O Passageiro da Caixa 7: Relato do Reino da Morte.
No dia 07 de Setembro de 2006 dei entrada na UTI Coronariana do CIAS (Hospital Central da UNIMED/ES). O quadro era desolador: pericardite, derrame pleural, insuficiência renal aguda e broncopneumonia. Após duas cirurgias em menos de 24 horas e duas paradas eu estava entubado e ficaria em diálise peritonial e dieta hidrolítica por quinze dias. Nos dez primeiros sentia um calor infernal. Descobriram que a vedação das janelas estava com defeito e o ar não esfriava direito. Imagine alguém medicado com furosemida neste ambiente!
Foram seis dias sem dormir direito. Tentaram três tipos diferentes de ansiolíticos. Mas como se nem as anestesias gerais fizeram efeito?
Só dormi no dia em que minha avó de 79 anos me visitou. Ela passou as mãos nas minhas (monitoradas por eletrodos) e me acalmou com uma Oração. Somos Católicos em Minha Família.
Depois de dias acamado eu pesava algo em torno de 40 quilos. Meu peso original era 70. Eu jogava futebol e fazia musculação. Numa das noites passou ao meu lado o Pastor Washington da Primeira Igreja Batista de Vila Velha do Projeto Jesus Vida Verão. Sou ex-aluno e Eterno Professor do Colégio Americano Batista. Ele me disse pela madrugada, em que passou Orando pela minha Cura:
- Professor...lembra quando você derrubou o campeão sul-americano de Jiu-Jtsu na quadra do Americano da Praia do Canto? Que força meu querido! Mas diante de Deus somos meros grãos de areia que ele derruba e ergue. E vai te erguer.
Obrigado Pastor Pela Prece!
Quando dei entrada na UTI dias antes quem me recebeu foi um ex-aluno do Colégio Linnus Pauling Serra: Enfermeiro Júlio. Quem me assistiu por dez dias foi um ex-aluno do Colégio Estadual do ES. Em momento algum Deus me deixou só.
Depois de 25 dias e pesando 39 quilos veio o diagnóstico: Lúpus Eritamoso Sistêmico.
Quantas manhãs eu não me assustei com a cabeça de meu médico Calipsom Tadeu Nogueira encostada na minha como Pai e Filho. Ele costumava visitar minha UTI cinco vezes por dia!
No dia 28 de setembro aparece Poliana (enfermeira chefe do setor de cirurgias) ela trazia um celular e me colocava pra falar com seu ex-marido: Luciano Lima. Meu amigo...meu irmão...Professor de Biologia e Médico. Eu ouço do outro lado:
- Meu irmão eu li seu quadro. A equipe que está ao seu lado é de ex-professores meus na faculdade de Medicina. Você vai sair dessa Jin...Vou Orar por você.
Obrigado Enfermeira Poliana.
Obrigado Meu Amigo Luciano.
Além de poucos parentes apenas representantes das Escolas onde eu trabalhei, Chefes de estado e Religiosos podiam me visitar.
Correntes de Oração foram Organizadas por Professores e Alunos dos Colégios COC, Darwin, Americano Batista, Nacional e Camões/Humanas. Dois ônibus com ex-alunos da Casa do Estudante da Bahia vieram marcar presença no saguão de espera do Hospital. O Arcebispo de Vitória na Ocasião celebrou Missa Campal no Estacionamento. Os Pastores da Igreja Cristã Maranata juntaram-se transformando em um Culto Ecumênico.
O Pastor Arlindo Teodoro em Missão na África pediu pela TV que os irmãos de MOÇAMBIQUE Orassem por mim.
Obrigado Mãe África!
Meus Amigos Espíritas de Dois estados enviaram energias positivas!
Obrigado aos Irmãos pela Fé!
O diretor clínico disse:
"- Mandamos fazer uma placa com seu nome. Te damos assim que você receber alta... vamos presenteá-lo. Nunca nosso Hospital foi tão prestigiado e visitado. Nos primeiros dias alguém achou que você era um Cantor de Rock ou Atleta olímpico. Mas seu médico nos disse: Ele é Professor. "
Obrigado Queridos Alunos, Equipe Médica, Funcionários e Todos que me acolheram e cuidaram!
