O Fantasma da Corrente no Pé
Este relato real, aconteceu por volta dos anos 80 no estado de Mato Grosso do Sul, em um vilarejo perto de Três Lagoas.
O vendedor de secos e molhados conhecido por Manoel Quitanda fazia sua freguesia por ali. Boa praça como era, sobraram-lhe pouca mercadoria na velha caminhonete.
A noite já estava chegando e a viagem de volta seria muito cansativa, então pensou em um lugar para dormir no vilarejo. No mesmo instante ia passando um menino com uma bacia na cabeça com algumas frutas da época dentro:
_ Ei moleque, você sabe onde encontro um lugar pra dormir por aqui!?
_ Sei sim seu moço! Pousada boa o senhor vai encontrar acolá na pensão de Dona Jandira!- afirmou o menino apontando com o dedo a direção.
Agradecido, Manoel deu-lhe uns trocados.
Ao chegar na tal pensão, já se via que se tratava de uma antiga e grande casa e que Manoel era o único hóspede:
_ Se achegue pra cá moço!- disse a velha com a cara fechada.
_Obrigado por me hospedar. Mas que casa grande a senhora tem!.
_ Neh minha não seu moço. Eu sou viúva há muito tempo e vim tomá conta daqui dispois que o antigo dono do terreno sumiu. Dissero que acharo ele morto na cidade vizinha. O Cumpade do falecido me paga uns troco pra atender os viajante que passa por aqui.- explica a velha sem nem expressar ânimo ou um sorriso, e continua:
_ Tem sopa quente no fogão de lenha, se o moço quiser!!!
_ Agradeço muito Dona Jandira, mas o que eu realmente quero e jogar meu corpo cansado numa cama e descansar pra viajar cedo!!!- disse sorrindo.
_ Isso se o espírito do falecido deixar!!! - afirmou a velha.
_ O que!?? Como assim!?? - se espantou ele.
_ Tudo quanto é gente que durmiu aqui nesse último ano, tem falado de vê fantasma, gemido pela casa....barulho de corrente!!!Bom... Eu nunca vejo nada, talvez o moço também não!
Manoel coçou a cabeça e pensou" Isso é conversa dessa velha, mal humorada tá querendo me intimidar".
_ Olha Dona Jandira estou tão cansado que te garanto que não me importo!
_ O moço é quem sabe. Boa noite!- se despediu deixando o vendedor sozinho.
Logo ele se ajeitou no canto do quarto. O silêncio era ensurdecedor. Não demorou muito já dormia um sono pesado.
De barriga para cima, com braço direito sobre a testa, roncava, quando sentiu algo como uma mão apertando seu peito.
Abriu os olhos imediatamente. A luz estava apagada, mas o quarto estava bem claro com o clarão da lua pela janela.
Fechou os olhos, novamente lhe veio a sensação de um toque no seu peito.
Sentou num pulo. Assustado pensou" Aí tem coisa'. Antes que pudesse entender o que acontecia, ouviu um barulho alto de correntes se arrastando pelo assoalho de madeira.
_ Minha nossa Senhora, a velha tinha razão!!!- exclamou arrepiado. Mas antes que Manoel Quitanda se levantasse da cama, surgiu nitidamente o espectro de um homem no quarto arrastando uma corrente no pé.
Não podia acreditar no que seus ouvidos ouviam, muito menos no que seus olhos viam. Entao o fantasma falou:
""" O meu fio, tem tanto tempo qui tô esperando alguém me tirá daqui. Hummm.... Ahh....me ajude meu fio. Tire a corrente do meu pé!"
Manoel já não sabia se aquilo era um pesadelo ou alucinação. Estagnado de pavor, não conseguia dizer uma palavra.
O espírito chorava e gemia.
"" Tire meu fio a corrente do meu pé""
No auge daquela cena insana, Quitanda se curvou e esticou o braço, tocando com as pontas dos dedos na corrente que se esfarelou num monte de ferrugem, da mesma forma o espectro que se desfez como neblina.
De manhã bem cedo a velha Jandira bate na porta do quarto o chamando:
_ Acorda seu moço! O vilarejo tá numa aflição só! Ocê não vai acreditar, amanheceu boiando no rio o corpo do falecido, como milagre quase todo intero, os peixes não comeram não. Quando o Cumpade viu o defunto caiu em choro, confessou que por causa das terras, deu uma paulada na cabeça, amarrô uma corrente no pé e jogou no rio pra não boiar. A corrente não tava não, falaro que a correnteza levou!
Manoel Quitanda juntou suas coisas, pagou a velha e seguiu com sua caminhonete dali, sem nem passar perto de onde acharam o corpo.
Só foi contar o acontecido para sua família anos depois quando conseguiu falar sobre o assunto.
Mas até hoje ao relembrar lhe vem calafrios pelo corpo e lágrimas nos olhos.
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