domingo, 11 de junho de 2023

Meu tio costumava dizer que todo mundo encontra o diabo pelo menos uma vez antes de morrer.

 Meu tio costumava dizer que todo mundo encontra o diabo pelo menos uma vez antes de morrer.


Pode ser uma imagem de coruja

Meu tio costumava dizer que todo mundo encontra o diabo pelo menos uma vez antes de morrer.
Era um ditado particular dele.
Um dia, eu deixei a curiosidade falar mais alto e lhe fiz a fatídica pergunta:
— Você já encontrou ele? - eu tinha doze anos, e estávamos num churrasco da família na casa de um outro tio.
— Sim. - disse ele, taciturno.
— E como foi?
Ele e minha mãe trocaram olhares.
— Ficou atiçando o menino, agora conta. Se ele ficar com medo de dormir, vou mandar ele ir lá pra sua casa. - ela disse.
Meu tio deixou escapar um sorriso. Começou a contar.
Aconteceu quando ele tinha 14 anos. Ele, minha mãe e meus avós moravam numa cidade do interior. Um dia, uma sexta-feira próxima do fim de outubro, meu avô e minha avó foram numa cidade vizinha. Foram buscar minha mãe, que estava na casa dos avós. Era uma distância razoável, mas, a menos que algo desse errado, eles estariam em casa no começo da noite. Obviamente, algo deu errado. Uma árvore, a qual meu avó mais tarde se referiria como “a maior árvore que eu já vi”, caiu na estrada. Dessa forma, eles tiveram que voltar pra casa dos meus bisavós e ficar lá. A previsão de liberação da estrada era segunda de manhã. Meu tio ficaria sozinho em casa durante o fim de semana.
No sábado, ele estava entediado. Teve a não-tão brilhante ideia de pegar a espingarda do pai (coisa que ele era terminantemente proibido de fazer) e sair pelo mato.
Ele ouviu o farfalhar das folhas e, antes que pudesse se virar para investigar, um vulto passou por ele. “Do alto da minha coragem, eu quase caguei nas calças”, disse meu tio, abrindo um sorriso que logo passou.
Quando o vulto voltou, dessa vez meu tio ergueu a espingarda e atirou. O tiro, dado de qualquer jeito, tinha mais a intenção de assustar o que quer que estivesse ali. Mas acabou acertando em cheio. Ouviu o barulho de algo caindo no chão. Largou a espingarda e correu pra trás de uma árvore. Quando conseguiu juntar alguma coragem, voltou e viu que era uma suindara. Coruja-das-torres.
Apanhou a espingarda e correu pra casa.
Naquela quente noite de verão, meu tio acordou durante a madrugada. Foi até a cozinha tomar um copo d’água, e quando voltou à cama, ouviu o ruflar de asas.
Uma coruja-das-torres estava pousada na janela, hirta e sombria tal qual o corvo de Poe. Meu tio esfregou os olhos, se beliscou, mas ela continuou lá.
— Estou sonhando. - meu tio disse a si mesmo.
— Não é sonho. - retrucou a coruja.
Bateu asas e voou pelo quarto, pousando na ponta da cama.
Meu tio viu que era a mesma coruja que ele havia matado. O buraco da bala no peito era visível. Estava cheio de vermes. Voou novamente para a janela.
— Desculpa ter atirado em você. — meu tio disse.
— Não foi em mim que você atirou, embora eu esteja usando o corpo da sua vítima.
— Então, quem é você?
— Você sabe. — disse a coruja.
Da posição onde estava, sua sombra era projetada na parede pela luz da luminária. E, em sua silhueta, era revelada sua verdadeira forma.
— O diabo!
A coruja não respondeu.
— O que está fazendo aqui?
— É dever do diabo atormentar os pecadores. E você, garoto, pecou. Não matarás, lembra?
— Foi um acidente! — se defendeu.
O diabo riu.
— Diga isso aos filhotes da coruja que você assassinou. Esse foi o motivo dela ter te atacado, sabia? Estava protegendo o ninho.
Aquilo só fez meu tio se sentir ainda mais culpa.
— Seu pecado foi o que me atraiu até aqui. Mas é sua culpa que me faz ficar. — explicou. Um dos vermes caiu de seu peito e rastejou pesadamente pela janela. — E a sua culpa é tão suculenta. Queria poder te arrastar pro inferno hoje mesmo.
— Oh, estou tremendo. — meu tio disse em tom de troça, tentando demonstrar coragem.
— Não, ainda não. Mas irá. — respondeu o diabo, enigmaticamente.
— Eu não estou com medo. Por que eu teria medo de uma coruja morta? Você diz que é o diabo, mas não mostra sua verdadeira face. Acho que você que tem medo!
O diabo não respondeu. Meu tio, apesar do medo que negava porém indubitavelmente sentia, fechou os olhos e tentou dormir. Mesmo sem poder ver, sentia o olhar da coruja sobre si.
Quando a sensação ficou insuportável, puxou o lençol e cobriu a cabeça.
Pareceu funcionar, por alguns instantes. Não conseguia ver o diabo, mas podia ver sua sombra. A sombra começou a se transformar e crescer, e foi se aproximando dele.
Meu tio começou a rezar.
— Achei que quisesse ver minha verdadeira forma. — provocou o diabo, sua voz agora era tonitruante.
— Mudei de ideia. - retrucou, numa voz trêmula.
Ouviu uma risada. Viu a sombra diminuir novamente e então o barulho de asas batendo.
O diabo se fora.
Na manhã seguinte, foi até onde a coruja estava e a enterrou.
Procurou pelo ninho, mas não o encontrou.
Muitos anos depois, no começo de 2013, meu tio foi diagnosticado com mal de Parkinson. Enquanto escutava o diagnóstico, ouviu ecoando em sua mente um pedaço da conversa que tivera com o diabo todos aqueles anos atrás:
— Oh, estou tremendo.
— Não, ainda não. Mas irá.
Fonte: desconhecida

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