quarta-feira, 1 de setembro de 2021

REVISTA ESPÍRITA 1858 » NOVEMBRO » CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO » MEHEMET-ALI , 2ª COMUNICAÇÃO

 REVISTA ESPÍRITA 1858 » NOVEMBRO » CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO » MEHEMET-ALI , 2ª COMUNICAÇÃO


Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Revista Espírita JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS PUBLICADA son DIREÇÃO DE ALLAN KARDEC Tradução por JULIO ABREU FILHO REVUE SPIRITE JOURNAL D'ÉTUDES PSYCHOLOGIQUES Publié sous la direction de M. ALLAN KARDEC 1858 EDICEL"SEGUNDA COMUNICAÇÃO[1]

1. ─ Em nome de Deus Todo-Poderoso, peço ao Espírito de Mehemet-Ali que venha comunicar-se conosco.

─ Sim; sei a razão.

2. ─ Prometestes vir até nós, a fim de instruir-nos. Teríeis a bondade de ouvir-nos e de nos responder?

─ Não prometo, pois não assumi esse compromisso.

3. ─ Substituamos o prometestes por fizeste-nos esperar.

─ Quereis dizer: para satisfazer à vossa curiosidade. Não importa! Prestar-me-ei um pouco.

4. ─ Considerando-se que vivestes ao tempo dos faraós, poderíeis dizer-nos com que fim foram construídas as pirâmides?

─ São sepulcros; sepulcros e templos. Ali se davam grandes manifestações.

5. ─ Tinham elas também um objetivo científico?

─ Não. O interesse religioso absorvia tudo.

6. ─ Era necessário que os egípcios fossem muito adiantados nas artes mecânicas a fim de realizarem trabalhos que exigiam forças tão consideráveis. Poderíeis dar-nos uma ideia dos meios empregados?

─ Massas de homens gemeram sob o peso dessas pedras que atravessaram os séculos. A máquina era o homem.

7. ─ Que classe de homens eram ocupados nesses grandes trabalhos?

─ Aqueles a quem chamais de povo.

8. ─ Estava o povo em estado de escravidão ou recebia um salário?

─ A força.

9. ─ De onde tiravam os egípcios o gosto pelas coisas colossais, em vez das coisas graciosas que distinguiam os gregos, posto tivessem a mesma origem?

─ O egípcio era tocado pela grandeza de Deus. Procurava igualá-lo, superando as suas próprias forças. Sempre o homem!

10. ─ Desde que naquela época éreis sacerdote, tende a bondade de nos dizer algo a respeito da religião dos egípcios. Qual era a crença do povo relativamente à Divindade?

─ Corrompidos, eles acreditavam em seus sacerdotes. Seus deuses eram aqueles que os mantinham sob o jugo.

11. ─ Que pensavam da alma após a morte?

─ Acreditavam no que diziam os sacerdotes.

12. ─ Sob o duplo ponto de vista de Deus e da alma, tinham os sacerdotes ideias mais sãs que o povo?

─ Sim. Eles tinham a luz em suas mãos e conquanto a escondessem dos outros, ainda a viam.

13. ─ Os grandes do Estado partilhavam das crenças do povo ou da dos sacerdotes?

─ Estavam entre as duas.

14. ─ Qual a origem do culto prestado aos animais?

─ Eles queriam desviar o homem de Deus e rebaixá-lo sob si próprio, dando-lhe como deuses seres inferiores.

15. ─ Até certo ponto compreende-se o culto dos animais úteis; mas não se compreende o de animais imundos e prejudiciais, como as serpentes, os crocodilos, etc.!

─ O homem adora aquilo que teme. Era um jugo para o povo. Os sacerdotes não podiam crer em deuses feitos por suas mãos!

16. ─ Não é estranho que ao mesmo tempo que adoravam o crocodilo e os répteis, adorassem o ichneumon[2] e o íbis, que os destruíam?

─ Aberração do espírito. O homem procura deuses em toda parte para esconder o que é.

17. ─ Por que Osíris era representado com a cabeça de um gavião e Anúbis com a cabeça de um cão?

─ O egípcio gostava de personificar sob a forma de emblemas claros: Anúbis era bom; o gavião que estraçalha representava o cruel Osíris.

18. ─ Como conciliar o respeito dos egípcios pelos mortos com o seu desprezo e o horror que tinham por aqueles que os enterravam e mumificavam?

─ O cadáver era um instrumento de manifestações. Segundo pensavam, o Espírito voltava ao corpo que havia animado. Como um dos instrumentos do culto, o cadáver era sagrado e o desprezo perseguia aquele que ousava violar a santidade da morte.

19. ─ A conservação do corpo permitia maior quantidade de manifestações?

─ Mais longas, isto é, o Espírito voltava por mais tempo, desde que o instrumento fosse dócil.

20. ─ Não seria também a conservação dos corpos uma causa de salubridade, à vista da inundação do Nilo?

─ Sim, para os do povo.

21. ─ No Egito a iniciação aos mistérios era feita através de práticas tão rigorosas quanto na Grécia?

─ Ainda mais rigorosas.

22. ─ Com que fim eram impostas aos iniciados condições tão difíceis de preencher?

─ Para não haver senão almas superiores. Estas sabiam compreender e calar.

23. ─ O ensino dado nos mistérios tinha por fim único a revelação das coisas extra-humanas ou também eram ensinados os preceitos da moral e do amor ao próximo?

─ Tudo isto estava muito corrompido. O propósito dos sacerdotes era dominar e não instruir.

[1] Vide Revista Espírita do mês de abril. (N. do T.).

[2] Voz grega que significa rastejar. É aplicada em entomologia para algumas variedades de insetos. Neste caso, porém, a referência é a uma espécie de fuinha, um mamífero carnívoro, do gênero Herpestes, o Herpestes Ichneumon do Egito, que, dizia-se, devorava os ovos dos crocodilos. (N. do T.)