sexta-feira, 27 de setembro de 2019

O Candomblé no Brasil





Podemos afirmar que a cultura do candomblé no Brasil, nasceu nas senzalas, com a junção de povos(africanos) com seus costumes e orixás. Provenientes de milhões de negros de diversos países e cidades africanas, trazidos (arrancados) de seus lares, de suas famílias e de seus pais e filhos; para trabalharem nas plantações de cana e café das cidades baianas, cariocas, pernambucanas, cearenses e paulistanas. E, posteriormente, nos exércitos e fazendas de fronteiras do Rio Grande do Sul.

Graças aos conquistadores portugueses, franceses, ingleses e de padres e bispos da época; (que legaram aos brancos poder de matar os negros e índios, afirmando que os negros eram sub-humanos, e portanto, não haveria pecado.) Milhões de negros foram massacrados nas colônias e em navios negreiros.

Porém, ironicamente podemos afirmar que: se não fosse essa catástrofe ou atrocidade animalesca; provocadas por animais considerados humanos, contra humanos considerados animais; hoje o Brasil não teria o prazer de conhecer esta maravilhosa cultura, sem mencionar nos Orixás e seus axés.

Ao contrário que muitos acreditam, na áfrica não existia somente tribos de índios semi-culturados. Lá existia e ainda existem, reinos com suas hierarquias (reis, rainhas, sacerdotes, príncipes, generais, exércitos, etc.); assim como, havia uma cultura avançada relacionada a religião e comércio em todo continente, inclusive possuindo muitas heranças culturais egípcias, gregas e persas. 

No continente africano, muitos reinos com suas ricas e milenares cidades, foram extintos graças às influências e dominações cristãs e mulçumanas. Aniquilando o resto da cultura existente nos países enfraquecidos pela escravidão, tornando-os órfãos de orixás.

É fácil de se verificar que em muitas regiões africanas o povo carece de energia (axé).

Assim: Sem Oxum (água); sem Ogum (trabalho/ferramentas); sem Xangô (justiça); sem Oxalá (paz); sem Iemanjá (estudo/psicologia); sem Nanã (origem,família); sem Odé/Oxóssi (comida/caça); sem Ossain (remédio); etc. 

É bom saber, que ainda existe cultura na áfrica, mesmo que seja em poucas regiões.lá ainda existem reinos, príncipes, rios e orixás... Onde possamos levar e trazer fundamentos, realizando a tão sonhada e difundida união entre continentes; pregada, catalogada e amplamente difundida por autores como: Pierre verger e tantos outros.

Quanto a escravidão...
Em várias senzalas brasileiras, foram aglomerados negros de diversas raízes, que uniram-se culturalmente; trocando, dividindo fundamentos de cultuação e prática religiosa.
Também por esses motivos, os negros escravos eram muito temidos. Eles arquitetavam facilmente, planos de fuga, de defesa e até mesmo de guerrilhas. 
"assim nascera: a capoeira, o zumbi dos palmares, o candomblé, etc."

Como ocorreu ...


Sabendo-se que: era costume em muitas cortes e tribos africanas, escravizarem os presos de guerra (principalmente os guerreiros), ao mesmo tempo que não haviam exércitos europeus capazes de vencer uma guerra ou confronto direto com povos africanos (os mesmos possuíam também táticas avançadas de guerra). Os portugueses uniam-se a reis africanos, oferecendo armas e títulos da nobreza européia em troca dos prisioneiros de guerra. Desencadeando um grande conflito inter-continental, apenas levantando calúnias e difamações entre os povos vizinhos.


Após anos de guerras e conflitos, muitos reinos enfraqueceram seus sistemas de defesa, e muitos soldados já estavam trabalhando nas colônias como escravos. Os portugueses deram o golpe final invadindo e conquistando os reinos dos próprios aliados enfraquecidos. Arrastando para as senzalas também as mulheres, crianças e nobres das cortes.


Assim prosseguiu a barbárie tarefa européia de comércio humano. Até o final da segunda guerra mundial. Onde ainda existia nas colônias africanas do império britânico, trabalho escravo e apartheid, em pleno século "XX".
Na própria terra dos orixás a pobreza e as doenças, assistidas e divulgadas em meios de comunicação, como ex: em Angola (ex-colônia portuguesa); tiveram como principal foco inicializador, a extinção da cultura dos povos por seus opressores. Onde muitos habitantes, não reconhecem mais seus antepassados. Perdendo o elo com seus orixás.


