não. Por favor! Eu só quero ir para a casa com os meus pais." disse ela quase aos prantos.
Eu não sabia o que pensar. A situação só piorava a cada instante. Eu não podia deixar essa moça sozinha, mas também não podia ignorar a possibilidade de que ela estava sofrendo de algum transtorno mental ou sendo vítima de algum tipo de abuso. Afinal, a fazenda da Barra era conhecida por ser assombrada por espíritos de antigos imigrantes italianos que trabalhavam nas plantações. Quando concluí esse raciocínio, mesmo quase urinando nas calças, decidi perguntar:
"Com todo o respeito, o que você estava fazendo sozinha no cemitério a essa hora? Você não tem medo?" perguntei, olhando pelo retrovisor e engolindo a seco.
"Quando eu era viva, eu tinha!" sussurrou ela em meu ouvido.
Arrepios percorreram todo o meu corpo e a moto pareceu ficar mais leve, como se um peso extra tivesse saído da garupa. Olhei para trás, mas não vi mais ninguém, só a estrada escura. O vento sibilou em meus ouvidos e eu acelerei a moto, desesperado para escapar dali. O medo se apossou de mim, enquanto me perguntava: quem era essa moça, ou melhor, o que era ela?
Depois desse dia, nunca mais trabalhei até tarde. Minhas metas? Foram para o espaço, nunca mais quis saber de meta.
Por: Dan Pery
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