sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Xangô

Deus do raio, do trovão, da justiça e do fogo. 


Xangô é símbolo do rei Deus em Benin. É o deus do raio e do trovão. Contrariamente a Ogum (Deus dos Ferreiros) que emprega o fogo artificial, Xangô manipula o fogo em estado selvagem, o fogo que os homens não sabem utilizar. É um Orixá temido e respeitado, é viril e violento, porém justiceiro. Costuma se dizer que Xangô castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. 

Seu símbolo principal é o machado de dois gumes e a balança, símbolo da justiça. Deus do fogo, que pune aos que lhe querem mal com febres e ervas que lhe são atribuídas. Joga sobre os inimigos sua bola de fogo através dos raios, chamadas edunara (pedra de raio que representa o corpo de Xangô, seu símbolo por excelência, pela mitologia do elemento procriado por um lado e que irmana Xangô a Exú por outro lado). 

Xangô é o antissimbolismo da morte, ele não fica aonde há mortes. Sua dança preferida é o Alujá, apresentado com toques diferentes, a dança do machado, a dança da guerra. Branda orgulhosamente o seu Oxé (uma de suas armas) e assim, na cadência, faz o gesto de que vai pegar as pedras de raio e lançá-las sobre a terra, demonstrando seu lado atrevido. Em certas festas traz sobre a cabeça uma gamela de madeira, que contém fogo que começa a engolir, revelando a origem de seu fundamento.


Tudo que se refere a estudos, a justiça, demandas judiciais, ao direito, contratos, pertencem a xangô. Ambicioso, chega ao poder destronando seu meio irmão Ajaká. Passa, então, a reinar com autoritarismo e tirania, não admitindo que sua atitudes fossem contestadas, o que possivelmente levou-o a cometer injustiças em suas decisões. Usa o poder do fogo como seu símbolo de respeito. Galante e sedutor, desperta a paixão da divindade Oyá(esposa de Ogum), uma de suas três esposas - as outras são Oxum e obá - .

Circulam a seu respeito, às vezes contradições, mas todos são unânimes em reconhecer seu caráter violento e fogoso. Mesmo se ignoradas em seus detalhes constatamos que sua magia profunda consiste em suprir a tempo os acontecimentos que se superpõem, ao invés de desenrolarem-se ao longo tempo linear e irreversível, ao longo de um tempo mensurável. Seu tempo não tem começo e nem fim, é um tempo reversível que supre sua duração.


Xangô pode estar morto no rio e ao mesmo tempo estar vivo diante do rei. Está morto... e morto estar vivo. Nele as oposições existem simultaneamente. Para o ser humano tal situação é ambígua e fora de lógica, dois termos contraditórios excluem um ao outro na sincronia. Na lógica de Xangô os dois coexistem, pois ela é caracterizada pela sincronia e pela inter polaridade. Mortal em seu corpo, imortal em sua essência, o OBA de BENIN é o único soberano de dupla natureza: humana e divina.


"Xangô, como todos os outros imolè (orixás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino."

Como personagem histórico,




Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, "Rei de Oyó", filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. 

Conservou, assim, seu título de Oba Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì. Dadá-Ajaká, filho mais velho de Oranian, irmão consanguíneo de Xangô, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos iorubás às crianças cujos cabelos crescem em tufos que se frisam separadamente. "Ele amava as crianças, a beleza, e as artes; de caráter calmo e pacífico... e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época". Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamada adé de baáyàni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se agora valente e guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacando os tapás.


KÁ WÒÓ, KÁ BIYÈ SÍLE : Podemos olhar vossa real majestade.

Xangô, no seu aspecto divino,




Permanece filho de Oranian, divinizado porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oyá, Oxum e Obá. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vêm procurar nos escombros os èdùn àrá (pedra de raio) lançados por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido. Esses èdùn àrá (na realidade, machado neolíticos) são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó), consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas emanações de Xangô e contém o seu àse (axé), o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém.


Fazendo-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição. Na Bahia, diz-se que exitem doze Xangôs: Dadá; Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian; Airá Intilé; Airá Igbonam, e Airá Adjaosi. Reina uma certa confusão nessa lista, pois Dadá é irmão de Xangô; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território Tapá, e que segura dois "oxés" quando dança, sendo o seu èdùn àrá composto de dois gumes. Os Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savê.

O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Xangô, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.


Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Orixá funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà Yemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, e muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar a acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras distintas.

Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oyá, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oyá, Ele o "ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oyá, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oyá, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.



Oxum, Oyá e Obá. Mulheres de Xangô




Esta afirmação é facilmente notada, pois Xangô é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar.

Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Xangô, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Xangô chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Xangô. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapá, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.


Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.
NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada. (Aulo Barretti Filho) Junho de 1984



Algumas qualidades de Xangô:



AGANJÚ: -  Quer dizer terra firme. Tem perna de pau e é casado com Iemanjá. É o filho mais novo de Oranian e o preferido, herdou sua fortuna. É o mais cruel, é aquele que leva o coração do inimigo na lança. É o Xangô amaldiçoado que matou e comeu a própria mãe.
Na verdade foi o 6º Alafin de Oyó que viveu em 1.240 A.C., aproximadamente. Era sobrinho neto de SHANGO.


