Existe uma questão que poucos
se atentam sobre Ogun.
Ogun ama muito.
O problema é que não sabe
Falar de amor.
Existe uma questão que poucos
se atentam sobre Ogun.Ogun ama muito.
O problema é que não sabe
Falar de amor.
Houve um dia, na época
Em que os Deuses andavam
sobre a terra, em que
Ogun estava caçando na floresta.
Neste dia seus olhos encontraram
A figura majestosa de um
Búfalo, ali sozinho em uma clareira.
Ogun achou estranho,
Búfalos não andam sozinhos,
Sempre estão em bandos de muitos.
Então invés de atirar a flecha
Ele ficou parado observando
Para ver se a manada se aproximava.
Grande foi a surpresa quando
a figura do Búfalo se distorceu
E debaixo do couro saiu uma
Belíssima mulher.
Ela enrolou o couro do búfalo,
Escondeu no oco de uma árvore
e foi embora.
Aquilo era Juju, ou seja era magia!
Ogun ficou muito impressionado,
Mas o que mais lhe impressionou
Foi a beleza da mulher.
Esperou ela se afastar, correu até
a árvore e apanhou o couro do Búfalo.
Com astúcia ele correu e escondeu
O couro em sua casa, depois
saiu correndo novamente e foi
Atrás da mulher na cidade.
Lá ela estava perambulando entre
As barracas, querendo comprar azeite.
Mas Ogun a parou no meio do caminho
e cheio de orgulho se apresentou.
— Eu sou Ogun Olodé, eu sou o homem mais rico, mais valente e mais famoso da região!
A mulher mal ergueu os olhos
Para encara-lo.
— Que bom pra você.
Ogun ficou perplexo!
Todas as moças caiam a seus
pés quando passava por elas,
Mas aquela ali nem deu bola.
— E qual é seu nome moça?
— Oyá.
— E... você vem sempre aqui?
— Não, afinal esse lugar anda... mal frequentado.
Ogun se espantou com o deboche dela,
Ninguem era debochado com ele,
Todos tinham medo dele.
Mas Oyá simplesmente comprou
O que precisava, deu as costas
E voltou para a floresta.
Ogun então ficou na expectativa,
Aguardou ali mesmo no mercado
Pois sabia que ela voltaria.
Não deu outra, ela retornou furiosa!
— Você ai! Famoso sei lá das quantas, devolva o que me roubou!
— É o que dona moça? Eu não sei do que está falando...
— Sonso! Me dê ande!
Nisso o povo do mercado
Começou a cochichar e a
Se juntar em torno deles,
Afinal não era todo dia que
Alguém tinha a coragem
de gritar com Ogun e ainda
por cima chama-lo de ladrão.
— Minha capa de búfalo! Eu sei que foi você que pegou!
— Sabe como?
— Senti seu fedor junto da árvore onde o deixei.
— Fedor?!
— É isso ai! FEDOR!
Ogun geralmente sacaria a espada
E degolaria qualquer um que
Lhe disesse algo tão grosseiro,
Mas aquela mulher miúda
e brava feito um siri na lata
O fazia sorrir.
— Essa capa é uma de uns três metros, com uma cabeça de Búfalo ainda presa a ela, com a pelagem negro-avermelhada e que por mais que seja enorme é extremamente leve?
— Essa mesmo.
— Pois eu nunca vi uma capa assim na minha vida.
— Safado! Ladrão! Eu vou lhe quebrar no meio seu ordinário!
Ogun quase não se aguentava de vontade de rir.
— Olhe moça, você parece confusa sabe. Se eu estivesse por ai na floresta, assim como quem não quer nada, e encontrasse assim uma coisa como uma capa de couro de búfalo perfeitamente enrolada e colocada no oco de uma árvore, eu provavelmente iria pegar e levar para a minha casa. Mas infelizmente eu não sei de capa nenhuma.
Oyá já bem nervosa falou entre os dentes.
— E onde é a sua casa?
— Eu não levo mulher solteira para minha casa não moça, se quiser ir lá terá de casar comigo.
— Estás bêbado? Ou é louco da cabeça?
— Nem uma coisa nem outra.
Oyá pensou no absurdo da situação,
Mas ela mesma gostava de uma
Boa baderna, então aceitou casar.
Ogun deu um berro no meio
Da o mercado, e rapidamente um
Sacerdote veio ligeiro, veio se tremendo
todo de medo de Ogun,
Mas no fim casou os dois.
Então foram para casa os dois juntos.
Mas lá Oyá descobriu que Ogun já
era casado com outras mulheres,
E essas mulheres sentiram
Muito ciúme e muita inveja de Oyá.
