sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Magia das Velas




Desde tempos antiquíssimos as velas têm sido fonte de luz e símbolo de conforto para o homem. Por causa de sua primacial importância na vida diária, as velas acabaram rodeadas de mitos e lendas, fato que ilustra a alta estima em que foram tidas.

Imagine, se puder, a cena numa caverna pré-histórica. Úmida, escura e inóspita. O homem descobrira o fogo, mas logo percebeu que seu uso, num espaço confinado como fonte de luz, era limitado. Assim, no lugar da fogueira, usou gordura animal para produzir um bruxuleio que afastaria os demônios da noite. A vela fora inventada.

Simbolicamente, a luz sempre representou o poder do bem para a humanidade. Nos antigos Mistérios da Antiguidade Clássica, simbolizava a sabedoria, iluminação, conhecimento e realização espiritual. Em contraste, a escuridão significava ignorância, estupidez, maldade e a descida no materialismo. De fato, acreditava-se que toda pessoa continha dentro de si uma centelha de luz divina que poderia – por uma conduta correta na esfera moral – ser insuflada até tornar-se uma grande chama de grande espiritualidade.

Destarte, a alma imortal era associada à chama de uma vela, tremulando nas trevas do mundo. Uma brisa suave pode abafar esta luzinha lamentável, mas na quietude e tranqüilidade, a chama se erguia desafiante e forte. Como na vida, mesmo em meio às tribulações e tormentos, o espírito humano desafiava o assalto dos poderes ameaçadores das trevas.

De crenças sublimes como esta surgiu a prática de acender velas como arte mágica. Hoje, ficamos ressabiados coma palavra “mágica”, devido aos séculos de perseguição, que tornaram o termo sem significado para a maioria das pessoas. Alguns a igualam a truques ou a confundem com pactos demoníacos e outras bobagens. De fato, o termo “magia” deriva da raiz “magi”, que simplesmente significa “sábios”, e refere-se a uma antiga casta de sacerdotes da Pérsia. Um mago é simplesmente um homem sábio versado nas artes ocultas da natureza, que não são conhecidas, ou reconhecidas, pela maioria das outras pessoas. Uma arte mágica simples

Acender velas é a mais simples das artes mágicas, por empregar pouco ritual, poucos artefatos cerimoniais, e um linguajar facilmente compreensível a todos. Na magia das velas, o praticante não precisa saber 365 nomes de Deus, ou dominar línguas antigas como o hebraico ou o sânscrito, ou desenterrar mandrágoras sob a Lua Cheia. O “material” pode ser comprado em qualquer loja e o procedimento pode ser executado em qualquer sala ou quarto. Mesmo nos velhos tempos, quando a magia era quase exclusivamente província do velho erudito que sabia ler e escrever, a magia das velas continuava a arte oculta natural, praticada pela gente comum. 

Acender velas, por razões mágicas, não é difícil, mas pode-se dizer, sem muito temor de contradição que é tão poderoso em sua ação quanto as palavras de invocação, círculos triplos e pentagramas do mago que pratica as mais elevadas artes mágicas. Uma lição ainda por se aprendida por muitos, é que o ocultismo é basicamente um assunto simples, tornado complicado por ignorância e estupidez.

A maioria de nós já fez um primeiro ritual com velas, por volta dos três anos de idade. Lembra-se dos seus primeiros aniversários? Soprar as velas do bolo e fazer um pedido? Este costume da infância baseia-se em dois princípios mágicos muito importantes: a concentração e o uso de um símbolo para focalização. Em termos simples quer dizer que se você quer que algo aconteça, precisa primeiro se concentrar (soprar as velas) e então associar o seu desejo mágico ao ato simbólico de soprar as velas. A força de sua vontade faz o sonho realizar-se. Técnicas análogas são usadas na magia e no ritual das velas.

Diversamente de muitas formas da mais alta magia, não é preciso qualquer crença religiosa especial para o ritual das velas. Pode-se ser um sikh, cristão, budista, muçulmano, hindu, judeu, pagão, ou nenhuma das anteriores, porque, para o ritual das velas usa-se a própria vontade, o desejo e o poder da própria mente para obter resultados. Uma crença num Criador Supremo é, no entanto, pré-requisito, e falo que quem quer que seja que esteja lendo estas minhas palavras, pelo menos apoie alguma fé numa entidade. Sem esta fé, nenhum enfoque do ocultismo e assuntos psíquicos pode ser válido. 

Talvez fosse prudente acrescentar que isto não significa que não se possa categoricamente empregar ritual ou orações de qualquer religião na magia das velas. À medida que progredirmos no assunto, e eu começo a dar encantamentos práticos para o leitor, pode-se dizer que meu enfoque torna-se “religioso”, no sentido em que o leitor pode se achar invocando criaturas angelicais.