BARÚ: -  Pega tempo e come com Exú. Dependendo da época este Orixá ora é BARU ora é ÌRÓKÒ. Tem caminhos com OYÁ YÀTOPÈ . Não come quiabo nem amalá, come amendoim cozido e padê. Na África ele é chamado de maluco, pois durante seu reinado fez muita besteira, motivo pelo qual os africanos não o raspam nem o assentam. Não fazia prisioneiros, matava todos. Veste-se de marrom e branco e suas contas são iguais a roupa. Toca-se para Exú e Xangô.
BARU era muito destemido, mas quando comia quiabo, que ele gostava muito, dormia o tempo todo e por isto perdeu muitas contendas, pois, quando acordava seus adversários já tinham voltado da guerra. Ele ficava indignado. Então resolveu consultar um OLUÓ que lhe disse : 
- Se é assim, deixe de comer quiabo 
- BARU perguntou : 
- me diz o que comerei no lugar do quiabo... 
- Só folhas... 
- Só folhas ? 
- perguntou BARU 
- Sim, respondeu o OLUÓ, tem duas qualidades , uma se chama oió e a outra xaná, são boas e gostosas como o quiabo. 
E BARU falou : 
- A partir de hoje, eu não comerei mais quiabo.



BADÈ: - É o mais jovem Vodum da família do raio ( cujo chefe é Keviosso), corresponde ao SÀNGÓ jovem dos Nagôs. É irmão de Loko. Usa roupa azul com faixa atada atras. Não fuma, não bebe nem fala. Um de seus animais prediletos é o chicharro.


KOSO, OBAKOSSÔ: - Perdeu os poderes mágicos de transportar-se da terra para o céu, enforcando-se num pé de OBI. Tem fundamentos com ÈSÙ, ÉGÚN e OYA, devido a sua morte. Em sua passagem pela cidade de Kossô, Xangô recebe o nome de Obakossô, ou seja, o rei de Kossô. Conta o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, Xangô refugiou-se na cidade de Kossô, mas a dor de haver destruído seu povo, levou o rei a suicidar-se. No momento da morte de Xangô, Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um Egun, pediu a Olodumare que o transforme num orixá. Assim Xangô foi feito orixá pelo pedido de sua mulher Yansã. Os filhos de Obakossô são serenos, tiranos, cruéis, agressivos, severos, amorosos, moralistas.


AGODÔ; AGOGO; OGODO: - Muito ruim, brutal, inclinado a dar ordens e ser obedecido, foi ele quem raptou OBÁ. Come com YEMONJA.  Neste caminho; Xangô segura dois Oxês (machados). Sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de Tapá. É aquele que, ao lançar raios e fogo sobre seu próprio reino, e o destrói.



AFONJÀ: - É o dono do talismã mágico dado por Oyá a mando de OBÀTÁLÁ. É aquele que fulmina seus inimigos com o raio. Come com YEMONJA, sua mãe. Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô da casa real de Oyó. Nesse avatar Xangô Afonjá é aquele que está sempre em disputa com Ogum. Um dos mitos que relata tal passagem nos conta que Afonjá e Ogum sempre lutaram entre si, ora disputando o amor da mãe, Iemanjá, ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oyá, Oxum e Obá.



ALAFIN: - É o dono do palácio real, o governante de Oyó. Vem numa parte de Oxalá e caminha com Oxoguian.


OBÀ OLUBÈ: - É muito orgulhoso, intratável e muito bruto. Come com Oyá.


OLO ROQUE: - Seria o pai de Oxum Opará. Tem fundamento com Oxóssi. Veste vermelho e branco ou marrom e branco.


ALUFAN: - É idêntico a um Ayrá. Confundem ele com Oxalufan. Veste branco e suas ferramentas são prateadas.


JAKUTA:  - É aquele que atira as pedras, é a encarnação dos raios e trovões. É a própria ira de Olorun, o Deus criador. É o senhor do edun-ará, a pedra de raio. Conta o mito que o reino de Jacutá foi atacado por guerreiros de povos distantes, num dia em que seus súditos descansavam e dançam ao som dos tambores. Houve muita correria, muita morte, muitos saques. Jacutá escapou para a montanha seguido de seus conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo. Irado, o rei chamou sua mulher Iansã, que, chegando com o vento, levou consigo a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram em debandada. Mais uma vez, Jacutá fora acudido por Iansã, e mais, sua eterna amante deu-lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras de raio, o edun-ará. Gente de Jacutá tem espírito de um velho pensador, justiceiro, incansável, brutal, colérico, impiedoso, preocupado com a causa dos outros.



ORANIFÉ: -  É o justiceiro, reto e impiedoso, que mora na cidade de ifé.



TAPA: É muito conhecido pelo seu temperamento imperioso e viril. Não perdoa os erros de seus filhos.

Existe também opinião formada por muitos, baseada na mitologia e nas diversas fontes sobre as origens de Xangô, que Oranian seria seu pai; Dadá seu irmão, Aganju um dos seus sucessores, e Ogodo, o que segura dois oxés, sendo o seu èdùn àrà composto de dois gumes e é originário de tapá.
Os Airá são as qualidades de Xangô muito velhos, sempre vestidos de branco e usando segi (contas azuis) em lugar dos corais vermelhos, e serão originários da região de Savê. Há no entanto atualmente quem considere que Airá seria um Orixá diferente e não uma qualidade de Xangô. Esta questão requer ainda algum estudo e pesquisa séria.