Por volta de 18 horas do penúltimo dia de UTI entra uma senhora vestindo uma roupa cáqui. Ela disse: vamos embora. Acenei com a mão: Não!
Sorrimos.
Era Nossa Senhora ou a Morte...Pensei e cai no choro. Não tinha chorado até então.
Neste mesmo dia (meu calvário só estava começando) eu já podia beber um pouquinho de água e fui acionar os técnicos em enfermagem.
Por volta de duas da manhã quem entrou no Box de Número 7 onde eu estava foi uma Luz Plamosa e disforme.
Intensa.
Vi apenas dois glóbulos escuros à guisa de olhos. Não fazia ideia do que era aquilo. Não sentia dor...só Paz.
Cheguei a Pensar: eu vou morrer.
No dia seguinte aparece Rogério o técnico em enfermagem que iria cuidar de mim. Ele disse:
- Meu Filho é seu aluno e me fez prometer que eu levaria você pro quarto assim que tivesse alta da UTI. Vamos?
Já no segundo dia no Quarto vem a notícia: Hemodiálise três vezes por semana. Ficou acertado que duas alunas poderiam me acompanhar naquela primeira Hemodiálise: Fernanda e Tayanara. Taynara me deixou uma caixinha com uma imagem de Santa Rita de Cássia. Minha primeira Hemodiálise foi no Hospital 'Maravilhoso' Santa Rita. As duas alunas não puderam me acompanhar. O caso era grave e um médico foi acionado para seguir na ambulância. Vi da maca minha querida aluna...amiga...Anjo da Guarda Fernanda Dantas (pastora) caindo de joelhos aos prantos.
Obrigado Minha Aluna Por Não Desistir de Mim.
Nos três meses de internação que seguiram ouvi na máquina de Hemodiálise de pacientes e até de técnicos:
- Agora você tem que orar pra seguir em frente. Talvez você não possa jamais ser o homem que você foi. Ou voltar a dar aula.
Um senhor, dentista muito famoso reclamou comigo numa tarde na máquina de Hemodiálise:
- Eu sou católico...isso não devia acontecer comigo. Sou um homem bom!
Ele morreu depois de alguns dias. Seu filho se tornou meu Aluno anos depois. Querido Aluno Carlos...seu Pai disse que que não queria Morrer pois queria vê-lo se tornar um Homem. Eu vejo...ele está Orgulhoso de você!
Perto do Natal chegou meus exames de rins. Uma Biópsia decisiva foi enviada para o Hospital das Clínicas de São Paulo. Ao menos 20 médicos me avaliaram em três hospitais diferentes.
Mas Eu precisava ouvir tudo da boca do meu médico.
Segui com Minha Mãe Angélica, Minha Irmã Angelita e Minha Filha Christine: Meus Anjos em Cristo. Meu Médico Abraçou Minha Mãe. Olhou para mim e disse:
- Acredita em Milagre? Seus rins voltaram a funcionar. Nosso Menino vai passar o Natal em casal.
Casei com Aliny (Anjo em árabe), enfermeira, espírita desde criança. Quantas vezes ela foi me visitar nesses anos todos. Internado. Lembro que numa dessas ocasiões (início do nosso namoro) eu a aguardava chegar no avarandado do Hospital. Eram quase 17 horas e tocava no som ambiente "Save a prayer", do Duran Duran.
Namoramos por anos ao som de Spandau Ballet ("True"), Tears for Fears ("Seeds of love") e Hall e Oates.
Voltei para a sala de aula. Temos um filho. Mas a minha jornada não se encerrou.
Em 2010 conversando sobre Ciência e Fé com um amigo meu de infância o pesquisador Doutor Wilson (Doutor em Física de Plasma pela USP) ele se desculpou:
- Me perdoa por não ter visitado você no Hospital. É que na mesma época meu irmão esteve na UTI do CIAS. Ele ficou em Coma. Foram dez dias de desespero.
Perguntei:
- Qual Box ele ficou?
- Oito!
Obrigado Meu Amigo. Mesmo sem saber você passou na frente do meu leito várias vezes!
Deus jamais esquece de Nós!
Aqui quem fala é o Passageiro da Caixa 7 encerrando mais uma transmissão direto de nossa viagem pelo Reino dos Vivos.
Vamos em Frente!
Que todos neste grupo tenham Paz e Fé!
CREDITOS : Jin Carlos
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