quinta-feira, 8 de junho de 2023

Embarque de Metrô à Setealém (Relato)

 Embarque de Metrô à Setealém (Relato)


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Eu me lembro que trabalhava em um escritório de administração, no centro de São Paulo, perto da estação da Sé de metrô. Era um dia cansativo de trabalho, pois eu era responsável pelo fechamento das folhas de pagamento de todos os funcionário da empresa, neste dia eu estava muito atarefado, motivo pelo qual trabalhei até mais tarde.
Eu praticamente havia perdido a noção do tempo, quando terminei o meu trabalho, já não havia mais ninguém na empresa, pois todos já haviam ido embora, só restava eu e o porteiro do prédio, rapidamente eu peguei a minha pasta e me dirigi até a estação de metrô, já passava das 23:00 hs e haviam muitos viciados perto da praça da Sé e eu andava em passos largos e rápidos, até que rapidamente eu cheguei até a porta da estação.
Para o meu espanto, no guichê para comprar a passagem, me deparei com uma velha senhora de olhos negros, ela parecia ser bem velha mesmo, aparentava ter uns noventa anos. Fiquei surpreso de uma senhora naquela idade ainda estar trabalhando, lembro de fazer muito frio naquela noite de inverno. Foi então que ela me entregou o bilhete, eu lhe agradeci e desejei boa noite, ela apenas sorri e acenou com a cabeça.
Me dirigi até o embarque do metrô, não havia mais ninguém, apenas eu, que aguardei por alguns minutos até embarcar, lembro de estar muito cansado e de sentar em uma das cadeiras perto da porta, não havia quase ninguém lá dentro.
Passados alguns minutos eu apaguei, estava exausto, acho que devo ter dormido por quase meia hora, quando acordei não havia mais ninguém no vagão onde eu estava. Neste momento eu tentei verificar qual estação estaria mais próxima, mas estava muito escuro e eu não conseguia ver quase nada lá fora, até que uma voz anunciou pelo microfone: "atenção passageiros, próxima estação, terminal final". Eu já sabia que havia perdido a minha estação de desembarque, mas nunca tinha ouvido falar neste terminal final, pois o sentido em que eu estava era para o Terminal Jabaquara.
Ao chegar no terminal, todas as portas se abriram e eu desembarquei, já nesta estação haviam algumas pessoas, muitos moradores de rua se abrigavam do frio lá dentro e como era tarde da noite eu não dei muita importância, apenas subi as escadas em direção à rua para tentar identificar a minha localização.
Fora da estação eu tive a imagem mais atormentadora que nem mesmo em filmes de terror eu havia visto. Parecia um cenário apocalíptico, pessoas brigavam por restos de comida, haviam alguns corpos de pessoas esfaqueadas e sangue por toda a parte. Eu já estava desesperado, momento em que observei um taxi na esquina de uma das ruas e corri em sua direção. Ao abrir a porta, o taxista me perguntou qual seria o meu destino, eu respondi que estava indo para São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, ele digitou o endereço em seu GPS e seguimos viagem.
Durante todo o trajeto eu observava pessoas mortas e sangue por toda a parte, foi então que eu perguntei o que estaria acontecendo de errado, pois nunca havia visto tanta violência em uma só noite e ele simplesmente sorriu e perguntou se eu era do outro lado, eu não sabia de que lado ele estava falando, apenas perguntei de qual lado ele se referia, ele parou o carro imediatamente e pediu para eu descer. Disse que ele não poderia ser visto conversando comigo e me orientou a não mencionar para ninguém que eu era de fora, me disse para seguir algumas regras se eu quisesse continuar vivo ou se tivesse alguma esperança de voltar para casa.
Me disse para evitar falar com qualquer pessoa naquele local, mesmo que parecesse com algum amigo ou parente, disse para eu parecer discreto e tentar voltar no próximo trem, que só sairia na manhã seguinte, pela mesma mesma estação que eu havia desembarcado, se eu falhasse, estaria condenado a ficar naquele local durante toda a eternidade. Eu lhe implorei para que pelo menos me deixasse de volta na estação. Ele relutou um pouco, mas decidiu me ajudar.
Enquanto ele dirigia no sentido da estação ele começou a me contar sobre o local onde estávamos, disse que alguns chamavam o lugar de setealém, outros, simplesmente de inferno. Me disse que havia ido parar naquele local após um grave acidente com o seu taxi e que não se lembra de mais nada, que não sabia se estava vivo ou morto, mas já estava ali há muitos anos. Eu ouvia tudo aquilo atormentado e em silêncio, já começava a desconfiar da minha própria sanidade mental ou se estaria em algum pesadelo.
Ao chegarmos na estação eu lhe agradeci e peguei a minha carteira para pagar-lhe a corrida, porém ele não aceitou o meu dinheiro e disse apenas que eu não comentasse nada sobre ele caso eu fosse capturado por alguém. Eu já estava desesperado, olhei para o meu relógio que marcava 02:30 hs da madrugada e desci do taxi, pois eu ainda teria que enfrentar algumas horas até que a estação reabrisse para tentar embarcar de volta para o meu mundo, mas neste momento começa o meu relato atormentador de setealém ou do inferno, seja lá o que for.