Porém, assim como ocorreu na escravidão no Brasil, sabemos que na África, existem bravos sobreviventes, que lutam para que seus países resgatem sua cultura e prestígio.


E torçamos para que a cultura dos orixás permaneçam vivas e fortes em muitos corações e povos, sobrevivendo inclusive de ataques das religiões que se dizem únicos donos da "palavra de Deus"; Induzindo inclusive a separação de negros e brancos como nos EUA, por exemplo: onde o negro abdicou totalmente de sua cultura ancestral, absorvendo a religião e os costumes(cultura) dos brancos, onde pregam em suas liturgias a paz e o amor, assim como a igualdade entre os homens. Mas mesmo assim, foram humilhados e separados dos demais brancos. Onde reza um negro, não reza um branco, e cada qual possui sua igreja de mesmo Deus, (para brancos e negros), perdendo assim sua identidade , seu orgulho, sua cultura. 

E aqui no Brasil, quando não mais houver crianças chorando com fome, e pessoas somente criticando os atos das pessoas de boa vontade ao invés de contribuir ou ajudar. Certamente este país mais fértil, mais cultural e com o povo mais nobre e humano do mundo. Terá certamente lugar de destaque, respeito e reconhecimento em todo o planeta.

Hoje conhecemos a religião africana no continente americano como:
-candomblé, batuque, xangô, santeria, vodoo e outras)
Em cada grupo, juntaram-se culturas, associadas ao maior ou menor número de pessoas originárias da mesma raiz (nagô, ketu, angola, oyo, jêje, ijexá, etc) 

Em muitos reinos/cidades, cultuava-se diferentes Orixás em cada raiz(família). Como em muitos locais, eles conheciam orixás por diferentes nomes. Ex: Obaluaiê e Omulu em ketu(nagô); Xapanã e Sapatá em jêje. (que são os mesmos orixás). E que em muitas nações foram associados a outros orixás, tornando-se qualidades. 

Seus fundadores ou reis, eram cultuados especificamente em suas próprias cidades conquistadas ou fundadas. Ex: Xangô em Oyó, Logun-edé em Efon, Oxóssi em ketu, etc. Sendo até hoje reverenciados, servindo de pilar na identificação da origem de cada casa de candomblé existente no Brasil.

Também em várias regiões da África, existem ainda sacerdotes e obás(reis) supremos de determinados Orixás, sendo os mesmos detentores únicos de todos os segredos e fundamentos a um ou dois orixás específicos.

Em muitas nações, os mesmos orixás, ou possuem cultos únicos e diretos, ou tornaram-se qualidades de orixás primários. Ex: no Oyó (batuque), Otin é um orixá feminino que se cultua junto a Odé. Em outras nações de candomblé, a mesma é uma qualidade de Oxossi/Odé. Assim como ibeji, etc.

Infelizmente, muitos outros Orixás não são mais cultuados, pois perderam-se os fundamentos dos mesmos, porém ainda existem na natureza, e seus axés (energias) ainda reinam no universo.

Devido as diferenças litúrgicas e culturais existentes entre nações africanas de raízes, jêje, angola, ketu etc. Sempre ocorreu uma certa desunião entre as mesmas.

Umas das principais missões nesta obra, é a de promover a união da religião africana no Brasil.

Não nos referimos a uma união litúrgica (modo de cultuação e prática), pois sabemos que é devido aos costumes de nossos antepassados, que desde a antiguidade, cultuavam orixás diferentes em cada nação religiosa. Mas sim, numa união cultural.

Portanto, não devemos nos atenuar em diferentes nomes de qualidades designadas a orixás, exús e até mesmo certas diferenças ligadas a maneiras de tocar um candomblé/batuque/xangô, etc.
Devemos sim buscar maneiras de interagir nossos conhecimentos e cultura em prol de uma união mais sólida, respeitável e influente.


São muito contraditórias as publicações referentes a verdadeira origem da religião dos orixás na áfrica.

Alguns historiadores, associam Odudua o "conquistador". Com Nimrod; também citam a semelhança de nosso método de consulta a Ifá (oráculo), com a Kaballah judaica; Dan a serpente telúrica representando a eternidade, com a Dan serpente referente a umas das doze tribos de Israel e outras. Ou seja, muitos historiadores afirmam que os iorubás possuem descendência judaica.