Neste ensinamento, referi-me aos “anjos” porque eles se acham em harmonia com todas cosmologias pessoais de qualquer pessoa, mas o leitor está livre para interpretar estas imagens nos termos de suas próprias crenças. Pode vê-los como deuses pagãos, personificações das forças naturais, santos, aspectos de sua própria alma, ou seja, lá o que for. Se se sentir assim inclinado pode descartá-los inteiramente, e chamar diretamente a Força da Vida, Deus ou nada. De fato, o conceito da hierarquia angelical corresponde a todas estas imagens diferentes e são meramente símbolos de focalização para o estudioso se concentrar neles e identificar-se com eles durante o ritual. Como já dissemos, a chave para o ritual é a concentração e em última instância é a mente do praticante que faz todo o trabalho!

Qualquer um que queime uma vela, por razões mágicas, procura liberar e usar a mente subconsciente. É uma das pedras fundamentais do ocultismo, que a mente está dividida em três níveis distintos: o consciente, o subconsciente e o supra consciente.

Sob circunstâncias normais, a mente consciente está ativa nas horas de vigília e controla as funções do corpo e as ações do indivíduo. Durante o sono, a mente subconsciente assume o comando, com o relaxamento do corpo e a mente consciente se refresca. Este período da atividade mental é usualmente caracterizado por sonhos, visões e, por vezes, pesadelos. Tudo isto emerge no subterrâneo do subconsciente, onde se escondem todas as numerosas imagens atávicas de nossa natureza animal. Em todas as ocasiões – despertos ou adormecidos – o supra consciente está ativo, mantendo os dois outros aspectos da mente integrados e sincronizados. Muito embora tenhamos consciência dos aspectos conscientes e subconscientes, raramente a pessoa se encontra “facea-face” com a mente supra consciente, ou o aspecto superior da própria identidade.

Quando se pratica a magia, o principal objetivo do mago é desviar-se da mente consciente – condicionada pelos padrões convencionais da personalidade – e tocar o subconsciente, que não reage a palavras, sendo um poderoso agente que, quando liberado do cativeiro e controlado, pode causar alterações nos padrões ambientais. É o nível do “sentimento” psíquico, e da telepatia, que uma vez liberado pode agir como o gênio da lâmpada, atraindo para seu amo as coisas que deseja. Se abusado, porém, pode acarretar um horrível retorno, destruindo seu ex-senhor.

Alguns ocultistas deixam de lado totalmente o subconsciente e procuram estabelecer contato com o seu “eu” superior, ou também chamado, em livros esotéricos, o “anjo da guarda”. Nem todos almejam tão alto, e nesta seção de ensinamento estau apenas considerando o contato com a mente subconsciente. Ao fazer isto, o praticante do ritual das velas pode manifestar seus desejos e anseios, ganhar o amor dos outros, curar os doentes, e garantir ajuda financeira e o progresso ao longo do caminho, rumo à perfeição psíquica e espiritual.

Uma palavra de prudência, a esta altura. Como todos os instrumentos das forças ocultas, a magia é uma espada de dois gumes. Use-a para um fim errado e os resultados de suas extravagâncias voltar-se-ão contra você. Seu feito será multiplicado em relação ao ímpeto original. Isto é reconhecido num antigo provérbio que diz que as pragas voltam três vezes mais fortes a quem as enviou. As pessoas que brincam com o oculto ou mágico costumam queimar os dedos antes de aprender a levar o assunto a sério. Uma lição aprendida desta maneira pode ser cruel, mas pelo menos deixa uma impressão que dificilmente será esquecida pelo insensato calouro.

Neste guia prática do ritual das velas, excluí quaisquer rituais, encantamentos ou procedimentos que possam causar esses males aos leitores. Minha confiança em sua inteligência, bom senso e princípios morais, leva-me a acreditar que não desejarão a magia das velas para fins puramente imorais ou malignos.


Preparação de sua magia



Que tipo de velas é usado para fins mágicos? O tamanho e o formato não são críticos. A maioria dos praticantes tenta reduzir todas as suas velas a um só tamanho e forma, se possível. Facilita a vida e é disto que a magia trata. Se você seguir o exemplo dos expertos, não cairá em erro.

Os livros de magia enfatizam o “novo”, e costuma-se ler sobre o mago vestido uma túnica de lã virgem ou escrever encantamentos em pergaminho virgem. Analogamente, na magia das velas, estas devem ser novas e não devem ter sido usadas para qualquer outro fim. Nunca, por exemplo, use uma vela que foi acesa numa mesa de refeições ou para iluminar um recinto. Há uma razão esotérica muito boa para esta insistência na virgindade do material usado para fins mágicos: as vibrações captadas de outras fontes cancelarão o efeito do objeto, no ritual mágico.