Embarque de Metrô à Setealém – Parte 2 - Final
Eu teria que aguardar por algumas horas até que a estação abrisse, então eu comecei a caminhar por uma rua próxima, que estava deserta, tentando sempre me manter discreto, sem falar com ninguém, eu apenas caminhava, até que encontrei um beco entre duas ruas, que parecia estar vazio, sentei atrás de uma árvore, com galhos secos, pois ela não possuía folhas, para me manter escondido até que chegasse a hora do meu embarque.
Durante o tempo em que estava escondido eu somente ouvia choros e gritos de agonia, até que por fim olhei para o meu relógio e já estava quase na hora da abertura da estação, me dirigi até ela e fui procurar o guichê para comprar o meu bilhete de volta, porém não o encontrei, escutei duas pessoas conversando que a bilheteria ficava dentro da Catedral, eu logo imaginei que seria a Catedral da Sé e corri diretamente até lá. Ao entrar pela porta eu notei que estava acontecendo uma espécie de culto, porém uma velha com vestimentas parecidas com uma freira fazia uma palestra para aquele público que vestia roupas pretas e todos estavam encapuzados, quando olhei em direção ao altar o meu coração gelou, havia uma cruz invertida e um quadro enorme de lúcifer, o anjo caído, que nesta gravura comandava uma marcha em direção a uma guerra.
Neste momento, eu procurava desesperadamente a bilheteria e percebi uma pequena fila de pessoas, onde pude observar uma delas saindo do local com um bilhete em mãos. Me dirigi até lá, onde encontrei um confessionário, era lá que vendiam os bilhetes, eu sentei-me dentro dele e ao pedir um bilhete, pela voz, eu reconheci de imediato que era aquela mesma senhora que havia me vendido o bilhete na primeira vez. Peguei o bilhete e corri até a estação, passei pela entrada e aguardei, embarquei no vagão e me mantive em silêncio, quando estava quase chegando ao meu destino pude reconhecer a minha estação. Levantei-me e aguardei até que as portas no metrô se abrissem, percebi alguém encostar a mão em meu ombro e sussurrar em meu ouvido que eu tinha muita sorte de conseguir retornar, que eu jamais voltasse para aquele lugar novamente, eu olhei para trás e percebi que era uma jovem mulher, que me disse ainda que estava condenada a trazer almas para aquele local, pois caso não cumprisse o acordo, toda a sua família sofreria as conseqüências.
Ao sair da estação, eu parei em uma padaria para tomar café e comer alguma coisa, pois estava faminto, enquanto estava sentado pude ver aquela mulher jovem sentada à mesa com um jovem rapaz, que ao se levantar e ir em direção ao banheiro eu o segui com o objetivo de avisá-lo, neste momento eu percebi algo puxar a minha mão e a mulher com os olhos avermelhados me orientou a não interferir, caso contrario eu estaria condenado e ela jamais me deixaria ter paz. Foi então que eu desisti e peguei um taxi até a minha casa, ao chegar eu dormi por longas horas.
Ao acordar no dia seguinte eu recebi a triste noticia de que a avó de um grande amigo do trabalho havia falecido. Me dirigi até o cemitério e acompanhei todo o funeral a fim de confortá-lo. Durante o cortejo do corpo até a sepultura, pensei ter reconhecido alguém no centro do cemitério e caminhei até lá, vi uma pessoa virar uma das quadras entre os enormes túmulos, repletos de estátuas e simplesmente desaparecer. Olhei para uma sepultura que me chamou a atenção, ela estava totalmente vandalizada, com escritas de palavrões e diversas palavras repetidas de “assassino”. Quando olhei para a foto que estava naquele tumulo eu fiquei espantado, era a imagem do taxista que havia me dado carona naquela noite atormentadora.
Fiquei curioso com o que havia ocorrido com aquele pobre homem que havia me ajudado, fui em direção ao coveiro que estava próximo e perguntei para ele o motivo daquela sepultura estar vandalizada e quem seria aquele homem. Ele me respondeu que ele havia morrido em um acidente de carro, que era taxista, porém, provavelmente ele teria dormido ao volante e avançou o sinal vermelho, momento em que colidiu com um veículo ocupado por uma mulher grávida que morreu na hora, o taxista também morreu no local, ele ainda disse que provavelmente ele nem sabia o que havia ocorrido, pois foi confirmado pelo médico legista que ele estaria dormindo no momento do terrível acidente.
Eu retornei para a minha casa e após pensar muito sobre tudo aquilo eu jamais peguei o metrô à noite novamente, para falar a verdade eu não procuro nem sair mais sozinho durante a noite, pois o mundo em que vivemos existem portais, que entre eles podemos encontrar a fronteira entre o céu e o inferno.
Autor: Alan F Rissi
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