Outros defendem somente a tese que: os orixás são antepassados divinizados de antigos reis africanos, assim como generais e sacerdotes; que tiveram suas façanhas eternizadas nas histórias dos antigos. Lendas repassadas de geração em geração aos descendentes dos reinos e tribos africanas.

Em suas pesquisas, constataram a presença de influencias egípcias e fenícias na cultura iorubana. Verger mostrou em suas obras, que nossa origem é remota a muitas outras conhecidas, como gregas e romanas. Pois temos orixás em nosso culto que são anteriores a conquista e conhecimento do metal, como Nanã.


Verger também tratou de mostrar a semelhança existente entre nossos deuses e deuses gregos, como por exemplo: Zeus: deus grego do trovão e dos raios, tem como símbolo um machado duplo. 


Xangô: deus iorubá dos raios e trovões, tem como símbolo um oxé (machado de duas lâminas). Certamente em meio a tanto estudos, podemos afirmar que em um vasto continente como o africano, é certo que todas as teses são corretas. 

E que aos poucos, todas estas origens regionais, fundiram-se formando uma cultura sólida e única, que conhecemos hoje como a cultura dos orixás; verificadas em todos os povos (iorubanos, angolanos, jêjes, etc.), com seu xangô, odudua, obatalá e demais reis, guerreiros e sacerdotes. Eternizados e unidos com as energias da natureza (florestas, animais, rios, oceanos, etc.) Onde em nossos ylés são louvados e suas histórias narradas a nossos iniciados, afim de servir de exemplo de conduta e fé, associada a natureza e bem estar da sociedade.

Tal como em livros milenares, editados como por exemplo: a arte da guerra do general chinês "sun tzu" vendido no mundo todo. Narrando suas condutas e táticas de batalhas, transformadas em auto-ajuda, associada a negócios e condutas para os dias atuais.

Nós também ensinamos a nossos seguidores, as histórias de nossos reis (Xangô) de nossos generais milenares (Ogum), etc. Com suas táticas, seus erros, suas virtudes e glórias; afim que possam ter como princípio de vida, o equilíbrio associado a normas e condutas culturais de nossos antepassados.

E com simbologias e danças em louvor a nossos antigos mestres saudamos nossos orixás e antepassados, que em energia nos lega seu axé.


Sincretismo



Nos referimos a sincretismo, quando são associadas duas religiões em um único culto, com suas simbologias e doutrinas mescladas.
No caso do candomblé/batuque, foram associados imagens de santos católicos a nossos orixás. O que existe uma explicação inconteste e única para tal associação.

O sincretismo religioso, nasceu também nas senzalas. Hoje há uma grande diferença de sincretismo de orixás nas nações de candomblé.
Na Bahia, Ogum é sincretizado por São Sebastião, no Rio Grande do Sul por São Jorge, e assim por diante.


Na época quando ouve a troca de cultura entre os habitantes das senzalas, os negros continuaram a cultuar seus orixás, mesmo após os brancos com sua santa inquisição católica, obrigarem os negros a converterem-se ao cristianismo e trocarem seus nomes originais, por nomes portugueses.

Quando os negros dançavam para seus orixás, eles colocavam sobre o "assentamento", estátuas de santos católicos para enganar os inquisidores.
Como eles cantavam aos seus orixás em seu dialeto primitivo, os padres e fazendeiros, tinham a ilusão que os escravos louvavam os santos católicos na linguagem iorubá. Mas na verdade, estavam usando as imagens destes santos para esconder em seu interior, suas obrigações e verdadeiras simbologias dos orixás.

Certamente, os negros assimilaram muito bem os ensinamentos dos senhores brancos, utilizavam as imagens católicas comparando-as aos orixás por aparência ou feitos. Como exemplo: Oxalá com Jesus, Oxum e Iemanjá com as aparições da Virgem Maria, Oyá/Iansã com Santa Bárbara e assim por diante.


Mas é bom lembrar: os negros só usavam as imagens católicas no propósito de esconder suas obrigações, em hipótese alguma, os negros cultuavam os santos católicos como orixás.


A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (Onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos.


Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protetor.


No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Ialorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós.


A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. 


Ele dizia: 
- meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bonfim, seu Santo, nhô! 
Não é para Oxalá, quer dizer, 
Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bonfim. 

Sincretismo. Forma de resistência que criou grande ônus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade não se mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore.


Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Em 1983, diziam: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão. 

A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeísta, é monoteísta: acima de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".


Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. 