Alguns praticantes fazem suas próprias velas e este exercício é muito útil, pois não só impregna a vela com suas vibrações pessoais, como, também, o ato de confeccionar a vela faz com que a pessoa a impregne com seus pensamentos e desejos. A confecção de velas não é tão difícil quanto você pensa, e muitas lojas de artesanato vendem a cera e os moldes necessários a esta atividade. A cera quente (derrete a 82o C) é vertida num molde apropriado, no meio do qual se coloca um pavio, e então deixa-se esfriar, para solidificar. 

Perfume ou corante podem ser acrescidos à cera no processo de aquecimento e quando a cera estiver fria, o molde é removido, deixando uma vela completamente formada, Isto para super simplificar o processo, mas de fato é tudo que há de importante. Não só este esforço extra vale muito do ponto de vista mágico, como se desenvolvido, a confecção de velas pode evoluir num “hobby” muito lucrativo.

Tendo agora suas velas em mãos, o passo seguinte é determinar onde vai fazer seu ritual. Não é preciso um templo elabora – a menos que você já tenha um – e praticamente qualquer aposento é adequado para este fim.

O silêncio é essencial. Uma coisa é essencial, e essa coisa é o silêncio. A magia das velas requer concentração, e você não poderá se concentrar com o ruído de fundo perturbando seus pensamentos. Também se certifique de que o aposento seja bem ventilado e não esteja nem quente, nem frio. Estas precauções podem parecer tolas, mas se você precisar gastar uma hora ou mais fazendo seu trabalho mágico, um certo grau de conforto é necessário, se quiser atingir bons resultados. 

Não me alinho com a escola do “jejum e cilício”, que prescreve que para atingir alguma coisa no campo mágico, é preciso se sujeitar a torturas e desconfortos físicos. Tais práticas antinaturais nada têm a ver com o ocultismo genuíno. A roupa também não é muito importante, se o que estiver vestindo for folgado, limpo e confortável. Alguns ocultistas preferem vestir trajes rituais, simbolizando o “rompimento” com este mundo. Outros trabalham nus, mas, pessoalmente, a ideia de cera quente esparramando por todo lado sempre me faz conservar minhas roupas.

O incenso também pode ser queimado durante a queima das velas, para criar uma atmosfera propícia a ser um agente estimulante dos sentidos mentais e psíquicos. Pode-se combinar incenso e velas comprando ou fazendo cera com incenso. Em minha opinião, o incenso não é essencial à cerimônia, mas é um bom perfume para o ambiente de qualquer modo.

Uma das mais importantes etapas da queima das velas é a “oleada”. Uma razão para esta prática peculiar é difícil de descobrir, mas como tem sido ritual há séculos, poucos praticantes questionam sua validade. (De certa maneira, isto está errado, porque se não há razão lógica para um ato mágico, e desde que sua eliminação não afete os resultados finais, parece haver pouca razão para continuar um gesto obsoleto.).

Neste caso, parece que a idéia de olear a vela é forjar um elo psíquico entre ela e o mago por meio da importante experiência sensorial do tato. Só pelo tato o bebê em desenvolvimento aprende logo a se relacionar e a entender o mundo. Oleando fisicamente a vela, você está passando para ela, através de usas mãos, suas próprias vibrações, e tornando a vela uma extensão dos poderes de sua mente. 

Pois o propósito de olear a vela é visto como um magneto psíquico, tendo um pólo norte e um pólo sul. Ao untar a vela, o praticante deve esfregar o líquido a partir do topo, ou pólo norte, e dirigindo-se para baixo. Todo o tempo o óleo deve ser esfregado para baixo. Este processo depois é revertido, começando no pólo sul e dirigindo-se para cima.

Como o ritual das velas está um tanto descurado, o estudioso deverá confiar em óleos ou perfumes naturais para completar esta parte do ritual.

Alguns fornecedores de produtos mágicos poderão ter óleos especiais para velas. A maioria destes preparados é totalmente inútil e o estudioso deverá evitá-los e confiar em seu bom senso e criatividade para obter bons óleos.

Enquanto olear a vela, focalize a mente no propósito que tem em vista. Concentre-se nas razões para olear a vela, tente visualizar a concretização de seu sonho, seu desejo concedido e seu desejo cumprido. Fazendo tudo isto, estará subconscientemente projetando seus pensamentos pelo éter, e os pensamentos têm asas, e são entidades vivas. Construindo uma imagem astral do que quer, estará esboçando o esquema da realidade que encontrará por sua mentalização.