sexta-feira, 20 de maio de 2022

A Guerra segundo o espiritismo

 

A Guerra segundo o espiritismo


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Desde os primórdios da sociedade o homem vive em guerra. Desde que as primeiras tribos passaram a lutar pela soberania de algum recurso natural, ou pela soberania de seu povo, os povos se dividiram em estados, países, regiões. Tal fato segregou homens em classes sociais, etnias, grupos religiosos e até povos com diferentes ideologias econômicas. Para todos os casos a guerra sempre foi uma solução imediatista com graves consequências, mas como a espiritualidade vê as guerras? Seriam permitidas por Deus? e as inúmeras mortes? e o soldado que mata na guerra está cometendo assassinato?

Devemos, inicialmente, entender que a guerra é sobretudo a predominância do nosso instinto animal de superioridade pela força. Devido a nossa ainda fraqueza moral acreditamos que somente seremos entendidos e respeitados se “gritarmos mais alto” ou seja, se através da imposição fizermos valer nossos argumentos. Isso se deve ao fato de ainda estarmos nos estágios iniciais de evolução fazendo com que geralmente nós, seres humanos, ajamos desta maneira.

Em sua sabedoria divina, Deus, todo poderoso, permite ao homem que desbrave com seu livre-arbítrio todas as possibilidades de ação dentro da lei de Deus. Sendo a Lei de destruição uma de suas leis que futuramente iremos estudar com mais detalhes, sabemos que as guerras são ainda um caminho escolhido pelos homens para agir em suas diferenças.

Não podemos confundir pois a guerra nunca será o caminho preferido pela espiritualidade amiga que inclusive busca incessantemente dissuadir os poderosos de uma ideia de conflito bélico. A guerra é somente a preferência do homem pela força à razão. (vide pergunta destacada abaixo)

742. O que leva o homem à guerra?
“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e saciedade das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito do mais forte; é por isso que a guerra constitui para eles um estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque ele lhe evita as causas; e quando ela é necessária, ele sabe fazê-la com humanidade.”

Se Deus permite a guerra é porque dela o homem pode tirar lições valiosas através do seu livre-arbítrio. Através dos acontecimentos tristes das guerras tivemos avanços sociais necessários. As primeiras guerras que buscavam a liberdade de povos oprimidos e até mesmo as guerras mais recentes que fizeram boa parte da humanidade repensar suas atitudes e o tipo de sociedade que desejam se tornar.

A guerra é permitida por Deus para que possamos através de nossos erros compreender suas leis de forma mais clara, analítica e criteriosa. A providência divina permite que sejamos atacados pelo mal que escolhemos fazer para que possamos aprender na pratica que aquela atitude deve ser extinta da sociedade cristã. Percebemos que de alguns conflitos foram criadas boas coisas como a declaração universal dos direitos humanos, bem como leis de guerra a fim de evitar que os povos se destruam.

744. Qual foi o objetivo da Providência, tornando a guerra necessária?
“A liberdade e o progresso.”

a) Se a guerra deve ter por efeito alcançar a liberdade, como é
que, frequentemente, ela tem por objetivo e resultado a escravidão?
“Escravidão momentânea para cansar os povos, a fim de fazê-los progredir mais rápido.”

739. Os flagelos destruidores têm uma utilidade, do ponto de vista físico, apesar dos males que ocasionam?
“Sim, algumas vezes, eles mudam as condições de uma região; mas o bem que deles resulta, frequentemente, só as gerações futuras o sentem.”

Portanto compreendemos com isso que Deus permite a guerra para que possamos evoluir enquanto sociedade, durante o tempo que nos for necessário este tipo de flagelo acontecer. Mas e quanto à pessoas que fomentam as guerras, que se comprazem com isso, também estariam praticando a lei de deus?

Não! Deus não encoraja a guerra, ela é mera consequência da nossa natureza enrijecida no mal. Para toda situação a providência divina tem uma solução perfeita que independe de atitudes que levem ao mal. Nós em nossa imperfeição e nossa teimosia que buscamos forçar as situações a acontecerem à nossa maneira. Essa nossa ansiedade para estarmos certos e nosso orgulho em admitir nossos erros criam situações que levam a guerras, principalmente em esferas políticas e de poder. Essas pessoas transgridem a lei de Deus em benefício próprio, mas como diz o evangelho de Matheus “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” 

745. Que se deve pensar daquele que provoca a guerra em seu proveito?
“Esse é o verdadeiro culpado e muitas existências lhe serão necessárias, para expiar todos os assassínios de que tenha sido a causa, pois responderá por todo homem cuja morte tiver causado, para satisfazer sua ambição.”

Estudando tal assunto outra dúvida mostrada na introdução é: se a guerra é um “mal ocorrido do nosso livre-arbítrio” seria condenado o soldado que , estando em uma guerra, mata o seu semelhante?

Esta questão é muito importante pois entramos no assunto seguinte do livro dos espíritos que é o assassínio. No tópico abordado entende-se que causar a morte de um semelhante é sempre um crime na lei de Deus, salvo em caso de força maior onde o seu instinto de  conservação compele o ser a agir de forma a preservar sua própria existência.

Durante uma guerra o soldado está sob o comando de algum responsável e encontra-se numa situação delicada. Se mata, estaria transgredindo a lei? mas se morre por não se defender não estaria praticando suicídio indireto? Percebemos como é uma situação complexa e que uma simples resposta não tem como abranger toda a gama de variantes de cada caso?

O livro dos espíritos em sua pergunta 749 evidencia esta situação em termos gerais, como no trecho destacado abaixo:

749. O homem é culpado pelos assassínios que comete durante a guerra?
“Não, quando ele é constrangido pela força; mas é culpado pelas crueldades que cometa, e ser-lhe-á levado em conta o sentimento de humanidade.”

Lendo a resposta trazida pelos espíritos concluímos que o assassinato em si não é o problema numa situação de guerra e sim qual a intenção por trás daquele ato. Se foi praticado com crueldade e prazer ou se foi praticado pela simples necessidade de sobrevivência do indivíduo.

747. O assassínio sempre tem o mesmo grau de culpabilidade?
“Já o dissemos: Deus é justo; ele julga mais a intenção do que o fato.”

Se a guerra é algo consequente ao nosso grau de adiantamento, é certo de que ela irá um dia desaparecer de nossa vivência conforme formos evoluindo como sociedade. Tal fato é expresso pelos espíritos na pergunta 743 de “o livro dos espíritos”

743. A guerra desaparecerá, algum dia, da face da Terra?
“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então, todos os povos serão irmãos.”

Portanto precisamos entender que a guerra é a consequência de nosso uso predominantemente irracional da força e a fuga da razão diante da emoção. Tal situação é devido ao fato de estarmos ainda em um degrau de evolução cuja razão ainda é muito material e pouco depurada. Conforme formos evoluindo e nos vendo como irmãos em cristo passaremos a negar tais atitudes que ferem a lei de Deus. Até lá a espiritualidade nos auxiliará a tirar o melhor proveito de cada situação vivida durante nossa jornada rumo a perfeição moral! Fé e coragem meus irmãos, que Jesus nos abençoe!