As armadilhas, os "caça-fugitivos" estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web', em certo sentido. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio do trigo, por isso estamos aqui. Dizendo o que somos, damos condição para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita.


As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano. 


Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.


"O CANDOMBLÉ: SUAS NAÇÕES E VARIANTES"


• NAÇÃO KETÚ
• NAÇÃO ANGOLA
• NAÇÃO JEJÊ
• HISTÓRICO


O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, Xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro.

A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados.


Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas. 

Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a Umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.

O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a Umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil.

Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda.

Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas desilusões.

O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana. inicio 

Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketu. 

O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco.

Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de recuperação de raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura reaprender o iorubá como língua original e tenta reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.


A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.




A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns. As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.


A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.




Há sacerdotes africanos que vêm ao Brasil aprender sobre a sua própria religião. Este é um fenômeno extraordinário de sobrevivência cultural e de desenvolvimento de tradições massacradas pelo tráfico de escravos. Iorubas, daomeanos, os fanti-ashanti, os bantos, contribuíram de diversas maneiras para a religiosidade afro-brasileira, introduzindo variantes rituais. A corrente Jejê-Nagô, no entanto, constituiu-se como a principal referência estruturante a partir do século XIX. Fenômeno semelhante ocorreu no Caribe, com o Voudou no Haiti ou a Santeria em Cuba. Religiosos destas três regiões - litoral do Brasil, Caribe, África Oriental - constituem um circuito de práticas sagradas comuns que ainda hão de desenvolver as suas relações.


A vitalidade das tradições afro no Brasil evidencia-se por um modo particular de expansão. Não se restringiu à afirmação dos limites de uma identidade étnica. A simbologia negra e a memória africana são fortemente reiteradas, com certeza, e oferecem uma fonte perene de elementos animadores dos movimentos negros. O negro não é, para os fiéis, no entanto, a cor identificadora da essência de sua religião. Oxum é do amarelo ouro, Oxossi do verde das matas, Yemanjá do azul-marinho, Xangô do vermelho e branco, e assim por diante, pelas cores do arco-íris. A ênfase ritual não é posta na história da destribalização, do tráfico, da tremenda travessia oceânica ou da violência desagregadora nos trabalhos escravos. 


Os ritos e mitos do Candomblé pouco falam de história. Valorizada, sim, é a presença dos orixás nos espaços sagrados, assim como sua influência nas cabeças e no comportamento das pessoas. O Candomblé dramatiza relações de uma dimensão cósmica, que se passam no tempo mítico, compreensivo da vida como a conhecemos. Esta abertura mítica, combinada à dinâmica sincrética do catolicismo no Brasil, levou a que as verdades do Candomblé fossem percebidas como tais e eventualmente apreciadas por um vasto contingente de brasileiros, fossem eles negros, mulatos ou brancos. O Candomblé sempre foi condenado pela Igreja, mas o ministério clerical nunca teve grande penetração entre a massa dos fiéis. Foi perseguido pelo Estado e com violência ainda no período getulista, mas os policiais que invadiam os terreiros eram, eles próprios, com freqüência, temerosos frequentadores dos mesmos. A perseguição diminuiu a partir dos anos 50, dando mais liberdade para a multiplicação das casas de culto e para a sua frequentação. Movimentos culturais passaram a enobrecê-lo na literatura, na música, no cinema ou na TV, emprestando-lhe um brilho que é atraente até mesmo para as elites.


Sua influência sobre a Umbanda, movimento novo e expansionista, levou os orixás a serem cultuados em círculos mais amplos, inclusive de classe média. Um levantamento dos anos 80 registrou cerca de 16 mil centros de Umbanda no Rio Grande do Sul, por exemplo, a maioria deles liderada por descendentes dos alemães, italianos, poloneses e de outros imigrantes europeus. Há devotos dos orixás entre japoneses e judeus no Brasil. Casas de Candomblé e Centros de Umbanda proliferam na Argentina por influência brasileira.


A sofisticação estética dos ritos do Candomblé contribui, sem dúvida, para a atração que exerce nas pessoas em geral e, particularmente, nos meios artísticos. As cerimônias abertas de cada casa de culto têm a característica de uma "festa". As divindades que nelas se manifestam não vêm para pregar ou distribuir conselhos. Vêm expressar a sua energia vital, dançando. Fazem isto de modo solene, seguindo uma estrita lógica ritual, comandada pelo som dos atabaques e dos cantos. Vestem-se com pompa e produzem um gestual codificado, identificador de cada orixá. As festas terminam, invariavelmente, com um jantar aberto ao público, feito de comidas sagradas, relativas ao evento da noite.