E Oyá prevendo confusões alertou
A Ogun:
— Se quiser que eu fique em sua casa tem de obedecer a três regras. Ninguém nunca deve saber que me tranformo em Búfalo. Ninguem nunca deve fazer fogo usando a casca do dendezeiro, pois para mim é uma árvore sagrada. E ninguém nunca deve deitar um pilão na minha presença.
Ogun concordou,
E Oyá aceitou ficar lá
e ser esposa dele.
Até se esqueceu que Ogun
ainda mantinha a pele do búfalo
Escondida em algum lugar da casa.
Os anos passaram e Oyá
teve nove filhos, para a alegria
de Ogun todos eram bonitos
como ela.
Mas as outras esposas estavam
Cada vez mais amargas
Pois Ogun mal as olhava,
Nunca queria estar com elas,
Só queria estar com Oyá.
Um dia durante a ausência
de Oyá, uma das outras esposas
Preparou Emú, que é uma
Bebida alcoólica muito forte,
Ogun ama beber Emú.
Ele bebeu, e bebeu, e bebeu,
E logo estava caído bêbado.
As esposas foram até ele
E cochicharam em seu ouvido
perguntas.
— Que é que Oyá tem de tão especial?
Ogun no auge da embriaguez murmurou:
— Ela é... a mulher... búfalo.
— E porque uma mulher búfalo quis se casar com você?
— Porque escondi... o couro do Búfalo... e sem ele... ela não pode se transformar...
— E onde você escondeu esse couro?
— Entre as palhas... do telhado...
As mulheres fizeram muitas
Outras perguntas, e assim
Descobriram tudo sobre Oyá.
Quando Oyá chegou
viu Ogun ali bêbado, dormindo.
Então sentiu o cheiro de casca
De dendezeiro sendo queimada.
Foi ate a cozinha e lá encontrou
uma das esposas cozinhando,
Alimentando a chama do fogão
com cascas da árvore sagrada.
A mulher olhou para Oyá com
Um sorriso malicioso.
Então Oyá ouviu um barulho
E ao olhar para o lado viu
Uma outra esposa deitar
Um pilão e sentar sobre ele.
Oyá ficou muito nervosa,
Mas antes de fazer qualquer coisa
Seu coração gelou
Quando uma terceira esposa
Entrou na cozinha cantarolando:
"Em cima do telhado
Dentro de um nicho
Está a coisa que a faz
Virar bicho.
Monstro do mato,
Volte de onde veio,
Ninguem quer por perto
Um bicho feio".
Todas as mulheres juntas
cantaram isso, repetindo
muitas e muitas vezes.
Oyá ficou furiosa,
Na fúria máxima.
Porém invés de brigar
e esbrevejar ela sorriu
Para as mulheres
E foi se deitar.
De manhã Ogun acordou
Cedo e foi trabalhar.
Oyá esperou ele sair,
Chamou os nove filhos
e os mandou ficar dentro da casa.
As crianças olharam curiosas
A mãe quebrar o telhado
E tirar de lá uma capa de couro.
Oyá mandou que ficassem
Quietinhos ali, que não saissem ate
Ela mandar.
Então foi para fora.
As esposas estavam lá
Cuidando da horta.
As crianças viram
Do vão da porta entre aberta
Oyá vestir a capa
E segundo depois não havia
Mais Oyá, o que havia ali
era um búfalo africano gigantesco.
As crianças ouviram os gritos,
Gritos agudos de horror,
Depois muitos gritos de dor
E gemidos de sofrimento.
Durou pouco.
Oyá entrou na casa, era mulher
novamente.
Deu a seus filhos os chifres do búfalo
e disse:
— Se precisarem de mim, batam os chifres um no outro, eu virei em seu socorro."
Então abraçou os filhos,
Saiu pela porta e desapareceu.
Ogun quando voltou do trabalho
encontrou a parte de fora da casa
Inteiramente pintada de vermelho.
Mas nao era tinta, era sangue.
Andando pelo terreiro
Ela foi vendo os pedaços
de suas esposas espalhados
por toda parte.
Quando entrou em casa
Encontrou as crianças,
E elas lhe contaram
O que havia acontecido.
Ogun é forte e bruto.
Mas naquele dia ele sentou
No chão e chorou como um menino.
Mas não chorava pelas esposas
Que haviam morrido.
Ogun chorou por ter perdido Oyá.
Não há neste mundo ninguém
Que seja como Oyá,
E o homem que a teve
Mas a perdeu
Sofre por saber que nunca
Mais terá em sua vida
Alguém igual a ela.
Mitos dos Orixás, Arte e texto dramatizado por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado
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