As Casas de Candomblé desenvolvem uma intensa e constante atividade de manutenção das relações entre o sagrado e o profano. O espaço é cuidadosamente subdividido, com o barracão para as festas públicas, a camarinha, para os iniciados, o peji, de acesso restrito e onde ficam os objetos sagrados, as casas de cada orixá, de frequentação especificada, as plantas sagradas, a sala de recepção para os fiéis etc., compondo uma arquitetura tão complexa quanto a hierarquia do culto.


As obrigações para cada orixá, as iniciações, o atendimento individualizado do público, as adivinhações, a leitura dos búzios, uma variedade de ritos particulares, a difícil harmonização dos distintos poderes que constituem uma Casa de Candomblé, o relacionamento com a sociedade exterior, tudo isto deve ser cuidado no detalhe, segundo uma estética ritual meticulosa. A autoridade de uma Ialorixá (mãe de santo) ou de um Babalorixá (pai de santo) está vinculada, justamente, ao seu domínio sobre todas estas matérias. O conhecimento sobre como fazer, as justificativas para cada gesto nas tradições, compõem o vasto acervo simbólico personalizado na figura da mãe ou do pai de santo.



Na realidade, O candomblé é uma religião que teve origem na cidade de Ifé, na África, e foi trazida para o Brasil pelos negros iorubás. Seus deuses são os Orixás, dos quais somente 16 são cultuados no nosso país. Essú, Ògún, Osossi, Osanyin, Obalúayé, Òsùmàré, Nàná Buruku, Sàngó, Oya, Obá, Ewa, Osun, Yemanjá, LogunEde, Oságuian e Osàlufan.




O Pai ou a Mãe de Santo é a autoridade máxima dentro do candomblé. Eles são escolhidos pelos próprios Orixás para que os cultuem na terra. Os Orixás os induzem a isto, fazem com que as pessoas por eles escolhidas sejam naturalmente levadas à religião, até que assumem o cargo para o qual estão destinadas. Uma pessoa não pode optar se quer ou não ser um Pai ou Mãe de Santo se não acontecer durante sua vida fatos que a levem a isto. 
São pessoas que de alguma forma são iluminadas pelos Orixás para que cumpram seu destino.

Os Pais de Santo, normalmente, são donos de uma roça, ou seja, um lugar onde estão plantados todos os axés e no qual os Orixás são cultuados. Dentro da roça existe o barracão (assim denominado por causa dos negros que antigamente moravam em barracões), que é o lugar em que são feitos os grandes assentamentos (oferendas) para os deuses.


Hierarquicamente, existe, ainda, na roça um pai pequeno ou mãe pequena, que é o braço direito do Pai de Santo e é normalmente um filho ou filha da casa. Depois vem as Ekedes, são mulheres também escolhidas pelos Orixás para cuidar deles e ajudá-los. Embora sejam consideradas autoridades dentro da roça, não podem ser Mães de Santo, visto que sua função já foi determinada e não há como mudar.


A seguir vem os Ogans, que tocam os atabaques e ajudam o Pai de Santo nos fundamentos da casa; a Ya Bace, que toma conta da cozinha, isto é, de todas as comidas dos Santos; a Ya Efun, dona do efun (pemba), e que está encarregada de pintar os Yaôs (iniciantes que estão recolhidos para fazer o Orixá); e finalmente os filhos de Santos, que são as pessoas que "rasparam o Santo", ou melhor, rasoaram a cabeça para um Santo a pedido deste.

Às vezes o Santo, ou Orixá, incorpora em determinadas pessoas, mas não há necessidade que haja esta "incorporação"para que uma pessoa raspe o Santo. Se a pessoa deve ou não raspar o Santo só pode se sabido com certeza através do jogo de búzios do Pai ou Mãe de Santo que, diga-se de passagem, são os únicos que podem jogar búzios.

O candomblé é uma religião com uma vasta cultura e rica em preceitos. São pouquíssimas as pessoas que realmente a conhecem a fundo. É necessário muita dedicação e anos de estudo para se chegar a um conhecimento profundo da religião. Seus preceitos são todos fundamentos e qualquer um pode se dedicar ao seu estudo e desfrutar seus benefícios. Existe muita energia positiva no candomblé, e o seu culto pode trazer paz e felicidade.